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Faltou sustança em 'Pequeno Segredo'

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Você já tinha ouvido falar nos Schürmann? Se sempre costuma acompanhar os noticiários, então provavelmente sim. Mas, se não: eles são uma família de Florianópolis famosa por velejar ao redor do mundo, sendo, inclusive, a primeira família brasileira a circunavegar o mundo num veleiro. Lançaram livros. Deram entrevistas. E, agora, fazem filmes.

Pequeno segredo é baseado em um dos livros, escrito por Heloísa, a mãe, chamado Pequeno segredo – A lição de vida de Kat para a família Schürmann, que conta a história de como a filha caçula Kat conseguiu transformar sua rotina para melhor. Transformação que tem a ver com esse tal segredo e que, ao contrário de sinopses irresponsáveis por aí, não vou revelar, pois se trata do maior spoiler do filme. Claro que se você por um acaso já acompanhou esse aspecto da vida dos Schürmann, não será surpresa nenhuma.

Pequeno segredo estreou no Brasil neste mês após rolar uma polêmica com a comissão nacional que escolheu o filme para tentar uma vaga na corrida do Oscar 2017, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, em detrimento de Aquarius - um longa até então premiadíssimo no mundo inteiro e grande favorito para representar o Brasil (escrevi sobre ele aqui). Parte da crítica quase morreu de desgosto com a surpresa. Muitos apontam critérios políticos, e não cinematográficos, da escolha; afinal, a equipe de Aquarius protestou contra o impeachment da ex-presidenta Dilma no Festival de Cannes deste ano. Bom, se foi treta política, eu não sei (mas não duvido nem um tico). E agora que assisti aos dois, posso dizer que Aquarius e Pequeno segredo são longas bastante diferentes entre si, mas achei o primeiro de fato superior. Muito superior.

Se não me engano, essa mesma comissão nacional justificou a escolha colocando Pequeno segredo como um "filme de Oscar". O que eu entendi como sendo (como em grande parte das vezes) um filme corretinho, que não foge muito da zona de conforto e namora uns clichês; em suma, aquele padrão Hollywood que vemos entre os indicados ano após ano. O problema é que estamos falando de uma categoria do Oscar bem diferente das outras, que é o Melhor Filme Estrangeiro. Nela, o candidato não precisa necessariamente se enquadrar nesse padrão, vide os vencedores mais recentes, que fogem bem dessa linha narrativa comumente encontrada na indústria americana: Amour (França/Áustria), A grande beleza (Itália), Ida (Polônia) e Filho de Saul (Hungria).

De qualquer maneira, não consigo imaginar Pequeno segredo figurando sequer entre os escolhidos para concorrer à premiação. Não apenas porque tem todas essas características, mas porque simplesmente não é lá essas coisas.

 
É natural imaginar que David Schürmann, um dos quatro filhos da família, tivesse colocado todo o afeto por Kat, pela mãe e pelos fatos em si na direção desse filme. Logo no começo, o lettering avisa: o que você está prestes a assistir é baseado em fatos reais. E, quando pensamos nisso, concluímos o óbvio:é mesmo uma história comovente. Pra eles que a viveram, é mais que especial. Mas as boas intenções não foram suficientes para levar essa genuína comoção à tela. Por outro lado, Pequeno segredo é, no aspecto estético, um filme belíssimo: os planos abertos das locações externas e a fotografia são de tirar o fôlego em muitos momentos. Logo em seus primeiros minutos, por exemplo, somos apresentados a uma imensidão do mar e à também bela trilha sonora, apesar de intencionalmente um pouco invasiva, que "abre" a história de forma grandiosa e consequentemente aumenta a expectativa do espectador (com s e com x). Todavia, sem nunca cumprir muito bem a promessa.

(e espectador, no caso, sou eu. Muito prazer; o prazer é todo meu.)

Pequeno segredo, em sua narrativa não linear, conta duas histórias aparentemente independentes – o amor entre o neozelandês Robert e a paraense Jeanne, e a vida da pré-adolescente e enferma Kat – mas que vão aos poucos se entrelaçando em uma dinâmica ao mesmo tempo interessante e confusa, já que é um pouco difícil estabelecer o período histórico em que cada uma se passa. No entanto, antes de começar o terceiro ato do filme, o público já consegue estabelecer todas as conexões faltantes (inclusive com a primeira cena que, cronologicamente falando, é a última), não restando muito mais para digerirmos.    

E o tal do pequeno segredo, no fim das contas, me soou pouco impactante. Talvez porque, infelizmente, o marketing do filme e as sinopses irresponsáveis sobre as quais comentei no início do texto tenham estragado minha experiência. Não as leiam, crianças.

Do elenco, destaco a atuação de Julia Lemmertz, cuja personagem (Heloísa, a mãe) foi a responsável por me fazer sentir um aperto no peito que fosse. Marcello Antony não tem, a meu ver, nenhum momento expressivo em cena para eu poder dar pitaco. A irlandesa Fionnula Flanagan é uma boa atriz, mas acredito que não teve muito material pra trabalhar a sua Barbara, avó de Kat: a personagem beira o unidimensional, o que não é ajudado pelo seu arco pouco satisfatório. Já Mariana Goulart, quem vive Kat, é extremamente fraca. Não esboça qualquer expressão convincente, contribuindo enormemente para que eu não sentisse empatia o bastante pela situação delicada que vivia, seja em relação aos desafios normais da adolescência, seja pelas dificuldades impostas pelos misteriosos problemas de saúde da personagem. Aliás, principalmente nesse último ponto, Pequeno segredo peca por ignorar a máxima "mostre, não fale": ao invés de nos submergir em cenas que explorem de alguma forma o sofrimento e/ou superação de Kat, o filme prefere colocar isso em diálogos contextualizados de forma distante dessa realidade. Um deles, inclusive, entre Heloísa e Barbara, força tanto a barra pro público se emocionar que parece ter saído de um roteiro meia boca de novela.    

Faltou sutileza, faltou naturalidade, faltou mais confiança na inteligência do público em assimilar metáforas (como a da borboleta, que GRITA na tela "olha eu aqui de novo, só pra ter certeeeeeza de que vocês entenderam a parada"), faltou sustança. Porque, nos créditos finais, a sensação que ficou foi a de vazio e de que não tinham história suficiente pra ser contada.



'A chegada'é um dos melhores filmes do ano

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Vamos começar o texto com um fato talvez inquestionável atualmente: Denis Villeneuve é um homão da pirra.

Provavelmente no auge de sua carreira, o diretor canadense foi responsável por filmes ótimos como Os suspeitos e Sicario – Terra de ninguém e pelo sensacional-incrível-foderoso Incêndios (está na Netflix. Faça um favor a si mesmo e assista). E agora, com A chegada, acredito que Villeneuve definitivamente possui uma filmografia invejável. O cara só acerta.

Inspirado no conto História da sua vida, de Ted Chiang, o longa acompanha Louise Banks, uma renomada linguista que é recrutada pelo exército americano para que consiga estabelecer um diálogo com alienígenas, depois que 12 naves pousam em pontos distintos do planeta. Sendo comparado a rodo com Contato (de 1997, com Jodie Foster), A chegada ultrapassa o convencionalismo do gênero sci-fi ao nos entregar uma história densa, complexa, sensível, elegante e melancólica; uma história que aborda o encontro entre humanos e seres estrangeiros, repleta de humanidade em seus personagens e narrativa.

Por esses motivos, é um desses filmes que ficam com você depois que acaba. E acho que suspeitei disso já no primeiro minuto de projeção, literalmente, quando me emocionei pela primeira vez ao assistir a um conjunto de lembranças de Louise e sua filha, desde o nascimento até sua morte precoce pelo câncer. Sem pirotecnias, contando apenas com a trilha discreta de Jóhann Jóhannsson, porém capaz de naturalmente evocar sentimentos no espectador, as cenas são de uma veracidade incrível. E muito dessa veracidade vem da atuação tocante de Amy Adams como Louise: uma atuação "de dentro pra fora", cheia de nuances, silêncios, respirações pesadas de quem está prestes a encarar o desconhecido e olhares ora maravilhados, ora cheios de dor. Muitos deles direcionados pra um painel verde de chroma key, gente. É, acho que vem indicação a Oscar por aí.

A bela realização do trabalho de Amy também é muito bem-vinda porque é através de sua personagem que compreendemos não só cada etapa do que acontece na tela, mas o paralelo entre o trabalho dela e a vida em sociedade em si. Como Louise diz em determinado momento, "a linguagem é a base da civilização". Pra mim, A chegada é sobre linguagem; expressão; comunicação em vários sentidos. Linguagem como arma da violência e entendimento sobre o novo; como forma de compreender o mundo que nos cerca e a nossa própria existência, retratada não só através da fala, mas do gesto, das palavras escritas, de um desenho.

Em suma, A chegada soa como uma grande parábola sobre as interações humana, experiências e necessidade da comunicação como meio de interligá-las.   

E Deus sabe como gosto de uns paralelos em filmes.

Mas tem outro motivo por eu ter adorado tanto A chegada: a forma como o seu terceiro ato amarra todas as cenas que você julgou meio problemáticas e desconexas nos atos anteriores, ao mesmo tempo que traça OUTRO paralelo a da linha narrativa do filme e manipulação do seu tempo em relação à forma de se comunicar dos alienígenas. Paremos por aqui, porque spoilers seriam uma heresia.

A chegada não é expositivo como Interestelar a respeito de seus quebra-cabeças, mas consegue fazer o espectador pensar e chegar a conclusões por si só, o que é ótimo. Um dia depois de ter comparecido à sessão do filme e eu ainda estou pensando nas implicações do que assisti, juntando outras peças, pensando no seu final belo e agridoce. A TPM pode até ter influenciado no meu choro copioso durante os últimos 10 minutos da história, mas, de qualquer forma, vivenciei uma linda experiência dentro no cinema. E quando um filme consegue te proporcionar isso, é porque ele tem todos os méritos de ser chamado de sétima arte.



Tô na bad por um jogo de videogame

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Vamos começar esclarecendo uma coisa: eu não sou gamer. Os últimos jogos que fizeram parte da minha vida foram The Sims e Super Mario no Wii, pra vocês terem uma ideia. Nem tag pra essa categoria eu tenho pra encaixar a resenha no blog (relevemos, ok?). Por isso que eu me espantei comigo mesma quando me peguei aceitando a sugestão do meu amigo João "Jot" para experimentar Life is strange, um jogo concebido pela francesa Dontnod e distribuído pela Square Enix. Feito para jogar no PlayStation 3, 4, Xbox, Mac (via App Store, por exemplo) ou... tcharam: Windows! Pelo PC, é preciso primeiro instalar o Steam, uma plataforma específica para rodar o jogo, e depois ele propriamente dito. O primeiro episódio é grátis, tipo degustação de pão de queijo recheado em supermercado, feito com a certeza de que a pessoa vai gostar e querer mais. Mas calma que, para jogar o restante dos 4 episódios, custa menos que uma refeição digna no Outback: R$ 36. E vale a pena.

Sim, Life is strange é um jogo episódico, em que cada um dura em média 2h30 para ser concluído. Sei que existem outros jogos na mesma linha, mas eu, n00bie, achei o máximo. E soa como uma série de TV mesmo, com direito a créditos iniciais, tomadas cinematográficas, música de introdução e "Anteriormente, em Life is strange" nos episódios seguintes, recapitulando os acontecimentos mais importantes. E, assim como em uma série cativante, o jogo conta com personagens muito interessantes e uma premissa ótima: em uma pequena cidade da costa norte-americana, chamada Arcadia Bay, vive Maxine "Max" Caulfield, estudante de fotografia da renomada instituição Blackwell. Ela tem 18 anos, é introvertida, geek, insegura, gosta de ouvir suas musiquinha em paz, tem poucos amigos, mas um grande coração. (Pra mim, já bateu aquela identificação inicial, o que foi essencial pro jogo começar funcionando muito bem logo no primeiro episódio.) Num belo dia qualquer, Max vai ao banheiro feminino do colégio e encontra uma borboleta atrás dos boxes. Enquanto ela arma a câmera para bater uma foto, ouve uma voz masculina passar pela porta e, de longe, inevitavelmente assiste a uma cena que vai mudar a vida dela e a de várias outras: o dono da voz, um garoto de família rica de Arcadia Bay, está brigando com uma menina sobre dinheiro e atira em seu abdômen, matando-a. É aí que, num gesto desesperado para tentar fazer alguma coisa a respeito, Max descobre que tem poderes de voltar no tempo.

E todo mundo sabe que mexer com o tempo só dá em uma coisa: merda. Todo mundo viu o que aconteceu com o Ashton Kutcher.


Life is strange é um jogo de escolhas: as funcionalidades basicamente são andar, correr, interagir com pessoas e objetos e voltar no tempo quando é pertinente porque ele é guiado justamente pelas decisões que você, como Max, toma. E a possibilidade da personagem poder desfazer coisas e mudar alguns destinos, somado ao fato de que as escolhas que ela faz alteram o desenrolar da história, é o que nos leva ao famoso efeito borboleta.

É bom enfatizar: o que mais importa, aqui, é a construção da trama. Tanto é que a maior parte do investimento para dar à luz Life is strange foi direcionado aos roteiristas e dubladores; como os gráficos deixam bem a desejar (vide a PERUCA TESA que é o cabelo da Max), era preciso relevar a pouca expressividade dos ~bonecos~ e apostar na interpretação da voz e nos diálogos. Pra mim, pareceu dar supercerto: as vozes imprimem muita personalidade e as conversas, reações e afins são bastante críveis, independente das escolhas da Max. Sem contar os takes das cenas, que reforçam o lance de parecerem episódios reais de séries. Isso é importantíssimo para que o jogador possa estabelecer uma conexão e imergir no jogo; parece realmente que estamos lidando com pessoas reais.

E, como sugeri acima, Life is strange gira em torno de Max, mas obviamente os outros personagens influenciam totalmente em suas ações: temos Chloe (que muitos chamam de "segunda protagonista", apesar de... só existir um, sempre), a melhor amiga tomboy esquentadinha, impulsiva, rebelde e com um passado de sofrência que nóis gosta; Warren, o amigo nerd e fofo (aka. apaixonado por Max) estudante de ciências; Kate, amiga e colega de sala religiosa e deprimida que dá vontade de cuidar; Victoria, a típica filha da puta metida que gosta de abusar dos mais fracos; Nathan, o tal garoto de família rica descontrolado e psicótico; David, o segurança do colégio obcecado por vigilância, entre muitos outros que possuem um papel decisivo em várias situações da história.

Além da trama central sobre o tempo, Life is strange ainda aborda temas como bullying, amizade, amor, perdas, suicídio, drogas, família e criminalidade. Prato cheio até o topo pra todo tipo de conflito.


ALGUMAS RESSALVAS & SHIPS & O FINAL (SPOILERS!)

Max e Chloe living la vida loca
Se não quiser tropeçar em spoilers, pule para o próximo tópico, láaaa embaixo :)

O que eu mais gostei no jogo foi a maneira como eu me envolvi nele. A sensação do controle da história, me sentir na pele da Max, vivenciar sua evolução, poder salvar uma amiga de um suicídio (escolhas que você faz ao longo do tempo influenciam fortemente nesse momento, um dos meus favoritos e mais tensos), bancar a detetive e coletar pistas sobre alguns mistérios, resolver charadas, etc. Mas, principalmente, me amarrei no elo dela com a Chloe.

Papai do céu sabe que eu sou a maior shipper da face da Terra e, quando vi uma brecha pro relacionamento entre as duas crescer de uma maneira ""específica"", não pensei duas vezes e tomei todas as decisões possíveis pra Max deixar o Warren trancado na Friendzone.

Chloe era a melhor amiga de infância de Max até ela deixar a cidade pra morar com os pais em Seattle. Enquanto isso, Chloe perdeu o pai, o contato com ela, ganhou um padrasto autoritário, começou a se drogar e a se meter em problemas com a polícia. Depois ainda fez uma nova e forte amizade com Rachel Amber, que desaparece misteriosamente (e é um dos mistérios do jogo, inclusive). É só 5 anos depois que Chloe e Max se reencontram (dá pra ver pelo gif e pela imagem que ela é a mesma garota que leva o tiro, né?) e se reaproximam, o que pra mim oferece um significado especial à essência de Life is strange: é uma volta no tempo no sentido figurado, em que ambas têm uma oportunidade de recuperar o tempo perdido, viver uma nova realidade e restabeler a amizade e o carinho de uma pela outra.

