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Os melhores filmes assistidos em 2018

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Chegou o primeiro post de 2019!

Seguindo a decepção e frustração anual de nunca conseguir passar de 100 filmes assistidos em 365 dias, é hora, amiguinhos e amiguinhas, de apresentar a lista que ninguém pediu dos 15 melhores longas apreciados por moi em 2018.

Passei uns bons minutos enquanto tomava meu Toddynho pré-sono (seria o vício retornando?) encaixando minha seleção no ranking, porque não foi uma tarefa muito fácil. Então pensem que é como os filmes a seguir estivessem todos espremidos no meu Top 10 do ano e eu só tive que abrir mais espaço.



15. VIVA: A VIDA É UMA FESTA(Coco), de Lee Unkrich, 2017 | Trailer

Fazia tempo que uma animação da parceria Disney + Pixar não me emocionava tanto, apesar de eu guardar Divertidamente com muito carinho no coração.

Ganhador do Oscar de Melhor Filme de Animação de 2018 e muitíssimo injustamente de Melhor Canção Original, ele conta a história de Miguel, um jovem aspirante a músico que embarca em uma extraordinária viagem à terra mágica de seus ancestrais. Lá, Heitor, um encantador malandro, torna-se um inesperado amigo que ajuda Miguel a descobrir os mistérios por trás das histórias e tradições de sua família.

Viva: a vida é uma festaé uma linda explosão de cores, numa construção muito charmosa do que seria o mundo dos mortos (bem mais animado e feliz que o nosso, já que ninguém precisa mais pagar boletos), com personagens cativantes, lições para levar pra vida e um desfecho que me deixou literalmente jogada no sofá, soluçando.




14. ROMA, de Alfonso Cuarón, 2018 | Trailer

Roma é um filme simples. Mas não é na simplicidade que a gente encontra beleza? E esse filme tem beleza de sobra, a começar pela fotografia maravilhosa em preto e branco, que deixa você contemplar bem sossegado entre um plano longo e outro. Neles, Cleo, uma empregada de uma família de classe média mexicana dos anos 1970, limpa a casa, brinca com as crianças, se apaixona, sofre e é envolvida por mudanças que acabam impactando todos os personagens.

Escrito, dirigido, fotografado, produzido e coeditado por essa princesa 1001 utilidades, Alfonso Cuarón, Roma – cujo nome remete ao distrito mexicano Colonia Roma – é distribuído pela Netflix, sucesso de crítica mundial, já indicado ao próximo Globo de Ouro e está no shortlist do Oscar de candidatos a Melhor Filme Estrangeiro (e há quem diga que ele ainda pode concorrer na categoria de Melhor Filme).

Enquanto eu assistia à Roma, foi impossível não me lembrar do brasileiro Que horas ela volta?. No fim das contas, apesar de todo o encantamento (guardem suas pedras), acabei preferindo este segundo.

"Nós, mulheres, estamos sempre sozinhas." 



13. INFILTRADO NA KLAN (BlacKkKlansman), de Spike Lee, 2018 | Trailer

Um judeu e um negro infiltrados na Ku Klux Klan na década de 1970 aprontando altas confusões como uma dupla da pesada. Parece mais uma obra bem louca de ficção, mas Infiltrado na Klané baseado em fatos, meu rapaz.

Estrelado por Adam Driver (que, assim como Javier Bardem, não sabemos que se é bonito ou tem apenas um charme) e por John David Washington (esse é gato mesmo), o filme retrata a operação da polícia do Colorado que, com esses dois detetives, conseguiu sabotar linchamentos e crimes de ódio orquestrados pelos racistas da seita.

Achei incrível como o diretor conseguiu dosar MUITO bem o humor dentro de um contexto bem pesado, apresentando os membros da Ku (rs) como completos imbecis (merecido), ao mesmo tempo que deixa claro que imbecis separados são engraçados, mas, juntos, podem ser perigosos (bom, o Brasil e o mundo de hoje que o digam)

Em Infiltrado na Klan, prepare-se para dar gostosas risadas e levar um belo soco no estômago, principalmente no fim do filme, lembrando-nos de que ideias bizarras como supremacia racial têm seu lugar mesmo 40 anos depois. É preciso ficar de olhos bem abertos.




12. UMA MULHER FANTÁSTICA(Una mujer fantástica), de Sebastián Lelio, 2017 | Trailer

Transfobia e luto fazem parte da trama de Uma mulher fantástica, Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018. Marina, mulher trans (vivida pela atriz também trans Daniela Vega), se vê diante da raiva e preconceito da família do seu parceiro quando este morre.

Num retrato sensível da sua luta pelo direito de sofrer pela perda de alguém que ama, e de sua luta diária para viver como mulher, o filme mostra os inimigos "invisíveis" de Marina (como em uma cena simbólica em que ela é levada para trás pela força de uma ventania) e todas as formas escrotas que ela é contestada, querendo invalidá-la por não ter nascido com uma pepeca.

Não quero dar spoilers, mas há um momento simplesmente sensacional em que Marina, nua, se olha por um espelhinho. As sutilezas me ganharam durante todo o tempo em tela.   




11. MUDBOUND: LÁGRIMAS SOBRE O MISSISSIPI(Mudbound), de Dee Rees, 2017 | Trailer

Pensa num filme redondinho.

Baseado no livro de Hillary Jordan, Mudboundse passa após a Segunda Guerra Mundial e segue uma mulher que se muda com o marido para a fazenda dele no Mississipi, assim como dois veteranos da guerra, um negro e um branco, que vão trabalhar no local que ainda é regido pelas Leis que estabeleciam limites entre brancos e negros.

Que eu me lembre, é uma história longa, com algumas "fases", que me tocou pela força e sensibilidade ao representar o racismo de uma era e de uma região megapreconceituosa, além do machismo, a resistência da mulher diante das convenções sociais, o trauma de soldados pós-guerra e como a empatia pode quebrar barreiras entre dois mundos diferentes.




10. COERÊNCIA(Coherence), de James Ward Byrkit, 2013 | Trailer

Bom, amados, coerência é tudo o que buscamos ao tentarmos entender esse filme.

Esse é do tipo que não dá pra falar muita coisa a respeito, sob o risco de soltar spoiler. A trama é: durante um jantar, oito amigos começam a falar sobre a proximidade de um cometa, e sobre os rumores de que a passagem deste corpo celeste é capaz de trazer mudanças graves no comportamento das pessoas. Logo após a discussão, a luz acaba, e estranhos fenômenos começam a acontecer com os convidados, questionando a noção de realidade.

É provável que o cérebro dê uma bugadinha? Sim. A dica é prestar o máximo de atenção nos detalhes, diálogos, interações entre personagens e ir montando as peças aos poucos. Reza a lenda que os atores improvisaram em grande parte do tempo, o que só deixa as coisas melhores.

Aliás, não: melhor ainda é ter o filme completo legendado no Youtube, neste link.




9. TULLY, de Jason Reitman, 2018 | Trailer

Rainha Charlize Theron está de volta, junto com este colírio para meus olhos chamado Mackenzie Davis (aquela coisinha preciosamente tímida do episódio San Junipero, de Black Mirror), em um roteiro sagaz assinado pela Diablo Cody (de Juno).

Tully talvez faça muitas mulheres em dúvida desistirem de serem mães. É uma reprodução bem verdadeira da realidade que muitas mães vivem com filhos pequenos e pouca ajuda em casa do marido; lidar com choros constantes, noites mal dormidas, pirraça das crianças, cozinhar pra família, resolver problemas do dia a dia, contornar o estresse, tentar não absorver frustrações e raramente ter um tempinho de qualidade pra si. No filme, essa é a vida de Marlo, até que ela aceita o presente que seu irmão bem sucedido oferece: uma babá noturna, Tully, para ajudá-la com o bebê recém-nascido. No começo, Marlo parece cautelosa até demais, mas, aos poucos, se surpreende com a mocinha.

Não é a ideia mais original do mundo, mas o filme me conquistou com pouco tempo de duração, pelo ritmo, diálogos afiadinhos, a atuação da Charlize e a própria crueza da situação. O desfecho foi a cereja do bolo.




8. O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO(The killing of a sacred deer), de Yorgos Lanthimos, 2017 | Trailer

Vida longa ao estúdio A24 e a Yorgos Lanthimos. O cara é conhecido por dirigir filmes "bizarros" e incômodos, como Dente canino e O lagosta (tem ainda o favoritíssimo do Oscar 2019, A favorita (rs), sem data de estreia no Brasil), e O sacrifício do cervo sagrado entrou para a lista no ano passado.

A história segue Steven, um cardiologista conceituado que é casado com Anna, com quem tem dois filhos. Já há algum tempo ele mantém contato frequente com o adolescente Martin (vivido pelo INCRÍVEL Barry Keoghan), para quem costuma dar presentes e, um dia, decide apresentá-lo à família. Entretanto, quando Martin não recebe mais a atenção de antigamente, começa a agir de modo (ainda mais) estranho.

Acho difícil relaxar assistindo a esse filme, porque sempre tem alguma coisa pra te deixar desconfortável. Seja o modo robótico (e proposital) dos personagens, a cena inicial que mostra um coração pulsando, a trilha sonora, a dinâmica sexual do casal, a fotografia seca, as várias camadas da narrativa ou a própria referência à história do sacrifício de um cervo sagrado (vale a pena se inteirar a respeito).




7. UMA NOITE DE 12 ANOS(La noche de 12 años), de Álvaro Brechner, 2018 | Trailer

Já pode preparar o controle remoto, porque esse filme está na Netflix! YAY! Baseada em fatos, a história se passa durante a ditadura militar no Uruguai, em que três homens – entre eles, o ex-presidente Mujica – são submetidos a um experimento com um único propósito: um caminho em direção à loucura. Trancados em pequenas masmorras por mais de uma década, com pouca luz, comida e higiene, sem comunicação e sono de qualidade, os reféns travam uma batalha para escapar de uma realidade além dos limites da imaginação.

É de cair o cu da bunda ver o que esses caras passaram. Apesar do ritmo um pouco lento, pelo menos pra mim foi fácil me envolver ora com a dor dessa tortura sem fim, ora com os momentos de resistência e sonhos de uma nova vida numa futura democracia, cheia de possibilidades de recomeços. Fazia tempo que eu não me emocionava com uma música tão bem encaixada em um filme (há uma versão perfeita de The sound of silence aqui). Ah, e é estrelado pelo filho do grande Ricardo Darín.




6. NASCE UMA ESTRELA(A star is born), de Bradley Cooper, 2018 | Trailer

Eu não assisti às versões anteriores a esse remake de Nasce uma estrela, mas ele tá ó:


Cinéfilos de plantão comentaram que Bradley Cooper mexeu o suficiente os pauzinhos a ponto de a história ser praticamente nova. Se é verdade ou não, porque a bonita aqui não sentou a bunda pra pesquisar sobre eu sei que o que ele fez tem o selo Vem Aqui Rapidão© de aprovação: eu gostei tanto de Nasce uma estrela que quase voltei ao cinema para assistir pela segunda vez.

O experiente músico Jackson Maine descobre a jovem artista desconhecida Ally, por quem acaba se apaixonando. Ela está prestes a desistir de seu sonho de se tornar uma cantora de sucesso, até que Jack a convence a mudar de ideia. Porém, apesar de a carreira de Ally decolar, o relacionamento pessoal entre os dois começa a desandar, à medida que Jack luta contra seus próprios demônios e problemas com álcool.

A jornada da ascensão e queda de um artista plus uma história de amor tocante plus músicas que grudam na playlist. Cooper está ótimo em seu personagem problemático, Lady Gaga também performa bem pra uma pessoa sem a experiência de uma grande atriz (está com boas chances de concorrer ao Oscar, talvez mais pelo buzz, porque num me entra) e Shallow está praticamente em posse da estatueta de Melhor Canção Original.

Aliás, obrigada, Bradley, por mostrar que mulheres de nariz grande têm seu lugar sob o sol.




5. HEREDITÁRIO(Hereditary), de Ari Aster, 2018 | Trailer

POXA, QUASE NENHUM DEFEITO.

O que dizer do melhor filme de terror do ano que pode até levar Toni Collette para o Oscar? Essa outra bela obra distribuída pela A24 ganhou textão excrusivs que você lê aqui.

Um possível futuro clássico do gênero, Hereditário narra a trajetória da família Graham, que, após a morte da reclusa avó, começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse um sombra sobre as pessoas, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie, por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do destino que herdaram.

O longa não tem um puto dum jumpscare e vai te deixar perturbado. Está dentro da "nova onda de filmes de terror", tem mais de uma camada de interpretação e talvez "não seja pra todo mundo" mesmo.




4. TRAMA FANTASMA(Phantom Thread), de Paul Thomas Anderson, 2017 | Trailer

Eu amo o nome desse filme. E amei apreciar todo o charme desse homão sugar-daddy Daniel Day-Lewis por 130 minutos.

A história de roteiro impecável acontece na década de 1950. Reynolds Woodcock é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril, para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma, que vira sua musa e amante.

O figurino é um show à parte. A trilha sonora, brilhante. As atuações, incríveis. Um drama com toques de suspense que retrata a forma como o trabalho pode consumir alguém, relações doentias, controle, posse, luta de classes. Uma bela despedida de Daniel Day-Lewis à sua carreira. 

"Beije-me, garota, antes que eu adoeça."




3. TIRANOSSAURO(Tyranossaur), de Paddy Considine, 2011 | Trailer

Se eu tivesse que escolher uma só palavra pra definir Tiranossauro, seria CRU.

Gosto demais de narrativas com essa pegada focada na verdade das coisas da vida, sem firulas, maquiagem, romantismo. Provavelmente foi isso que me envolveu nesse filme, somado à atuação magistral da Olivia Colman (da série Broadchuch), que FINALMENTE será reconhecida em Hollywood por meio de A favorita, com uma indicação quase certa na categoria de Melhor Atriz do próximo Oscar.

Em Tiranossauro, conhecemos Joseph, um viúvo atormentado, desempregado, violento e alcoólatra, que passa a vida descontando sua raiva ao mundo. Um dia, ele conhece a religiosa Hannah, dona de um brechó de caridade. Apesar das diferenças entre os dois, o jeito acolhedor dela faz com que eles desenvolvam uma forte amizade. Ligados pelo desamparo, Joseph e Hannah precisam encontrar um caminho para suas vidas.

O gosto que fica é de amargor e doçura, com um pingo de tristeza. "A vida é assim", injusta, e quem somos nós pra julgarmos as motivações das pessoas? Que tiranossauros escondemos enterrados no nosso quintal?

Sei lá, não assistam num dia ruim.

"Só queria olhar para você: Não queria conhecê-la porque eu sabia que você teria suas próprias merdas. Você não seria perfeita e eu não queria perder aquele sentimento."




2. TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME(Three billboards outside Ebbing, Missouri), de Martin McDonagh, 2017 | Trailer

Boas-vindas ao filme que deveria ter ganhado o Oscar de 2018 no lugar de A forma da água (HIHIHI).

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (interpretada maravilhosamente pela Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby, responsável pela investigação.

Eu acho esse filme apenas perfeito. Uma história forte sobre justiça, poder e vingança que envolve personagens com atitudes controversas, mas multidimensionais e, justamente por isso, extremamente humanos, que fazem com que nos identifiquemos. E o roteiro, muito bem amarrado, não subestima a capacidade do espectador de entender as entrelinhas.




1. PROJETO FLÓRIDA(The Florida Project), de Sean Baker, 2017 | Trailer

Meu filme favorito assistido em 2018 também tem um texto só pra ele no blog, que está aqui.

