Quantcast
Channel: vem aqui rapidão
Viewing all 172 articles
Browse latest View live

AO CAIR DA NOITE é mais um filme do "novo terror"

$
0
0

Quando falo "novo terror", me refiro à recente leva de filmes do gênero que estão deixando de usar jump scares e outros elementos convencionais para focar em um terror sugestivo, psicológico, que prefere usar o seu clima angustiante como forma de assustar e deixar o público tenso; muitas vezes evitam mostrar o inimigo, monstrinho, espírito, zumbi, the monho ou outra coisa qualquer. E, mais do que isso, fazem da sua atmosfera um pano de fundo pra revelar um drama mais profundo ou uma crítica social. Os exemplos estão aí: Boa noite, mamãe, Raw (ou Grave), Corra!, O Babadook, Corrente do mal, A bruxa.

Falando em A bruxa (da mesma produtora deste aqui, a A24), senti um forte déjà-vu ao fim da sessão quando comecei a ouvir alguns murmurinhos de pessoas insatisfeitas. "Que filme horrível", "Isso não é terror", "Perdi meu tempo". Elas, que esperavam outra coisa de um longa de terror estranhamente exibido em somente um cinema da rede Cinemark de Belo Horizonte (aparentemente, culpa da Diamond Films, que tem pouca força no mercado). Que estão acostumadas aos tais enlatados que vez ou outra comento aqui no blog, com conceitos entregues de bandeja para servir ao entretenimento puro. Não estou dizendo que quem gosta de consumir apenas esse tipo de cinema está errado, óbvio, mas é injusto dizer que obras como Ao cair da noite são ruins porque não explicam o que você vê em tela. Sinto falta de mais reflexões sobre o que acabamos de assistir; de afastar a preguiça de pensar que toma conta de boa parte do público que faz questão de gastar dinheiro em um ingresso; porque esse filme pede justamente isso: reflexões.

VOU NEM MENCIONAR ROTTEN TOMATOES.

Ao cair da noite nos convida a acompanhar uma família composta por Paul (Joel Edgerton, de Loving - preciso seguir a filmografia desse cara!), Sarah e Travis, que tenta sobreviver em um mundo pós-apocalíptico em que a população está sendo dizimada por causa de uma misteriosa doença altamente contagiosa. Para se protegerem, eles usam máscaras de gás, trancam as portas e janelas da casa que transformaram em lar, sempre saem em dupla e nunca, nunca saem à noite, exceto em casos de extrema urgência. Mesmo com pouca comida e água, tudo vai relativamente bem até que a ordem pré-estabelecida entre os três é abalada com a chegada de um homem, Will, que pede abrigo ao provar que não está contaminado.

Este é apenas o segundo longa do roteirista e diretor Trey Edward Shults (o primeiro, Krisha, também foi bem recebido pela crítica e está na Netflix), mas o sujeito já está com um currículo aparentemente de dar inveja. Aqui, ele realiza um belo trabalho de construção de clima onde o que mais importa é a viagem, e nem tanto o destino, sob o ponto de vista do espectador. Paranoia e apreensão constante de que algo aconteça dão o tom, como um bolha esperando ser estourada. O que está lá fora? Will está sendo sincero? Ele está escondendo alguma coisa? Por quê? Como eu insinuei, Ao cair da noite não está preocupado em dar respostas e, entre provocações e coisas não ditas, parece querer deixar o público chegar às suas próprias interpretações sozinho.

Há a dicotomia da luz e da escuridão (muito bem manipuladas na fotografia) – a história pode ser tanto sobre estar no breu tanto quanto sobre encontrar a claridade. Há o homem branco, chefe da família composta por uma esposa e um filho negros, que dita as regras sempre que pode. E engana-se quem pensa que o protagonista de Ao cair da noiteé Paul; os enquadramentos lentos em Travis, a importância dada aos seus pesadelos, sua solidão dentro daquela casa enorme, sua posição como objeto superprotegido do pai e o despertar do seu interesse sexual manifestado pela única figura feminina (além da mãe) com quem ele manteve contato nos últimos tempos – Kim, esposa de Will, que passa a morar com eles – revelaram, para mim, o percurso do "menino se tornando homem". Dentro de sua claustrofobia inquietante, reforçada igualmente por momentos de puro silêncio e por uma trilha sonora desconfortável que funciona como um arranhar de unhas na lousa, criando uma expectativa pessimista, o filme nada pelas questões da moralidade diante da tragédia. Em um mundo onde as regras sociais deixaram de existir como conhecemos, decisões precisam ser tomadas. E, no meio do caos mental e da completa paranoia, Ao cair da noite pode muito bem estar assumindo uma metáfora sobre a maneira como nos relacionamos uns com os outros e com aquilo que nos cerca quando estamos com medo.