Com o passar dos episódios, fica muito clara a ligação entre elas e a importância que a Chloe tem pra vida e pra própria identidade da Max. E foram esses momentos, aliás, em que eu mais me confundi entre a posição de jogadora e de mera espectadora de uma série.

o ship é feito de dramaaaaa, de drama pra gente choraaaaar
O que me leva ao final do game, às minhas ressalvas e à minha opinião.

Depois de finalizar o que tinha de finalizar nas subtramas, os minutos finais de Life is strange chegam e, com eles, um furacão Katrina viajando agressivamente em direção à Arcadia Bay pra acabar com tudo e todos; o mesmo furacão que aparecia em visões da Max (inclusive na primeira cena do primeiro episódio). Assim que ela recupera Chloe depois de muitas idas e vindas no tempo, é hora da grande decisão para o desfecho do jogo: Max precisa escolher entre sacrificar Chloe e sacrificar a cidade inteira.

Isso significa o seguinte: o furacão foi provocado pela sucessão de manipulações no tempo (literalmente, a descrição do efeito borboleta), iniciada no primeiro episódio, quando Max salva Chloe do tiro. Acontece que, ao longo dos demais episódios, Chloe é salva da morte por ela várias vezes nas linhas de realidades criadas, ou seja, é como se o destino dela fosse realmente esse e Max só estivesse adiando-o com seus poderes. Então, para consertar TUDO definitivamente, ela precisaria voltar uma última vez no tempo até a cena do banheiro, deixando que Chloe morra, "como era pra ter sido".

Pra mim, esse é o final mais coerente com a história (e o que eu escolhi, aos prantos), até porque deixá-la viva significa deixar morrer uma população inteira, incluindo amigos, colegas e a própria família da Chloe. Mas aí vem uma crítica de vários fãs bastante pertinente, com a qual concordo: as escolhas que você faz ao longo do jogo podem até levar a algumas cenas e diálogos diferentes, mas não influenciam em nada o final da história. Não importa o que você faça, se deixa a amiga se suicidar, se deixa o traficante de drogas morrer ou se dedura o Nathan pro colégio; no quinto episódio você continua tendo as mesmas escolhas: sacrificar Chloe ou a cidade (mudam apenas alguns detalhes, como, por exemplo: se você induziu um interesse romântico da Max nela, elas se beijam na despedida). (Você pode ver todas as escolhas do jogo e suas consequências aqui.) Por esses motivos que acho completamente natural que o jogador se sinta ao menos um pouco frustrado, como eu me senti.

Já a outra crítica, que geralmente acompanha essa de cima, eu não concordo: que, no fim das contas, tudo era sobre a Chloe e esqueceram os outros personagens que participaram da história. Tuuudo bem que umas pontas não foram tão bem amarradas como EU esperava, mas é só prestar um pouco de atenção na trama, no roteiro (como se fosse uma série e não um jogo), e ver que Chloe era uma grande chave pro desfecho da própria Max. Isso é altamente reforçado no quarto e quinto episódios.   

E a bad?


Pra começar, qualquer um dos finais que o seu jogo tiver será muito melancólico. Eu adoro um drama, mas a marofa de Life is strange bateu forte, e acho que isso se deve também ao fato de a sensação que eu tive ser a mesma de quando termino livros muito extensos e que me envolveram completamente (como A Coisa). É uma despedida dos personagens com quem convivi (e fui!) por horas e horas.

Críticas à parte quanto aos gráficos e desdobramentos de parte da história, definitivamente é um jogo que me rendeu uma experiência muito gostosa, e sobre o qual estou pensando desde ontem, quando concluí o último episódio. Os personagens estão frescos na minha cabeça; as possibilidades do que poderiam ter sido ainda estão quebrando meu coração em mil pedacinhos de borboletas azuis. Apenas deem uma chance e joguem.

Ah, e claro, prestem atenção na trilha sonora. É absolutamente linda e parece que foi escolhida a dedo: ouça aqui.

Mas, em resumo, é assim que me sinto no momento:




Harry Potter e a criança amaldiçoada não empolgou

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Bom, vamos lá: sim, eu sou fã de Harry Potter. Comecei a ler a saga entre os 11 e 12 anos e sou uma orgulhosa membrA da geração que cresceu junto com os personagens. Portanto, a notícia de que viria um oitavo livro, com uma história situada duas décadas depois do sétimo, balançou minhas estruturas. Mas, né, calma lá: como você deve saber, Harry Potter e a criança amaldiçoada não é um romance e muito menos é escrito por J. K. Rowling; na verdade, é um livro com o ROTEIRO de uma peça que entrará em cartaz em Londres em um futuro breve, criado por Jack Thorne e, claro, com o aval da rainha Rowling.

Exatamente por ser um roteiro, foi um pouco difícil pra mim avaliar o que li. Apesar da estrutura possibilitar uma leitura bem leve e fluida, requer um pouco mais da nossa imaginação para construir as cenas na cabeça, já que no palco elas contarão com muitos artifícios visuais. Em alguns momentos eu me perdi em passagens de uma cena pra outra; eu achava que estava acontecendo uma interferência mágica (literalmente), quando na verdade havia passado UM ANO na história, só pra dar um exemplo. Não que seja, ohh, um defeito do roteiro. Provavelmente foi minha lerdeza habitual.

Harry Potter e a criança amaldiçoada começa exatamente na última cena de Harry Potter e as relíquias da morte, quando nossa turma querida está embarcando os filhos para seu primeiro ano em Hogwarts. A história foca em Alvo, caçula de Harry e Gina, e sua amizade inusitada com o filho de Draco Malfoy, Escórpio. Alvo é aquele tipo de personagem a quem você se afeiçoa, mas tem um pouco de preguiça de vez em quando – como aconteceu comigo em relação ao próprio Harry. O irmão, Tiago, nos poucos momentos em que aparece, se mostra um babaca igual ao avô. Já Escórpio, apesar de ter a personalidade um pouco semelhante à do Rony (que acho um porre) (muito polêmica eu), foi o personagem que mais me agradou. Sim, um Malfoyzinho muito do fofo.

O conflito se estabelece com a relação dos dois meninos aos olhos da sociedade bruxa, uma vez que correm boatos de que Escórpio poderia ser filho de Voldemort (bate três vezes na madeira), e com a distância que Alvo sente existir entre ele e o pai. Escolhido pelo chapéu seletor para fazer parte da casa Sonserina (!), ele carrega o peso de ser filho do menino-que-sobreviveu e encontra em Escórpio a única fonte de consolo para passar seus anos em Hogwarts, lugar que ele odeia. Juntando (princilpamente) esses pontos, Alvo e o best friend forever partem em uma aventura perigosa que pode colocar em risco todo o universo bruxo, já que em suas mãos está o último vira-tempo intacto da História. Não posso falar mais do que isso.

MAS TÁ, VALE A PENA LER OU NÃO?


Quem sou eu pra dizer o que vale ou não a pena ler, né, migos? Mas, mesmo considerando que é um roteiro de peça, achei a história um pouco fraca. A própria motivação de Alvo pra ter feito o que fez me pareceu mais revolta adolescente do que qualquer outra coisa. Os boatos e desprezo que envolvem Escórpio se sustentarem por tantos anos sem nada que os fortalecessem soou forçação de barra. Alguns diálogos me incomodaram no sentido de parecer descaracterização de personagem, e o vilão que se revela mais pro fim do livro parece ter saído de uma ideia pra novela das oito. Tá bom já, né?

Vale, sim, pelo valor sentimental. Apesar de o tempo todo sentir que estava lendo uma versão do que seria a história de Harry, Rony e Hermione adultos e com filhos, e não uma continuação oficial da saga, foi gostosamente nostálgico revisitar personagens importantes dos livros e que amamos, como Hagrid, Snape (sim!), Dumbledore (marromenos) e a professora McGonagall, atual diretora de Hogwarts. Quem, aliás, deve ter encontrado a pedra filosofal, pra estar viva depois de todo esse tempo.

Mas o que deve valer a pena, acima de qualquer coisa, é assistir a essa peça. Com certeza a experiência com a história deve ser muito melhor, e algumas cenas devem encher os olhos do público. Me peguei várias vezes pensando "Putz, como vão encenar isso aqui?". Desde voos de vassouras, dragões e batalhas de varinhas a transformações com a poção polissuco!

Nos resta rezar por promoções de passagens para Londres nos próximos anos.

Os (meus) melhores filmes de 2016

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Foram 83 filmes assistidos em 2016 (será que em algum ano eu passo pelo menos dos 100? #juninha). Apesar de os premiados do ano começarem a aparecer só em meados de novembro e dezembro, nós, brasileiros, somos prejudicados porque a maioria deles estreia só a partir deste 2017 (como Moonlight, La la land, Manchester by the sea, Toni Erdmann e Eu, Daniel Blake).

Mas no ano passado e enterrado há apenas 1 dia, fui agraciada com produções sul-coreanas e brasileiras, com invasões zumbi, suspense, drama interracial, um olhar no centro do holocausto e muitos roteiros incríveis. :)

Seguindo a cultura desse bloguinho de anos anteriores, aí vão os 15 melhores filmes que assisti em 2016 (não importando seu ano de lançamento!):



15. ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS, 2016, de Gareth Edwards | Trailer

Enquanto esperamos pelo oitavo episódio da saga, ABAIXA QUE É TIRO (literalmente) com essa história que se passa antes do Episódio IV: Uma Nova Esperança, que narra a missão de um grupo de rebeldes de roubar os planos da famosa Estrela da Morte, a fim de detectar seu ponto fraco e poder destruí-la.

Confesso que até a metade do filme eu não estava dando nada, achando a personagem da Felicity Jones não muito carismática e a química entre o grupo principal fraca, mas aí tudo começou a ficar substancialmente melhor. As últimas cenas são de tirar o fôlego, PRINCIPALMENTE a final. É um ótimo filme de guerra, e acho que o único de Star Wars que parece uma guerra real, talvez pelo forte apelo dramático e pelos sacrifícios e perdas inerentes a confrontos assim. Me senti no campo de batalha.



14. O CONVITE, 2015, de Karyn Kusama | Trailer

Um dos melhores suspenses do ano, na minha opinião. E se liga, porque tem na Netflix: a história é vivida por Will, que é convidado para um jantar na casa da ex-esposa, quem não vê há dois anos e está completamente diferente, junto de seu novo marido. Acompanhado da atual namorada, Will reencontra amigos antigos e abre algumas feridas deixadas pelo fim do relacionamento, ao mesmo tempo que passa a desconfiar de que algo muito, muito estranho está acontecendo na casa.

Atmosfera de tensão muito bem trabalhada, que coloca em cheque a sanidade do protagonista e a nossa própria percepção do que vemos em tela. Vale muito mais pela progressão do que pela revelação final, inclusive.



 13. A BRUXA, 2015, de Robert Eggers | Trailer

 MAMILOS POLÊMICOS. Esse filme mereceu um post só dele, visto que ele rendeu elogios da crítica, muito marketing e também muita gente insatisfeita no cinema, achando que ia se deparar com uma sequência interminável de jumpscares. Acontece que, para entender A bruxa, é preciso ir além do que os olhos veem (hihi) e enxergar o forte subtexto da trama que, claro, não vou revelar aqui.

No ano de 1600 e pouco, numa comunidade rural da Nova Inglaterra, uma família super-religiosa é expulsa por motivos não esclarecidos e é obrigada a se isolar próxima a uma floresta densa, vivendo de caça, plantação própria e muita oração ao nosso bom Senhor Jesus Cristo. Quando o caçula, o bebê Samuel, desaparece de forma bizarra, a paz na rotina daquelas pessoas também vai embora.



12. OLDBOY, 2003, de Park Chan-Wook

Se achas que só Tarantino faz da violência o cerne pra filmes de qualidade, estás enganado. Aqui, além de muita porradaria e sangue, temos reviravoltas absurdas, belas atuações e um roteiro bem trabalhado, que fizeram de Oldboy um importante filme sul-coreano a abraçar o sucesso em terras ocidentais. Mas quanto menos você souber dele, melhor. Não queremos estragar a experiência de ninguém, queremos?

A história segue os passos de Oh Dae-su, um sujeito que, após ser solto da cadeia depois de uma bebedeira no dia do aniversário de sua filha, é sequestrado e mantido em cativeiro dentro de um quarto por 15 anos. Sem saber quem fez isso, e muito menos o porquê, Oh Dae-su nutre um profundo sentimento de vingança e jura que irá desgraçar a vida de seu algoz assim que o descobrir.



 11. EU VI O DIABO, 2010, de Akmareul Boatda | Trailer

MAIS VIOLÊNCIA? QUEREM MAIS? Q-QU-QUE-QUE-REM MAIS TUNTZ TUNTZ TUNTZ

-q

Imaginem uma briga de gato e rato elevada a níveis estratosféricos. A história é: a noiva de um agente secreto é morta por um serial killer (vivido pelo mesmo ator protagonista de Oldboy). Cego pela fúria, ele começa a investigar os possíveis suspeitos do crime, até finalmente identificar o culpado. Mas, ao invés de matá-lo, resolve pôr em prática uma terrível e lenta vingança.

O ritmo desse filme é alucinante, cheio de tomadas dinâmicas com muita ação, sangue, lutas e cólera, que contrastam com um final bastante melancólico, a meu ver. Filmaço.



10. INVASÃO ZUMBI, 2016, de Yeun Sang-Ho | Trailer

Mais um filme da terra do pessoal de zoinho puxado, Manu? Calma, que você vai ver mais.

Invasão zumbi, que estreou semana passada em vários cinemas do país, também ganhou post aqui no blog e conta a história de um gestor financeiro do tipo que dá mais importância pro trabalho do que pra família, completamente egoísta e distante, que vai levar a filhinha pra casa da ex-esposa pegando um trem de Seul para Busan. Segundos antes das portas dos vagões se fecharem, uma mulher infectada por vocês sabem o quê entra às pressas tentando fugir de vocês também sabem o quê, causando o velho e conhecido caos na Terra. O bom de Invasão zumbi (deteeeesssto os nomes que dão pra filmes no Brasil) é que o seu forte está nas relações entre os personagens, na carga dramática em si e no desenrolar das situações, não esperadas em um filme blockbuster do gênero.  



9. O HOMEM NAS TREVAS, 2016, de Fede Alvarez | Trailer

Eita que é outro suspense nessa lista (e que também teve post exclusivo no blog)! "Money", Rocky e Alex são amigos e experts em assaltar casas de ricaços para roubar pertences valiosos (nunca dinheiro, ou a pena deles mudaria caso fossem pegos). Num belo dia, Money, o babacão mano das quebrada, fica sabendo que tem um idoso veterano de guerra morando sozinho em uma casa de uma rua isolada, e dono de uma boooa grana, que recebeu de indenização depois que sua filha foi morta em um atropelamento. Decididos a arriscarem levar dinheiro pela primeira vez em suas "carreiras", eles partem em missão sem imaginar que o senhor ex-soldado, apesar de aparentemente inofensivo por ser cego, é um filho da puta ninja capaz de saber sua localização só por te ouvir respirar.

O filme brinca com a revelação do caráter dos personagens, entrega um ritmo bem ágil e nos surpreende com suas reviravoltas, o que me deixou FISICAMENTE cansada ao final da sessão. E foi ótimo, claro; afinal, envolvimento com o que estou assistindo é o que mais conta na minha experiência como cinéfila :3



8. LOVING, 2016, de Jeff Nichols | Trailer

Esperei muito tempo pra assistir a esse filme, e ele não decepcionou. Delicado, sensível e chocante, ele retrata a história real de Richard e Mildred Loving, um casal que foi PRESO no final dos anos 1950 na Virgínia simplesmente por ser interracial. E pensar que esse absurdo aconteceu há pouco mais de 50 anos. Baseado em leis escravagistas guiadas principalmente pela religião, o argumento usado na época é basicamente repetido atualmente para justificar a proibição do casamento homossexual, o que me fez pensar constantemente sobre a sociedade podre em que vivemos há séculos.

Obrigados a se exilarem em outro estado, Richard e Mildred tentam construir sua família longe da terra que tanto os fazia felizes, enquanto as leis americanas progrediam a passos lentos para lhes dar o direito básico de viverem como marido e mulher. Pra mim, o destaque está nas atuações dos protagonistas, principalmente Ruth Negga, no papel de Mildred; é uma interpretação contida e introspectiva, mas cheia de significados e emoção. Acho que a veremos na corrida do Oscar.