Assim como em Tiranossauro, Projeto Flórida me conquistou pela maneira realista como trata parte da população que vive de forma precária, sonhando com dias melhores ou apenas se conformando que eles nunca virão, e tentando do melhor jeito possível preservar a inocência de quem ainda não foi castigado pela "vida como ela é". É isso que se esconde na sinopse vaga do filme, apresentando Moone, uma garota de seis anos que vive no Castelo Mágico, um motel na Flórida, nas sombras da Disneylândia. Durante o verão, ela se aventura com seus amigos e co-residentes enquanto lida com sua rebelde, mas atenciosa mãe.

Projeto Flóridaé vívido, palpável, sem filtros e de metáforas tristes, que entrou pra minha lista de filmes favoritos de todos os tempos, me deixando anestesiada após o seu final absolutamente triunfante. Palmas para o diretor Sean Baker, que extraiu interpretações fantásticas da menininha Brooklynn Prince, da estreante Bria Vinaite (parece que ele a encontrou no Instagram) e de Willem Dafoe, que deveria ter ganhado a estatueta no ano passado e nada mais importa se não for minha a opinião.   



Inhaí, o que acharam? Muitos filmes em comum com a sua listinha? Poucos? Nenhum? Vamos conversar nos comentários. :-)

Se quiser ver meus rankings dos anos anteriores, aí vão os links: melhores filmes de 2017, melhores filmes de 2016, melhores filmes de 2015 e melhores filmes de 2014.

LIFE IS STRANGE 2, episódio 2: Rules

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Olá, amoreco, hora de matar a saudade da nossa franquia favorita de games com o lançamento do tão aguardado episódio 2 de Life is Strange 2no dia 24 de janeiro, depois de 4 meses desde a estreia do primeiro episódio!

Se você ainda não jogou, cuidado: spoiler alert neste texto! E se você nunca jogou nada de Life is Strange e tá aqui só porque tem apreço por mim, saiba que está perdendo uma grande oportunidade de se apaixonar. E que os espíritos evoluídos levarão isso em consideração na sua próxima vida.

Tá certo? Tá certo. Então bora falar do que anda acontecendo na jornada dos irmãos Diaz:


O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA, E OS PODERES DO DANIEL CONTINUAM NUMA BOA (SERÁSE?)

Podemos considerar que sim, nos baseando apenas nos primeiros minutos de Rules. Sean e Daniel estão na neve, sem tomar um banho, sabe-se lá há quanto tempo sem lavar as partes com sabonete antibacteriano e sem encontrar uma tesoura.

Dois meses se passaram desde o incidente no motel e a descoberta do meu filho Danny sobre a morte do pai. O episódio, inclusive, apresentou seu estilo próprio de fazer uma recapitulação dos acontecimentos anteriores, com Sean narrando-os, de forma lúdica, como se fosse um conto a respeito de uma família de lobos (ah, os animais espirituais...). Agora, a dupla Diaz está concentrada em sobreviver da melhor maneira, sem arranjar confusão, enquanto treina os poderes do caçula– algo que Carrie deveria ter feito em 1977.

Aqui, vemos se fortalecer o papel de tutor de Sean sobre Daniel (ou seja, o NOSSO papel, enquanto jogadores). Mesmo com a importante supervisão de um adulto, como Eliana já nos ensinou em seus programas matinais nos anos 1990, Daniel é uma criança com um dom que se revela perigoso a ponto de nem o Sean conseguir intervir. É por isso que três regras essenciais foram estabelecidas em sua dinâmica – remetendo ao nome do episódio –, que são 1) Não demonstrar os poderes, 2) Nunca falar sobre eles e 3) Sempre fugir do perigo. 

Mas, se você é uma pessoa espertinha, já sabe que existe uma máxima na vida chamada "Toda regra tem sua exceção". Bom, digamos que neste caso ela também se aplica, e as concessões dependerão do seu posicionamento como tutor do Daniel. O que falamos no episódio anterior, sobre suas decisões influenciarem principalmente as atitudes do Daniel, começa a ficar mais forte aqui.

Aprendiz de Darth Vader
Isso é evidenciado ao fim do primeiro ato do episódio, com um final triste e chocante para a Cogumela, que sabíamos que iria morrer em algum momento (visto que a DONTNOD é sádica), mas não TÃO rápido. Como bem disse minha cara Áurea, em Life is Strange nem os cachorros podem ir ao banheiro em paz sem correrem riscos.

Um encontro que ninguém esperava acontece: Cogumela sai para dar seu mijãozinho matinal e uma puma descobre seu café da manhã. Daniel acha o corpo da amiga de curta data junto ao felino e, num acesso de pura adrenalina e revolta, como aconteceu no episódio 1, ele desperta a força do seu poder que não havia sido manifestada durante os treinamentos. É nesse momento que você, como Sean, tem a importante decisão de intervir ou não no destino da puma sob as mãos do irmão. A partir daí, segura as calças, que é consequência atrás de consequência.

NERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA, @?

Depois disso, o crossover mais aguardado desde o encontro de Chaves e Chapolin está prestes a acontecer quando Sean e Daniel chegam à Beavers Creek, a cidade onde se passa a micro-história de The awesome adventures of Captain Spirit e que traz de volta nosso amado Chris, também conhecido como Meu Segundo Filho®. Nessa, descobrimos que 1) O casal Reynolds, vizinho do Chris, são o avô e avó de Sean e Daniel, e 2) Que uma criança fofa é pouca e duas é bom demais: Daniel e Chris brincando juntos é a coisa mais querida desse universo.

Mas, momentos de calmaria e diversão à parte, as interações com o pequeno herói imaginativo serão determinantes para seu curto arco neste episódio. Dependendo se contamos a ele ou não a verdade sobre os poderes do Daniel, se ele ganha confiança em você ou não e sobre as tais concessões de que falei, o destino pode pular de Sessão da Tarde Feliz a Desgraça Pouca é Bobagem. O impacto (meu final ficou no meio termo) foi semelhante ao que senti com a Kate, no episódio 2 do primeiro Life is Strange.


Falando nisso, outra coisa que me deixou apavorada foi o que acontece com a Lyla, BFF do Sean, em consequência à forma como você age desde o primeiro episódio. E nem tem a ver com o Daniel.

Eu decidi não ligar pra ela do motel pra não comprometê-la perante a polícia, TENTANDO FAZER A COISA CERTA, mas Life is Strange sempre dá um jeito de te fazer tomar no cu e neste novo episódio resolvi arriscar e dar uma ligadinha pra casa dela. Quem atende é a mãe, dizendo que a garota tá numa clínica, rehab ou sei lá o quê, bem mal, sem parar de pensar nos Diaz. De cair os butiá do bolso, né non? Fico imaginando se eu também não tivesse telefonado desta vez.

Será que a Lyla pode acabar como a Kate, no primeiro game?


SEU DANIEL É UM ANJINHO OU UM CAPETA EM FORMA DE GURI?

Como estamos falando desde o primeiro episódio, Life is Strange 2 não tem viagem no tempo vs. capacidade de alterar escolhas, mas todas as escolhas que você faz em nome do Sean terão impacto na criação do Daniel, seus comportamentos e pensamentos.

E isso vai além de como ele usa seus poderes. As pequenas coisas que você fez ou deixou de fazer antes, como roubar ou não chocolate de um carro abandonado, reprimir o irmão quando ele usa palavrões, protegê-lo de um pesadelo, assustá-lo ou não, debater sobre questões do dia a dia etc. estão influenciando a pessoa em que ele está se tornando.

Podemos ver nos exemplos abaixo, de prints que minha camarada Bianca publicou no grupo do game no Facebook:

"Eu posso quebrar a fechadura com o meu poder!" / "Eu poderia explodir essa porta idiota com o meu poder!"

"Uh... eu só queria ver as coisas da minha mãe!" / "Eu tenho o DIREITO de ver o quarto da minha mãe!"

"Deveríamos fazer algo a respeito?" / "A gente devia acabar com ele, Sean!"
Neste link há muitos outros momentos dessa dicotomia. Eu, crente que estava criando um GENTLEMAN, quase caí pra trás ao reconhecer a cena que joguei, em que ele brada pra avó que tem DIREEEEITOOO de ver o quarto da mãe sumida.

(mas porra, dou toda a razão??)

Isso certamente vai ter tudo a ver com o desfecho da história, que eu ainda não sei qual é e não vou gastar muito fosfato pensando a respeito pra ser surpreendida. Porém, uma teoriazinha ou outra não faz mal a ninguém e é ótimo pra manter o fandom com fogo na raba confabulando até saírem os próximos episódios.


QUEM É A MÃE DOS IRMÃOS DIAZ?


Tudo o que sabemos até o momento é que essa misteriosa Karen é americana, se casou com o Esteban e abandonou a família desde que o Daniel era bem pequeno (sendo que o ex-marido não parecia ter grandes ressentimentos), é alvo de ranço do Sean, mantém contato com os pais, tem seu quarto intacto na residência dos Reynolds, se comunicava com uma amiga por cartas, ama música e quer ver os filhos protegidos, mesmo que prefira não falar com eles.

Já vi uma galera teorizando que o motivo da Karen ter saído de casa era que ela, na verdade, é lésbica ou bi e foi viver sua vida com essa tal amiga das cartas, porque a mãe é extremamente religiosa e conservadora e seria contra o relacionamento. Eu particularmente comprei 0,5% dessa ideia porque, apesar de a mãe realmente ser religiosa, nada na carta da amiga parece levantar suspeitas de um romance. E isso não parece um motivo forte pra abandonar todo mundo e sustentar uma revelação forte da história, que parece ser o que vai acontecer no fim do jogo (ou perto do fim).   

se isso se mostrar verdade depois, vou apagar isso aqui

Minha teoria (e a de uma outra galera também) é que a Karen na verdade também tem poderes como o Daniel e fugiu de casa exatamente por ter causado algum acidente ou outra coisa grave. Como os meninos fizeram. E aí, sem controle dessa força invisível e com medo de colocar a vida deles em risco, resolveu viver no anonimato, velando por eles a distância.

(Eu cheguei a pensar que a Karen poderia ter causado o acidente com a mãe do Chris e fiquei realmente bem empolgada, mas a Áurea acabou com minha vida ao revelar que as datas simplesmente não batem, rsss.)

E você, o que acha? Se tiver sua própria teoria, estou curiosinha pra saber, viu?


NÃO VOU COMPARAR COM O PRIMEIRO, NÃO VOU COMPARAR COM O PRIMEIRO...

Comparei.

Eu seeeeei que é injusto colocar Life is Strange do lado de Life is Strange 2, mas de vez em quando a carne é fraca e Deus há de nos perdoar. E digamos que é em relação a uma coisinha "inofensiva": o apego ao protagonista.

No primeiro game, me bastaram cinco minutos pra eu me apaixonar pela Max e me sentir na pele dela. Aqui, Sean ainda é o personagem por quem menos me apeguei. Max, além de escrever no diário e nos fazer entender mais como ela se sentia, completando a experiência da gameplay, pensava muito, o tempo todo. Não é que o Sean não pense, mas as interações dele com os objetos, pessoas e suas próprias contemplações me soam muito mais rasas

A Max parecia alguém com uma personalidade mais definida, enquanto o Sean parece uma pessoa que a gente vai moldando ao longo da história. É meio esquisito, mas alguém aí sente isso também? Creio que essa impressão se deve pouco à dublagem, mas acho que é digno de nota o trabalho sensacional que o dublador do Daniel, Roman Dean George, faz; em contrapartida, o Gonzalo Martin, quem interpreta o Sean, parece mais artificial na transmissão das emoções.

Se posso pagar língua?É lógico que sim; lembremos que eu odiava a Chloe até metade do episódio 2 de Life is Strange e hoje acendo uma vela pra ela toda semana. Esse blog serve pra isso mesmo: um registro das minhas vergonhas e equívocos por um período da minha vida.


Mas, se tem uma coisa entre os dois jogos que posso sempre comparar e sempre ficar satisfeita, é a trilha sonora. Este novo episódio, como de praxe, nos apresentou novas e lindas músicas pelas quais já me viciei. Se quiser ouvir (quase) todas em loop até o próximo lançamento, tem neste link do Spotify.

Não falar dos poderes, não demonstrar os poderes e fugir do perigo. Pelo visto, os Diaz não estão conseguindo cumprir nenhuma de suas próprias regras. Ansiosa pelo que vai acontecer entre eles e a Cassidy? Vamos trocar figurinhas sobre isso tudo nos comentários aí embaixo?





Explicando "NÓS": o que tem por trás do filme

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A carreira de Jordan Peele era conhecida por trabalhos voltados pra comédia até o lançamento do seu longa de terror Corra!, em 2017, que abalou as estruturas do mundo cinéfilo com uma história original com pegada no racismo estrutural e um suspense bem construído. O sujeito, no ano seguinte, estava dando as caras em Hollywood apresentando um projeto meio que oposto ao que constava em seu currículo, concorrendo ao Oscar como Melhor Diretor e tendo Corra! candidato a Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Levou o homenzinho nu dourado por este último.   


Apesar dos 98% de aprovação no Rotten Tomatoes e do hype na ocasião do lançamento, minhas expectativas não foram atingidas (você pode conferir meu texto a respeito no link do parágrafo anterior). É um bom filme, merece todos os méritos e tal, mas nhé. Agora, eu remo contra a maré novamente (não que eu goste) com o novo de terror do Peele, Nós: fui fisgada pelo trailer intrigante e o considero um filme muito melhor do que Corra!– ao contrário de grande parte dos seus fãs. 


A história segue Adelaide, que, quando criança, sofreu um trauma enquanto comemorava o aniversário em um parque de diversões. Adulta e com família formada por marido e dois filhos, ela e a trupe viajam de férias para a mesma região que marcou negativamente sua infância. Mas antes fossem as más lembranças a estragarem o passeio; na noite primeira noite juntos, eles são aterrorizados por estranhas figuras que aparecem em frente à casa, revelando serem seus doppelgänger.

Doppelgänger, segundo as lendas germânicas de onde provém, é um ser fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de alguém. Hipoteticamente, pode ser que cada pessoa tenha o seu próprio doppelgänger (também conhecido como "duplo-eu").

O que eu mais gostei em Nósé como ele subverte concepções do horror com certa frequência, ao mesmo tempo que usa elementos do gênero pra provocar tensão.

Logo no início do filme, quando vemos a pequena Adelaide circular pelo parque sem a supervisão dos pais, um conjunto sutil de recursos deixa nítido que algo ruim provavelmente vai acontecer, principalmente porque o ponto de vista na câmera é da criança. E uma criança sozinha num parque oitentista prestes a levar um banho de um temporal que se aproxima não traz cenários felizes. Depois, no tempo presente, quando a família está na praia, um dos filhos decide ir ao banheiro, "coincidentemente" ao lado do lugar que provocou o trauma na protagonista, mas a expectativa do público sobre o que acontece é tapeada.   




Sem contar a câmera que te prepara para um jumpscare que você já viu 30948904 vezes em outros filmes e nunca acontece; o caminho do terror de invasão domiciliar que parece ser a escolha definitiva em Nós, mas não é, os momentos cômicos (nunca me diverti tanto num filme do tipo), e a pegada multicamadas da história que tem me agradado demais no gênero, como aconteceu com A bruxa, Hereditário e Mãe! (caso considerem este como filme de horror). 

Conversaremos mais sobre isso na parte com spoilers, porque, afinal de contas, entender o paranauê de Nósé vasculhar as interpretações que ele dispõe. 

Falando em interpretação, Lupita Nyong’o, a protagonista do filme (aliás, seu primeiro protagonismo na carreira!), está fantástica. Além de ser um colírio para nossos óleos, ela é extremamente expressiva e conseguiu estabelecer uma diferenciação brilhante entre a personagem original e a duplicada. Brilhante e assustadora, eu diria, já que a primeira sequência em que a sua doppelgänger surge me deixou com um desconforto fenomenal no cinema. O trabalho da postura, do olhar e principalmente da voz merece muitos méritos, e eu espero que Lupita seja reconhecida por Nós no próximo Oscar. Estou sendo Alice? Espero que não.