20 filmes para celebrarmos o Orgulho LGBTI

$
0
0

Junho é o mês da celebração do Orgulho LGBTI - movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transexuais, Travestis, Transgêneros e pessoas Intersexo. Órgãos como a ONU e a Anistia Internacional elegeram esta denominação com um padrão para falar desta parcela da população.“Intersexo” é o termo comumente usado para designar uma variedade de condições em que uma pessoa nasce com uma anatomia reprodutiva ou sexual que não se encaixa na definição típica de sexo feminino ou masculino. Por exemplo, uma pessoa pode nascer com uma aparência exterior feminina mas com anatomia interior maioritariamente masculina. Ou nascer com genitais que se situam algures entre o feminino e o masculino. (retirado daqui)

Ou seja, existem muitas, muitas nuances na sexualidade e identidade de gênero humanas bem bacanas de serem estudadas e compreendidas. É complexo e maravilhoso. A diversidade existe e precisa sim ser mostrada, queira você ou não.

Se não gosta, morre que passa.

Mais especificamente no dia 28 de junho é quando se comemora esse Orgulho, principalmente nas famosas paradas LGBTI pelo Brasil, em que se reivindica cidadania e direitos pela luta contra a homofobia (em meio a muita festa pelo que já foi conquistado, claro). A origem desse movimento começou em 1969,  onde aconteceu em Nova York a Revolta de Stonewall. Na noite de 28 de junho desse ano, homossexuais que se encontravam no bar gay Stonewall Inn (que existe até hoje), depois de muitos conflitos com a polícia, finalmente resolveram enfrentá-la, permanecendo por vários dias confinados dentro do bar. Com isso, receberam o apoio de uma multidão de LGBTs que, amontoados do lado de fora, apoiaram a resistência. URRA!

Um ano depois, a primeira parada gay aconteceu na cidade. Desde então, esse fato histórico é celebrado anualmente para clamar a liberdade do movimento. E, pra não perder o mês que já está indo embora, convido você a assistir os 20 filmes que listo a seguir que contam histórias (ficcionais e verdadeiras) de incríveis personagens LGBTI.


STONEWALL UPRISING

Trailer

Já que estamos no assunto, vamos começar com esse documentário emocionante que retrata justamente o conflito com policiais em 1969. Naquele ano, os atos homossexuais eram ilegais em praticamente todos os estados americanos. Existem filmes sobre o ocorrido, assim como outros documentários, mas foi esse a que assisti e me agradou bastante.

Ao longo de 1h20, somos apresentados ao contexto ultraconservador do período, ao preconceito exacerbado, a detalhes da revolta no bar e a depoimentos tocantes de pessoas que estiveram lá naquela noite. Pessoas que estavam dando a cara a tapa para o início de um lento caminhar em direção aos direitos da população LGBT. Stonewall Uprising é fundamental para ajudar a entender como os fatos ocorreram e para formar nossa politização e consciência quanto à necessidade de lutar para conseguir mudanças. 

Como li recentemente, muitos teriam vergonha de bradar "orgulho de ser hetero" depois de assistir a esse documentário. Orgulho é o contrário de ter vergonha. Você já viu a mídia e a sociedade afirmarem ao longo de séculos que é vergonhoso ser heterossexual? Nem eu.

Dá para assistir completo aqui:




ORAÇÕES PARA BOBBY

 Trailer

É de cair o cu da bunda o quanto você vai chorar com esse filme, caso você seja razoavelmente sensível. Só de rever o trailer, meu braço arrepiou.

Não é uma obra-prima da sétima arte, mas pelo fato da história ser pesadíssima e baseada em fatos reais já é o suficiente: Mary é uma religiosa que segue à risca todas as palavras da bíblia. Quando seu filho Bobby revela ser gay, ela imediatamente o leva para terapias e cultos religiosos com o intuito de “curá-lo”. Não conseguindo mais suportar a pressão e a rejeição dentro de casa, Bobby se suicida, e é aí que Mary precisará reavaliar toda a sua visão de mundo dentro da sua religião.