7. ELLE, 2016, de Paul Verhoeven | Trailer

Taí outra atriz que arregaçou em 2016: Isabelle Huppert. Aqui, ela dá vida à Michèle, a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale.

Elle, na verdade, é MUITO mais do que a sinopse sugere. Não é uma história sobre estupro, nem sobre vingança ou as consequências de uma violência do gênero: o filme é um desmembramento de sua personagem principal, revelando facetas surpreendentes não só dela, mas dos outros personagens com quem ela convive, brincando com moralismos, ambiguidades e manipulações. Fica até difícil explicar! Era um dos favoritos para tentar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas infelizmente Elle já está fora do shortlist divulgado.



6. CAPITÃO FANTÁSTICO, 2016, de Matt Ross | Trailer

Um filme que toca Sigur Rós do início a fim não tem como ser ruim.

Capitão Fantástico é uma produção completamente adorável que me conquistou de uma forma que eu não esperava. Na história, Ben é o pai de seis crianças, que decide fugir da civilização e criar os filhos nas florestas selvagens do Pacífico Norte. Ele passa os seus dias dando lições às crianças, ensinando-os a praticar esportes e a combater inimigos. Um dia, no entanto, Ben é forçado a deixar o local e retornar à vida na cidade. Começa o aprendizado do pai, que deve se acostumar à vida moderna.

Retratando de forma honesta e doce a relação entre os membros dessa família, de modo que acreditemos na veracidade de seus laços, Capitão Fantástico nos faz questionar até que ponto o estilo de vida imposto por Ben é um benefício ou não para seus filhos, enquanto faz uma crítica ao consumismo exagerado da sociedade, ao sistema rígido de ensino, à imposição das religiões, à política num geral e aos conceitos delicados que guiam nossas vidas e são repassados adiante sem que nos demos conta.




5. O FILHO DE SAUL, 2015, de Lázló Nemes | Trailer

O Filho de Saul não é "mais um filme sobre o holocausto". Favorito à Palma de Ouro e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano passado, ele nos mergulha nas cenas completamente angustiantes do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau justamente por acompanhar o protagonista, Saul, praticamente em primeira pessoa. Os olhos deles são os nossos olhos que enxergam tudo o que acontece na rotina dos prisioneiros e dos soldados nazistas. Com a diferença que Saul é membro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus isolados do acampamento e forçados a ajudar os nazistas na máquina de extermínio em grande escala.

Enquanto trabalhava em um dos crematórios, nosso personagem descobre o cadáver de um menino que toma por seu filho. Enquanto o Sonderkommando planeja uma rebelião, Saul decide, então, salvar o corpo da criança e oferecer um enterro apropriado. Uma missão no mínimo penosa.



4. AQUARIUS, 2016, de Kléber Mendonça Filho | Trailer

O que falar do candidato brasileiro que deveria estar concorrendo a uma vaga para disputar o Oscar desse ano?

Comentei de Aquarius aqui. O filme é um ótimo estudo de sua personagem principal, Clara, uma senhora bem bonitona vivida por Sônia Braga (que nasceu assim, cresceu assim e vai morrer assim, Gabriela), única moradora do edifício Aquarius. Sozinha, mas não solitária, Clara convive muito bem com seus dias na praia, saídas com as amigas pro forró e sua coleção de móveis e vinis - membros de uma família com quem compartilhou histórias desde que Aquarius era um prédio novo, há décadas. No entanto, uma construtora a está pressionando insistentemente para deixar seu apartamento, liberando caminho para construírem algo muito mais moderno no local. Mas não vai ser nada fácil fazer Clara mudar de ideia.



3. A JUVENTUDE, 2015, de Paolo Sorrentino | Trailer

Não sei o que pensar ainda de Paolo Sorrentino. A grande beleza, filme que abocanhou vários prêmios em 2013/2014, como a Palma e o Oscar de Estrangeiro, não fez nem cócegas no meu coração. No entanto, A juventude me arrebatou completamente. Acho até difícil escrever uma sinopse, então apanho a oficial: Fred e Mick, dois velhos amigos com quase 80 anos de idade cada, estão passando as férias em um luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado e Mick é um cineasta em atividade. Juntos, os dois passam a se recordar de suas paixões da infância e juventude. Enquanto Mick luta para finalizar o roteiro daquele que ele acha que será seu último grande filme, Fred não tem a mínima vontade de voltar à música. Entretanto, muita coisa pode mudar.

Assim como Elle, A juventude fala muito mais do que o resumo de sua história. Com um elenco de peso, o filme não só aborda de forma delicada a percepção sobre a velhice, como trata de vários temas de forma sutil: luto, passagem do tempo, a superficialidade das relações, família, o vazio mundo das celebridades, aprendizados. Tudo de forma sarcástica, inteligente, sensível e extremamente bonita (esteticamente falando, também), culminando em um dos finais de filme mais esplêndidos que já vi.



2. A CHEGADA, 2016, de Dennis Villeneuve | Trailer

Escrevi um post falando que esse filme seria um dos melhores de 2016, e não estava enganada. A mais recente produção do muso Denis Villeneuve conta a história de Louise Banks (vivida por uma incrível Amy Adams), uma renomada linguista que é recrutada pelo exército americano para que consiga estabelecer um diálogo com alienígenas, depois que 12 naves pousam em pontos distintos do planeta.

Pode parecer um simples filme sobre invasão extraterrestre, mas A chegada vai tão, mas tão além que fica complicado não dar spoilers na tentativa de dizer o quanto ele é denso, bonito e complexo. Apenas prepare-se para encarar conceitos sobre a subjetividade do tempo, da perda e como a língua pode ser uma força motora poderosa para unir pessoas e enfrentar o desconhecido. Dizem que é tudo o que Interestelar quis ser e não conseguiu. Pra quem não gostou de Interestelar, já é um motivo pra ver; pra quem gostou, como eu, digo que é tão bom quanto. Tive lindas experiências no cinema com ambos os filmes.



1. A CRIADA, 2016, de Park Chan-Wook | Trailer

Eu disse que ia ter mais filme sul-coreano aqui, né? Hihi.

Quando assisti A criada (ainda vai estrear no Brasil, mas você o encontra por aí como The handmaiden), há pouco mais de 2 meses, dei 4,5 estrelas. Agora, penso que fui injusta: deveria subir pra 5. Afinal, eu o elegi como o melhor do ano, não? A trama, recheada de plot twists DUCA, se passa na Coreia do Sul nos anos 1930, durante a ocupação japonesa. A jovem Sookee é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko, que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário. Só que Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista planejam desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com o plano, até que Sookee se apaixona por ela.

Mano, não vou nem falar mais nada, porque é pecado saber demais. A criada é ousado, cheio de erotismo, com ótimas atuações, um puta roteiro (baseado no livro Fingersmith, de Sarah Waters), uma fotografia belíssima, direção de arte e figurinos impecáveis. É, sem dúvidas, o longa que mais me deixou completamente fascinada em todos os seus aspectos, nesses últimos meses. Se tiver a oportunidade, vá ao cinema conferir. Mas, por favor, não leve seus pais.

The OA: uma série problemática que não consegui parar de assistir

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[alerta de SPOILERS!]

The OA, a nova série original da Netflix, estreou em dezembro sem muito alarde, poucos dias depois da plataforma liberar um trailer de menos de dois minutos que não entrega quase nada, mas está recheado de mistérios. Criada pela dupla Brit Marling (que também interpreta a protagonista) e Zal Batmanglij (também diretor), responsáveis por filmes como A outra Terra, A seita misteriosa e O Sistema, e produzida por Brad Pitt, The OA fala pouco de si na sinopse, e com toda razão. Tudo que sabemos é que uma mulher chamada Prairie, após ser dada como desaparecida por sete anos, é encontrada depois de uma aparente tentativa de suicídio e retorna para os braços de sua família. O detalhe é que, ao sumir, Prairie era cega, e agora está enxergando. Ela tem dificuldades de se abrir com as pessoas sobre o que aconteceu nesses anos de ausência, possui cicatrizes bizarras nas costas e se transforma na nova "celebridade" da cidadezinha onde mora, que está alucinada pela sua história de vida.

Com um formato diferente, The OA apresenta 8 episódios com durações que variam entre meia hora e mais de uma hora, com passagens de um para outro mais fluidas do que em séries com que estamos acostumados, dando a sensação de um filme bem longo dividido em capítulos. O primeiro episódio me comprou totalmente. Eu estava completamente eufórica, pulando na cama, pronta pra comprar as alianças e jurar amor eterno à série. Mas, a partir do terceiro episódio, várias coisas começaram a me incomodar de forma irreversível.

 No primeiro episódio / A partir do terceiro

Como no começo a série não mostra exatamente pra onde está te levando, é natural que imaginemos várias linhas a partir de pistas que as cenas dão. Mas, pra mim, agora que já concluí todos os episódios, várias dessas pistas soaram como meros artifícios pra prender o espectador. E é possível que o que você pensou ou vai pensar, se ainda não assistiu e vai parar o texto por aqui, esteja a anos-luz de distância dos temas que The OA aborda. Não é ficção científica. São universos alternativos, viagens dimensionais, projeção astral, espiritualidade, gnose.

"Uma nova Stranger Things", como muitos estão comparando? Não mesmo. A menos que a comparação seja que as duas séries têm, ham, "coisas estranhas" acontecendo. Mas, em The OA, não de um jeito tão legal.

Aí alguém pode dizer MAS MANUELA, então você não entendeu a série, você não curte esses temas, é por isso que você não conseguiu se conectar.

Não tem a ver com crenças, até porque sou bastante aberta a elas. Não é questão de acreditar ou não no que a série está contando, o problema é COMO ela está contando; ou seja, meu incômodo é do ponto de vista cinematográfico, em relação à produção audiovisual que é The OA.


A série é viciante, mas...


 
Primeiramente, me deixe recapitular resumidamente o desenrolar dessa primeira temporada: Prairie, na verdade, nasceu em berço de ouro na Rússia e sofreu uma EQM – Experiência de Quase Morte – depois que seu ônibus escolar sofre um acidente. Voltando à vida dessa vez cega, a menina perde o pai e passa a morar em um orfanato altamente duvidoso até ser adotada pelo casal Nancy e Abel. Já adulta, Prairie então desaparece após ter uma premonição que indicava um reencontro com seu pai: na busca por ele, ela acaba é topando com um médico cientista chamado Hap, que conta que realiza experimentos com pessoas que passaram por EQM. O cara estava dizendo a verdade, com exceção de um detalhe: seus cobaias são todos prisioneiros em seu porão. E é lá que Prairie vai passar seus próximos sete anos de vida, junto de Homer, Scott e Rachel, servindo de testes para que Hap descubra algum segredo sobre a vida após a morte. No entanto, com o passar do tempo o grupo passa a acreditar que tem habilidades especiais de abrir outras dimensões através de sequências de movimentos corporais que eles conseguem em suas EQM forçadas por Hap. Na verdade, Prairie acredita que eles são anjos. E essa história maluca é contada por ela mesma no tempo presente para um outro grupo de pessoas com quem ela passa a se relacionar, e que será de extrema importância para fazer uma conexão com os outros prisioneiros de Hap, aparentemente salvando-os dele. 

Puta que pariu. Tentei RESUMIR, deu 13 linhas tropeçantes e ainda faltou coisa. Procê ver.

AAAHH, MANUELA, parece mó legal a história. E você disse que é viciante! Se é viciante, é boa.

Clarkinão, pequeno Padawan. Já temos idade pra entender que nem tudo o que vicia é bom, certo? Minha curiosidade incontrolável de saber as revelações que The OA reservava pra mim foi o que me impulsionou a ir até o fim, e isso independe da qualidade. Não que a série seja uma bosta completa. Ela tem seus méritos; é uma temática densa, difícil de ser contada de forma simples, e ainda consegue prender o público. Sei que ainda temos uma segunda temporada pela frente, mas a impressão que tive é a de uma boa ideia sendo mal executada.

The OA tem um roteiro irregular que prejudica seu ritmo em vários momentos, principalmente nas passagens entre o cativeiro e o tempo presente, deixando a narrativa picada. Além de sequências amarradas de maneira porca, isso comprometeu, pra mim, o desenvolvimento de alguns personagens, fazendo com que eu simplesmente não me conectasse com eles. Sem contar alguns momentos de descaracterização, como, por exemplo, quando no último episódio Prairie trata com desdém os pais adotivos e comenta com outro personagem que "eles nem são meus pais" e "eles me drogaram a vida inteira" (o médico a diagnosticou desde cedo com problemas mentais, ou seja). Em que mundo Prairie agiria assim, ainda mais se considerando um anjo, portadora de uma bondade e compaixão que ela mesma reconhece em outra cena não muito distante? 

 
O roteiro também parece tomar decisões arbitrárias e convenientes para contar a história que precisa contar, ignorando respostas para questionamentos pertinentes, como o fato de Hap manter COBAIAS PRISIONEIRAS em sua casa por anos. O cara está fazendo experimentos que, segundo ele, vão revolucionar o mundo, mas não consigo imaginá-lo apresentando essa experiência e o mundo achando muito maneira a forma antiética com que ele conduziu seu trabalho.

Convenientes também são os diálogos: cansei de contar quantos parecem ter sido escolhidos porque são bonitos de se dizer e profundos de se ouvir, mas que soam falsos. Não me emociono, torço o nariz. Outra coisa que aumentou minha distância foi o modo como The OA parece subestimar a capacidade do espectador em entender o que está acontecendo, por mais que soe contraditório pela complexidade da história que estão apresentando. Em determinada cena, Prairie conta aos prisioneiros que em sua mais recente EQM pôde ouvir um som muito semelhante à palavra AWAY, que ela repete várias vezes e cuja sonoridade é claramente um paralelo à OA, mas o episódio faz questão de terminar com um sussurro de "OA", como se dissesse OPA! Caso você ainda não tenha entendido a relação, taí. Em outro momento, Pairie e Homer, apaixonados, finalmente se veem pela primeira vez sem as celas os separando e encenam um momento de emoção ao poderem enfim se tocar. Como se a expressão sofrida e piegas a la Edward Cullen do (fraco) Emory Cohen não fosse o suficiente pra transmitir isso, Prairie PRECISA dizer em seguida. Para a plateia do presente. Que, sim, também somos nós, o público. 

Falando em piegas, os tais movimentos que os personagens constroem são um show de vergonha alheia à parte, que, no entanto, também emocionaram boa parte do público, principalmente no final. O que dizer? Eu realmente não sei o que faz com que uma coisa toque alguém ou cause aversão.   

Só sei que, em The OA, eu não me senti recompensada.

O que a série mais faz, a propósito, é perguntar sem responder, o que não é uma coisa boa, necessariamente. Desde Lost não tenho paciência com isso. Posso pagar língua depois, mas tenho a sensação de que os links do que ainda irão acontecer com as ~pistas~ deixadas nesta temporada ficarão distantes. Nessas horas, é impossível não querer comparar com Westworld, uma série lançada 2 meses antes de The OA com uma narrativa construída de forma primorosa, que desde o primeiro episódio planta dúvidas, mistérios e desenvolve de forma lenta seus personagens, mas que consegue até a conclusão da temporada amarrar a maioria das pontas de forma satisfatória. E com um gancho do caralho.

Mas, como sugeri lá em cima, The OA merece aplausos por ser bem filmada, pela fotografia, pela trilha e pela personagem BBA, a professora da escola, que é a coisinha mais maravilhosa e abraçável do mundo (curiosidade: é a dubladora da Tristeza, de Divertidamente). E, claro, aplausos pela ambição narrativa, conduzida de forma a nos fazer querer saber o que vai acontecer.

Vejamos onde Brit Marling quer chegar a partir da segunda temporada (que, né, é o mínimo que podiam fazer).


Resumo da ópera: é cafona. Tem problemas. Mas quero mais.




Chacal: mais uma hamburgueria pra comer rezando

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Interrompemos a programação de cinema, TV e literatura pra falar de outra coisa boa: comida. Mais especificamente, de hambúrgueres.

Como vocês podem ver aí na coluna da direita, o post mais lido do Vem aqui rapidão, pasmem, é a minha lista de hamburguerias belorizontinas que amo. E não vai sair desse ranking tão cedo, devo dizer.