O resto do elenco também ganha estrelinha dourada aquiWinston Duke, quem faz o papel de Gabe, o pai da família, é o elemento do humor em cena. Há quem diga que algumas piadas ficaram deslocadas, suprimindo a tensão do momento, e não tiro a razão; mas eu estava tão maravilhada por me cagar de medo e rir na mesma medida, que relevei um pouco. De qualquer forma, Duke também realiza um trabalho bem feito ao criar a dicotomia do cara grandalhão, mas indefeso, na sua versão original, e o duplo que parece duas vezes maior e mais ameaçador.

Em Nós, conheci Shahadi Wright Joseph, quem faz a filha adolescente, e bato palmas pela forma como ela consegue expressar pânico de forma tão natural e, ao mesmo tempo, um sorriso 100% diabólico na versão doppelgänger da sua personagem. O garotinho Evan Alex também está bem, mas não tanto quanto os outros; eu diria que pelo menos o duplo de seu personagem também conseguiu me assustar. Por fim, não é possível passar por esse tópico sem exaltar a performance de Elisabeth Moss, quem eu venero desde que comecei a assistir a The handmaid's tale (a série mais obrigatória dos últimos tempos). Sua participação em Nósé bem menor que a dos outros atores, mas ainda assim ela entrega uma cena memorável e chave para entender melhor a dinâmica originais vs. duplos.

A montagem do filme é outro ponto relevante pra mim, principalmente em uma certa cena em que há uma luta e uma dança simultaneamente, assim como a trilha sonora. As partes com instrumentos de corda desarmônicos é de ranger os dentes, e as músicas licenciadas estão colocadas de tal forma que ajudam a contar a história (em especial, a que a gente entende por baixo da camada literal). 

"Quem pediu iFood?"

AS CAMADAS QUE EXISTEM EM "NÓS" (PROFUNDA ESSA FRASE)

Atenção, dona Teresinha, que a pamonha tá chegando quentinha e recheada de spoilers.

Nós funciona como uma história a ser absorvida em sua camada mais superficial: a de clones criados pelo governo americano como um experimento, vivendo nos túneis subterrâneos do país, que traçam um plano durante anos para subir à superfície e trocarem de lugar com suas versões originais. 

O problema é que essa solução traz várias pontas soltas no roteiro, motivo que me fez tirar meia estrela – ou melhor, meio pote de pipoca – da minha nota final para o filme. Há quanto tempo esse experimento existe? Como ninguém nunca descobriu (tem uma fucking escada rolante no subsolo)? Onde estavam os responsáveis por isso? Como os clones sobreviveram sozinhos por tanto tempo? Por que, enquanto abandonados, viviam com aquelas expressões de psicopatas? Como conseguiram tantas tesouras (e douradas, ainda por cima)? Pra quê a luva? Quem costurou aqueles macacões vermelhos sob medida? A mesma empresa de La Casa de Papel?

São os tipos de questionamentos que, quanto mais a gente faz, mais graça se perde. No entanto, procurar racionalidade o tempo inteiro num filme como esse não parece ser o melhor caminho. Como já diria Glória Perez, temos que nos permitir voar. Foi o que eu fiz; até porque as alegorias de Nós me pareceram muito mais interessantes do que a explicação para a Revolução dos Clones.

Pois bem: fora esse filme literal, Nós pode ser enxergado como uma crítica socialao american way of life. À desigualdade social. Afinal, é a "vida boa", dos privilegiados, representada pela galera original vs. o povo "de baixo", que vive na escassez e sonha com seu lugar ao sol – os doppelgängerPara cada pessoa comendo bem, existe uma outra no mundo passando fome. Para cada pessoa vivendo na riqueza, existe outra sobrevivendo na pobreza. Somos todos iguais, mas sob condições tão diferentes. Não é à toa, como muita gente já apontou, que em inglês o título do filme sendo US faça uma alusão à U.S, os Estados Unidos. Da mesma forma, quando Adelaide pergunta à sua dupla "Quem são vocês?", ela responde "somos americanos". Excluídos, mas cidadãos como qualquer um deles. 

Essa ideia também é reforçada quando conhecemos a personagem da Elisabeth Moss, uma dondoca (amo essa palavra) que vive no topo da cadeia alimentar, extremo oposto da representação dos duplos e símbolo master do estilo de vida almejado pela sociedade. Em determinada cena, quando ela pede para o marido abrir a porta de casa (sabemos que há um doppelgänger dele esperando do lado de fora), este responde (com um uísque 900 anos na mão) que "não quer sair do cantinho dele". Oras, quer metáfora melhor ao privilegiado preso à zona de conforto para não encarar o lado feio da humanidade?  

Então, certíssimos os macacões da cor do comunismo pra simbolizar os clones subindo e tomando os meios de produção.


Já li que essa cor vermelha pode ser referência aos republicanos e que, quando os clones estão juntos dando as mãos para formar a corrente, é uma alusão ao muro do Trump. Quando Adelaide sugere que eles fujam do caos, cita o México como destino. Túneis aparentemente sempre foram um meio de passagem dos imigrantes para os EUA, que foram construídos, aliás, com a força do trabalho de milhares deles, esquecidos nas sombras depois. No atual governo, apareceram até enjaulados, como os coelhos  um simbolozão de multiplicação  que ilustram os créditos de abertura do filme. 

Jordan Peele disse em entrevista que, ao invés de temerem ameaças externas, os americanos deveriam temer a eles próprios (anjo sensato; eu acrescentaria o Brasil nessa farofa). Ou seja, por mais que você não escolha essa interpretação como a do seu coração, ela também parece válida.  

Outra visão que, para mim, também faz bastante sentido, é a dos clones representando as pulsões humanas que insistimos em trancafiar no nosso porão mental. As versões originais dos personagens seriam as pulsões controladas pela sociedade, que dita como são os comportamentos moral e eticamente aceitáveis; ambos partem para uma luta em que nossos ímpetos desejam a todo custo se libertarem da prisão. A tesoura dourada, no caso, pode representar essa dualidade (duas partes iguais que fazem os mesmos movimentos), ao mesmo tempo que é um instrumento para CORTAR (laços, por exemplo). 

Essa quebra de "pacto" também pode ter começado na primeira sequência de Nós, em que a pequena Adelaide desobedece os pais, "rompe" o vínculo daquele momento e conhece seu outro eu pouco depois. É nesse meio tempo, inclusive, que ela vê a placa de Jeremias 11:11 pela primeira vez.   

Outro ponto que corrobora para essa interpretação das pulsões é o conceito de máscaras. Máscara é aquilo que você usa para cobrir seu próprio rosto, esconder-se; não por acaso, o pôster do filmeé a doppelgänger principal com uma espécie de máscara do rosto de Adelaide. E você há de concordar comigo que, na superfície, onde se estabeleceu a sociedade, estamos constantemente vivendo sob máscaras em algum nível – obedecendo regras, tentando impressionar os outros e contendo, claro, alguns desejos inconfessáveis.  

Dessa forma, existimos sob um incessante embate entre o eu que somos para o mundo e o eu que somos dentro de nós, representado pela cena em que há luta e dança ao mesmo tempo, entre Adelaide e sua clone. Uma tenta tomar o lugar da outra, mas, em uma dança, não podemos nos esquecer de que os passos do par avançam em harmonia para tornarem-se um só.


SURPRESAS NO FINAL DE "NÓS"




O plot twist da Adelaide ser a verdadeira doppelgänger me pegou, por mais que tenha sido previsível – e clichê – pra muita gente. 

E olha que as pistas foram dadas desde o começo. A própria camisa que a menina ganha de prêmio no parque é estampada com o clipe de Thriller, do Michael Jackson; para quem não lembra, no final da história contada no vídeo o personagem do cantor revela-se um lobisomem (ou seja, não é quem diz ser). Além disso, a versão duplicada da protagonista é a única entre os doppelgänger que sabe falar e parece mais racional, o que indica que ela teve contato com algum tipo de educação. Outra dica é o fato de a clone criança, por sua vez, "voltar" para os pais no parque de diversões sem conseguir se comunicar, mas o filme o tempo todo relaciona isso ao trauma criado dentro da casa de espelhos.  


PARECE QUE O JOGO VIROU, NÃO É MESMO?


No fim das contas, a Adelaide-doppelgänger consegue recuperar a família e eliminar sua versão original (o que me deixou inexplicavelmente meio triste).

Mas aqueles últimos segundos de Nós plantaram uma pulguinha atrás da orelha do público: o sorriso característico dos duplos que Adelaide pareceu especificamente direcionar para o filho caçula, que, em seguida, cobre o rosto com sua máscara de Chewbacca da 25 de Março. Vivendo sob máscaras novamente.

Seria o pequeno Jason um clone?

Há elementos que podem embasar essa teoria de que ele também teria sido trocado. Primeiro, que o garoto solta alguns palavrões na parte ainda inofensiva da trama e os pais ficam alarmados, perguntando onde ele tinha aprendido aquilo. Em outras cenas, ele tenta realizar um truque de mágica que "sente" que já fez antes, mas não se lembra mais como é; ou seja, o Jason original pode ter feito o truque e o doppelgänger só repetiu. 

Isso explica as queimaduras do suposto original: o moleque duplo pode ter mexido em um isqueiro e o Jason, já no subsolo, ao simular a ação, se ferrou. Você pode estar se perguntando se os clones conseguem controlar os originais, até porque, se essa teoria estiver certa, quem morreu carbonizado foi o Jason. A resposta é: provavelmente sim, já que a Adelaide original, vivendo nos túneis, sofria tanto quanto os outros duplos que estavam lá embaixo. Dois corpos, mas uma alma.     

OOOU simplesmente o moleque se queimou porque brinca demais com fogo, já que a maior conexão entre ele e seu duplo é a mágica com o isqueiro; e o ato de abaixar a máscara sobre o rosto tem um significado metafórico apenas para entendermos o status da fake Adelaide.     


O que você acha? Quais as suas teorias? Obrigado, guerreiro, por chegar até o fim do texto. Comenta aí embaixo como você interpretou as alegorias!



"Portanto, assim diz o Senhor: 'Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei'."
Jeremias 11:11 




IT, CAPÍTULO 2: livro vs. filme e por que achei este último meio cu

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O QUE NINGUÉM QUER SABER


Salve, salve!

(eu nunca falo isso na vida real)

Fiquei sem saber como começar um novo post depois de quase 6 meses sem escrever nada. Outras prioridades envolvendo meu trabalho como ilustradora e artesã (olha meu Instagram na coluna da direita) tomaram meu tempo e infelizmente joguei o blog pra escanteio. Mas sempre com o coração apertado, esperando por um momento “propício” pra voltar a palpitar e, talvez, manter alguma frequência de publicação.

Muitas oportunidades passaram. Talvez virem post em breve, mas, quando IT – capítulo 2 estreou, eu sabia que era hora de tirar algumas horinhas sei lá de onde pra atualizar esse cafofo. Afinal, eu já havia escrito que A Coisa é meu livro favorito de todos os tempos e que a primeira sequência do filme era uma adaptação decente. Faltava este texto pra fechar o ciclo.


IT, CAPÍTULO 2 SEM SPOILERS!


Lançado em 2017, ele é considerado o filme de terror mais bem sucedido da história. Eu particularmente fiquei surpresa com o feito, porque acho que vivi mais na bolha do hype de quem leu o livro e menos no hype do blockbuster de horror.

Neste intervalo de 2 anos, foi natural que a empolgação tenha baixado um pouco mesmo com a divulgação do elenco adulto. Já perto da estreia, o comichão voltou a se intensificar com as primeiras críticas – todas positivas e um percentual alto de aprovação no Rotten Tomatoes. O primeiro baldinho de água fria veio às vésperas da estreia, quando, de repente, várias pessoas saíram da caverna justamente pra tacar tomate no filme.

Infelizmente, me juntei a elas horas depois.


Eu parto do princípio de que A Coisaé realmente um livro difícil de adaptar, principalmente as partes que envolvem os Losers adultos enfrentando Pennywise. A batalha é muito mais mental do que física, e eu, sinceramente, não sei qual seria a melhor maneira de transpor isso pra tela.

Em contrapartida, se não sabe brincar, não desce pro play. Estou falando com você, Andy Muschietti.

Muschietti (de Mama) foi o diretor de It no primeiro filme e também é nesta continuação. Em 2017, tomei notas dizendo que ele sabe usar recursos pra assustar e criar um clima de tensão, mas exagera um pouco nos jumpscares. No capítulo 2, achei que esse clima esteve muito menos presente, dando lugar a ainda mais sustinhos baratos, dos quais estou cansada em filmes do gênero. Estou tão vacinada que sei exatamente quando vai ter jumpscare, o que torna tudo mais previsível e menos eficaz. It, na minha opinião, seria muito mais marcante se andasse pelos caminhos do terror psicológico e sugestivo.

Em suma, It - Capítulo 2é muito mais fraco que o seu antecessor.

Aqui, 27 anos depois, os Losers se encontram novamente em Derry para acabar de vez com a entidade que causa estragos na cidade em ciclos. Eles são forçados a se lembrarem do que aconteceu (porque, quanto mais longe de Derry, menos memórias do que você viveu existem - e isso é parte crucial no livro também), novamente enfrentando seus medos mais profundos.

A parte boa é que o elenco adulto tem química e você realmente acredita que eles são velhos amigos se revendo. Além disso, ponto pra equipe de casting do filme, que acertou em cheio ao selecionar atores que se parecem real oficial com suas versões crianças (Amy Adams e Sophia Lillis, quem faz a Beverly, dão mais match, mas você vai ter que conferir isso na série Objetos Cortantes, em que interpretam o mesmo papel).

Bill Hader, como Richie adulto, é a melhor coisa da turma. Suas piadas e reações são, muitas vezes, o alívio cômico para as cenas, mas Muschietti pesou a mão nesta sequência e vários momentos bem-humorados acabaram quebrando totalmente a atmosfera, que era pra ser sombria.

O desenvolvimento dos personagens (aliás, que desenvolvimento?) é bastante prejudicado também. Henry Bowers, coitado, aparece só pra constar sua inutilidade. O pecado foi terem dividido os filmes em infância e "tempos atuais", sendo que no livro as duas épocas são intercaladas constantemente, evoluindo os Losers lá e cá. Se você viu It 2, pode confessar: os momentos de flashback são os que mais aquecem o coração, não?


Pennywise, o trunfo do filme, aparece pouco pro meu gosto. Parabéns por tentar carregar o filme nas costas, Bill Skarsgård.

De resto, é uma sequência repetitiva e praticamente formulaica em relação ao primeiro filme com os personagens precisando se separar, a fim de confrontarem seus medos pessoais, levando um susto com alguma aparição do tinhoso. Quase 3 horas arrastadas de projeção nessa nhaca que sequer amedronta o espectador. Aquela cena veiculada antes da estreia, em que a Beverly volta ao antigo apartamento do seu pai e encontra uma senhorinha bizarra, prometia bastante, mas tudo vai por água abaixo quando Muschietti resolve inserir uns CGI HORROROSO no meio.

É cada monstro de borracha bem Super Xuxa Contra o Baixo-Astral, baranguice, clichês, diálogos sofríveis e trashzeira fora de hora que eu cheguei a sentir vergonha pela Jessica Chastain, me perguntando AMIGA, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ?   

Aliás, tem uma piada recorrente no filme sobre os finais dos livros do Bill, que virou escritor, serem ruins. Isso nada mais é que uma piada para o próprio Stephen King, autor de A Coisa, que é conhecido pelas histórias fantásticas e finais que não estão à altura. Pra mim, soou quase como uma justificativa para os próprios defeitos de It - Capítulo 2. "Olha só, a gente nem se leva tão a sério assim". Pô, e eu vou levar, então?