Não temos muitos filmes tristes nessa lista, mas esse é necessário principalmente porque, ainda hoje, esse tipo de situação acontece a rodo no mundo. O final, pelo menos, é cheio de esperança.

Dá para assistir completo aqui:




COMO DIZ A BÍBLIA

Trailer

Neste outro documentário fantástico (que deveria ser exibido 24h em praça pública), estudiosos analisam o discurso da bíblia e de religiosos que a usam para propagar a homofobia, desconstruindo preceitos enquanto discute sobre como má fé e más interpretações são capazes de gerar ódio há tantos anos contra homossexuais.

Pode o amor entre duas pessoas ser uma abominação? O abismo separando homossexuais e cristãos é de fato tão grande quanto aparenta? Através das experiências de cinco famílias tradicionais americanas, descobrimos como as pessoas conseguem, ou não, lidar com um filho gay.

"Por muito tempo a bíblia foi mal usada para apoiar preconceitos. O Apartheid, segregações, escravidão, subordinação das mulheres. E agora vem sendo mal usada para condenar os gays. É tudo um truque, os cristãos fundamentalistas a usaram por séculos e agora estão a usando de novo." 

Dá para assistir completo aqui:




KYSS MIG

Trailer

ALERTA DE FILME 🌺FOFO🌺

Kyss Mig é um filme sueco dificinho de encontrar pra download, mas não impossível, e vale muito a pena. Mia está indo com seu namorido para a casa do pai, quem não vê há tempos, para a festa de noivado dele com Elizabeth. Elizabeth é mãe de Frida, que encontra com Mia pela primeira vez na ocasião e, a partir daí, ~fortes emoções~ começam a surgir entre elas. É um Casos de Família do arco-íris.

As personagens são umas gracinhas, a química entre elas é muito boa, a fotografia é bacana e tenho uma vaga lembrança de ter derramado umas lagriminhas do bem na cena final.


TRANSAMERICA

Trailer

Um dos meus filmes favoritos: divertido, engraçado e com uma boa dose de drama: Bree Osbourne é uma orgulhosa transexual de Los Angeles, que economiza o quanto pode para fazer a última operação. Um dia ela recebe um telefonema de Toby, um jovem preso em Nova York que está à procura do pai. Bree se dá conta de que ele deve ter sido fruto de um relacionamento seu, quando ainda era homem. Ela, então, vai até Nova York e o tira da prisão. Toby, a princípio, imagina que ela seja uma missionária cristã tentando convertê-lo. Bree não desfaz o mal-entendido, mas o convence a acompanhá-la de volta para Los Angeles.

Na época da produção, em 2005, representatividade em papéis no cinema estava longe de ser um assunto em voga; por isso, Felicity Huffman recebeu todos os merecidos louros por sua atuação como Bree, mesmo sendo mulher cis. O filme e sua temática, aliás, sozinhos já evidenciavam uma questão de pouca visibilidade na indústria e na sociedade.

Esse YouTube tá impossível, mano:




HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO

Trailer

ALERTA DE FILME  🌼LINDINHO🌼

É vibe Malhação-politicamente-correto? É. Mas é muito do fofinho e me fez suspirar várias vezes? Também.

Desdobrado do curta de sucesso Eu não quero voltar sozinho, Hoje eu quero voltar sozinho (rs) conta a história de Leonardo, um adolescente cego que, como qualquer adolescente, está em busca de seu lugar. Desejando ser mais independente, precisa lidar com suas limitações e a superproteção de sua mãe. Para decepção de sua inseparável melhor amiga, Giovana, ele planeja libertar-se de seu cotidiano fazendo uma viagem de intercâmbio. Porém, a chegada de Gabriel, um novo aluno na escola, desperta sentimentos até então desconhecidos em Leonardo, fazendo-o redescobrir sua maneira de encarar o mundo.

A atuação do elenco não é lá essas coisas, mas a trilha sonora e a porra da fofurice manipuladora que não larga as cenas vão te recompensar.


CAROL

Trailer

UM HINO DESSES, BICHO.