Naquela época eu ainda não conhecia a Chacal, casa do ramo que abriu há quase 1 ano no bairro Dona Clara. Portanto, assim que que pintou o convite, fui prontamente conferir o que tem de bom nesse cardápio


O nome Chacal é inspirado no buldogue francês do proprietário, que também ilustra a marca. Assim fica mais fácil entender de onde veio a ideia de batizar os sanduíches de raças de cachorro: tem do pit bull ao yorkshire (mini-hambúrgueres! Aaawn), variando entre picanha, peixe, frango e até hambúrguer de shitake, senhoras e senhores. Acompanham batatas, claro, com molhinho barbecue, e você escolhe se quer na versão palito ou chips (de batata doce). Entre as bebidas, você encontra refris tradicionais e a saudosa Itubaína Retrô, sucos, cervejas da galera e cervejas especiais, e também drinks como caipivodkas e mojito.

 Eu provei o Labrador – com frango empanado num tempero bem do bão, cebolas caramelizadas e queijos muçarela e cheddar – e o Pastor Belga – que vem com costelinha bovina, crispy de alho-poró e um molho de jabuticaba dos deuses. Ambos deliciosos! As batatas palito vieram do jeitinho que gosto: finas, sequinhas e saborosas, longe do gosto de algodão de c e r t a s batatas congeladas que a gente encontra fácil por aí.


Deu vontade de desabotoar a calça em seguida? Deu. Mas, como todos deveriam saber, nós, humanos, temos dois estômagos: o da comida salgada e o da comida doce. Portanto, não pude recusar uma sobremesazinha: escolhi experimentar o milkshake de Oreo, indicação do Pedro, um dos gerentes da Chacal. E que indicação, mores. Eu, que nunca fui tão chegada em Oreo, quase chorei (quando provei e quando acabou). 


Sobre a estrutura, a Chacal é bem grande, com mesas espaçosas dentro e fora, numa espécie de varandinha. Como cheguei praticamente na hora em que abriram as portas (aliás, o que fazem todos os dias, às 18h), pude escolher tranquilo onde ficar. Achei bacana como tudo tem uma pegada ecológica e meio industrial, com os sofazinhos de pallet e com blocos de concreto, e bancos feitos com tonéis. Ah, e para distrair as crianças há um pula-pula de tamanho considerável (mas, como vovó já dizia, depois de comer não pode fazer exercícios – e nem tomar banho –; brinquem antes das refeições).

Por fim, o atendimento anda ao lado da qualidade dos outros serviços: amigável e atencioso.

Ou seja,  não tem erro. :)


Endereço: Av. Sebastião de Brito, 307 - Dona Clara.

La la land é uma preciosidade

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Ontem foi a pré-estreia de La la land, um dos favoritos para entrar na corrida do Oscar. O que posso dizer? É um desses filmes que dá vontade de guardar num potinho, de tão adorável.

Mas, antes, uma confissão: paguei língua.


Sou especialista em tecer comentários requintados no Twitter. Esse foi publicado durante a exibição do Globo de Ouro, quando via La la land abocanhar todos os prêmios que torci para Moonlight levar. E, detalhe: eu não tinha assistido a nenhum dos dois ainda; Moonlight só estreia em fevereiro no Brasil, mas como a gente precisa se agarrar a alguma produção pra deixar a premiação mais emocionante, fui conquistada pelo trailer e pelos fucking 98% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Não que o Globo de Ouro tenha algum valor a não ser o buzz, mas é a primeira vez que um filme ganha 7 estatuetas– incluindo Melhor Filme de Comédia ou Musical. Sim, La la land é um musical, e, apesar de constar 3 musicais na minha lista de filmes favoritos da vida (Moulin Rouge, Chicago e Dançando no escuro), tenho uma pequena resistência a eles. Se você também tem, tente quebrá-la. Não prive-se de passar a sessão inteira assim:


Mia (Emma Stone) é uma aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria dos estúdios Warner Bros. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista de jazz apaixonado pelo gênero musical que sonha em abrir seu próprio clube. Entre as dores e as delícias de seguirem seus próprios caminhos, os dois se esbarram em um feliz encontro onde um tentará ajudar o outro a se achar na vida. E La la land, pelo que pesquisei, era um apelido para a cidade de Los Angeles – onde tudo acontece no filme, e para onde todos os sonhadores vão quando querem tentar a sorte grande.  

A cena inicial, aliás, é espetacular: um plano sequência (ou uma ilusão de plano sequência, mas quem se importa?) sobre uma ponte de carros engarrafados em direção a L.A, em que vários motoristas cantam, dançam e fazem piruetas em frente a uma câmera de movimentos extremamente fluidos, nos dando um gostinho de como será o jogo de cenas a partir dali. Em La la land, os cortes secos não são prioridade; a câmera não apenas dança junto de seu elenco, como acompanha seus passos e movimentos fora dos números musicais com delicadeza e precisão.

Palmas para o diretor, Damien Chazelle, que com apenas 31 anos já realizou outra produção superelogiada, Whiplash, longa presente na minha lista de melhores filmes de 2015. Inclusive, La la land estaria na minha compilação de 2016 se não tivesse demorado tanto a estrear no Brasil. Mesmo jovem, Chazelle parece ter total domínio do que faz, com um talento peculiar para trabalhos envolvendo design de som e o próprio jazz – semelhanças que este filme e Whiplash compartilham.

Manipulando cores vivas que parecem se abrigar umas nas outras, La la land é um filme absolutamente encantador e com um visual belíssimo. E quando falo encantador, me refiro à sua atmosfera: ele não tem o propósito de entregar um roteiro denso ou com conflitos; sua premissa é até bastante simples, mas que conquista o espectador pela maneira lúdica com que é contada. São muitas referências a musicais clássicos, ao cinema em si, ao jazz e à era de ouro de Hollywood. As cenas musicais, de planos longos e abertos, valorizam a coreografia e entram e saem de forma muito espontânea. Para completar, Emma Stone e Ryan Gosling, que já são naturalmente carismáticos, entregam uma química gostosa e honesta entre seus personagens.

La la land possui sequências memoráveis além da primeira, como uma de dança que acontece em um planetário e outra mais pro fim do terceiro ato, que me envolveram em momentos de alegria, gargalhadas, nós na garganta e em um sentimento agridoce difícil de ir embora.

(Ouça a trilha sonora – em loop – aqui)



A força de Moonlight está em suas sutilezas

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Quem me acompanha no Twitter e leu o texto sobre La la land sabe o quanto eu estava esperando pra assistir Moonlight. Ele é um desses filmes que crescem na nossa memória com o passar do tempo, e eu precisei de um tempo pra poder digerir e entender as suas nuances antes de vir aqui. 

Considerado por boa parte da crítica mundial como o melhor filme de 2016, tem 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, 99 no Metacritic, atuações aclamadas, conquistou o Globo de Ouro de Melhor Drama deste ano e consta como um dos favoritos ao Oscar. Moonlight é uma jornada bastante intimista de seu protagonista, Chiron, dividida em três fases de sua vida infância, adolescência e idade adulta , em que ele luta para construir sua identidade e sexualidade em uma sociedade extremamente machista e violenta
"Quem é você, Chiron?"
Mas há espaço para a sensibilidade e para o amor nos lugares mais surpreendentes, em Moonlight. Em meio à opressão, enquanto tenta constantemente responder para si mesmo essa pergunta, Chiron tenta se desviar do bullying da escola e da negligência da mãe drogada a partir do momento em que conhece Juan, um traficante que torna-se seu tutor e quem lhe passa as mais belas lições da sua vida. Adolescente e incapaz de se sentir confortável em sua própria pele, Chiron realiza algumas descobertas que serão determinantes para sua transição para a fase adulta: um cara que sabe vestir sua armadura para sobreviver aos golpes do mundo, mas que mantém a mesma tristeza no olhar do garoto que foi um dia.

Moonlight é um filme de silêncios: as expressões faciais e corporais dos personagens conseguem falar mais do que várias linhas de diálogos. A dor da solidão foi lindamente descrita com aquilo que mais a caracteriza ausências. E, socialmente falando, Moonlight também é um filme importante. Eu, pelo menos, não lembro quando assisti uma obra focada exclusivamente em personagens negros, periféricos e com um protagonista gay tão em voga na mídia especializada; uma oportunidade incrível de representatividade onde Chirons do mundo todo podem se identificar. (Aliás, se o termômetro da crítica estiver correto, o Oscar neste ano trará pelo menos quatro filmes com personagens principais negros– Moonlight, Cercas, Loving e Estrelas além do tempo. Parece que a campanha #OscarSoWhite fez efeito.)    

Por fim, Moonlight é um filme-poesia. Por mais que o terceiro ato tenha pedido um pouco do ritmo e não tenha me arrebatado como eu gostaria (minha sina é pagar língua), ele se segura como uma obra forte, repleta de sensibilidade e interpretações marcantes, já lembradas nas premiações, com uma cena final tão sutil quanto tocante. Preste atenção nos movimentos de câmera e principalmente na cor azul, presente em inúmeros momentos e elemento importante para contar a história: isso certamente vai enriquecer sua experiência cinéfila. 

"Black boys in the moonlight are blue."


Oscar 2017: tretas, atuações e filmes favoritos

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Bem, migos e migas, faltam poucos dias pra cerimônia do Oscar 2017 e eu tinha prometido o que há uns dois meses? Assistir a todos os indicados de todas as categorias. Se eu consegui? Claro que não. Mas admiro esse meu otimismo, que nunca morre, de fazer as mesmas promessas a cada ano (exceto começar academia; dessa vez deixei pra lá).

Pelo menos deu pra fechar todos os concorrentes das categorias principais. E, dessa vez, achei os indicados a Melhor Filme, num geral, num nível mais alto se compararmos com a categoria de 2016. Talvez eu estivesse com uma birra filha da mãe pela esnobada que deram em Carol. É provável. Mas estava difícil me encantar. Anyway, é a primeira vez em eras que vou conseguir assistir ao Oscar inteiro sem ficar preocupada em acordar cedo no dia seguinte por motivos de trabalho, YAY! Obrigada, Carnaval. Eu sabia que você ia servir pra alguma coisa um dia.

Lembram da polêmica do Oscar So White que rondou a cerimônia do ano passado? Outra coisa boa da edição de 2017 é que temos vários atores negros concorrendo aos prêmios, além de filmes com protagonismo negro (e que não contam histórias sobre escravos ou empregadas domésticas quase escravas), como Moonlight, Um limite entre nós e Estrelas além do tempo. Isso é essencial pra representatividade de qualquer minoria social. E, como Viola Davis disse na entrega de seu Emmy em 2015, como vão premiar negros por papéis que não deram a eles? Bom, ainda bem que as coisas evoluíram um pouco nesse meio tempo. Que continue nesse ritmo.

Abaixo, em ordem de preferência, os filmes da categoria principal do Oscar, do que gostei e do que não gostei e quem acho que vai ganhar (como se fosse difícil prever). :D


MELHOR FILME


A CHEGADA



Falei de A chegada neste post aqui, ainda creditando-o como um dos melhores filmes que assisti em 2016. Possui um total de zero chances de ganhar o prêmio, mas é fantástico. Inspirado no conto História da sua vida, de Ted Chiang, o longa acompanha Louise Banks, uma renomada linguista que é recrutada pelo exército americano para que consiga estabelecer um diálogo com alienígenas, depois que 12 naves pousam em pontos distintos do planeta.

Longe de ser uma ficção científica convencional, A chegada é melancólico, denso, bonito e uma grande parábola sobre as interações humana, experiências e necessidade da comunicação como meio de interligá-las.


LA LA LAND


Assisti La la land três vezes desde sua estreia, o filme que tem 95% de chances de levar o Oscar. Por que é fácil prever? Pra começar, ele é uma homenagem a Hollywood e a seus musicais clássicos, ou seja, uma forma delícia de inflar o ego da Academia. La la land foi indicado em 14 categorias ao todo (um recorde alcançado apenas por Titanic e A malvada), ganhou o Globo de Ouro, o BAFTA, vários prêmios de associações de críticos e consta em mais outras centenas de nomeações. Enfim, tá no papo. E a treta com o filme começou aí, com uma galera dizendo que ele não é isso tudo, que há musicais muito melhores (ué, e quem disse que não tem?), problematizando racismo (porque é um personagem branco querendo revolucionar o jazz, onde já se viu). Não que eu concorde com todas as indicações, mas os haters vão ter que engolir algumas lágrimas.

Pra quem viveu longe da mídia no último mês e não sabe, La la land é um musical adoravelmente fofo com uma atmosfera totalmente evocativa. Aliás, ela é o ponto forte do filme, e não a história em si. Motivo pelo qual, aliás, achei bizarra a indicação a Melhor Roteiro Original, mas OK THEN. Nele, Sebastian, um talentosos pianista que sonha em abrir seu clube de jazz, encontra Mia, uma aspirante a atriz que sonha em ter destaque na carreira. Juntos, um ajuda o outro a se encontrar.


MANCHESTER À BEIRA-MAR


Drama devastador do jeitinho que meu cérebro (ou seria coração?) problemático adora. A história acompanha os passos de Lee Chandler, um zelador solitário, infeliz e completamente introspectivo que é forçado a voltar para sua cidade natal após a morte de seu irmão, que deixou um filho adolescente sem amparo familiar. E digo forçado porque Lee definitivamente não quer voltar e encarar as pessoas que lá também ficaram, e a forma como descobrimos o porquê disso ao longo do filme é impactante.

Acho que se a atuação de Casey Affleck (irmão de Ben Affleck) na pele de Lee não fosse tão tocante, dificilmente Manchester à beira-mar seria o filme que é. Alguns dizem que ele apenas interpretou a si mesmo, mas né, não conheço o cara; só sei que é possível sentir toda a angústia, sofrimento e arrependimentos do personagens mesmo dentro de silêncios absolutos.


MOONLIGHT


Moonlight, como escrevi aqui, é considerado por muitos críticos como o melhor filme de 2016. E um dos que mais esperei pra assistir nos últimos tempos. Mas tive problemas com ele, se assim posso dizer, porque passei a gostar mesmo do conjunto da obra somente horas depois de terminá-lo, quando pude digerir, refletir e associar as cenas com suas cores, sentimentos e representações.

Moonlight é um estudo do personagem Chiron em três fases da sua vida: infância, adolescência e idade adulta. Tentando sobreviver ao bullying na escola e à violência da comunidade em que vive, o menino Chiron acaba encontrando amor e proteção no lugar mais improvável: no lar de um traficante chamado Juan, quem lhe ensina os maiores valores de sua vida. Adolescente e desconfortável em sua própria pele, Chiron continua tentando se encontrar e faz descobertas significativas que refletirão no homem que ele se torna, ainda em busca de sua identidade. Sem dúvidas, um "filme-poesia" que merece ser visto com atenção em todos os detalhes, principalmente na cor azul e no que ela representa ao longo da projeção.


UM LIMITE ENTRE NÓS


Dirigido e protagonizado por esse homão da pirra chamado Denzel Washington, Um limite entre nós é a adaptação de uma premiada peça chamada Fences e que definitivamente deveria manter a tradução do nome original, CERCAS, porque o simbolismo delas é a coisa mais linda da história. Na trama, Troy é um ex-sonhador jogador de baseball que, na meia idade, trabalha como coletor de lixo para sustentar a esposa e o filho mais novo. Amargurado com os rumos que a vida levou, ele vai aprender a navegar pelas complicadas águas de seu relacionamento com as pessoas que o rodeiam.

Aparentemente, pegaram o roteiro da peça do jeitinho que está e tacaram no roteiro do filme sem adaptações nos diálogos, porque no primeiro ato eu confesso que fiquei cansada de ler tanta legenda. Os diálogos são, claro, a força da narrativa, mas era muita falazada pra pouca troca de ambiente. Depois as coisas começam a melhorar gradativamente, revelando uma história com um subtexto poderoso e amparada por atuações lindas do próprio Denzel e de Viola Davis, também conhecida como Deus.


ATÉ O ÚLTIMO HOMEM


Lembram de quando Mel Gibson deixou todo mundo desconfortável como diretor de A paixão de Cristo? Se você é fraco pra sangue, tripas e braços voando, melhor ficar longe do realismo desse filme também.

Até o último homem conta a história real de Desmond Doss, um médico de combate que se recusava a pegar em armas por princípios, desacreditado por seus companheiros e superiores, mas que ao fim se mostrou muito mais corajoso que muito soldado ao salvar dezenas de colegas feridos na Batalha de Okinawa, durante a Segunda Guerra Mundial. Não sou muito fã de filmes de guerra, mas esse aqui me surpreendeu positivamente. Apesar de alguns clichês e resoluções porcas de conflitos, fiquei impressionada como Mel Gibson conseguiu inserir o espectador (euzinha) dentro do campo de batalha, transformando o protagonista Desmond em um ser humano extraordinário em sua pequenez, fisicamente falando.