SPOILERS (INCLUSIVE DO LIVRO) FLUTUANDO: CUIDADO 


Além da piada dentro da piada, It 2 traz outros easter eggs bem legais, responsáveis por algumas das únicas vezes em que abri um sorrisão no cinema. 

O próprio Stephen King faz uma ponta no filme, como o dono da loja de quinquilharias que vende para Bill sua velha bicicleta Silver, que não via desde que abandonou Derry. O banho de sangue que Beverly leva no banheiro, num dos artifícios criados por Pennywise, é uma referência direta à Carrie, a estranha, assim como o "Here's Johnny" de Henry Bowers ao tentar forçar a porta, representando a provavelmente cena mais icônica de O iluminado.

O que não é piada é o terceiro ato de It - Capítulo 2. Como eu disse, é um dos trechos mais "psicodélicos" do livro, então a equipe da adaptação tinha que assumir a bronca.  



O tal "Ritual de Chüd" que é mencionado magicamente pela primeira vez nesta sequência é um dos primeiros capítulos da parte I do livro, se não me engano. As crianças o aprendem para tentar entender a origem da Coisa e replicam no futuro para tentar eliminá-la. No bunker do Barrens, elas se intoxicam de fumaça e têm uma visão de um asteroide chegando à Terra milhões de anos antes de Derry virar uma cidade do Maine.

Esse era a Coisa, uma entidade autodenominada "O devorados de mundos" originada no Macroverso que, na interpretação dos leitores, é basicamente a encarnação do Mal, em contraponto com o Bem, representado na figura de uma tartaruga (o máximo que o filme faz é colocar uma tartaruga empalhada em primeiro plano, em uma cena aleatória, só pra agradar a gente). Admito que não gosto muito dessa origem criada por King e imaginei que Muschietti iria reimaginar o surgimento do vilão de um modo mais humano, mas fui enganada pela propaganda (ps: sou publicitária). 

O fato é que a forma original do Pennywise é uma forma que a mente humana não consegue assimilar 100%, mas que, no livro e no filme, ganha os contornos de uma aranha gigante. Eu até gostei da maneira que adaptaram, ao menos em comparação ao que fizeram na minissérie dos anos 1980. Ponto pra eles. 

Mas, aqui, o Ritual de Chüd ficou conhecido somente pelo Mike adulto como a maneira que os povos antigos arranjaram para batalhar contra a Coisa. Exigia que cada integrante do ritual trouxesse um "artefato" que simbolizasse uma importância para ele, mãos dadas, união, a crença de que podiam vencer e um objeto original desses indígenas. Algo que nunca foi mencionado antes no filme anterior e que, além de barango, transformou o Macroverso de Pennywise em bolinhas de pompoarismo saindo de uma vagina dentada.

A forma como os Losers matam a Coisa é, basicamente, como no primeiro It. Com bullying, rs. Gostei do fato de que precisaram enfraquecê-la de acordo com a forma que ela assume - no caso, o palhaço -, para torná-la algo passível de ser morto por mortais, mas essa conclusão, até simples, parece que demorou demais pra chegar. E não foi fortemente associada ao fato de que é porque os Losers haviam se esquecido de como fizeram na infância. Se a Coisa se alimenta do medo, nada mais eficiente do que mostrar o oposto pra ela. 

Por fim, o fim do filme. Ao contrário dos pobres livros de Bill e da piada com Stephen King, foi satisfatório pra mim, ainda que antagônico ao livro. Explico: na obra original, pois mais que a Coisa tenha sido completamente eliminada, quem sai de Derry continua se esquecendo do que viveu na cidade. E isso acontece com os Losers; à medida que se afastam, suas memórias vão se apagando. No filme, não. De qualquer forma, felizmente Muschietti não se esqueceu de que a essência da história está na relação de amizade entre essas sete pessoas e de como se apoiam uma na outra para crescerem. O horror é pano de fundo.   

Nesse contexto, gostei da justificativa do suicídio do Stan (no livro, ele simplesmente se mata por saber que não iria suportar encontrar a Coisa de novo) como uma jogada "de mestre" para os amigos se reunirem. E gostei, também, da paixão secreta do Richie pelo Eddie. No livro, a insinuação é de que apenas o Eddie fosse gay - e com um crush no Bill, ainda por cima.

Bufei durante boa parte do filme, mas foi um pouco difícil segurar a emoção quando ele escreve R+E na ponte do beijo e vemos pela última vez as crianças em suas bicicletas, quando era possível sorrir em Derry. Foi um pouco do que senti lendo a última página de A Coisa, mas sabendo que aqueles sete personagens inesquecíveis, dali a um tempo, não se reconheceriam mais. 



Nota:





RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS é pura poesia visual

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(pode seguir sem medo, não tem spoilers!)

Antes de qualquer coisa, um feliz 2020 pra quem vive a vida no modo episódico e aproveita as viradas de ano para retomar projetos, tirar desejos do papel, investir nas verduras, perder barriga, ver mais filmes. Como eu.

A quem possa interessar, em 2019 entreguei este blog às moscas sem data pra retorno por uma série de motivos envolvendo tempo apertado e muito trabalho pra fazer (ainda não o conhece? Clica aqui, rapaz!). A princípio, diante desse caminho, minha ansiedade e frustração atingiram seu pico, mas nada pude fazer a não ser reconhecer as minhas prioridades. Agora, neste novo ano, depois de organizar melhor meus horários, pretendo voltar a escrever mais aqui, ainda que mais esporadicamente. E o motivo que me fez despertar esse defunto, assunto do texto de reestreia, foi Retrato de uma jovem em chamas.

É com pesar que digo que, desta vez, não farei uma lista dos melhores filmes assistidos em 2019 porque foi o ano em que menos investi no cinema em muito tempo. Mas Retratoé um dos poucos que assisti na vida e que considero simplesmente perfeito.


Dirigido e escrito pela francesa Céline Sciamma (responsável pelo também excelente Tomboy), ovacionado em Cannes e ganhador do prêmio de Melhor Roteiro, além do Queer Palm, o filme é ambientado em uma ilha isolada, no ano de 1770, onde vive uma condessa e sua filha, Héloïse (Adèle Haenel), prometida para um rapaz de Milão. Mas, para aprovar a noiva, ele precisa receber um retrato dela, tarefa atribuída à pintora Marianne (Noémie Merlant). O problema é que Héloïse se recusa a se casar, portanto, Marianne precisa fingir que é sua dama de companhia durante o dia e pintá-la em segredo à noite.

Retrato de uma jovem em chamasé uma pintura, tal qual o cerne da sua história. Cada frame é um quadro. Cada diálogo, um deleite. Um filme sobre mulheres, feito por mulheres. Uma poesia visual, um orgasmo cinematográfico, uma história de amor eternizada na arte. Eu queria gastar meia página com analogias que demonstrem o quão extasiada fiquei ao assisti-lo.

Como a imagem deste texto e a sinopse sugerem, à medida que os dias passam, Marianne e Héloïse se aproximam cada vez mais e se apaixonam. E a forma como isso é contado e como essa relação se desenvolve estão em todos os detalhes em cena, por meio de camadas ricas, uma fotografia impecável que constantemente nos remete às pinturas do Romantismo, cores, gestos, enquadramentos, olhares e o símbolo principal da história: o fogo.


Ele está presente quase o tempo inteiro aqui, indicando a progressão da dinâmica das personagens em um jogo delicado e sensual ao mesmo tempo. Temos a silhueta nua de Marianne fumando em frente a uma lareira; o momento belíssimo quando ela descobre o antigo retrato inacabado de Héloïse, em que a pintora passa a chama da vela que carrega pela pele do braço de sua musa, como se o acariciasse, até estacionar no lado esquerdo de seu peito e deixar arder, literalmente; culminando na cena em que ambas enfim – como posso dizer? – se entregam uma à outra e a luz do fogo por trás as ilumina completamente.

Olha, eu fiquei até sem ar.

Retrato de uma jovem em chamas abre a conversa sobre observar e ser observado. Enquanto objeto do retrato, Héloïse é contemplada por Marianne, que, por sua vez, também é contemplada por Héloïse. Inspiração mútua. Foi como li em algum lugar: apesar de pinturas desse tipo serem feitas para o consumo masculino, Céline Sciamma as coloca como parte de histórias LGBT não contadas. Principalmente por meio do olha feminino, que faz essas duas personagens se enxergarem e se reconhecerem uma na outra. Há um take, inclusive, envolvendo um pequeno espelho redondo, que reforça brilhantemente essa ideia.

Dessa forma, a diretora quebra o conceito do amor idealizado. Com seus vestidos vermelho e verde – cores complementares –, Marianne e Héloïse estão lado a lado em uma perspectiva de igualdade. Esta última não admite ser retratada como não é, o que é revelado quando Marianne precisava memorizar seus traços para pintá-la.

Em outro momento, a filha da condessa confessa seu desejo de mergulhar no mar mesmo sem saber se consegue nadar, representando o contraste de sua aparente serenidade com o turbilhão de emoções dentro de si. "Eu quero isso, mas não sei como será". E acompanhamos cada descoberta como essa com um sobressalto no coração, conscientes de que algo está germinando, até elas não poderem nadar de volta pra areia. Um clímax evidenciado de maneira impressionante, quando as protagonistas estão separadas por uma enorme fogueira ao ar livre e a barra do vestido de Héloïse se incendeia (na melhor tradução do título do filme), enquanto um grupo de mulheres canta em latim "Fugere non possum", "não posso fugir"– tanto do sentimento em vigor quanto do espaço e do tempo em que vivem. 


Come on, estamos falando do século XVIII. Retratoé honesto ao, nos seus primeiros minutos, já deixar claro que o realismo histórico que propõe não abre exceções para um "final feliz". Portanto, nossa imersão vai ao encontro de como esse romance sobrevive por meio da memória, análogo ao mito de Orfeu e Eurídice. Ele desce ao mundo de mortos para resgatar sua amada sob a condição de que não olhasse para ela até chegarem ao mundo superior. Porém, perto de cumprir o acordo, ele não resiste e desobedece Hades.

A discussão das personagens sobre o que levou Orfeu a isso e sua conclusão dentro da alegoria de Retrato de uma jovem em chamas é uma das passagens mais lindas que já presenciei num cinema e me fez implodir em lágrimas.

Além das impossibilidades do amor, o filme também nos apresenta um contexto maior sobre a cumplicidade entre mulheres, que se apoiam, se ajudam e são donas do próprio nariz, em contraponto à sociedade extremamente patriarcal para a época. Podemos sentir a pressão dessa condição quando nos deparamos com a presença de um homem num longa 98% tomado por elenco feminino e ficamos tensos.



Gostaria muito de ver Retrato no Oscar 2020, mas acho pouco provável de acontecer porque sua distribuidora é a mesma de Parasita (também foda pra caralho), que tá fazendo campanha pesada pra esse filme nas premiações. E com razão. Por isso, o escolhido da França pra tentar uma vaga entre os candidatos a Melhor Filme Internacional foi Les Miserábles. De toda forma, Retrato é, sem dúvidas, uma obra-prima e um dos grandes nomes de 2019. 

PELO AMOR DE DEUS, NOÉMIE MERLANT, ME PINTE COMO UMA DE SUAS FRANCESAS

– Você sonhou comigo? 
– Não. Eu pensei em você.

Nota:






Retrato de uma jovem em chamas estreia nos cinemas brasileiros no dia 9 de janeiro de 2020.

Review: TELL ME WHY - o primeiro game com protagonista trans

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Não vou dizer os motivos de eu ter ficado ausente em praticamente 2020 inteiro porque esse ano dispensa justificativas, e também não prometo frequência de textos por aqui, por mais que eu queira, mas o importante é que vim tirar a poeira do blog no primeiro dia de 2021. 

Hoje, além de sonhar com vacinas, concluí a gameplay do game Tell me Why, lançado em setembro deste ano pelo estúdio francês DONTNOD, criador da franquia Life is Strange. Mais uma aventura episódica pra conta, com três capítulos de 2h30 - 3 horas cada (dependendo do seu nível de exploração, as always); mas, diferentemente de LiS, em que o espaço de lançamento entre os episódios era de meses, aqui foi de apenas uma semana pra cada. ATÉ QUE ENFIM, NÉ?

Disponível para Xbox, PC e Steam (onde joguei), Tell me Why acompanha o reencontro dos gêmeos idênticos Alyson e Tyler Ronan 10 anos depois de uma separação abrupta, ainda crianças, quando sua mãe atentou contra a vida do garoto, movida por transfobia. De volta à sua cidade natal no Alaska, onde o único lugar quente deve ser o cu de uma foca, ambos precisam vender a velha casa da família. No entanto, no meio do caminho, decidem montar um quebra-cabeças de suas vidas para conseguirem seguir em frente.  

Tratar de temas sociais virou uma característica notável da DONTNOD. Enquanto no primeiro Life is Strange a abordagem da relação de Max e Chloe se transformando de amizade para amor romântico foi mais discreta (mas não menos palpável), no segundo game da franquia o estúdio soltou a mão na bandeira do arco-íris: criou uma rota bissexual para o Sean, e aqui, em Tell me Why, temos o primeiro protagonista transsexual da história dos games. Tudo construído com muita sensibilidade e com a colaboração do GLAAD, um grupo de defesa LGBTQI+. 

A identidade de gênero do Tyler é algo bastante marcante na história, assim como o impacto disso para ele, mas definitivamente não é o que move a narrativa. Podemos inclusive dizer que Tell me Why daria um ótimo Life is Strange 3. Afinal, como comentou minha parça Áurea, a DONTNOD importou várias coisas da franquia, como uma estranha fixação por piratas, polaroids e deixar crianças órfãs e traumatizadas. 

Piadas à parte, TMW e LiS compartilham trilhas sonoras massas, um toque sobrenatural, temas que englobam conexões e relações humanas, uma direção de arte linda (alô, BRKS Edu) e a importância de fazer as pazes com o passado.


A MECÂNICA 


Além disso tudo, Tell me Why possui a mesma mecânica de Life is Strange. Exploração de cenários e coleta de objetos, diálogos guiados e, claro, sistema de escolhas. Sim, meu chapa, esse game é feito de escolhas, assim como nossas vidinhas, e as decisões que você toma influenciam a história.

A gameplay em point and click não me incomoda, até porque sempre tem um viés nostálgico por causa de LiS, mas às vezes a exploração - apesar de servir para conhecermos melhor a cidade e seus moradores - fica meio sem graça. 

O ponto alto está na ferramenta de telepatia e de reviver memórias.

Alyson e Tyler compartilharam muito mais que o útero da mãe: como gêmeos, compartilharam a capacidade de se comunicar mentalmente(o que eles chamam de usar a Voz) e de vislumbrarem lembranças como se elas estivessem acontecendo no presente, numa espécie de holograma.

Essas habilidades estão intrinsicamente ligadas às escolhas que existem ao longo do jogo. E funcionam basicamente para definir quão fortes os laços entre os irmãos ficarão ao fim da história, além de estabelecer seus próximos passos na vida. Porém, em LiS 1 e 2 as escolhas não deixam o jogador entender com clareza para quais caminhos ele está sendo levado, o que prefiro muito mais. Tanto é que a última decisão em Tell me Why foi extremamente fácil para eu tomar; acredito que pra maioria de quem jogou também, a menos que quisessem simplesmente testar pra onde a outra escolha levaria. Mas estou falando sob a ótica da minha experiência pessoal, claro.

Atenção ao fato de que você pode perder diálogos e cenas inteiras se fizer uma ação diferente ou uma exploração do ambiente na "ordem errada", e perder informações relevantes na hora de escolher o que vai perguntar ou responder em diálogos.