Já gastei todas as minhas digitais escrevendo sobre ele nesse blog em algumas ocasiões, como nas minhas impressões, o Oscar 2016, minha lista de melhores filmes de 2015 e até o livro no qual é adaptado.

Dentro de uma fotografia estonteante, Carol se passa na Nova York dos anos 1950, onde a vendedora de loja Therese conhece a chiquetérrima e sedutora Carol quando esta sai em busca de uma boneca para sua filha. Depois de uns encontros casuais porém não, as duas começam a desenvolver um sentimento além da atração inicial mútua, colocando em risco convenções rígidas da época, em que a homossexualidade era no mínimo uma doença horrenda a ser tratada.

Carol é sobre palavras não ditas. É sobre toques suaves, subtextos, respirações, suspiros, olhares de Cate Blanchett que nos violentam com tamanha luxúria.

Se você ainda não viu ou não gosta desse filme, não podemos ser amigos.


TOMBOY

Trailer

Laure é uma menina de dez anos que muda de casa constantemente, em decorrência do trabalho do pai. Ao ir para uma nova residência ainda nas férias, ela faz amizade com uma grande turma de garotos da vizinhança, mas se apresenta como Mikael. Isso faz com que ela se aproxime de Lisa, a única menina do grupo. Não demora até que Lisa caia em amores por Mikael, mas as férias estão para acabar e Laure não sabe como fará para manter seu segredo.

A naturalidade das performances infantis em Tomboy é incrível. Por mais que o filme não toque abertamente na questão das crianças transgênero, aborda a identidade de gênero no dia a dia e como a percepção dos pequenos infantes é muito mais honesta que a dos adultos.

Por essa, nem eu esperava:




QUEDA LIVRE

Trailer

PELA TROMBA SAGRADA DE GANESHA, tá reconhecendo o loirinho da direita?

Ele mesmo, Wolfgang.

Não que a essa altura do campeonato seja NOSSAN UM SEGREDO, até porque foi só o fandom de Sense8 descobrir o filme que ele foi parar no catálogo da Netflix. Como se não bastasse as famosas Cenas de Suruba da série, todo mundo ficou louco querendo ver Max Riemelt de vinhado bem bunito pegando um outro sapão igual a ele. Razoavelmente pedante, o trailer diz que Queda livre é a "resposta alemã para Brokeback Mountain", no que eu respondo: "Menos, querida, por favor, quase nada".

A história gira em torno da vida dos policiais Marc Borgmann e Kay Engel, que, com a convivência, acabam se envolvendo. Marc acaba ficando dividido entre viver o desejo de uma nova experiência e o amor pela sua namorada, que está gravida.


O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

Trailer

O que nos leva a esse, que deveria ter sido o ganhador do Oscar de 2006 no lugar DAQUELE EMBUSTE DE CRASH - NO LIMITE DO CARALHO A QUATRO. (mentira, nem é embuste, mas eu sou muito passional com certas coisas que gosto hihihi)

Esse filme é um clássico. Esse filme é um divisor de águas. Esse filme tem uma trilha inesquecível. Esse filme tem as atuações das carreiras de Jake Gyllenhaal e Heath Ledger. Esse filme tem um dos maiores finais esmagadores de coração que conheço. E, quando saí da sessão do cinema, enquanto meus amigos faziam piadas e me acusavam de tê-los feito perder um precioso tempo de suas vidas (porque adolescente homem consegue ser escroto-homofóbico compulsivo por autoafirmação como ninguém), eu sabia que tinha acabado de assistir a um dos melhores filmes da minha vida.

Preciso dizer a sinopse? Acho que todo mundo já sabe. Se não, também não podemos ser amigos.


UM BELO VERÃO

Trailer

Um belo verão tem cheiro de manjericão na minha sala; é fresco, é vivo, é vibrante. ❤ (gastei agora, heim)

O ano é 1971. Delphine, filha de camponeses, vai para Paris para emancipar-se das algemas da família e ganhar independência financeira. Carole é parisiense. Casada com Manuel, acompanha ativamente os primórdios do feminismo. Quando Delphine e Carole se encontram, sua história de amor muda suas vidas.

Gostei principalmente por tocar nas lutas pelos direitos das mulheres que começava a se evidenciar no período, e por falar de empoderamento feminino. A cena final é, particularmente, a cereja do bolo, de tão linda.

"Não podemos voltar atrás. Só podemos avançar."