A QUALQUER CUSTO


Toby e Tanner são dois irmãos que vivem em West Texas e armam um plano pra se restabelecerem financeiramente após perderem a fazenda da família: assaltar bancos ao longo da estrada. Porém, não contavam com o fato de um velho policial prestes a se aposentar, mas muito sagaz, ficar na cola deles pelo caminho.

A qualquer custo pode parecer apenas OK pela sinopse, mas é um western moderno com uma fotografia massa, uma bela atuação de Jeff Bridges (que concorre ao Oscar também, aliás), ótima trilha sonora e uma crítica à situação econômica penosa que abrange a relação bancos x trabalhadores e a "dicotomia" cowboy x indígenas, representada especialmente pela dupla de policiais. Redondinho.


ESTRELAS ALÉM DO TEMPO


Esse virou o mais novo queridinho da galere, e de fato Estrelas além do tempo é bem fofo e importante: é emocionante perceber como meninas negras estão se espelhando nas protagonistas desse filme, baseadas em pessoas reais que contribuíram enormemente para a NASA durante a corrida espacial. Centrada em Katherine Johnson, uma brilhante matemática, a história retrata como ela e suas colegas Dorothy Vaughn e Mary Jackson foram fundamentais na operação do lançamento do astronauta John Glenn para a órbita da Terra.

Há quem tenha se incomodado com a vibe leve, otimista e bem humorada do filme, bem ao estilo Vidas cruzadas, que aborda temas pesados como o racismo e a misoginia. Mas meu maior problema com Estrelas além do tempo foram as construções esquemáticas de várias cenas, meio Oscar bait, com diálogos pouco naturais. Não estou dizendo que é um filme ruim, mas acho que faltou sutileza pro meu gosto. Me soa mais relevante como registro histórico do que como obra cinematográfica.   


LION


O garotinho de Quem quer ser um milionário? cresceu e virou esse moço de considerável sex appeal que, em Lion, vive Saroo, um indiano adotado por um casal de australianos após se perder da família quando era criança em Calcutá. Depois de 25 sem esquecer seu passado, ele decide tentar reencontrar a mãe e os irmãos biológicos. Mais um filme baseado em fatos reais pra listinha do Oscar.

Assim como Estrelas além do tempo, Lion não é um filme ruim, mas que tem sérios problemas de ritmo. Enquanto fiquei totalmente envolvida com a primeira parte do longa, em que somos apresentados à jornada de Saroo na infância para voltar para casa (interpretado por um ator mirim maravilhoso que eu tive vontade de abraçar e cuidar a cada segundo que aparecia), as coisas começaram a esfriar quando a história se centra no tempo presente, com Saroo adulto na pele de Dev Patel. As cenas ficam arrastadas, um pouco desconexas, caminhando entre as tentativas do rapaz em descobrir sua verdadeira origem através do Google Earth (!) e sua relação inexplicavelmente conturbada com a namorada, Lucy, vivida por uma Rooney Mara subaproveitada. Um desperdício de talento. 


MELHORES ATUAÇÕES


ATRIZ


Disputam:

Isabelle Huppert - Elle
Ruth Negga - Loving
Natalie Portman - Jackie
Emma Stone - La la land
Meryl Streep - Florence: Quem é Essa Mulher?


Quem eu gostaria que ganhasse: Isabelle Huppert
Quem acho que vai ganhar: Emma Stone

É, bicho. Por mais que eu ame Natalie Portman, a grávida de Jerusalém, como Jackie Kennedy, cheguei mesmo à conclusão de que Huppert foi a mais lacradora. Até o final do ano passado, os fãs estavam certos de que suas chances de levar a estatueta eram grandes (mesmo sendo uma francesa em terras hollywoodianas). Mas, quando Emma Stone começou a papar as premiações consideradas "termômetro do Oscar", o sonho foi se esvaecendo. Temos que reconhecer que ela fez um bom trabalho em La la land também.

Esnobadassa da vez: Amy Adams, por A chegada. Não me conformo.
Meryl Streep é sempre ótima e por isso a Academia deve tê-la indicado pela milésima vez mesmo sem assistir ao filme, mas acho que JÁ DEU.


ATRIZ COADJUVANTE


Disputam:

Viola Davis - Um limite entre nós
Naomie Harris - Moonlight
Nicole Kidman - Lion
Octavia Spencer - Estrelas além do tempo
Michelle Williams - Manchester à beira-mar


Quem eu gostaria que ganhasse: Viola Davis
Quem acho que vai ganhar: Viola Davis

Tirando Octavia Spencer, que não sei o que faz nessa lista pela sua atuação mediana em Estrelas além do tempo, todas estão ótimas. Fiquei tendenciosa pela Michelle Williams, que rouba a cena no pouco tempo em que aparece em Manchester à beira-mar, especialmente em um diálogo com Casey Affleck doloroso de presenciar. Mas Viola Davis foi a responsável por me emocionar em Um limite entre nós, como uma dona de casa resignada, que abandonou seus próprios desejos para viver a vida do homem que ama. Com direito a choro explosivo e meleca escorrendo do nariz (sdds Adèle Exarchopoulos).


ATOR


 Disputam:

Casey Affleck - Manchester à beira-mar
Andrew Garfield - Até o último homem
Ryan Gosling - La la land
Viggo Mortensen - Capitão Fantástico
Denzel Washington - Um limite entre nós

 
Quem eu gostaria que ganhasse: Viggo Mortensen
Quem acho que vai ganhar: Denzel Washington

Viggo não tem chances. E nem é também o candidato mais forte. Mas adoraria ver Capitão Fantástico levando algum prêmio, principalmente por ter sido um filme tão adorado, mas previsivelmente ignorado pela Academia por abordar críticas escancaradas ao capitalismo, consumismo e religião. Casey Affleck era grande favorito, mas seu histórico de abuso sexual contra colegas de trabalho em 2010 levantaram revoltas nas redes sociais, que pediram boicote ao prêmio. Coincidência ou não, Denzel Washington levou o SAG Awards, principal termômetro da categoria, ou seja... suas chances de levar o Oscar também aumentaram.

Senti falta de: Joel Edgerton, por Loving. Achei descaso!


ATOR COADJUVANTE



Disputam:

Mahershala Ali - Moonlight
Jeff Bridges - A qualquer custo
Lucas Hedges - Manchester à beira-mar
Dev Patel - Lion: Uma jornada para casa
Michael Shannon - Animais noturnos


Quem eu gostaria que ganhasse: Mahershala Ali
Quem acho que vai ganhar: Mahershala Ali

O cara aparece por poucos minutos em Moonlight, mas é marcante. Um personagem que foge do estereótipo de traficante de drogas, cheio de humanização, desconstrução e sensibilidade. Mahershala ganhou o SAG Awards e, como se não bastasse ser o favorito há tempos, deve levar o Oscar.

Michael Shannon está ótimo em Animais Noturnos como um policial bem texano, contido, sem grandes expressões, mas que passa tudo o que o personagem sente através de olhos marejados ou de um movimento com a cabeça. Porém, o que o pessoal tava esperando é que indicassem Aaron Taylor-Johnson, quem interpreta um cara psicótico com todo o cuidado de não torná-lo caricato e a proeza de deixá-lo assustador e levemente cômico ao mesmo tempo. Aliás, Animais noturnos, na minha opinião, deveria estar na categoria de Melhor Filme. Filmão da pirra. 

Trocaria: Lucas Hedges por George MacKay (Capitão Fantástico). 



E vocês, quais os palpites pra cerimônia? Usem a caixa de comentários padrão ou do Facebook aí embaixo. Elas não mordem não, tá? :P

"Fúria": o livro proibido de Stephen King

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Agora uso um Kindle. Precisarei de fotos mais criativas :P

Spoiler: o livro com menor nota deste blog é do meu autor favorito.

O ano era 1966. Stephen King, aos 19 aninhos, escrevia seu primeiro romance. Eu, aos 19, no máximo escrevia listas de compras e uns resumos de estudos na faculdade. Ou seja, apesar de ter detestado Fúria, devo reconhecer que o talento do cara já começaaava a se mostrar.

Lançado comente em 1977 sob o pseudônimo de Richard Bachman, Fúria atualmente só pode ser lido no Brasil pela antologia Os livros de Bachman. Isso se você conseguir, porque o bagulho é tão raro que, no Estante Virtual, por exemplo, é vendido por quase MIL DINHEIROS:


Mas como você conseguiu, então, menina Manuela?

Tenho meus meios, eu diria.

Brinks. Apesar do PDF do livro ser vendido no Mercado Livre, se você jogar no Google richard+bachman+furia, acha facinho. Claro que essa versão disponível na rede nitidamente é uma tradução beeem meia-boca feita por alguém com tempo livre, o que prejudicou a história em vários momentos, mas não o suficiente pra me fazer consciente da minha nota final.

E por que o livro é raro? Aí a gente volta pro título desse post: TÁ PROIBIDÃO de ter novas cópias há décadas. Pelo próprio Stephen King.Fúria conta a história de Charles Decker, um adolescente-problema que, após ser repreendido pelo diretor da escola, desce direto para uma das salas de aula e mata a professora de álgebra, mantendo seus alunos de reféns. E um exemplar do livro foi encontrado na mochila de Michael Carneal, que, em 1997, atirou contra um grupo de oração de estudantes na Heath High School, no Kentucky.

Ouch. Pois é.

Stephen King + coisa proibida  + romance de estreia foram suficientes pra eu querer dar uma conferida o mais depressa possível. Há tempos Fúria constava na minha listinha dos mais cobiçados; eu só não imaginava que minha cara iria quebrar em tantos pedaços. QUE EMBUSTE. Raramente fico puta da vida com livros, e quem leu minha crítica de Caixa de pássaros talvez se surpreenda pelo fato de ter dado mais estrelas pra ele do que pra Fúria. Acontece que Caixa de pássaros pelo menos me deixou com uma ânsia louca de chegar à última página, enquanto Fúria... bom, eu devo ter levado uns 3 anos pra conclui-lo </sarcasmo>. Isso porque ele tem menos de 200 páginas.

Fúria não é um livro de terror. Mas é um livro violento, escrito em um período que o próprio King descreve como de repressão sexual, revolta e muitas dorgas. Seu protagonista, que até a última página não consegui definir se era sociopata ou uma criatura fruto dos traumas que passou na infância, não me permitiu desenvolver nenhum nível de empatia. Ao contrário dos alunos que ele tranca em sala, já que nenhum aparece se importar em estar preso junto de um cara claramente perigoso, com um cadáver deitado no chão. O pessoal inclusive parece entender Charles Decker quando este começa a contar algumas passagens pesadas de sua vida, dando margem para que outros ali revelem seus podres por trás das cortinas fechadas da sala e longe de qualquer autoridade adulta. A partir daí, a história surpreende ao mostrar como as pessoas podem se comportar ou o que podem dizer quando não tem quase ninguém olhando, em uma situação completamente incomum, abrangendo experiências sexuais, ódio e desejos de violência contra os próprios pais. O único que parece não estar confortável é Ted Jones, o típico atleta popular da escola, que protagoniza uma das passagens mais nonsense de Fúria, me lembrando bastante O senhor das moscas.

O livro se passa basicamente dentro dessa sala de aula e, apesar de inicialmente ser interessante colocar os alunos num antro de confissões repulsivas, a coisa toda começa a ficar muito arrastada, chata e até boba. Não há uma atmosfera crescente de suspense e nem um desfecho impactante. Vale pela curiosidade, especialmente se você é fã do King e pretende ler todas as suas obras, mas já aviso que talvez você precise de paciência.

  

A Fera, a nostalgia e a melhor princesa da Disney

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Finalmente assisti à A Bela e a Fera. Foi um longo trajeto de uma semana frustrada entre sessões lotadas e/ou caras, até que cedi, em nome da minha sanidade emocional, a pagar por um ingresso um valor que apenas concordo quando se trata de pratos de comida elaborados.

Eu entrei na sala sabendo que nada poderia ser superior à animação dos anos 1990, que é, junto de O Rei Leão, minha animação favorita da Disney. Sabia, também, que essa live action era 95% igual à história da obra original. Muita gente criticou a ausência de originalidade, a "necessidade" de produzir o filme diante desse cenário, e eu só consigo pensar: tá tudo bem, gente. A proposta, creio eu, sempre foi recriar A Bela e a Fera de sempre, só que com seres humaninhos. Por isso, decepção passou longe de mim.

Como obra, achei o longa bonzinho. Mas, se considerarmos o grande e principal fator nostalgia, me acertou em cheio, bem na cara. E era isso o que eu estava procurando. Quando o castelinho da Disney e a rosa apareceram na tela, agarrei os braços da poltrona do cinema. Quando os habitantes da vila começaram com seus Bonjour, a boquinha tremeu. FEELINGS, minha gente, FEELINGS. Não sei nem explicar como A Bela e a Fera é capaz de me tocar de diversas maneiras, mas a principal delas diz respeito à mensagem de amar e aceitar alguém pelo que ela é, muito além do que as aparências mostram (inclusive falei disso no meu texto sobre o livro Extraordinário). E a Bela, em particular, me conquistou desde a primeira vez em que assisti à animação: gentil, altruísta, corajosa e muito à frente do seu tempo, era o tipo de personagem feminina que fugia dos estereótipos dos contos de fada da época e, por isso tudo, continua sendo a minha princesa favorita. Chupa, Frôze.

Gostei de Emma Watson no papel. Emma é aquele tipo de atriz que, até o momento, interpreta todas as usas personagens de maneira semelhante, mas ai se falarem mal dela perto de mim. Há coisas que o coração não explica, e o nome dela já tá gravado no meu desde a saga Harry Potter ¯\_(ツ)_/¯. De qualquer forma, acho que faltou um pouco de carisma como Bela. Imagino que tenha sido difícil ficar sorrindo pra paredes verdes de chroma key onde candelabros, relógios e pratos deveriam estar dançando, mas Emma Watson poderia ter aprendido melhor as manhas durante sei lá quantos anos de Hermione rodeada por CGI em Hogwarts.

Falando em CGI, achei tudo incrível, principalmente a Fera. Suas feições super-humanizadas, sua postura e principalmente seus olhos conferiram uma camada de vulnerabilidade muito bem-vinda para o personagem. Quis abraçá-lo e levar pra passear de coleira várias vezes. Acho que, em relação a ele, os efeitos ficaram um pouco prejudicados apenas na cena da dança com a Bela. Mas porra, foda-se, porque QUE CENA, MORES. Me urinei toda.



Ela serviu pra me dizer três coisas: a) que a trilha sonora é foda; b) que eu #shipomuito e que c) só sai lágrimas do meu olho esquerdo.

Ah, sobre o 3D: detesto filmes assim porque são o dobro do preço do ingresso e geralmente não acrescentam nada. Mas, além de ser em 3D, assisti à A Bela e a Fera em IMAX pela primeira vez e confesso que a experiência foi interessante. Achei que as poltronas chacoalhavam ou coisa assim, só que o diferencial está na tela giganteeesca e na imagem e som mais definidos. A princípio nada chamou minha atenção até que, na cena em que a Fera joga a bola de neve na Bela, aquela porra veio em direção à câmera e eu desviei dela, sentada, IGUAL UMA OTÁRIA. Parabéns.

Gostei que acrescentaram alguns elementos novos à narrativa, assim como números musicais (os 5% de originalidade do filme). O trabalho de dublagem dos objetos encantados do castelo estão ótimos, com destaque para o Ewan McGregor como Lumière, seu sotaque francês e o tom debochado e divertido que deu para o personagem. Outro alívio cômico ficou por conta do LeFou interpretado pelo Josh Gad; ele não precisava abrir a boca pra falar nada que eu já estava rindo. Inclusive estou me perguntando qual era exatamente a tal cena gay ~polêmica, já que cada aparição do personagem era uma chuva de purpurina.

Minhas maiores ressalvas ficam por conta da direção de Bill Condon, que não soube trabalhar ritmo, montagem (há muitos cortes desordenados) e algumas cenas de ação, especialmente a perseguição dos lobos ao Maurice e à Bela e a volta desta à vila para salvar o pai.

De qualquer forma, já estou querendo voltar ao cinema - dessa vez para assistir à versão dublada e poder cantar junto com os personagens, como pede minha idade mental.






Filmes da semana #10

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Temos um novo FILMES DA SEMANA! AÊEE, TIA!