Vale também lembrar que memórias são algo frágil e mudam detalhes com o passar dos anos. Ou seja, uma coisa que você vive agora se tornará uma lembrança meio abstrata daqui a um longo tempo. Será então que as de Alyson e Tyler são mesmo fiéis à realidade? 



O LIVRO DOS GOBLINS E OS PUZZLES


Se em LiS 1 e 2 a gente tinha um diário como ferramenta importante pra entender outros aspectos das tramas, aqui temos o Livro dos Goblins - uma coletânea de contos de fadas criados pelos gêmeos e por sua mãe que fazem uma analogia gigante com todos os personagens e acontecimentos que foram vitais para o ponto histórico em que estamos no game.

Leva tempo, mas é importante ler todos. Além de abranger seu olhar sobre a história e (talvez) te levar a deduções das reviravoltas, os contos são essenciais na resolução dos vários puzzles pelo caminho. Isso eu achei bem legal: tive a impressão que os puzzles vieram em maior quantidade em relação à outra franquia de jogos.

Sobre os personagens-fantasia, são todos os colecionáveis que você pode encontrar ao longo dos capítulos. No fim do game, é possível reuni-los fisicamente em um momento-chave.


EASTER EGGS


BROOKLYN 99

Eu (ainda) não assisto à Brooklyn 99, mas como também bem apontou a Áurea, aparentemente o policial Greggs foi bastante inspirado no personagem Norm Scully da série

Coincidências existem e às vezes não, crianças. 


LIFE IS STRANGE 1

(se não quiser spoilers, pule para o último parágrafo do texto!)


Abri um sorrisão quando encontrei esse cartaz no segundo episódio de Tell me Why. Não, os games não fazem parte do mesmo universo, mas a referência está lá. É uma propaganda de câmera instantânea famosa, que faz o Michael (personagem que Tyler conhece quando chega à cidade) relembrar: "Era algo poético sobre viagem no tempo e a vida ser estranha, eu acho."

BA-TUM-DSS


VAMPYR


No mesmo cenário, tem esse cartaz-easter egg de Vampyr, um RPG vampiresco criado pelo estúdio e disponível desde 2018.


REMEMBER ME


E esse aqui, de Remember me, primeiro jogo lançado pela DONTNOD, em 2013.

Se você visualiza os três cartazes, ganha uma conquista/trofeuzinho. ;)


No frigir dos ovos, o game tem uma história bonita, bons gráficos (longe daquele visual razoável de LiS 1) personagens bens construídos e bem interpretados e um apelo emocional forte. Porém, não me envolvi tanto quanto gostaria, e acho que isso se deve em parte ao formato mais curto da narrativa, que não me ajudou no quesito desenvolvimento e apego aos personagens secundários. (mas caíram lágrimas em determinado momento perto do fim, viu?)

Agora, uma pergunta: Backstreet Boys tá tocando na sua cabeça?



Review: Uma luta contra a Inquisição em A PLAGUE TALE - INNOCENCE

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Quem é inquisidor e quem é praga pode entrar e pegar um cafezinho porque o texto da vez é, novamente, sobre um game que trata dessas duas coisas! Já assumi que deixei de ser a leitora assídua e a cinéfila chata de outrora para mergulhar nesse mundo de violência, alienação e nerds punheteiros que é o mundo de jogos. Follow the baile. 

A plague tale: innocence, disponível para PC (Windows), PS4 e Xbox One, é um game indie desenvolvido pelo Asobo Studio e publicado pela Focus Home Interactive. Bastante focado em sua proposta de história, coloca o jogador para acompanhar a jornada dos irmãos Amicia e Hugo na realidade da França do século XIV, em que precisam escapar dos soldados da Inquisição, que estão atrás do menino por causa de uma misteriosa doença que o isolou do mundo desde o seu nascimento. 

Com uma gameplay de cerca de 20 horas, na pele da adolescente, temos que aprender a lidar praticamente sozinhos com alguém tão sangue de "nosso" sangue, mas que mal conhecemos justamente pela impossibilidade da convivência. É nesse período que os laços de confiança, afeto e, também, desavenças, se aprimoram, fazendo com que nós, jogadores, também desenvolvamos nossa própria empatia por eles. 

Como se não bastassem o cenário hostil de uma guerra, a perseguição e a luta por sobrevivência por si só, Amicia e Hugo também enfrentam pelo caminho uma horda de ratos que não só transmite uma praga terrível, como pode te devorar vivo.  

É o tipo de jogo pra relaxar depois de um longo dia de trabalho.


Achou interessante? Então confere mais detalhes sobre jogabilidade e pontos positivos e negativos logo mais embaixo - SEM spoilers da história. :D



JOGABILIDADE: TACA PEDRA NA GENI

Como eu sugeri, o forte de A plague taleé a história e isso pode desagradar algumas pessoas, uma vez que, nesse caso, o percurso é totalmente linear e tira um pouco de desafio. Eu particularmente não desgosto, pois perdida já basta na vida.

Para lidar com obstáculos humanos e animais, Amicia precisa usar uma atiradeira da qual é muito familiar, primeiramente atirando pedras e, à medida em que avançamos, outros itens, que ela consegue fabricar com base em receitas de alquimia. Assim, ela ganha munições específicas para diferentes demandas, como matar, distrair ou atordoar inimigos e afastar ratos. 

Além disso, Amicia consegue aprimorar sua habilidade na alquimia, arrumar mais espaço na bolsa e silenciar sua arma, o que é bem útil, já que dá pra armazenar mais matéria-prima e não chamar a atenção de soldados antes de acertá-los.    


TENTE FUGIR DE GENTE BURRA

Furtividade e combate a longas distâncias são o que dominam A plague tal na maior parte do tempo, dentro do sistema linear em que há um roteiro/caminho predeterminado pra você executar.

O problema surge quando essa mecânica entra em atrito com a mobilidade de Amicia e do inimigo. Eu, no auge do meu sedentarismo, consigo correr atrás de ônibus com mais autoridade do que a protagonista quando tenta fugir dos soldados, travadona na artrite. Eles são muito mais velozes que você quando te perseguem, portanto, um passo em falso (no sentido literal e figurado) te leva à morte. 

Mas o que têm de rápido eles têm de burros: com uma inteligência artificial prejudicada, numa hora te enxergam escondida atrás de um arbusto, mas basta você se mover para outro esconderijo e em questão de segundos eles não fazem mais ideia do caminho que você pode ter feito.  


Conclusão: entendendo a programação dos soldados (pra onde caminham e o que fazem, que são sempre um loop),é possível se safar de um lugar lotado de inimigos sendo sorrateira e calculando bem precisamente seus passos, porque a limitação de movimentação é clara. Inclusive algumas ações implicam uma série de procedimentos que você precisa tomar usando diferentes itens (aqueles que você fabricou) através do menu radial e, ainda por cima, se mover. E sabemos que só uma pessoa no mundo conseguiria fazer isso com 100% de maestria enquanto assa um lombo: Rodrigo Hilbert. 

Além desse tipo de combate, os pequenos desafios ficam por conta de puzzles em transições de cenários e para se livrar dos ratos, que eu curti muito. No entanto, atenção na hora de pedir ajuda para seus aliados (que são NPCs / personagens não controlados): a burrice dos soldados se aplica a eles, o que pode tornar o quebra-cabeça um pé no saco se você não realizar as ações na ordem correta. 


ALTOS E BAIXOS

A direção de arte de A plague tale é impecável. A fotografia, os jogos de luz e sombra que intercalam cenários diurnos e becos escuros iluminados apenas por pequenas fontes de calor impressionam até os mais vividos jornalistas de campo do Globo Repórter. Além disso, a ambientação em si de uma Era Medieval consegue sem problemas te transportar pra época.

O gráfico dos personagens também é muito bonito, mas achei que as expressões faciais deixaram a desejar, principalmente em momentos de sofrimento, que não foram fiéis ao contexto pelo qual as pessoas estavam passando. Ao mesmo tempo, temos que dar uma colher de chá ao estúdio independente, que soube compensar essa fraqueza com uma boa escolha de elenco: os dubladores, além de transmitirem de forma satisfatória os sentimentos exigidos, entregaram um sotaque francês decente sem ficar caricato.

Ponto também para o conceito criativo dos ratos, que, com seus guinchos perturbadores, me causaram muito mais temor que os inimigos humanos.

Agora, a parada ruim pra mim mesmo-mesmo, a ponto de me deixar irritada, foi o terceiro ato de A plague tale. Prestes a concluir sua história, o jogo exagera na quantidade de combates - sendo uns bem mais difíceis, principalmente pela limitação de que já falei - tirando a diversão que obrigatoriamente deveria existir. 

Nessa aparente intenção de intensificar as batalhas até chegar no "chefão", a minha gameplay ficou cansativa e pode ter prejudicado minha absorção do fim da história. Por mais que eu tenha acreditado na relação de afeto progressiva entre os irmãos, não me envolvi tanto emocionalmente quanto poderia ter me envolvido e esperava uma resolução mais focada nesse aspecto, e não em literalmente "acabar com o mal pela raiz", rs.


Mas uma coisa é certa: o innocence do título do game pode ter tudo a ver com amadurecer e encarar as realidades de uma época terrível. Porém, também fala da resistência dessa inocência - a capacidade de não deixar a podridão do mundo te corromper, alusão feita pela doença de Hugo, um menino que nunca perde o olhar de quem ainda enxerga magia nas pessoas e nas coisas. Isso me pegou. 


Nota:


7 Documentários De True Crime Em Streaming Pra Você Assistir

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Documentários true crime

Sinta-se à vontade sem se sentir constrangido por gostar de true crime, meu camarada detetive de sofá. Aqui, somos iguais.

Quando escrevi o texto 4 documentários de crimes que deixam qualquer pessoa puta da vida, há uns três anos, a Netflix ainda monopolizava o streaming no Brasil. Mas, hoje, com tantas opções mais de assinatura (e de parasitar assinaturas dos amigos), chegou a hora de dar uma atualizada por aqui.

Se existe um gênero do cinema que eu amo, é documentário. E, se for documentário de true crime, pode me dar o controle remoto e o balde de pipoca que o dia vai ser de festa. Não sei exatamente o que me causa mais fascínio, se é o mistério em si, como se dá a investigação policial, o debate sobre mentes criminosas ou a obsessão em dar um rosto ao suspeito da história. Só sei que o tema tem ficado cada vez mais popular, especialmente em podcasts (visto que me tornei uma ouvinte aplicada, coisa que nunca me imaginei sendo), e é muito legal encontrar tanta gente que curte a mesma vibe.

Nestes últimos tempos andei consumindo muita coisa boa dentro do true crime e, pensando nessa comunidade que ama compartilhar novas descobertas no meio, vim indicar 7 documentários massa de true crime exclusivamente em streamings pra você colocar na sua lista:   


1. Cenas de um homicídio: uma família vizinha

Onde assistir: Netflix


De tão chocante, esse caso ficou superfamoso nos EUA e fora dele e, mesmo que você já o conheça, o doc da Netflix vale a pena ser assistido.

Spoilers são proibidos por aqui, mas posso dizer que se trata de uma "família americana perfeita" (uau, que surpresa) que toca sua vida normalmente até que a mãe, grávida, e suas duas filhas desaparecem. Acho que o resto precisa ser acompanhado de perto através dos vídeos compilados tanto da polícia quanto das redes sociais, que recriam os principiais momentos da família Watts e, principalmente, as últimas semanas de Shannon e das meninas.  

Ainda que esse longa não tenha uma progressão de ritmo que culmina num, sei lá, clímax, a condução da investigação prende e a realidade em si é o que mais choca. Como uma motivação tão torpe é capaz de levar pessoas a extremos?

Trailer:


2. Eu terei sumido na escuridão

Onde assistir: HBO Max


Serial killers como "The night stalker", Ted Bundy, O Assassino do Zodíaco, Jeffrey Dahmer e John Wayne Gacy são extremamente famosos pelos seus crimes, e é bem difícil que um aficionado por true crime não os conheça. No entanto, existem outros criminosos tão sanguinários quanto e que acabaram não ganhando tanto espaço nos fóruns mundiais, como é o caso do Golden State Killer, foco da série documental Eu terei sumido na escuridão.

Em seus seis episódios, ela é incrível ao criar uma narrativa de ritmo excelente, intercalando a linha do tempo de atuação do assassino durante 12 anos, as vítimas sobreviventes e a vida da jornalista Michelle McNamara, quem colocou os holofotes de volta sobre esse caso depois de mais de 30 anos com o responsável ainda livre e solto nas ruas. 

Michelle, na verdade, é tão estrela quando ele nessa história, já que faleceu enquanto escrevia um livro (no qual essa série é baseada, na real) a respeito dos crimes e, parecendo saber de mais detalhes dos inquéritos do que os próprios policiais, estava perto de descobrir a identidade do culpado. Seráse conseguiu?

Sério, a HBO pode ser uma desgraça pra criar aplicativos de streaming, mas teve a manha demais nesse doc. Você não vai se arrepender em dar o play.


Trailer:



3. Grégory

Onde assistir: Netflix


Não sei por que essa série documental é pouco falada.

Seus méritos não estão só em uma produção concisa e bem feita em apenas 5 episódios, considerando a quantidade de informação pra trabalhar, mas em uma história que, por si só, poderia muito bem ser um roteiro de um filme de suspense recheado de plot twists. 

Mas, infelizmente, não é ficção, e assassinatos de crianças sempre são mais pesados que outros, não importa quão incrível a trama pareça.

Trata-se do menininho Grégory Villemin que, em 1984, desaparece enquanto brincava na frente de casa e poucas horas depois é encontrado sem vida em um rio, com os pés e as mãos amarrados. Além do caso ter ganhado um grande espetáculo midiático sensacionalista na França, junte à mistura elementos de vingança, aquele tipo de vilarejo onde "todo mundo se conhece", uma família cheia de segredos, ligações misteriosas de um personagem anônimo denominado "O Corvo", um juiz podre de incompetente e acusações contra os próprios pais da criança.   

Vai sem medo, que é uma das minhas top indicações quando o assunto é documentário de true crime.


Trailer:



4. The Jinx: the life and deaths of Robert Durst

Onde assistir: HBO Max


Vamos começar dizendo que essa série documental ganhou dois Emmys? Vamos. Vamos dizer que ela meio que trouxe evidências de crimes que a polícia, em anos, nunca conseguiu levantar? Vamos também.

Robert Durst, suspeito de pelo menos três homicídios, é o protagonista dessa produção (é, a HBO manda bem demais em documentários) e o principal entrevistado ao longo dos 6 episódios. Um senhor de idade, bilionário, polido, de fala mansa, comportamento contido. Mas cujos olhos negros você não consegue encarar por muito tempo sem achar que vai cair num abismo.


Na moralzinha. Quantos segundos deu aí?

Se você estiver se perguntando como esse sujeito pôde ser entrevistado na maior calmaria do mundo, com esse background de crimes, a resposta está simplesmente no fato de que homens brancos e ricos raramente têm algo a temer. E talvez porque tenha havido uma falha judicial gigantesca. Afinal, pistas pra polícia correr atrás de Bob (a íntima) não faltaram.

A princípio, The Jinx surpreende justamente por ser um documentário de true crime que coloca microfone na camisa do possível culpado. Mas também por praticamente entregar um estudo de personalidade desse personagem real, com uma montagem planejada de tal forma que a narrativa dos acontecimentos te deixa sem fôlego.

A reviravolta no final é inacreditável.


Trailer:

 

5. O caso Evandro

Onde assistir: Globoplay


Vou confessar: tenho preconceito com quem sequer ouviu falar do caso Evandro.