TANGERINA


Tangerina é uma bagunça maravilhosa. Todo filmado em iPhone 5S, ele acompanha um dia da vida das transexuais Sin-Dee e Alexandra (interpretadas também por transexuais em seu primeiro trabalho profissional no cinema), duas prostitutas que partem numa empreitada de encontrar o cafetão e namorado de uma delas, que está de caso com uma "mulher de verdade".

Apesar do orçamento baixíssimo (R$ 100 mil trumps), Tangerina funciona ao humanizar as personagens de perfil tão distante de nós, geralmente, na mídia; ao usar o humor para escancarar as consequências da marginalização, dificuldades e abusos sofridos diariamente por pessoas nessas mesmas condições.


MENINOS NÃO CHORAM

Trailer

Saudades de quando Hillary Swank ganhava Oscars.

Essa lista é assim: uma hora é um filme amorzinho, depois vem um engraçadinho, depois um tenso, fofinho de novo, e outro PRA TOMBAR, como é o caso desse.

Sério, é pesadíssimo. E uma história real.

Meninos não choram nos convida para acompanhar um período da vida de Brandon Teena, um transexual nascido Teena Brandon que vai morar em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos atrás da sua maior realização: se tornar um homem completo, como ele de fato se sente. No meio do caminho ele faz amizades, se diverte e se apaixona, mas não estava preparado pra cabeça fraquíssima de uma sociedade completamente retrógrada.

Sério, cadê a Hillary Swank, gente? Um beijo, Hillary. Ela arregaçou demais na pele do Brandon, protagonizando cenas que dificilmente vão sair da minha memória. Dói na alma. Sempre tive muita vontade de ver o documentário a respeito, mas nunca encontrei. Caso alguém conheça uma fonte que não seja a deep web, dá um alô.


A CRIADA 

Trailer

Também já gastei bem minhas digitais com esse que foi o melhor filme que assisti no ano passado.

E volto a repetir: quanto menos você souber dele (além do fato de que há ALGO de LGBTI no enredo), melhor. Mas esse trecho da sinopse me parece inofensivo: vivendo na Coreia do Sul nos anos 1930, durante a ocupação japonesa, a jovem Sookee é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko, que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário. O que Hideko não sabe é que Sookee e um vigarista planejam desposá-la, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório.

Em resumo, é assim que você provavelmente vai ficar durante a maior parte do filme (e não só pelo visual espetacular):



TUDO SOBRE MINHA MÃE

Trailer

Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores!

Tudo sobre minha mãe é um filme colorido, a despeito de seu argumento: Esteban é um jovem de 17 anos que está escrevendo uma história chamada Tudo Sobre Minha Mãe. No dia do seu aniversário, a mãe, Manuela, ia lhe contar tudo sobre seu pai, desconhecido para o menino. Mas um acidente impede que isso aconteça, e ela decide partir atrás do pai de seu filho. No caminho, ela encontra a travesti Agrado, a freira Rosa e Huma Rojo, a atriz favorita de Esteban.

O legal do filme, assim como acontece na filmografia de Almodóvar, é que a história retrata personagens e núcleos geralmente esquecidos: do gay pobre, da prostituta, da travesti, da religiosa casta grávida sem família; tudo de uma forma muito sensível e até bem-humorada, conversando com seus dramas particulares e deixando a humanidade de cada um aflorar.


THE NORMAL HEART 

Trailer

Esse drama original da HBO dirigido por Ryan Muphy (o rei das séries: Nip/Tuck, Glee, American Horror Story, Feud e American Crime Story) narra a história do início da crise da AIDS em Nova York nos anos 1980, com foco no esforço de vários ativistas gays e seus aliados na luta para expor a verdade sobre a epidemia para uma nação que está negando os fatos. Elenquinho nada modesto: marcam presença Jim Parsons (o Sheldon de The Big Bang Theory), Julia Roberts, Mark Ruffalo como protagonista e o PRINCESO LINDO do Matt Bomer, que faz o par romântico de Markinho.

Saber que esta foi apenas uma entre as milhares de histórias de dor e sofrimento da época (nem um pouco distante) só torna nossa percepção, enquanto assistimos ao filme, mais triste e angustiante. Imaginar que tanta gente viveu o pânico e o medo, doentes e/ou perdendo pessoas amadas, sem o menor apoio do governo, é chocante.