Hoje completam vergonhosos 6 meses desde que publiquei o post mais recente dessa série, o que me faz pensar que eu deveria mudá-la para FILMES DO SEMESTRE. Posso ficar justificando, dizendo que a corrida das premiações no fim de 2016 foi a grande culpada para eu focar nos candidatos ao Oscar, O QUE É VERDADE, mas prefiro partir para cinco diconas legais de filmes recentes pra vocês colocarem na listinha, passarem um pano nisso e me perdoarem. Em breve, teremos uma nota categoria por aqui também. <3


QUASE 18


Quando pensamos em filmes com elenco adolescente, pensamos em quê? No hino "Meninas malvadas", né? Pega esse monte de longas com enredo e atores chatos que retratam as passagens da adolescência e veja quantos realmente bons consegue tirar dali. Há quem não tenha muita paciência pra hormônios e dramas do tipo, por isso digo que Quase 18 é um filme que pinta muito bem o quadro de como é ser adolescente de uma forma bem divertida e leve.

Recentemente, a série 13 reasons why, da Netflix, foi polêmica nos quatro cantos da internet pela discussão em torno de suicídio, bullying e a rotina adolescente no ambiente escolar, formando uma legião de críticos e fãs - muitos deles, adultos (até porque, vamos combinar: não é porque a obra fala da galera de 17 anos que necessariamente está falando só PARA ela). Quase 18 inicia com uma cena da protagonista Nadine se dirigindo à mesa de um professor da escola anunciando que quer se matar, mas ali já dá pra ver que o tom proposto é completamente diferente. É só a abertura da retrospectiva da sequência de dramas que Nadine enfrentou nas semanas anteriores: ela está no auge dos 17 anos, não se sente nem um pouco confortável em ser quem é, tenta diariamente se ajustar às pessoas e ao ambiente ao seu redor, tem uma relação conturbada com a mãe e a única amiga está namorando seu irmão, o típico fortão popular que tem tudo o que ela gostaria de ter.

Quase 18 me arrancou gostosas risadas (e olha que isso não é muito fácil de conseguir em um filme), o que muito se deve à atuação da Hailee Steinfield, que consegue fazer com que uma personagem relativamente desagradável te conquiste facilmente.



MULHERES DO SÉCULO XX


Passado em 1979, o filme retrata a vida de Dorothea Fields, uma mãe solteira na casa dos 50 que cria seu filho adolescente durante uma época de mudanças culturais e de revolução sexual. Na educação de Jamie, Dorothea conta com a ajuda de duas mulheres mais novas, Abbie, uma artista punk conhecida como a Frances Ha de cabelo vermelho que aluga um quarto na casa dos Fields, e Julie, uma adolescente provocadora que é a paixão platônica do menino.

Mulheres do século XX é sensível ao mostrar, por exemplo, como o feminismo era uma ideia pouco difundida na época mas tinha sua essência rodeando a vida de suas personagens femininas - três gerações dentro de uma mesma realidade -, principalmente quando tentam moldar para melhor o caráter de Jamie, que passa a aprender sobre a importância de valorizar as mulheres à medida que vê seu comportamento diante do mundo se transformar. É lindo ver como todos eles acabam crescendo com o suporte um do outro, enquanto temas como maternidade, solidão (de não ter um parceiro, como Dorothea), juventude/velhice e educação são abordados entre as cenas e diálogos deliciosamente orgânicos :3 Mil pontos para o roteiro, fotografia, trilha sonora e interpretações, especialmente a da Annette Bening, que inclusive esteve cotada para entrar na disputa pelo Oscar deste ano.

Uma palavra: MENSTRUAÇÃO.



UM HOMEM CHAMADO OVE


Sabe aquele filme bonitinho que você tem vontade de abraçar? Indicado da Suécia ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, Um homem chamado Ove conta a história, bem, de Ove, um senhor mal-humorado sessentão que leva uma vida totalmente amargurada. Aposentado, ele se divide entre sua rotina monótona e as visitas que faz ao túmulo de sua falecida esposa. Mas, quando ele finalmente se entrega às tendências suicidas e desiste de viver, novos vizinhos se mudam para a casa da frente, e uma amizade inesperada surge.

Alternando entre o presente e os flashbacks do protagonista, sua vida a dois e sua especial relação com o pai, Um homem chamado Ove é despretensioso, delicado, gostoso de assistir e que gira em torno da famosa jornada de transformação do personagem. O desenrolar até que é previsível, mas não incomoda; a gente sabe o que vai assistir, mas quer curtir a viagem. Basicamente isso.



CHRISTINE


Casos bizarros, trágicos e misteriosos que viraram documentários e filmes existem aos montes. O de Christine Chubbuck, repórter nos anos 1970, possivelmente se enquadra nessas três categorias. Ambiciosa e talentosa funcionária de uma emissora de televisão em Sarasota, Flórida, Christine entra em crise por frustrações profissionais e amorosas e toma uma decisão que os telespectadores americanos não esqueceriam tão cedo: se suicidar ao vivo durante a exibição do jornal local.

O desafio da produção do filme foi tentar retratar as últimas semanas de Christine e os possíveis motivos que a levaram a esse fim triste pra cacete com base em pouquíssimo material. Até onde sei, sequer tiveram acesso a vídeos em que a repórter aparece ou, se tiveram, foi a um único trecho, o mesmo exibido em outro longa coincidentemente lançado na mesma época e que conta a mesma história: Kate interpreta Christine (não tão bom quanto esse, mas que vale a pena assistir como complemento). A força de Christine reside principalmente na interpretação de Rebecca Hall, que tirou leite de pedra pra construir a personalidade da personagem real; uma interpretação cheia de nuances dos seus desejos, dores, perfeccionismo, obsessão, sexualidade e depressão. O final é uma boa reflexão tapinha-na-cara sobre sensacionalismo e culpa.



ANIMAIS NOTURNOS


Chegamos naquele que, pra mim, é o filme esnobadão da categoria de Melhor Filme do Oscar 2017. Meu mozão.

O longa acompanha Susan, uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro. Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward, seu primeiro marido, chamado Animais noturnos - uma referência a uma comparação que ele costumava fazer aos hábitos dela quando ainda estavam juntos. O trágico livro, por sua vez, conta a história do personagem Tony Hastings, um homem que leva sua esposa e filha para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho de uma gangue.

O filme traça um paralelo entre três realidades - o presente, em que Susan lê o o livro; próprio livro (realidade ficcional rssss), que é uma analogia aos sentimentos de Edward em relação a tudo o que aconteceu em torno do fim do relacionamento; e o passado do casal ainda jovem. Animais noturnos costura as cenas em uma montagem digna de reconhecimento, mostrando como algumas escolhas que fazemos na vida podem ser dolorosas e trazer consequências amargas, moldando nossa personalidade. Achei fascinante. Um thriller cheio de metáforas, melancolia e muita crueldade, com uma fotografia, roteiro e atuações excelentes.  

Seu Madruga, a vingança pode ser plena.


CORRA! é maior que o seu hype?

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Jordan Peele é conhecido por escrever projetos de comédia, como a série de cinco temporadas Key and Peele. Em Corra!, seu primeiro longa como diretor e roteirista, ele mescla as nuances do humor e do thriller para apresentar uma Crítica Social Foda™ sobre racismo. Se esse cenário já não fosse instigante o suficiente, pense que o filme tem 99% de aprovação no Rotten Tomatoes, angariando simplesmente 229 críticas positivas contra apenas 1 negativa. Um feito raro para obras do gênero atuais.

PENSA onde estavam as minhas expectativas.

Bom, pena que muitas vezes elas servem pra nos iludir, né, mores? Não que esse tenha sido o caso! Corra! é uma pequena joia criativa perdida em um mar de embustes, mas como eu esperava a obra-prima do suspense do novo século, afirmo como minha opinião: o hype do filme foi maior que o próprio filme.

A história acompanha Chris (interpretado pelo ótimo Daniel Kaluuya, de Black Mirror), um jovem negro que viaja com a namorada caucasiana Rose (Allison Williams, de Girls, também ótima aqui) para a casa dos pais dela, que ainda não o conhecem. Lá, ele é muito bem recebido pelos sogros, mas começa a achar que tem alguma coisa errada ao perceber não apenas que todos os empregados são negros, como agem de maneira robótica.

A atmosfera do terror sugestivoé trabalhada de forma muito eficiente, principalmente no primeiro ato. Há o atropelamento assustador de um veado na estrada, a casa de campo distante da ~civilização, o irmão perturbado, conversas sobre hipnose, janelas acesas no meio do breu da noite, trilha arranhada, comportamentos inesperados, cenas alternadas que não dizem nada a princípio, mas te deixam com a pulga atrás da orelha, etc. O problema é que o roteiro não parece se preocupar em ser imprevisível, ou eu e meus amigos com quem assisti Corra! somos gênios dos plot twists (e não, não somos). Adivinhamos praticamente 90% do que ia acontecer, e isso fez com que os outros dois atos perdessem parte da graça. Nem mesmo a revelação final me recolocou dentro da vibe da história, de tão inverossímil que soou. Era proposital? Provavelmente, vocês dirão. Afinal, é uma fábula, não é?

Mas, ai.

No entanto, palmas para as atuações, em especial a de Betty Gabriel em uma cena particularmente perturbadora, e para os momentos cômicos-ácidos inteligentemente bem colocados, que ficaram a cargo na maioria das vezes pelo personagem Rod, melhor amigo de Chris, que está por fora do centro dos acontecimentos mas desempenha um papel muito importante no desfecho.

A crítica ao racismo não é sutil (a menos que você seja um mau observador), o que não é um ponto negativo. É pra ser fácil de refletir. A última cena, aliás, funciona como um soco - mas teria doído mais se fosse levada para um outro caminho.    

Estreia nos cinemas brasileiros dia 18 de maio.





The handmaid's tale: a nova série do Hulu que você deveria estar assistindo

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Eu não quero saber de Game of Thrones.
Não quero saber de Stranger Things(mentira, quero sim).
Se bobear, não quero nem saber de Westworld.

Só quero ver The handmaid's tale passando o rodo no Emmy, no Oscar e até no Melhores do Ano do Faustão.


Pode ser cedo pra colocar meus dedinhos no fogo, sendo que só assisti aos cinco episódios disponíveis até o momento, mas The handmaid's tale conseguiu me arrebatar com pouca coisa e já é considerada uma das grandes estreias de 2017.

Produzida numa parceria entre a MGM e o Hulu (serviço de streaming tipo Netflix), a série foi lançada no dia 26 de abril e, com uma semana (os episódios por lá são liberados semanalmente, como acontece em emissoras de TV), já foi renovada para a segunda temporada  sendo a a melhor estreia do Hulu entre produções originais e adquiridas. As críticas, por sua vez, receberam The handmaid's tale com ótima aceitação: lá no Rotten Tomatoes, que eu tanto menciono em meus posts ~cinéfilos, está com 100% de aprovação aka. 71 críticas positivas e 0 negativas.

Na primeira cena do primeiro episódio, vemos uma família – homem, mulher e uma criança – que parece fugir de algumas pessoas em uma floresta. Na cena seguinte, a mesma mulher está em um quarto de mobília antiga, vestida como uma espécie de criada européia do século XVIII, conversando com sua senhora. Em flashbacks, uma versão feliz da personagem tem um outro trabalho, faz cooper com a melhor amiga, bebe vinho em restaurantes, flerta, ri e comenta casualmente sobre Tinder e Uber. Alguns desavisados que não leram a sinopse podem duvidar inicialmente sobre em que época exatamente se passa a história de The handmaid's tale, mas logo fica claro que aquele contexto bizarro de relação retrógrada entre patroa e empregada é o presente – um presente assustador do novo milênio.

Segunda adaptação do romance homônimo de Margaret Atwood (no Brasil, se chama O conto da Aia), The handmaid's tale se concentra em uma sociedade distópica americana: assim que uma facção católica toma o poder do que antes eram os Estados Unidos, as minorias – principalmente as mulheres – perdem seus direitos e identidades, sendo tratadas como propriedades do estado. Livros e arte são queimados, a alfabetização é proibida e criminosos perante as rígidas leis são mortos e, seus corpos, expostos à luz do dia. Servindo à família de um comandante do alto escalão desse regime totalitário e teocrático, Offred – cujo nome significa literalmente "de Fred", seu senhor – é a protagonista de The handmaid's tale, pertencente às Aias, uma casta valorizada pela sociedade por reunir todas as mulheres ainda férteis, algo bastante raro naquela realidade. E, justamente por isso, Offred mensalmente é oferecida para ser estuprada pelo senhor de sua casa, a fim de que gere filhos para sua esposa estéril.          



Pois é. Pesado. Como se não bastasse essa premissa completamente intrigante, os aspectos técnicos da série são um show à parte. O QUE É A FOTOGRAFIA DESSA BAGAÇA? Belíssima, acinzentada, com uma paleta de cores fascinante. Junto da direção, em constantes close-ups de Offred, ela se preocupa em captar as mínimas rugas de expressão, lágrimas e olhares que transmitem uma imensidão de sentimentos conflitantes. Um trabalho primoroso que só resulta no que é graças, também, à interpretação magnífica de Elisabeth Moss. Perdida, solitária e amedrontada, a Offread de Moss vive retraída atrás de seu chapéu-viseira – perfeito para a era das mulheres que nada podem ver, pensar ou fazer longe do que manda a República – e só consegue se expressar e se esconder, ao mesmo tempo, dentro de seus olhos.

Outra que traz uma ótima performance é Alexis Bledel, a eterna Rory de Gilmore Girls, que prova aqui ser muito mais que um rostinho-lindo-de-boneca-de-porcelana-e-olhos-azuis-maravilhosos-meu-deus-eu-queria-ser-ela. No papel de Ofglen, também membra das Aias, e mesmo em menor tempo em tela se comparada à Elisabeth Moss, Bledel é dona de cenas marcantes, principalmente algumas do episódio 3 que me deixaram quase sem ar. (Não estou brincando quando digo que precisei fazer uma pausa antes de prosseguir para o episódio seguinte.) Samira Wiley, a sensacional Poussey de Orange is the new black, Yvonne Strahovski e Joseph Fiennes também integram o elenco.

Em metade de sua primeira temporada, The handmaid's tale se revelou uma obra incrível, relevante e assustadora, principalmente quando traçamos um paralelo com a nossa realidade e com a onda ultraconservadora que parece abraçar o mundo, em especial nesta era de Trump. Não sei se é sensato dizer que é um alerta; afinal, acho difícil que o futuro da série venha a ser o nosso um dia, mas ele parece possível. O patriarcado está aí, o fundamentalismo está aí, o backlash está aí  e ganhando forças. Mas, lamentavelmente além disso, existem sociedades HOJE em que mulheres ainda vivem atrocidades extremamente parecidas com as vividas na série.

E o medo, a princípio apenas uma surpresa diante do absurdo, é de que pessoas comecem cada vez mais a olhar pra isso como se fosse algo normal.

(Ah. O Hulu não existe no Brasil, mas titia sabe que você é esperto e sabe fazer a busca certa no Google.)



The keepers: quem matou a irmã Cathy?

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Um combo é um combo, né, mores? Primeiro, é uma série documental que aborda um crime não solucionado. Segundo, é dos criadores de Amanda Knox e Making a murderer. Terceiro, é uma obra original Netflix; ou seja, tava dando sopa lá na home da plataforma, só me esperando dar o play.

O que significa que passei sete horas do meu último fim de semana enfurnada no quarto, de cabelo sujo, vivendo de pipoca e guaraná. De novo.

Desde sempre eu sou fascinada por histórias de crimes complexos, serial killers, mistérios, casos inconclusivos e, por isso, foi grande a minha alegria e surpresa ao abrir a Netflix e me deparar com uma nova obra original andando por esses caminhos. The keepers, que estreou no dia 19 de maio provando que não é preciso computação gráfica, castelos e dragões para criar uma abertura que nunca dá vontade de pular, traz a história real (claro, dã) da freira Cathy Cesnik, desaparecida e encontrada morta 2 meses depois em Baltimore no ano de 1969. Apesar das circunstâncias estranhas – um bairro extremamente pacífico e sem índices de homicídios; seu carro estacionado próximo ao seu apartamento, sujo de lama e com metade da bunda na rua –, ninguém encontrou o assassino. Com o passar dos anos, o caso ficou envolto por uma atmosfera de lenda urbana, sempre lembrado com lástima e sentimento de injustiça pelos moradores locais. Principalmente por duas senhoras em especial, Abbie e Gemma, ex-alunas aposentadas de Cathy que decidiram investigar por conta própria o ocorrido com sua professora favorita, convictas de que seriam capazes de chegar a uma conclusão. Mas, à medida que desenterravam a história da freira, descobriam uma cadeia de segredos horríveis escondidos no seio católico da cidade.