Não pelo caso em si, até porque aconteceu no começo dos anos 1990. Mas pela temporada do podcast Projeto Humanos, conduzido pelo jornalista Ivan Mizanzuk, que esmiuça toda a história em mais de 30 episódios maravilhosos (e responsáveis por me fazer entrar definitivamente no universo dos podcasts). Eles fizeram tanto, mas tanto sucesso, que a Globoplay comprou os direitos de adaptá-los para uma série documental.  

O caso teve seus réus, julgamentos, condenações e um encerramento oficial. Porém, o que Ivan levanta em sua investigação é se a justiça foi realmente feita

Na ocasião, na pequena cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, o menino Evandro Ramos Caetano, de 6 anos, desapareceu misteriosamente. Dias depois, seu corpo foi encontrado em um matagal da cidade, sem os órgãos, com mãos e pés amputados e a cabeça raspada. Só isso já dá um ar absolutamente macabro à tragédia, resultando numa pressão absurda para encontrarem o responsável o mais rápido possível, e levando a polícia a acreditar que se tratava de um ritual satânico

Sem mais a dizer para não estragar nenhuma experiência, só deixo aqui a informação de que as pesquisas do Ivan trouxeram uma prova inédita para o caso Evandro. E, se você preferir ouvir antes o podcast pra depois conferir o documentário, eu recomendo 200%.


Trailer:

 

6. Mistérios sem solução

Onde assistir: Netflix


Já com duas temporadas, essa série não se trata exclusivamente de true crimes, mas conta casos reais que não foram esclarecidos. Dentre os temas estão, sim, crimes chocantes, mas também há desaparecimentos misteriosos, supostos encontros com seres extraterrestes e até casos paranormais.

E um desses crimes (ou seria suicídio?) faz parte da história de Rey Rivera, o episódio que abre a série e descaralhou completamente a minha cabeça. Se quiser dar play só nas minhas indicações, pode partir também para os episódios Treze minutos, Casa do terror, Óvni de Berkshire (se você curte o tema UFO), Um corpo no aterro, Morte em Oslo e A mulher do lago.
 
(ou seja, praticamente todos)

Como eu disse no começo do texto, uma das coisas que me fascina nesse universo true crime é o mistério em si dos casos e do rosto sem face do culpado. Não à toa, quando a parada não foi solucionada, eu fico ainda mais instigada a consumir pesquisas a respeito. 

Cada história é bem resolvida dentro de seu único episódio, então tá mole, mole assistir. 


Trailer:


7. Don't  f**ck with cats: uma caçada online

Onde assistir: Netflix

Mas, se você prefere casos solucionados com uma investigação eletrizante feita por DETETIVES DE SOFÁ, então Don't fuck with catsé sua pegada de documentário true crime.

Dividida em três episódios, a série começa a treta toda em cima de um vídeo de 2010 no Youtube, em que um cara brinca com dois gatinhos para, em seguida, sufocá-los em um saco plástico. O sadismo da publicação, claro, viraliza, e faz com que várias pessoas ao redor do mundo se unam para tentar encontrar o culpado. Foi assim que o grupo do Facebook Find the Vacuum Kitten Killer for Great Justice é criado, juntando rapidamente 4.000 participantes.

Daí pra frente é uma montanha-russa de emoções no espectador (sendo que alegria não é uma delas). A construção da narrativa é ótima, sempre com um ritmo muito bom, mostrando como o trabalho da polícia só foi efetivo graças à investigação de centenas de pessoas anônimas, que fizeram das tripas coração pra correr atrás de um sujeito que constantemente criava perfis falsos de seguidores, enquanto na vida real era quase invisível. 

Tão impressionante quando testemunhar a pré-disposição dessas pessoas revoltadas com os crimes, é acompanhar a revelação de que o tal lunático é muito mais perigoso do que se imaginava.


Trailer:


9 motivos para assistir Arcane, a maior estreia da história da Netflix

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Sabe o conceito de "chegar chegando"? Foi o que Arcane fez ao entrar no catálogo da Netflix em novembro e, no mesmo dia, desbancar nomes como Round 6 como série mais assistida, tomando o lugar do TOP 1 em 38 países. Foi assim que, quase instantaneamente, se tornou a maior estreia da plataforma, colecionado milhões de plays.

Essa explosão de sucesso começou pelo fato de que Arcaneé baseado no universo do game League of Legends, distribuído de forma online e gratuita. Nessa, imagine quantos jogadores e fãs existem ao redor do mundo. E, desde seu lançamento, em 2009, o game só vem se expandindo, ganhando competições globais em transmissão televisiva e até apresentações musicais. Negócio de outro mundo.

Eu, que só tinha ouvido falar do game (e nem vou jogar, porque definitivamente não é minha praia), não botei muita fé a princípio. Além disso, confesso que fiquei com preguiça por ser série de animação. Acho que, inconscientemente dentro do meu preconceito, encarei a obra como uma provável experiência entediante. Shame on me, eu sei; logo eu, que digo pra não julgar uma obra pela "capa", né? Mas, para o meu prazer, graças a certas insistências de certas arrobas, eu dei o play no primeiro episódio e, após seus 45 minutos, já estava totalmente entregue

Arcane é ambientada na subterrânea e esquecida Subferia e na próspera região de Piltover, que vivem numa guerra civil. A história gira em torno de duas irmãs, Vi e Powder, que precisam sobreviver em meio à pobreza da periferia sombria enquanto a "Cidade do Progresso" avança em descobertas científicas capazes de mudar o futuro da região.

Mas algo trágico acontece, que irá separar as irmãs por longos anos e trazer consequências duras para os povos do lado alto e da cidade baixa.


Além do sucesso de audiência na Netflix, Arcane conquistou nota acima de 9 no IMDB e este feito aqui:


Sim, eu confio na crítica cinematográfica e na compilação do Rotten Tomatoes, rs.

E se isso tudo aí ainda não ajudou você a começar Arcane, vamos a outros 9 motivos pra assistir?


1. Você não precisa ser um jogador de LOL e nem saber do que se trata o jogo

Como eu disse, sabia pouquíssimas coisas sobre League of Legends e não foi o menor impeditivo pra eu assistir à série e me conectar com absolutamente tudo o que via em tela.

Até porque a história de Arcaneé pré-jogo, ou seja, se passa anos antes do que está acontecendo "atualmente" no game. Então, (quase) tudo foi inédito também para os fãs.

2. O visual da série é impecável

É difícil, pra mim, por em palavras o que senti vendo os gráficos de Arcane. Parece segundo por segundo pintados a mão por ilustradores reclusos nos Montes Urais. Cada frame era um tapa na minha cara, de tanta beleza.

A pegada arcanepunk da construção desse mundo, da concepção dos ambientes, o design dos personagens, a linguagem visual que representa a psicose da Jinx - TUDO é simplesmente sensacional. Não à toa levaram 6 anos de produção para lançar esta primeira temporada. Até as feições e expressões são de um preciosismo tão impressionante que cheguei a crer que houve captação de movimentos (houve? Me contem).

Obrigada, Fortiche Productions. Esse foi o estúdio responsável pela animação de Arcane, parceiro da Riot Games em outros trailers. Ele também já fez trabalhos com a Marvel e com a banda Gorillaz. Né pouca bosta, não.

3. Os personagens são muito carismáticos

Personagens de raças (mesmo) diferentes, gente corrupta, gente egoísta, de bom coração; tem os manipuladores, os manipuláveis, as tchutchucas, as cachorras, as preparadas e o baile todo. Todo mundo tem uma passagem legal pela série, mesmo os personagens secundários. Figuras carismáticas pelas quais você já se apega com um ou dois episódios da série (o que pode ser perigoso, rs).

Até mesmo o vilão, graças a Deus, multifacetado, causa sentimentos conflitantes de ranço, medo e até empatia em diversos momentos. 

Em resumo: o público entende as motivações dos personagens, mesmo entre suas decisões bastante duvidosas, e se importa com eles. Quer algo mais valioso numa história que isso? 

4. Tem trama política e luta de classes


Não sei vocês, mas eu acho isso um ótimo motivo.

O universo de Arcane se concentra no planeta Runeterra, mais especificamente no centro cultural da cidade de Valoran, Piltover, conhecida por ser um local de grande progresso tecnológico. Acontece que ela é meio que dividida entre Ladoalto e Subferia, que seriam tipo o subúrbio e a periferia, respectivamente. 

Em Ladoalto, tudo é bonito e colorido, as pessoas são felizes, fazem três refeições ao dia, tomam banho quente e não só acompanham de perto todo o progresso local, como são beneficiadas por ele. Enquanto a Subferia é suja, escura, mal estruturada - quase uma terra sem leis -, com a população esquecida e marginalizada e sem confiança na força policial de Piltover. Que, sem surpresas, atua basicamente servindo aos interesses dos aristocratas e perseguindo os mais pobres.  

Tudo isso evidencia a enorme diferença social entre ambos os lados da cidade. É dentro dessa dinâmica que as situações se desenrolam na trama de Arcane, impactando os mais diversos personagens, sejam do Ladoalto, sejam da Subferia, explorando perspectivas e choques de realidades. 

5. Roteiro sólido como uma rocha

Como se não bastasse a animação ser um espetáculo e, os personagens, ótimos pra se analisar, Arcane entrega um enredo muito coeso e amarrado

E não só em relação ao que se desembola ao redor de Vi e Powder. As protagonistas que, desde crianças, precisam lidar com traumas pesados e encontram apoio uma na outra, são o fio condutor. Mas as jornadas das outras pessoas também são uma delícia de acompanhar, com suas evoluções extremamente bem trabalhadas até o último minuto da primeira temporada da série.

Além disso, o universo de Piltover em si fornece um excelente e costuradinho manual de como compreender o funcionamento da sua dinâmica, com uma história visivelmente bem planejada do passado da região, alcançando terrenos além das suas fronteiras. 

6. Cenas de combate físico de cair o queixo (literalmente?)

Não que eu seja uma aficionada por cenas de ação, mas, se tratando de animação e do quanto essa é bem feita, elas viraram um deleite para meus olhos. 

Os momentos de combate são todos planejados e produzidos sob uma ótica cinematográfica, provando que todas as horas extras, canecas de café, fios brancos, DRs com os cônjuges e dores de cabeça da equipe valeram a pena. Certamente essa produção deu um trabalho da porra, mas nada paga o brilho no olhar do espectador ao testemunhar cada movimento soar como se seres humanos estivessem no ringue, e não bonecos criados em computador.

Olha, só assistindo mesmo pra entender do que estou falando. Não sei como esses putos fizeram tudo aquilo, mas merecem o Oscar, o Emmy e podem entrar na minha casa e comer o que quiserem da minha família.

7. Tem representatividade

É ótimo ver que cada vez mais produções trazem representatividade de etnias, orientações sexuais, religiões, identidades de gênero e por aí vai. Em Arcane nao é diferente, com o plus de que a representatividade aqui não é só pra "cumprir uma cota": os personagens envolvidos nessas características são marcantes e importantíssimos pra história. 

Começando pela Vi, uma das protagonistas. (se você não quer nenhum spoiler a respeito, pule para o próximo parágrafo depois do gif) Ela, que cresceu na Subferia, passa a se aliar a Caitlyn, aristocrata (com um quarto do tamanho do meu apartamento inteiro) e policial do Ladoalto, a partir do momento que ambas precisam se ajudar a fim de chegarem num objetivo comum. Acontece que, à medida que elas se entendem mesmo em meio a vivências de realidades completamente diferentes, o relacionamento evolui de forma muito orgânica e bonita. E eu, boiolíssima que sou, entreguei minha alma ao ship. Sequer sabia que era possível perceber tanta química entre dois personagens feitos de pixels. 


Também temos Ekko, personagem negro, cuja ausência transformaria a história de Arcane em outra completamente diferente. Ou talvez nem tivesse história, aliás - e digo isso com tranquilidade. Afinal, é graças a uma ação dele que todo o plot de acontecimentos se desenrola no primeiro ato da série. Depois da passagem de tempo, ele retorna como o reizinho que é, comandando uma das cenas de luta mais épicas de todos os episódios.

Mel (ou Conselheira Medarda, um sobrenome do qual meu cérebro de quinta série deu gostosas risadas), também exerce um papel fundamental na história, principalmente na jornada de Jayce, um cientista de Piltover que estuda formas de mesclar magia e tecnologia para trazer ainda mais avanços à região. A bicha é articulada, manipuladora, inteligente e especialista em dobrar macho. 

Ah, e ainda tem a mãe dela que, mesmo tendo aparecido por não muito tempo nesta primeira temporada, foi o suficiente pra ser inesquecível.  

Além de outros personagens negros, mesmo que secundários (tem uma Conselheira com um visual DO CARALHO naquela torre), Arcane conta em seu "elenco" com vários personagens com traços asiáticos e latinos.  

  
8. Dublagem 10/10


O trabalho brasileiro de dublagem é excepcional, mas, sempre que posso, assisto aos filmes e séries legendados. Então, meus elogios aqui vão pra turma da dublagem em inglês, e aproveito pra recomendar que você também assista a Arcane assim por ao menos esta razão: há personagens com sotaque britânico que deixa tudo mais 👌 e só tem a acrescentar ao background social deles.

As atuações todas estão excelentes, o que, junto das expressões faciais detalhadas dos gráficos, suas reações e movimentação naturais, humanizam as pessoas de forma muito crível. 

E tem uns rostinhos familiares no elenco norte-americano. Hailee Steinfeld (de Dickinson e Gavião Arqueiro) interpreta Vi; Ella Purnell (de Army of the Dead) é Jinx; Katie Leung (a Cho Chang da franquia Harry Potter) é Caitlyn e Kevin Alejandro (de Lucifer e True Blood) faz o papel de Jayce.


As curiosidades ficam por conta de ser o segundo protagonismo da Hailee numa animação, sendo o primeiro em Homem-Aranha no Aranhaverso, como a Gwen Aranha. No caso da Ella, Arcane foi seu primeiro trabalho de dublagem e, no início, disse que foi bastante desafiador, pois não sabia o que estava fazendo (rs). 

Se ela não sabia, imagina então se eu sei o que tô fazendo da minha vida. A voz combinou demais com a Jinx.

9. Trilha sonora original que eleva as cenas à décima potência

A cereja do bolo de coisas impressionantes em Arcane fica com a trilha sonora.  

Desde que o primeiro clipe de League of Legends foi lançado, em 2013, a Riot Music oferece um conteúdo único de músicas aos fãs, explorando-as para potencializar o storytelling e em cerimônias de aberturas dos campeonatos.

Aqui, na série, a lógica é a mesma: cada canção acompanha momentos-chave no desenvolvimento da história, engrandecem ainda mais o que está acontecendo em tela e, consequentemente, amplificando o que a plateia está sentindo. Não vou negar que me subiu um arrepio algumas vezes (quem já viu a cena da Jinx com o sinalizador azul sabe do que estou falando).

Entre as várias faixas da trilha, o destaque vai pra música-tema de Arcane, "Enemy", uma parceria entre a banda Imagine Dragons e o rapper JID. Além de tocar na abertura da série, ela aparece no episódio 5. Dá um confere neste clipe maravigold que tem apenas 27 milhões de visualizações:

É questão de tempo até você estar lavando a louça e soltar um "OOOH THE MISERY".

Aqui, a trilha completa:


Em suma, Arcaneé isso: é desenho, mas não é pra criança; é +18, tem violência gráfica, tem abuso de substâncias, tem política, tem cena de sexo. O que não tem é defeito. E quem não consegue quebrar o preconceito com esse tipo de obra:


A segunda temporada "vem aí" (graças a Deus já estava sendo desenvolvida há algum tempo, então será lançada provavelmente em 2023, e não em 2154). Arcane, te vejo no próximo Emmy (ou veria, se esse mundo fosse justo).