XXY

Trailer

ALERTA DO MUSO ARGENTINO RICARDO DARÍN

Vencedor em Cannes como Melhor Filme pelo Prêmio da Crítica, XXY foca em Alex, quem nasceu com ambas as características sexuais. Tentando fugir dos médicos que desejam corrigir a ambiguidade genital da criança, seus pais a levam para um vilarejo no Uruguai. Eles estão convencidos de que uma cirurgia deste tipo seria uma violência ao corpo de Alex e, com isso, vivem isolados numa casa nas dunas. Até que, um dia, a família recebe a visita de um casal de amigos, que leva consigo o filho adolescente. É quando Alex, que está com 15 anos, e o jovem, de 16, sentem-se atraídos um pelo outro e aí cê já sabe, fode tudo.

É um filme importante, e acho que único que assisti que aborda a intersexualidade (aceito dicas de outros) com todos os dilemas e angústias que ele traz para uma pessoa em fase de descobertas.

"Vai me dizer agora ou que posso ou não posso ser?"  
 

IMAGINE EU & VOCÊ

Trailer

ALERTA DE FILME 🌸FOFINHO🌺AMORZINHO🌹ÁGUA COM AÇÚCAR🌼CUIDADO COM O DIABETES

Imagine eu & vocêé aquele tipo de filme Sessão da Tarde que você sabe que tudo vai dar certo e não vai ter um único personagem pra odiar. 

Heck e Rachel formam o feliz casal em vias de iniciar uma vida em comunhão. Mas no altar da igreja, enquanto ensaiava para o casamento, Rachel cruza seu olhar com o da florista Luce. Nesse momento, ela percebe que Heck talvez não seja o homem de sua vida. O problema é que Heck é um cara MUITO LEGAL e não há um único traço de arrogância, filhadaputagem, corrupção, roubo de pirulito de criança, NADA que faça a gente "torcer contra ele". Por outro lado, Luce é a Lena Headey, que neste filme bebe taças de vinho descontraída e sorrindo com genuínas bondade e simpatia, ao contrário de como faz Cersei Lannister. Compreensível.

Por mais que comédias românticas não sejam o gênero que me agrada atualmente, devo reconhecer que Imagine eu & você teve sua importância quando estava muito comum lançarem filmes de temática LGBT+ com finais trágicos/tristes. A própria Piper Perabo, quem interpreta Rachel, foi protagonista anos antes de uma outra obra sobre um casal lésbico, com um final bem deprezão, que venerei em minha adolescência. (hoje não, porque meu espírito já evoluiu um pouco)

Aceitou participar de Imagine eu & você por peso na consciência? Pode ser.

Ah, está disponível na Netflix.


MILK: A VOZ DA IGUALDADE

Trailer

Mais um filme baseado em fatos reais, Milk é uma cinebiografia de Harvey Milk, político norte-americano que assumiu sua homossexualidade publicamente nos anos 1970, sendo o primeiro homossexual assumido a ser eleito a um cargo público nos Estados Unidos.

Interpretado impecavelmente por Sean Penn, Milk, em seus anos mais importantes como porta-voz de uma população carente de respeito e direitos, mostrou que jamais devemos abaixar a cabeça para a opressão e para o preconceito, dando o tom de sensibilidade e esperança característicos do filme.

(Nhaca James Franco jaz aqui).


AZUL É A COR MAIS QUENTE

Trailer

AIN 3 HORAS DE FILME SETE MINUTOS DE SEXO SOFT PORN FETICHISTA DIRETOR ABUSIVO PEDANTE



Pode entrar, hino.

Estou apenas ignorando as polêmicas sobre heteronormatividade e sobre os métodos de trabalho sinistros do diretor Abdellatif Kechiche (em algum ponto desse assunto parte do público cinéfilo tem razão) para enaltecer esse ganhador da Palma de Ouro de Cannes e do meu coração em frangalhos.

Azul é a cor mais quente acompanha (mesmo, mesmo) o dia a dia de Adèle, uma adolescente um bocado introspectiva que está se descobrindo sexualmente. Encorajada pelas amiguinhas da onça a ficar com o bonitinho da escola, Adèle se sente incompleta. É só quando conhece Emma, uma estudante mais velha de cabelos azuis, que ela passa a se conhecer melhor como PESSOA DO MUNDO.