A teoria mais lógica era que Cathy estava prestes a escancará-los para o mundo.

[A partir daqui, tratarei de assuntos que podem ser considerados por alguns como spoilers, apesar de eles estarem fortemente sugeridos no trailer da série e em algumas sinopses divulgadas.]  

Baltimore sempre foi uma cidade americana essencialmente católica. As famílias, criadas para comparecerem à igreja semanalmente e se sentirem honradas com tarefas envolvendo missas e congregações, enxergavam as figuras dos padres como símbolos de poder e respeito máximo. E lá, em Baltimore, se encontrava um dos colégios femininos de Ensino Médio mais prestigiados da região – o Seton Keough, administrado pelas irmãs de Notre Dame e onde Cathy dava aulas de inglês.  

     
A partir daí, durante pelo menos três episódios, The keepers parece se aprofundar mais na história em torno desse contexto do que no assassinato em si. Alternando reconstituições e depoimentos das senhorinhas-detetives, de pessoas próximas de Cathy, de policiais da época e de jornalistas, a série revela uma figura importante do processo que parecia ser a chave para entender o que ocorria entre a Seton Keough e a própria irmã: Jean Wehner. Jean foi uma ex-aluna do colégio que denunciou, nos anos 1990, inúmeros relatos de abusos sexuais cometidos pelo padre Joseph Maskell, conselheiro e capelão do lugar. Na época apresentada à mídia anonimamente como "Jane Doe", é a primeira vez, em The keepers, que Jean Wehner revela sua verdadeira identidade.

Sabe o conceito de deep web? Pois isso era só a ponta do iceberg. Linkando os crimes de pedofilia à aura luminosa da irmã Cathy, sua bondade tão retratada por quem esteve em seu convívio e sua sensatez sobre justiça e hipocrisia, o documentário faz o que ninguém teve coragem de fazer nestes quase 50 anos desde o assassinato: dar voz às vítimas – às várias que surgiram junto de Jean Wehner – com dignidade e humanização. Ao mesmo tempo em que grita, com horror, o silêncio e acobertamento da Igreja, do judiciário e da polícia diante de toda a repercussão.

Por isso, se você achou o filme Spotlight difícil de assistir por chutar o balde de histórias escabrosas de padres pedófilos em Boston, The keepers é muito mais. Mas ela merece, por esse motivo só, ser assistida. Ficamos diante da dor nua e crua de sobreviventes, em closes na tela, calados tanto tempo por suas próprias memórias, crentes na ideia de que eram merecedores de todo sofrimento, fruto de seus pecados.  É incrivelmente relevante que a Netflix possa varrer pra fora do tapete tanta sujeira que se esconde em tantos outros milhares de casos sem culpados para julgar.

The keepers é meticulosa ao explorar o máximo possível de "lados" e teorias, o que acabou deixando alguns episódios longos e maçantes demais. Mas, sinceramente, não sei nem se isso seria um defeito ou mais uma qualidade da série.



A DC acertou a mão em Mulher-Maravilha

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Depois de me encantar com a trilogia do Batman (porque é Deus no céu e Christopher Nolan na Terra), assistir a 400 filmes do Homem-Aranha e me divertir com o pacote X-Men, cansei de super-heróis no cinema. Passo reto. Também não sei o que significa a guerra DC vs. Marvel. Hoje cheguei na ~firma, por exemplo, perguntando que treta era essa, e me informaram que os filmes da Marvel costumam ser mais leves e divertidos, enquanto os da DC são mais "realistas" e sombrios, e que Mulher-Maravilha era uma aposta pra fazer o nome do estúdio se fortalecer novamente depois de lançamentos de alguns embustes. Se eu estiver escrevendo bobagem, culpem meus colegas de trabalho.

Mas não foi isso que me fez mudar de comportamento e comprar um ingresso pra pré-estreia de Mulher-Maravilha ontem. Foi o fato de estarmos diante de uma adaptação dos quadrinhos com uma protagonista feminina, levantando a relevância do que significa representatividade de mulheres no cinema atualmente, e porque eu sou uma filha da pyta pedante que se importa com os mais de 90% de aprovação do filme no Rotten Tomatoes.

Eu não sei nada sobre a personagem Mulher-Maravilha original. Desde que eu era criança, achava que era a namoradinha do Super-Homem com um jatinho invisível e uma corda mágica. Desculpa, eu estava muito ocupada concentrando minha atenção no He-man e seu tigre verde que eu tinha de brinquedo. Mas, tudo bem, não importa; afinal, o filme não pode ser feito apenas para fãs dos quadrinhos, não é? O que vale julgar é o que assisti dentro dos 141 minutos de filme.

Mulher-Maravilha é um respiro gostoso dentro de um universo abarrotado de super-heróis masculinos, dirigido por uma mulher - algo bem incomum principalmente quando analisamos blockbusters -, Patty Jenkins, responsável por Monster (aquele ótimo filme em que enfeiaram a Charlize Theron para viver uma serial killer real) e pelas duas maravilhosas primeiras temporadas de The killing. Aqui, ela constrói uma sociedade assolada pela guerra que encontra Diana, princesa amazona, praticamente a personificação da esperança de que dias futuros possam ser mais cheios de arco-íris do amor.

Diana (Gal Gadot), nossa Wonder Woman, é filha da rainha Hipólita, da Ilha de Lesbos Themyscera, habitada unicamente por mulheres amazonas e guerreiras, donas de forte presença e de cenas visualmente belíssimas. Todas vivem em paz & comunhão até o dia em que o capitão Steve Trevor (Chris Pine) consegue, de alguma forma, fazer a travessia do "mundo real" para a ilha ao cair com seu avião (Lost feelings). Salvo por Diana, ele conta das batalhas que estão minando vidas em todo o planeta e passivamente a convence a seguir com ele, uma vez que Diana acredita que sua missão na Terra é combater Ares, o deus da guerra.  

A transição entre Themyscera e Londres, pra onde a dupla primeiramente vai, é feita sob o trabalho de uma fotografia que enaltece a verdadeira visão de um paraíso - céu azul, águas brilhantes e luz intensa - e a visão de uma sociedade decadente, suja, escura e caótica, com muitos tons de cinza e pontos embaçados. É onde começa a maioria das inserções de momentos cômicos que parecem ter sido cirurgicamente encaixados - um cabelim a mais poderia fazer com que ficassem forçados ou bobos demais. É adorável observar como Diana se comporta diante de um mundo totalmente novo para ela, entre noções de certo e errado do que ela aprendeu e do que existe ali, e coisas simples como portas giratórias, vestidos e relógios. Gal Gadot passa essas nuances muito bem, indo da inocência que Diana exige, à fúria, ideologia, força e compaixão que surgem ao longo do arco. Chris Pine também está ótimo na pele do capitão, um sujeito que passa longe dos machos alfa de filmes de ação, criando uma química com Gadot quase palpável. O grupo que acompanha Diana e Steven na guerra, formado pelas pessoas aparentemente mais improváveis do mundo numa guerra, que Deus me perdoe, possui uma relação e carisma mais interessantes do que aquele grupo de Rogue One. (o cu não tem nada a ver com as calças mesmo, mas foi uma questão de Rogue que me incomodou na época e da qual me lembrei ao assistir Mulher-Maravilha).  

Outro ponto positivo, pelo menos pra mim e que chamou minha atenção, foi em relação ao traje da Mulher-Maravilha: graças aos deuses não tem nenhum colant vermelho e minissaia azul; pelo contrário, a passagem de amazona de Themyscera para super-heroína do mundo "real"é feita de forma crível e orgânica, se adequando muito bem no contexto da história (destaque para a tiara, símbolo da personagem, e para a corda). Sem momentos Sailor Moon ou cabines telefônicas de troca de uniforme.

Outro grande ponto positivo é esse:




Por favor, vamos emoldurar o rosto dessa mulher e colocar em exibição em algum lugar. Mulher-Maravilhosa.

Apesar do uso frequente de câmera lenta em cenas de ação que fazem a gente prender a respiração, não tenho certeza se o recurso serviu para maquiar lutas mal coreografas e/ou mal dirigidas. Por sua vez, os vilões, na minha opinião, foram o aspecto mais fraco de Mulher-Maravilha: caricatos e unidimensionais demais - talvez um pouco menos no caso da "dra. Veneno", mas ficou só na imaginação. A tal batalha final, como toda batalha final de filme de herói, é extravagantes, cheia de pirotecnia e muito CGI, mas, né, nada novo sob o sol.

Por fim, a carga dramática, apesar de ligeiramente previsível e um pouco piegas, com discursos prontos, toca em reflexões relevantes sobre o que move e une os humanos: ódio, amor, indiferença, compaixão, perdão, ganância e sonhos.

Se os longas de super-heróis seguirem por esse caminho, é possível que eu vá mais vezes no cinema. :-)




Eu fui a Ellen Page em Beyond: two souls e botei pra quebrar

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Quando joguei Life is strange no computador, há quase sete meses, não imaginava que hoje estaria com um videogame novo em casa.

Eu gosto de me incriminar (mas ainda não sei o que é MMORPG)
Eu iniciei aquele texto dizendo que não me considerava gamer de verdade, já que não costumo acompanhar os lançamentos e minhas referências de vida eram Super Mario e derivados. A ponta visível da web que escondia a deep web gamística de mim. "Não posso, não há tempo". "Tempo a gente sempre arranja, mesmo que seja de madrugada", teria dito na época Jot, grande responsável por essa minha mudança de ideia e que me introduziu no mundo desses novos jogos. Segundo ele, existem gamers que jogam pela diversão (alô, Mario e Donkey Kong) e os que procuram conteúdos mais intensos (não que isso exclua a diversão, claro). Aparentemente, estou me afeiçoando muito a esse segundo tipo. Life is strange foi só a porta de entrada para drogas mais pesadas (apesar de eu ainda duvidar que outro jogo me faça sofrer tanto de abstinência quanto esse, como vocês verão mais por aqui).

E é nesse novo hobby, por onde ainda navego tímida fazendo descobertas tolas perante gamers experientes, que conheci Beyond: two souls, um jogo da Quantic Dream distribuído pela Sony exclusivamente para Playstation 3 em 2013. Também desenvolvido em sistema de escolhas (em que as escolhas do personagem suas, no caso influenciam o desenrolar de sua história), ele transita por 15 anos da vida da protagonista Jodie (Ellen Page), que nasceu com uma entidade presa ao seu corpo, que ela chama de Aiden. Muitas vezes agindo fora do controle do corpo dela (bem Poltergeist), Aiden é responsável por Jodie ser estudada em um laboratório da CIA, comandado pelo dr. Nathan (Willem Dafoe), e posteriormente usada em missões militares.

Eu joguei a versão remasterizada para Playstation 4, lançada em 2015, que dá a opção de jogar a história em ordem cronológica ou na ordem original, que pula de uma fase para outra (infância para adolescência, depois volta para infância, depois vai para a vida adulta, e assim vai). Essa foi a que escolhi e, no fim das contas, tenho minhas dúvidas se isso ajudou ou prejudicou o ritmo do jogo. Uma coisa que achei muito apropriada foi a pergunta educada que Beyond: two souls fez pra mim antes de iniciar a linha do tempo: "a madame está acostumada a jogar muito videogame ou sóoo de vez em quando?". Ufa, que bom que perguntou, porque não, não estou acostumada (ainda!), então o modo easy foi muito bem-vindo. E olha que mesmo assim eu apanhei (pobre n00b).  

Aiden apertando uns pescoços alheios
O legal é que você controla não apenas a Jodie, mas o Aiden também, de acordo com o que a cena pede (ele explora ambientes, assusta pessoas, atrapalha a Jodie, possui pessoas ou mesmo as mata). Os movimentos dele são bem fluidos, como uma entidade se comportaria "de verdade", flutuando pelo ar, atravessando paredes, fornecendo memórias para Jodie, curando, etc. É muito orgânico. Foi interessante para eu poder explorar mais os conjuntos de botões L e R, que ficam atrás do controle, coisa que fiz pouco em Life is strange (exceto para usar o poder de voltar no tempo, que exige pouquíssima habilidade). Outro ponto bacana é que, mesmo que você não tenha controles para dois jogadores, você pode chamar mozão ou coleguinha pra jogar Beyond: two souls com você através do aplicativo  Beyond: touch disponível de graça para Android e IOS. Dessa forma, uma pessoa comanda a Jodie e, a outra, o Aiden (porém, não é possível comandá-los ao mesmo tempo; o jogo continua no modo single player).     

Falando (ainda) em jogabilidade, como deve ser normal pra qualquer pessoa que começa um novo jogo (espero que sim, risos), demorei para me acostumar com os controles. Ainda preciso ganhar mais coordenação motora e visual para futuros jogos de ação, como The last of us, que estou com muita vontade de começar, por exemplo. Sim, Beyond: two souls tem bastante ação se comparado à minha primeira jogatina no Playstation (dei porrada, levei porrada, fugi, corri, escalei, caí, BOTEI PRA QUEBRAR), no entanto, somos menos protagonistas dessas cenas de ação em si. Deu pra entender? Não atuamos diretamente nelas, mas somos guiados para que elas aconteçam como o roteiro pede (em lutas, por exemplo, você usa os controles para desviar de golpes ou aplicar golpes; não é nada parecido com Mortal Kombat) o que descobri, só agora, se tratar de QTE (Quick Time Event). Bom, isso foi ótimo devido à minha falta de experiência, mas pode incomodar jogadores mais maduros. Ou não. A essa altura, eles já conhecem o estilo da Quantic Dream.  


Para completar  a moleza de Beyond: two souls, não tem como morrer no jogo (bem... não da maneira convencional em que você morre e joga a fase de novo até passar, ou leva game over). Por outro lado, isso é legal porque contribui para que o roteiro da história Jodie seja alterado a cada falha ou sucesso, até mais do que as escolhas que fazemos optando por uma resposta que Jodie dá a alguém (fria, solidária, irônica, etc.) ou outras decisões (conseguir dinheiro seguindo caminho x ou y, deixar seu colega ser torturado ou não, etc.).

Aliás, a dinâmica entre os personagens é bem importante aqui. Por mais que a relação que mais me tocou tenha sido justamente a de Jodie com Aiden, ela conhece um punhado de gente durante sua jornada, e a forma como você lida com elas define muito do que acontece com você depois. Algumas interações, na minha opinião, foram pouco desenvolvidas a ponto de eu me importar pra valer (principalmente interações românticas). Outras, em contrapartida, não precisaram de muito tempo para me envolver: bastaram o conjunto de acontecimentos intensos para que eu sentisse a conexão de Jodie com determinados personagens, algo muito gratificante particularmente, pelo final do jogo em que cheguei depois de quase dez horas (a propósito, Beyond: two souls tem 24 possibilidades de finais diferentes!).    

Enquanto Life is strange parece uma série, Beyond: two souls soa como um filme longo: roteiro cinematográfico, trilha sonora linda (com composição de Hans Zimmer, apenas o cara responsável pelas músicas de nomes como Interestelar, A origem e a trilogia Batman), gráficos hiperdetalhados e atuações irretocáveis. Sim, não poderia deixar de ser: toda a animação do jogo foi feita a partir da captura dos movimentos e expressões faciais do elenco, que esteve brilhante, considerando as condições curiosas dessas capturas no estúdio desenvolvedor (veja o vídeo abaixo do trailer).

E, como num filme, Beyond: two souls vai te recompensar. Se você for sábio durante suas ações, prepare-se para um arco muito bonito de Jodie e um desfecho emocionante.






O que esperar de Life is Strange - Before the Storm

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O segundo semestre de 2017 promete lindas emoções na minha vida. O reboot de IT – A Coisa será lançado. Finalmente vou a um show do Sigur Rós (e no Brasil). Ingressos pra Comic Con Experience comprados para o evento de dezembro. E vem aí o prelúdio de Life is strange.

Quando escrevi sobre o jogo no ano passado, não tinha muita noção de que hoje sentiria uma leve vergonha do título que escolhi pro texto: "Tô na bad por um jogo de videogame", sugerindo que é estranho em algum nível se emocionar com um, meu Deus, JOGUINHO. Pois arrisco dizer que, se Life is strange fosse um filme, e não um jogo, eu não teria me envolvido da mesma forma. E é por causa desse envolvimento, que está durando mais ou menos sete meses, que publico este post repleto de ansiedade e fogo no.