Nota:


"É ASSIM QUE SE PERDE A GUERRA DO TEMPO" inventou o "enemies to lovers"

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Livro É assim que se perde a guerra do tempo

Eu tinha comprado a versão e-book de É assim que se perde a guerra do tempo e deixei ele lá, na fila dos livros que eu um dia lerei, até o dia em que o transporte da mudança levou meus móveis e caixas pra um box, incluindo o Kindle e todos os meus livros novos, e perdi a chance. 

Agora, com tempo sobrando na minha vida pela primeira vez em meses, reacendeu a chama da vontade de preenchê-lo com leitura. Sentia falta de sentir páginas em minhas mãos, mergulhar em uma história a ponto de esquecer as outras que estão à minha volta. Há exatamente uma semana, entrei em uma livraria e resolvi perguntar o preço de É assim que se perde a guerra do tempo. Me assustei (não está fácil viver em 2022) e fui embora. Mas algo – e alguém, minha noiva – me disseram pra voltar e investir a grana. Afinal, sem previsão de quando terei o Kindle de volta.

E sabe de uma coisa? Que decisão maravilhosa. 

Terminei o livro em poucos dias (é curtinho, menos de 200 páginas) e agora estou aqui, tentando juntar palavras que façam jus à descrição da experiência que tive

Ganhador dos prêmios Hugo, Nebula e Locus, É assim que se perde a guerra do tempo é ora um romance epistolar, ora narrativa em terceira pessoa, que conta a história de duas agentes de facções rivais que estão em uma guerra do tempo e espaço, manipulando passado e presente para garantir o melhor futuro para seus times. Até que as duas dão início a uma troca de cartas que, a princípio, não passam de provocações, mas acabam se transformando em algo mais. 

Se as agentes forem pegas, a morte é certa. Enquanto isso, quem vai ganhar a guerra?

Tá pronta a misturinha perfeita: viagem no tempo e romance sáfico, simplesmente tudo pra mim.


NÃO É UM LIVRO PRA TODO MUNDO (É O QUE DIZEM)

Ou você ama, ou você odeia, ou se sente burro demais pra sequer saber se amou ou odiou.

Nas primeiras páginas, eu me enquadrava na terceira alternativa. 

É assim que se perde a guerra do tempo não faz questão de explicar nada, tu que se foda aí, meu chapa. Se você espera entender como funcionam exatamente as viagens no tempo, como os agentes passam de uma realidade pra outra ou quando a guerra começou e por que começou, eu aconselharia esquecer e partir pra outra. Mas, ao invés disso, prefiro pedir: dê uma chance. 

Apesar de ser uma ficção científica, ela é muito mais o pano de fundo pra uma história de amor e sobre o amor.

O que, na minha opinião, tem tudo a ver com a linguagem peculiar e abstrata do livro: recheadas de metáforas e lirismo, as cartas que Red e Blue – as protagonistas – trocam carregam alegorias e sentimentos extremamente tocantes. Eu diria, aliás, que 90% do livro parece um grande poema

Além disso, a leitura exige bastante da sua imaginação para compreender cenários que ainda não existem na vida humana (ou jamais existirão) – afinal, estamos falando de linhas do tempo que acontecem tanto no ano I quanto daqui a centenas de séculos. 

É uma loucura deliciosa.

Não foram poucas as vezes em que me peguei relendo parágrafos pra tentar traduzir em imagens o que estava acontecendo (ou parecia acontecer), da melhor forma possível. E nem poucas as vezes em que precisei pausar por alguns segundos pra retomar o fôlego, tamanha a força que algumas passagens tiveram sobre mim. Que saudade de vivenciar isso e de constatar o poder das palavras em evocar sentimentos. 

Os autores (sim, são dois) foram hábeis e sensíveis o bastante para construírem, aos poucos, a transição dessa relação de inimigas para amigas e para amantes, de uma forma tão natural, crível e palpável. 

Até chegar a É assim que se perde a guerra do tempo, eu achava que conhecia o conceito de "enemies to lovers".

Nas cartas em que Red e Blue se conhecem e se reconhecem uma na outra, amadurecem, se admiram profundamente e mudam a forma como enxergam o mundo, também se descobrem mais parecidas do que poderiam imaginar – apesar de pertencerem a universos opostos. Enquanto Red é mais bruta, de táticas mais violentas e herdeira de uma facção voltada para a tecnologia, Blue tem um viés orgânico, meticuloso e mais voltado para o que reconhecemos como humanidade. 

O perigo do começo dessa jornada de traição a suas facções estava em uma contaminar a outra. Não posso negar que isso aconteceu, afinal.  

(Sei lá, tô até suspirando.)

É assim que se perde a guerra do tempo entrou, definitivamente, para o meu TOP 5 livros favoritos. Agora, me resta a sensação agridoce do vazio de terminar uma experiência fantástica.


"Ler suas cartas é colher flores dentro de mim, arrancar um botão aqui, uma samambaia ali, arrumá-las e rearrumá-las de um jeito que combinem com um quarto ensolarado"


Nota:


Ficha técnica
Editora: Suma
Autores: Amal El-Mohtar e Max Gladstone
Tradutora: Natalia Borges Polesso (tá de parabéns, amada)
Páginas: 192
Compre: Amazon

A masculinidade tóxica retratada no lindo e sensível "CLOSE"

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Nas ruínas de uma casa abandonada, Léo e Rémi, de 13 anos, brincam como dois garotos comuns. Imaginam que são soldados enfrentando o exército inimigo, se escondendo atrás de escombros. "Você ouviu isso? O som de passos e de armaduras?". Animados, combinam de avançar e correr, sem sequer sonharem que, em breve, um inimigo não tão invisível estaria chegando, trazendo com ele as mesmas escolhas: enfrentar ou se esconder. 

Close, segundo longa do diretor e roteirista Lukas Dhont, foi vencedor do Grand Prix do Festival de Cannes de 2022 e é o representante da Bélgica no Oscar 2023 para Melhor Filme Estrangeiro. A segunda informação já dizia muito pra mim. Quando vi o trailer, há uns bons meses, senti que essa história ia me quebrar. Mas não esperava que seria em tantos, tantos pedacinhos (que estou juntando até hoje).

Close usa seu primeiro ato para desenhar a relação entre os garotos e o universo ao qual pertencem. Eles são melhores amigos e cúmplices: extremamente afetuosos, torcem um pro outro, estudam juntos, fazem tudo juntos - de comer à mesma mesa a dormir na mesma cama - e frequentam a rotina de ambas as famílias como se fossem uma só (que, também, os recebem com essa mesma percepção).

Em suma, Leo e Rémi vivem em um ambiente confortável, seguro, acolhedor e de muito amor, refletido em planos extremamente fechados que são a tradução do próprio título do filme, posicionando os dois em tela quase como uma única pessoa. As coisas começam a mudar quando inicia-se o ano letivo da nova escola, onde os meninos terão que enfrentar outra realidade.


Assim que eles adentram o pátio lotado de alunos, ao contrário da dinâmica anterior, o plano se afasta lentamente, deixando-os serem engolidos pela algazarra de diferentes garotos e garotas - um ambiente quase hostil que acabava de furar a bolha à qual estavam acostumados.      

Mas e Leo e Rémi ainda não percebem: estão empolgados demais com a perspectiva de experimentarem o Ensino Médio. E juntos, como sempre. Sentam lado a lado na sala de aula, conversam de pertinho, deitam a cabeça no ombro um do outro. Não demora para os colegas de classe indagarem se os dois são um casal. 

A princípio, eles não entendem o porquê do questionamento - principalmente Leo. Mas as provocações continuam, e a gente sabe como nós, seres humanos, temos essa bendita necessidade de pertencer, em especial adolescentes nessa idade. Sendo assim, o que acontece não é surpresa: aos poucos, Leo se afasta do melhor amigo para se adaptar àquilo que esperam dele. No entanto, uma reviravolta o obrigará a conviver com as consequências dessa escolha.   

É aqui que Close revela seu real propósito: mostrar como a masculinidade tóxica é destrutiva e afeta, também, os próprios homens. 
No Dicionário Aurélio, a definição pra palavra masculinidade é a “qualidade de masculino ou de másculo” – ou seja, ela define o que é ser homem. E tóxico é tudo aquilo que envolve a “propriedade de envenenar; que faz mal para o organismo”. 
Ou seja, podemos dizer que a masculinidade tóxica é o comportamento designado a homens que causa malefícios tanto a ele próprio quanto à sociedade (as mulheres que o digam). São basicamente expectativas projetadas sobre o gênero masculino sobre adotar costumes e atitudes x, y e z para poderem ocupar seu suposto papel. 

E essa pressão começa já na infância, onde meninos sofrem inúmeras restrições que os impedem de se expressar emocionalmente como gostariam, de exercer a empatia e até de conhecer a própria sexualidade. Quantas vezes escutamos essa herança de merda sendo passada de geração pra geração?  "Você parece uma garotinha", "Homem não chora" e "Seja homem!" são só alguns exemplos. 


Em nenhum momento Lukas Dhont tem a pretensão de definir a natureza da relação entre Leo e Rémi. Eles eram mais que amigos? Isso não importa. Afinal, vivemos num mundo que ensina que eles não podem ser o que querem ser antes mesmo de saberem o que são. 

A gente costuma rir na internet do quão frágil é a masculinidade, por precisar estar sempre tão bem definida dentro daquela caixinha dos costumes e atitudes "de homem". Mas, quando essa realidade é mostrada sendo moldada justamente na fase da infância pra adolescência, nos fazendo testemunhar a dor de meninos que necessitam se enquadrar desde cedo, é angustiante demais. 

Além do mais, é aí que o ideário de "masculinidade” atua como uma fábrica de pessoas que perpetuam alguns dos maiores problemas da nossa sociedade: a homofobia e a violência de gênero.

Há alguns anos recomendei aqui, no blog, o excelente documentário The mask you live in, que discute o machismo voltado para a realidade masculina, sua supervalorização e a forma como nos baseamos nessa construção pra criar meninos. O conhecimento de psicólogos, antropólogos e outros estudiosos entrevistados me envolveram pra caramba, mas, em Close, foi a poesia das alegorias, transições e das próprias performances do elenco o meu verdadeiro deleite para processar o tema. 

O filme é repleto de silêncios que falam mais que palavras, de olhares, de gestos e de cenas muito simbólicas. Que, apesar de simples, funcionam perfeitamente. Alguns dos momentos mais significativos, pra mim, foram de Léo praticando hóquei; escorregando e insistindo em ficar de pé sobre o gelo - um ambiente literalmente frio ao qual ele não pertence -, expressando a masculinidade na fisicalidade que o jogo exige e, como não poderia deixar de ser, se escondendo por trás de uma máscara. 

Mas as flores, tão presentes em Close como símbolo de passagem de tempo e de tantos outros signos que casam com a história - inocência, pureza, delicadeza (num contraponto aos símbolos masculinos) -, me arrancaram várias lágrimas. Elas abrem o filme de forma maravilhosa, numa das primeiras cenas, e fecham com a mesma intensidade. 


Lukas Dhont, em várias entrevistas, dedica o filme a todas as amizades que ele já perdeu. 💔
Eu acredito muito em obras audiovisuais como ferramenta de denúncia, e acredito que Close seja uma denúncia contra essa cultura trágica que continuamos eternizando, bem como suas consequências. Menos mal que o mundo esteja mudando, ainda que a passos curtos. Por isso, torço para que a sensibilidade dessa história tão real continue chegando a mais gente pra, quem sabe, cada vez menos garotos parem de se abraçar na hora do recreio. 
 

"Ele usa uma máscara, e seu rosto se  molda a ela"
- George Orwell

Nota:



11 séries com 100% de aprovação (ou quase) no Rotten Tomatoes

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O Rotten Tomatoes é um site que agrega críticas de filmes e séries, fundado em 1998 e, desde então, se tornou uma das principais fontes de informações sobre a recepção crítica de obras para o cinema e para a TV.

Ele usa várias fontes pra fazer essa compilação, como críticos profissionais, sites especializados, revistas e jornais, categorizando os lançamentos como "Fresh" (fresco) ou "Rotten" (estragado). Se uma porcentagem significativa de críticos der uma avaliação positiva a um filme ou série, ele é rotulado como "Fresh" e recebe um tomate fresco. Se a maioria dos críticos der uma avaliação negativa, ele é rotulado como "Rotten" e recebe um tomate estragado. Então, se algo tem 100% de aprovação, a coisa provavelmente é muito boa. Se tem 50%, bom... talvez nem tanto.

Além disso, o Rotten Tomatoes também oferece pontuações médias baseadas na recepção do público, que também pode avaliar as obras no site. 

Confesso que eu mesma sou muito influenciada pelo Rotten: com certa frequência, ele me ajuda a tomar decisões sobre o que assistir com base nessas recepções.

Porém, é importante lembrar de duas coisas: 1) crítica é crítica e não detém a verdade absoluta de nada; 2) gosto é algo bem pessoal. É legal usar o site como uma referência, mas também confiar em sua própria preferência e julgamento ao escolher o que assistir, né? 

Por isso, o que eu trago a seguir é mais uma lista que pode servir como um guia pra você decidir qual a próxima série a maratonar, com base no percentual que existe considerando a data da publicação deste post.


Fleabag



Não vou negar que fiquei surpresa de saber que Fleabag tem 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. Não porque não seja boa, na minha opinião, mas porque eu acho justamente que ela divide opiniões.

A série estreou em 2016 e virou sucesso instantâneo por sua escrita afiada, atuação e abordagem inovadora de contar a história de uma mulher não nomeada, referida como "Fleabag" (interpretada por Phoebe Waller-Bridge, que também é a roteirista), cuja expressão podemos traduzir como uma pessoa "desagradável e suja" (no sentido imoral da coisa). 

Narradora não confiável, Fleabag é uma jovem londrina que enfrenta uma série de desafios em sua vida pessoal e profissional. Frequentemente se envolve com o público, compartilhando seus pensamentos e sentimentos de uma maneira que quebra a quarta parede, criando uma conexão íntima com a plateia - e talvez essa seja a característica mais marcante da narrativa.

Fleabag lida com uma variedade de temas, incluindo relações familiares complicadas, luto, sexualidade, autoestima e a busca por conexão humana genuína. Ela é conhecida por seu humor sarcástico e, ao mesmo tempo, sua capacidade de mergulhar em questões emocionais profundas. A famosa série que você começa rindo e termina chorando, sabe?

Eu particularmente gostei muito; já a minha esposa, por exemplo, não conseguiu acompanhar. Tem uma cena específica em que a Fleabag está cuidando de sua cafeteria e diz que vai transar com o primeiro cara que entrar pela porta e, segundos depois, é o pai dela que surge. Enquanto eu dei um gostoso e retumbante brado, minha esposa se levantou do sofá muito I'M DONE.

Phoebe Waller-Bridge é amplamente elogiada pelo texto da série, que se baseia em uma peça de teatro de mesmo nome que ela escreveu e estrelou anteriormente. Sua atuação também rendeu vários prêmios, incluindo Emmys. E tem a Olivia Colman no elenco, porra.

Onde assistir: Prime Video
Temporadas: duas, finalizadas


ARCANE




Meu coração até acelera ao falar de Arcane.

Arcane é uma série de animação baseada no popular game League of Legends, desenvolvido pela Riot Games. A série foi lançada pela Netflix em novembro de 2021 (somente lançada, porque os créditos de produção são todos da Riot e da Fortiche Studios) e rapidamente ganhou aclamação da crítica e uma base de fãs dedicada. 

Mas é importante deixar claro que NÃO é preciso jogar ou saber qualquer coisa de LOL pra assistir Arcane (eu mesma nunca joguei), já que a história é totalmente inédita. Escrevi passionalmente sobre ela aqui, quando, na época, foi a maior estreia da história da Netflix.