Lançado em 2015 pelo estúdio francês DONTNOD e distribuído pela Square Enix, ele foi um sucesso inesperado de crítica e público numa época em que a empresa desenvolvedora andava mal das pernas. Depois de alguns NAVGTR Awards, um BAFTA, a criação de um fandom gigantesco, memes maravilhosos, ship wars e muita fanfic e fanart pra matar as saudades e não deixar Chloe & Max morrerem em nossas memórias, eis que, na E3 deste ano, foi anunciado o lançamento de Life is strange - Before the Storm para o próximo 31 de agosto. A internet explodiu, e com razão, já que dias antes os rumores de um novo jogo rondavam os fóruns quando um usuário vazou art concepts.

Uma semana depois desse anúncio, muitas informações se desencontraram, teorias vieram à tona e, ainda há (acredito que até o fim do lançamento) desconfiança por parte dos fãs quanto à qualidade narrativa de Before the storm. O jogo focará na personagem da Chloe com 16 anos e em como ela iniciou sua amizade com a Rachel – o grande mistério do jogo original, algo que sempre foi muito especulado por nós. Portanto, surge a inevitável pergunta: será que mostrar justamente isso pode, de alguma forma, estragar parte da essência de Life is strange? Mesmo jogando o game duas vezes, Rachel permanece uma incógnita pra mim, e talvez eu queira que continue assim, rs. Talvez eu tenha medo de gostar dela. #pricefieldforever Particularmente, estou convivendo com sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo que estou com uma forte sensação de algo "não oficial" (como apenas uma visão sem marca registrada de como se deu o relacionamento entre as personagens), o hype bateu forte mesmo assim e não vejo a hora de me emocionar com o jogo.

Por isso, enquanto agosto não chega, a gente põe na balança alguns pontos relevantes sobre esse novo contexto:    


LIFE IS STRANGE - BEFORE THE STORM NÃO É DA DONTNOD

Time da DONTNOD orgulhoso da cria
Motivo número 1 da minha sensação do lance "não oficial". Enquanto a DONTNOD criou todo o universo original de Life is strange, o prelúdio foi completamente desenvolvido (do esboço à versão final) pela Deck Nine Games, uma veterana no mundo dos games, mas continua sendo distribuído pela Square Enix, que obviamente quer fazer mais dinheiro em cima da franquia. A equipe envolvida no projeto é grande fã de Life is strange e tem consciência da grande responsabilidade que tem em mãos; por isso, também, garante que criou tudo com muito amor para não decepcionar a gente. O problema é que isso não está sendo suficiente pra parte da galera não ficar com um pé atrás.

[Inclusive já apontaram que, neste novo jogo, a Chloe está destra, sendo que a personagem é oficialmente canhota. A princípio isso pode parecer bobo, mas é uma informação que qualquer pessoa consegue indo no Wikipédia, principalmente quem se diz fã do jogo e se propõe a criar uma nova história com a Chloe como protagonista. O fato de manter esse errinho pode não ser um bom sinal, já que abre portas para outras inconsistências piores, além de criar uma distância em relação ao universo original.]


BEFORE THE STORM NÃO É LIFE IS STRANGE 2


Tá confuso? Pois é: enquanto teremos o prelúdio em lançamento neste ano pela Deck Nine, a DONTNOD está SIM desenvolvendo a segunda temporada de Life is strange, de acordo com anúncio oficial feito em maio! A equipe, aliás, começou a trabalhar nisso ainda na época em que o jogo estava saindo em sua versão física. Mas a notícia triste pra uns e OK para outros é que a nova temporada NÃO terá os personagens que conhecemos. O motivo todo mundo já conhece: o de cima sobre e o de baixo desce a história de Max e Chloe está muito bem encerrada, e é impossível priorizar uma escolha específica feita no final do jogo para dar continuação em outro. Mas fontes confiáveis (de um grupo maravilhoso no Facebook com membros com acesso à DONTNOD) disseram que Life is strange 2 será incrível, surpreendente e, novamente, desolador.


NÃO HAVERÁ VIAGEM NO TEMPO


Bom, isso era de se esperar. Talvez, no máximo, poderíamos ter alguma explicação sobre como Max ganha seus poderes para manipular o tempo, e só. A decisão de não trabalhar poderes sobrenaturais no prelúdio foi intencional: Zack Garris, que comanda a equipe responsável na Deck Nine, disse que sentiram que as habilidades de voltar no tempo estão integralmente ligadas ao caráter e à personalidade da Max e, tão importante quanto, a essência de Life is strange está muito mais em construir personagens autênticos e fazê-los lidar com problemas do mundo real do que nesses poderes.

Before the storm continua sendo um jogo point and click com sistema de escolhas, mas, dessa vez, você não pode desfazer o que decide. O que, pra mim, tem muito mais a ver com a identidade impulsiva da Chloe e dá um peso maior ao que você fará ou não fará diante das situações. Apesar de abordar a amizade dela com a Rachel, o jogo é sobre a Chloe – e numa versão que ainda não conhecemos, só fantasiamos. Por isso, também, estou bastante curiosa sobre como nossas ações vão influenciar na história, considerando que é um prelúdio de uma jornada pela qual passamos; mas a Deck Nine tá garantindo: apesar da intenção de criar múltiplos finais, eles acontecerão – cronologicamente falando – num ponto "seguro" o bastante para oferecer elementos familiares da primeira temporada, sem fazer com que o jogador saiba como aquilo vai terminar. Nada de dark rooms.


O JOGO TERÁ 3 EPISÓDIOS, E NÃO 5


Yep, o prelúdio será mais curto que a primeira temporada, mas a dinâmica dos episódios será a mesma: cada um durará entre duas e três horas, dependendo do desenvolvimento do jogador, e corresponderá a cerca de 24h na história.

Portanto, as regras são as mesmas para enriquecer sua experiência: "fale com todo mundo, olhe para todas as coisas, vá para todos os lugares". Explore e encontre mais easter eggs. :3


OPA, MAS TEREMOS UM EPISÓDIO BÔNUS. COM A MAX =D


Eu sou apaixonada pela Chloe (depois de odiá-la por 1 episódio e meio), mas minha personagem favorita ainda é a Max e eu nem acredito que vou poder matar as saudades dela.

Quem comprar a edição Deluxe de Before the Storm ou a temporada completa terá direito ao episódio bônus "Farewell", disponível após o lançamento do terceiro episódio do prelúdio, e que se passa muito antes dos eventos de Before the Storm. Seria uma Max ainda criança? Provavelmente. Se eu fosse arriscar, diria que é quando ela está se mudando de Arcadia Bay para Seattle. De qualquer forma, é a nossa chance de jogar com a protagonista "original" uma última vez (esse "última vez"é de cortar o coração, né não?).


AS ANIMAÇÕES ESTÃO LIGEIRAMENTE MELHORES


Before the Storm foi inteiramente construído desde o início em um novo motor chamado StoryForge, criado especificamente para esse jogo (e que será usado nos próximos jogos do estúdio), que aborda diretamente a animação e as questões gráficas da primeira temporada da série. Durante uma demonstração a portas fechadas no E3, foi possível constatar que o prelúdio mantém o mesmo estilo do original, mas as animações estão muito mais suaves e os personagens estão com mais detalhes e expressões faciais melhores, como dá pra ver no gif aí em cima.

Quem é The Sims na fila do pão?


Chloe não terá a voz da dubladora original


A treta é grande.

Como eu disse no meu primeiro texto sobre Life is strange, o trabalho de dublagem do jogo foi excepcional e grande responsável por conferir personalidade aos personagens. Apesar de Hanna Telle ter feito algo maravilhoso em cima de cerca de 14 mil linhas de diálogos e falas da Max, foi Ashly Burch, a dubladora da Chloe, quem roubou as cenas e garantiu, inclusive, uma indicação ao BAFTA Awards. Chloe é a Ashly, portanto, foi grande a surpresa e decepção ao saber que ela não emprestará sua voz à personagem em Before the storm. Mas não por falta de vontade – sabemos que Chloe significa muito pra ela –, e sim devido à greve de dubladores do SAG-AFTRA (sindicato norte-americano de dubladores de games), do qual Ashly faz parte. Há um FAQ sobre o que está acontecendo, aqui.

Por outro lado, Ashly Burch fez parte do time de roteiristas de Before the storm como consultora, dando pitaco em diálogos (não nos esqueçamos que ela também é uma escritora premiada) e em ações que a Chloe realizaria ou não, ajudando, assim, a manter uma linha com a primeira temporada de Life is strange e com a identidade da personagem.

No prelúdio, Chloe é dublada pela aparentemente juninha-mirim Rhianna DeVries. Ninguém encontrou trabalhos dela perdidos na internet, mas parte dos fãs vê diferenças gritantes entre as duas vozes, enquanto outra parte só soube que não era a Ashly quando as notícias saíram. Obviamente há diferenças, mas é perceptível que menina Rhianna está se esforçando para fazer um bom trabalho e até tentar imitar a voz de Ashly. Além disso, essa distinção cai bem para nossa Chloe de 16 anos, mais jovem, provavelmente mais imatura (Chloe foi madura alguma vez no jogo?) e em uma outra fase de sua vida. Resta darmos uma chance pra garota e julgar só depois.

Acho que, na verdade, o que está me incomodando mais é o fato das vozes dela e da Rachel serem um pouco similares, enquanto que as da Chloe do primeiro Life is strange e da Max eram bastante diferentes.




Ao invés de fotos e um diário, pichação e cartas 


O diário da Max na primeira temporada foi um guia para o jogador em relação a sentimentos e pensamentos que a personagem não expressava durante nosso gameplay, cheio de detalhes sobre lugares e pessoas com quem ela interagia. No prelúdio de Chloe, esse diário serão cartas que ela escreverá pra Max, mas que nunca enviará, por achar que a melhor amiga não se importa mais com ela. Uma forma da Chloe se manifestar em relação ao que está acontecendo em sua vida e de sentirmos bastante o impacto que a ausência da Max causou nela.

MY HEART. Preparem os Kleenex.

E, enquanto Max sempre andava com sua Polaroid a tiracolo, a maneira de Chloe deixar sua marca no mundo será através de uma caneta grossa [usada com a bendita mão direita] que ela carrega no bolso. Estão lembrados de todas as pichações no quarto dela? Pois é. :D


Veremos outros antigos personagens


Nathan, Frank, David, o diretor Wells e a evil bee-atch Victoria também aparecerão em Before the storm diante da perspectiva de Chloe, o que me deixa curiosa e empolgada. (pausa para dizer que Nik Shriner, dublador do Nathan, também está na greve do SAG-AFTRA e não trabalhou no jogo... fuéen. Hannan Telle também está no mesmo barco, mas ainda não temos uma nota oficial sobre sua participação)

Porém, para nossa infelicidade, Kate ainda não chegou em Arcadia Bay no período em que Before the storm se passa. Sobre a também ausência do prof. Jefferson: nem queríamos mesmo.


A trilha sonora promete ser foda


Pensar em um novo jogo de Life is strange é pensar, necessariamente, em uma trilha sonora linda. As músicas da primeira temporada são extremamente marcantes e fizeram um enorme sucesso (lembro, aliás, que pra me convencer a jogar meu amigo me passou a playlist no Spotify. Deu certo e acho que atualmente escuto toda semana).

Os desenvolvedores da Deck Nine sabem que a música é uma parte muito importante do jogo, e afirmaram que estão com um número bacana de canções licenciadas, "talvez bandas com as quais estamos familiarizados". A julgar pelo trailer de Before the storm, embalado pela canção Numbers, da Daughter, que adoro, a promessa é boa. Resta saber se Jonathan Morali, líder da Syd Matters e responsável pela trilha instrumental de Life is strange, está de volta aqui.


Os desenvolvedores originais de Life is strange recomendam o prelúdio


Opa, parece que é isso aí mesmo: a DONTNOD testou o primeiro episódio de Before the storm, aprovou e recomenda a todos os fãs.

Zak Garris, da Deck Nine, foi pessoalmente a Paris apresentar o game e, segundo ele, escutou ótimos feedbacks: "Eu literalmente consegui me sentar ao redor da mesa com os desenvolvedores Raoul, Luke, Michel e Christian, joguei com eles e os ouvi rir e congelar em certas cenas. Receber os comentários deles sobre o jogo que fizemos foi incrível".

Muito genérico seu parecer sobre o encontro, Garris. Mas está valendo, por enquanto.


Quem tem videogame joga, e quem tem computador também

"Você pode comprar o jogo, você também, e você. TODO MUNDO PODE JOGAAAR"
Muita gente ainda se pergunta em quais plataformas Life is strange - Before the storm estará disponível, e a resposta é: Xbox One, PS4 e PC (ainda não há confirmação sobre Xbox 360 e PS3), com áudio em inglês e legendas em inglês, francês, espanhol, chinês, japonês e português do Brasil (UHUL!).

Mas ok, nem todo mundo pode jogar: aparentemente máquinas da Apple não rodarão o jogo, porque algum defeito essas porra tinham que ter.


Reservar o jogo antes tem seus benefícios


O jogo, com classificação 18 anos, já está em pré-venda para todas as plataformas, inclusive sua versão Deluxe. Aqui, pelo Playstation, já dá pra saber o valor: R$ 89.

Além do episódio bônus com a Max, nessa versão a gente vai poder vestir a Chloe com a roupinha clássica da primeira temporada e/ou com três novos conjuntos completos: Veado Punk, Homem Cachorro-Quente e Illuminati (quem é The Sims na fila do pão?). Também teremos um tema dinâmico exclusivo para PS4 e o modo exclusivo Mixtape, em que será possível criar nossa própria playlist com as músicas licenciadas de Life is strange e escutar com uma cena cinemática do jogo.


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Acesse www.lifeisstrange.com pra conferir todas as opções de pré-venda.
Pretendo atualizar esse texto à medida que saírem outras novidades, mas, de qualquer forma, daqui a uns dois meses o blog estará de volta a Arcadia Bay com um post sobre o primeiro episódio, que espero jogar o mais rápido possível a partir da data de lançamento. 

Até lá!



[Trailer, entrevista com a equipe e 20 minutos de gameplay]:





Existem poucos vocais como o da London Grammar

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 [screaming in indie language]

Essa história de amor começou quando eu ainda não fazia parte da história de amor. Em 2009, uma deusa chamada Hannah Reid conheceu Dan Rothman nos dormitórios da Nottingham University, na Inglaterra, onde começaram a escrever músicas juntos. À felicidade desse encontro, foi adicionada a presença do multi-instrumentista Dot Major, que veio moldar a banda London Grammar como a conhecemos hoje.

Foi só em 2012 que a popularidade do trio ganhou contornos sérios, com o lançamento do maravilhoso single Hey now, que rapidamente ganhou uma legiãozinha de seguidores cult. Nesse meu primeiro contato com eles, Hey now foi uma dessas músicas que escutamos repetidamente por semanas, sem enjoar. Fiquei completamente encantada com a voz da Hannah, que acredito ser algo muito peculiar num mar de artistas e bandas com vocais femininos jovens (apesar de lembrar a voz da Florence Welch, da Florence + the machine);é um timbre grave e suave ao mesmo tempo, mas com uma força que parece sair sem esforço algum da boca dela (dê uma olhada nas apresentações ao vivo). Não sei se a Hannah é contralto ou mezzo-soprano, mas sei que ela alcança lindamente tanto tons baixos quanto altos, que soam igualmente agradáveis. Pra mim, a segurança vocal dela é onde reside a grande potência de London Grammar, apesar de os garotos mandarem muito bem no trabalho de harmonia, com instrumentos de corda, piano, teclado e umas batidas eletrônicas. É impossível eu não aumentar o som do meu Spotify.  

Comparados por alguns com a The XX, London Grammar segue uma linha melancólica que gosto muito. Embora eles já tivessem lançado o EP Metal & Dust há mais ou menos quatro anos, assim como outros singles, foi só com o novo álbum Truth is a beautiful thing que me apaixonei da cabeça aos pés. Acho que não tem nenhuma música ruim. Se fosse pra indicar algumas pra começar, vá sem medo em Big picture, Hell to the liars, Everyone else e Non believer, cuja pegada me lembrou um pouquinho Portishead. 


É NA CAPELINHA, Ô LOCO BICHO (vai até o final, fazendo um favor):



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