Arcane é ambientada na subterrânea e esquecida Subferia e na próspera região de Piltover, que viveram uma guerra civil e suas populações são praticamente inimigas. A história gira em torno de duas irmãs, Vi e Powder, que precisam sobreviver em meio à pobreza da periferia sombria enquanto a "Cidade do Progresso" avança em descobertas científicas capazes de mudar o futuro da região. Mas algo trágico acontece, que irá separar as irmãs por longos anos e trazer consequências duras para os povos do lado alto e da cidade baixa.

O que diferencia Arcane de muitas outras adaptações de jogos é sua qualidade de animação e narrativa. A série é elogiada por sua animação impressionante, que combina elementos de 2D e 3D, proporcionando um visual único. Sério, é uma coisa absolutamente hipnotizante. Além disso, a trama mergulha profundamente em questões sociais, como desigualdade e preconceito, e em seus personagens, explorando seus passados, motivações e conflitos -  resultando em pessoas complexas, cheias de camadas. 

Não à toa, Arcane atraiu tanto os fãs de League of Legends quanto aqueles que não estão familiarizados com o game e arrebatou inúmeros prêmios, incluindo Emmys e 9 Annie Awards - considerado o Oscar da animação. Ela virou uma das minhas séries favoritas de todos os tempos e eu sou completamente apaixonada.

Onde assistir: Netflix
Temporadas: duas (a segunda, e provavelmente última, tem estreia marcada para o segundo semestre de 2024)


Jane the virgin



Jane the Virgin eu não cheguei a assistir, mas sei que é uma série americana que mistura comédia, drama e romance. Baseada em uma novela venezuelana chamada "Juana la Virgen", ela foi criada por Jennie Snyder Urman e foi ao ar de 2014 a 2019. Ou seja, 100% de aprovação considerando todas as cinco temporadas!

A trama de Jane the Virgin gira em torno de Jane Villanueva, interpretada por Gina Rodriguez, uma jovem latina que decide permanecer virgem até o casamento devido a uma promessa que fez a sua avó. No entanto, sua vida muda drasticamente quando ela é inseminada artificialmente acidentalmente durante um exame médico de rotina. O doador do esperma é o bonitão Rafael Solano, interpretado por Justin Baldoni, e Jane se vê grávida sem nunca ter visto um pirulito na vida.

A série é conhecida por seu estilo narrativo peculiar, que incorpora elementos de telenovela, com reviravoltas dramáticas, coincidências surpreendentes e personagens carismáticos. Além disso, Jane the Virgin lida com temas como família, amor, identidade cultural e escolhas de vida.

A atuação de Gina Rodriguez foi bastante elogiada, bem como a representação positiva de personagens latinos na televisão, conquistando um público fiel ao longo das temporadas. 

Jane the Virgin foi um sucesso crítico e comercial e é considerada uma das séries mais queridas da década

Onde assistir: Netflix
Temporadas: cinco, finalizadas


HACKS




Hacksé uma série de comédia dramática criada por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, produzida pela HBO Max e lançada em maio de 2021. Hacks recebeu aclamação da crítica e ganhou destaque por seu humor afiado, performances excepcionais e uma visão perspicaz dos bastidores do mundo da comédia stand-up.

A trama da série gira em torno de Deborah Vance, uma famosa comediante interpretada por Jean Smart, que está em uma fase avançada de sua carreira e tem residência de longa data em Las Vegas. Deborah é uma figura icônica da comédia, mas sua popularidade está começando a diminuir. Em uma tentativa de renovar sua imagem e atrair um público mais jovem, ela concorda em contratar Ava Daniels, uma jovem e talentosa escritora de comédia interpretada por Hannah Einbinder. A relação entre as duas começa de maneira conturbada, mas, ao longo da série, elas desenvolvem uma conexão única enquanto trabalham juntas para revitalizar a carreira de Deborah.

Hacks explora temas como o envelhecimento, as diferenças de geração, a comédia como forma de expressão artística e os desafios da indústria do entretenimento. Jean Smart recebeu muitos elogios por sua interpretação de Deborah Vance, e sua atuação rendeu vários prêmios. Hannah Einbinder também foi elogiada por seu papel como Ava Daniels. 

A primeira temporada de Hacks foi indicadas a 15 Emmys no ano retrasado - e ganhou três.

Onde assistir: HBO Max
Temporadas: duas, renovada para a terceira


Borgen




Mais uma que não cheguei a assistir, Borgen é uma série dinamarquesa que mescla drama político e intriga nos bastidores do governo dinamarquês. Foi criada por Adam Price e ficou no ar de 2010 a 2013. 

A trama gira em torno de Birgitte Nyborg, interpretada por Sidse Babett Knudsen, uma política carismática que se torna a primeira mulher a ser eleita Primeira-Ministra da Dinamarca. A série segue sua jornada política e os desafios que ela enfrenta ao liderar o país, tomando decisões difíceis, lidando com alianças políticas e enfrentando dilemas éticos.

Borgen recebeu ótimas críticas tanto em seu país de origem quanto internacionalmente por sua representação realista e envolvente dos meandros da política dinamarquesa, bem como pela exploração de temas complexos, como poder, corrupção, ética e relacionamentos pessoais em meio ao cenário político. A série também mergulha nos bastidores do jornalismo político, mostrando como a mídia cobre e influencia a política.

Além de Birgitte Nyborg, a história apresenta uma série de personagens secundários bem desenvolvidos, incluindo jornalistas, membros do gabinete e outros políticos, que enriquecem a narrativa, e que ajudaram a série a renovar o interesse das pessoas na política dinamarquesa e na política escandinava em geral.

Recentemente, Borgen ganhou uma última temporada pela Netflix - chamada Borgen: o reino, o poder e a glória -, se aprofundando ainda mais nos jogos de poder, ao mesmo tempo em que aborda os dramas pessoais de Birgitte. Ah, mas atenção: esses 100% de aprovação se referem somente às três primeiras temporadas; a quarta está só um cadim menos: 95%.

Onde assistir: Netflix
Temporadas: quatro, finalizadas


OJ: Made in America



O.J.: Made in Americaé uma minissérie documental FANTÁSTICA que estreou em 2016. Dirigido por Ezra Edelman, ela é uma extensa exploração da vida e carreira de O.J. Simpson, uma ex-estrela do futebol americano e ator que se tornou notório devido ao seu julgamento por assassinato em 1995.

O documentário é dividido em cinco partes e totaliza mais de sete horas de duração. Ele não apenas examina o caso do assassinato de Nicole Brown Simpson e Ron Goldman, pelos quais O.J. Simpson foi julgado, mas também aborda questões mais amplas, como raça, celebridade, violência doméstica e o sistema de justiça criminal dos Estados Unidos.

O.J.: Made in America venceu vários prêmios importantes, incluindo o Oscar de Melhor Documentário em 2017, Emmy, BAFTA e o Critics' Choice Documentary Award. Inclusive, foi considerado um marco no gênero de documentários e é frequentemente citado como uma das produções documentais mais impactantes da década.

A sua abordagem abrangente e a profundidade na exploração dos temas tornaram O.J.: Made in America uma obra de destaque, incluindo tanto sua qualidade cinematográfica quanto sua relevância social e histórica.

O caso do O.J Simpson também é bem retratado na primeira temporada de American Crime Story, mas não há NADA que se equipare a essa minissérie. É uma das melhores coisas que assisti na vida.

Onde assistir: Star+
Temporadas: uma, finalizada


O Urso




Essa é a série que estou assistindo no momento. E falam que é a série do momento, também.

Sob o gênero da comédia dramática (ou, como já ouvi dizer, gênero do ESTRESSE), O Urso acompanha a jornada de Carmen "Carmy" Berzatto, também conhecido como "urso", interpretado por Jeremy Allen White: um jovem chef que herda um restaurante e se esforça para transformá-lo em um empreendimento de sucesso. No entanto, Carmy se depara com diversos desafios e recorre à ajuda de sua equipe na tentativa de aprimorar e elevar o nível do "The Beef" a um dos melhores de Chicago. 

Além das ambições profissionais e das pressões da rotina agitada do restaurante, a relação de Carmy com sua família é marcada por tensões, especialmente após o trágico suicídio de seu irmão, que afetou todo mundo profundamente. A série aborda temas como comida, família e os desafios da intensa vida nos restaurantes. Carmy luta para elevar seu estabelecimento e a si mesmo e, ao longo do caminho, a equipe de cozinha inicialmente reservada se transforma em uma espécie de nova família.

O Urso baseou sua trama na história do renomado restaurante "The Original Beef of Chicagoland", em North River. Dizem que a produção recria o local com detalhes tão precisos que parece ter sido filmada no próprio restaurante. O personagem Carmy também é inspirado na história de Doug Sohn, que, em 2006, tornou o "Hot Doug's" mundialmente famoso ao introduzir salsichas e condimentos à base de foie gras (um aspecto mencionado na série, inclusive).

Mantendo uma abordagem livre de clichês e com um ritmo acelerado (é um olho no que acontece em tela e outro nas 20 legendas por segundo), tanto o criador Christopher Storer quanto a co-showrunner Joanna Calo, que eram frequentadores assíduos do restaurante da vida real, optaram por uma narrativa que não alivia nem na correria e nem nos dramas.

Onde assistir: Star+ 
Temporadas: duas, por enquanto


Alias Grace



Alias Graceé uma minissérie canadense baseada no romance homônimo de Margaret Atwood (a mesma autora de O conto da Aia), lançado em 1996. A série estreou em 2017, foi co-produzida pela CBC Television e pela Netflix e é tema do post mais lido deste humilde blog nos últimos anos.

A história - baseada em fatos, diga-se de passagem - gira em torno de Grace Marks, uma jovem irlandesa de classe média-baixa que decide tentar a vida no Canadá. Contratada para trabalhar como empregada doméstica na casa de Thomas Kinnear, Grace é condenada à prisão perpétua pela participação no assassinato brutal do seu patrão e da governanta da casa, Nancy Montgomery, em 1843.

No entanto, sua culpa é questionada, e esse é o pulo do gato da minissérie. Toda a história é narrada a partir da perspectiva de Grace, que relata sua vida e seus eventos anteriores e posteriores ao assassinato. Seria ela uma narradora confiável?

Alias Grace fala de temas complexos, como justiça, classe social e gênero, além de explorar a psiquê da protagonista e seu relacionamento com o Dr. Simon Jordan, um psiquiatra que a avalia em busca de insights sobre sua culpabilidade.

A atuação de Sarah Gadon no papel de Grace Marks é destaque aqui, assim como a direção de Mary Harron e o roteiro adaptado por Sarah Polley. A minissérie também recebeu aclamação da crítica por sua atmosfera sombria e de suspense ao longo de toda a narrativa.

Acho, aliás, que Alias Graceé injustamente pouco conhecida, na minha opinião, tendo em vista a qualidade da produção. Bora mudar esse cenário?

Onde assistir: Netflix
Temporadas: uma, finalizada


Heartstopper 



NHONHONHO, uma série açucarada para adocicar vossos corações.

Heartstopperé uma adaptação dos quadrinhos de Alice Oseman, que conta a história de amor entre Charlie e Nick, dois jovens estudantes de uma escola em Londres que se apaixonam enquanto lidam com as complexidades de suas próprias identidades e sexualidades.

A série é uma produção da Netflix em parceria com a BBC Studios e a BBC America, roteirizada pela autora da HQ, e já tem duas temporadas disponíveis. A primeira tem oito episódios e mostra o início da relação entre os garotos, que precisam enfrentar vários desafios, como bullying, família, problemas na escola, tretas de amigos e suas jornadas de amadurecimento. Mas tudo de uma forma muito leve, tirando o conflito maior dos personagens em relação à autoaceitação para as adversidades de expressar seu verdadeiro eu para a sociedade. 

Esse talvez seja um dos grandes méritos de Heartstopper: levar uma mensagem de esperança e felicidade para pessoas e casais LGBTQIA+, principalmente adolescentes, que estão em fase de descobertas, e ter uma representatividade positiva pode ser um suporte e tanto. Só quem viveu sabe (no caso eu não soube, porque na minha época não tinha disso). Além desse enredo que dá um quentinho no coração, a série tem uma trilha sonora bem pop e uma fotografia descolada que só reforçam a pegada jovial e leve. 

A graphic novel ganhou vários prêmios, como o Eisner Award de Melhor Quadrinho em 2023, o Harvey Award de Melhor Quadrinho em 2023 e o British Comic Award de Melhor Quadrinho em 2023. E a Heartstopper da Netflix recebeu muitos elogios da crítica e do público, principalmente por essa representatividade. 

E tem a Olivia Colman no elenco, porra [2].

Onde assistir: Netflix
Temporadas: duas, por enquanto


Inacreditável 



Inacreditável conta uma história que, como o título diz, é realmente inacreditável.

A série é uma produção original da Netflix, lançada em 2019, baseada em eventos reais e inspirada no artigo de jornal "An Unbelievable Story of Rape", publicado pela revista ProPublica e pelo jornal The Marshall Project. 

A trama aborda uma série de estupros que ocorrem em diferentes estados dos Estados Unidos, cuja história começa com o caso de uma jovem chamada Marie Adler, interpretada peça talentosa Kaitlyn Dever, que denuncia ser vítima de estupro, mas depois retira sua queixa devido à pressão da polícia e do sistema judicial.

Conforme a narrativa se desenrola, a detetive Grace Rasmussen, interpretada pela kinga Toni Collette, e a detetive Karen Duvall, papel de Merritt Wever, começam a investigar uma série de casos semelhantes em outro estado. Elas gradualmente conectam os pontos e percebem que podem estar lidando com um estuprador serial.

É preciso ter cuidado com eventuais gatilhos. A série trata de temas sensíveis, como a trajetória das vítimas no sistema de justiça criminal, o trauma do estupro e a importância de acreditar nas vítimas. Ela também explora a dedicação das detetives em busca da verdade e justiça.

Inacreditável foi elogiada por ter uma abordagem cuidadosa, mas realista, dos eventos reais que investigam questões sociais e psicológicas profundas. Nessa, recebeu vários prêmios e indicações, incluindo o Emmy, e é considerada uma das séries mais impactantes e importantes da Netflix.

Onde assistir: Netflix
Temporadas: uma, finalizada


Ruptura




Eu acho um CRIME essa série não ter 100% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Ruptura foi criada por Dan Erickson e dirigida por Ben Stiller que há uns bons anos queria ficar com Polly, e foi um grande sucesso, recebendo 14 indicações ao prêmio Emmy em sua primeira temporada.

A história acompanha Mark Scout (Adam Scott), um funcionário de uma empresa chamada Lumon Industries, que se voluntaria para um experimento que cria em seu cérebro a separação definitiva entre as memórias da vida pessoal e da vida profissional. Enquanto está no expediente de trabalho, Mark não sabe quem ele é na vida pessoal, nem quem são seus amigos, familiares ou hobbies. E, quando está fora da empresa, não sabe quais são as suas tarefas, seu cargo, nem quem são seus colegas de equipe.

Fala sério, sinopse do caramba.

Foi, acho, a série que mais gostei de assistir em 2022 e entrou pro meu hall de favoritas da vida. No último episódio, simplesmente não dá pra ficar só sentado no sofá - você provavelmente vai ficar em pé ou na ponta do assento.

A princípio, a segunda temporada estava prevista para chegar ao Apple TV+ no início de 2024. Porém, a greve dos roteiristas, ainda em andamento na data da publicação deste post, impactou a produção de Ruptura, forçando o encerramento das filmagens e podendo afetar o cronograma de lançamento😩. A estreia ainda pode rolar em 2024, mas tudo dependerá do término oficial da greve.

Além disso, há boatos de que houve uns dramas nos bastidores entre os showrunners de Ruptura. Espero que isso não ajude ainda mais nesse atraso.

Onde assistir: Apple TV
Temporadas: uma, por enquanto
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