A graphic novel em que Azul foi baseado possui um caráter mais politizado em relação a ser um LGBT+, assim como a essência da história, que tem pontos bem divergentes, mas o filme é intenso, delicado, cru e com duas atuações muito, muito marcantes. Vou ser a escrota agora que pensa: "é uma obra para poucos"? Sim. Não. Mas sua estrutura pode não agradar a quem tá indo dar o play justamente pelo buzz que gerou (e ainda gera, talvez), acostumado com o início, meio e fim bonitinhos hollywoodianos.

Pelo amor de Deus, o final de Azul é a cor mais quente é a coisa mais linda e destruidora de estabilidades emocionais que você respeita.  



TATUAGEM

Trailer

TEM CU TEM CU TEM CU

Tem mais Brasil na lista!

Tatuagem é cheio de lirismo, beleza, poesia, alegorias, cores fortes e sotaque nordestino lindo: na Recife de 1978, Clécio Wanderley é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. A principal estrela da equipe é Paulete, com quem Clécio mantém um relacionamento. Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem militar Fininha (Jesuítão Barbosão que amamos). Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura.

O sexo é natural, a nudez é natural, o cabaré é onde a gente dorme e aquele que não vê a luz do dia também merece seu verso:

"O símbolo da liberdade é o cu, porque é democrático e todo mundo tem."

(Johnny Hooker tá lá) ❤



ORGULHO E ESPERANÇA

Trailer

Uma linda história real representada por um filme leve e divertido, que sabe segurar as rédeas do drama que existe nela: é verão em 1984, Margaret Thatcher está no poder e a União Nacional de Mineiros (NUM) está em greve. Na Parada Gay em Londres, um grupo de ativistas gays e lésbicas decide arrecadar dinheiro para apoiar as famílias dos mineiros grevistas. Mas há um problema: a União parece envergonhada de receber o seu apoio. Mas os ativistas não se sentem impedidos e decidem ignorar a União para encontrar os mineiros. Eles descobrem uma aldeia mineira meio escondida nas profundezas do País de Gales e partem em um mini ônibus para fazer sua doação pessoalmente.

Tem uma caralhada de clichês, mas é bem legal ver como se deu o encontro de duas comunidades extremamente diferentes em prol de uma causa comum.



MOONLIGHT

Trailer

A chave de ouro que fecha essa porta cinéfila do arco-íris é de Moonlight, o ganhador do Oscar de Melhor Filme desse ano - uma informação muito relevante caso você tenha perdido todo o vexame da premiação, que anunciou La la land e depois voltou atrás.

Merecidamente incluído no recente catálogo da Netflix, Moonlight percorre a vida de Chiron em três fases de sua vida, em que o menino tenta escapar da criminalidade e das drogas dentro do seu convívio, encontra o amor nos lugares mais improváveis, descobre sua identidade e sexualidade e tentar se firmar como adulto em um padrão que tenta rejeitar tudo o que ele é. Falei dele aqui. Assista de coração aberto e olhos mais ainda, pra prestar atenção nas cores elementos importantes que ajudam a contar a história. 

ME SENTI VINGADA POR BROKEBACK MOUNTAIN AAAAAAAAAAAAAAAA
(falsiane que esperava que La la land ganhasse, apesar de)



TEM SÉRIES TAMBÉM, VIU?


Obviamente há muitos outros filmes ótimos que poderiam entrar na lista, mas ela seria infinita, né, mores. Clube de compras Dallas, Minhas mães e meu pai, Três gerações, First girl I loved e O verão de Sangaile são apenas alguns dos exemplos de mais filmes recentes da temática.

Há alguns anos, pra TV, não dava pra escolher muito. Queer as folk foi um marco ao trazer uma trama totalmente focada no universo LGBTI (com a maioria de personagens gays masculinos); depois veio The L Word, que muitos chamavam de a "Sex and the City" lésbica, fazendo o maior sucesso (tem todas temporadas na Netflix, se não me engano).

Atualmente, já contamos com inúmeras (ainda bem!) opções de séries com personagens LGBTI, como Sense8 (uma pausa pra glorificar a decisão da Netflix de gravar o episódio final); Orphan Black; Eu, tu e ela; Les revenants; Doctor Who; Orange is the new black; Glee; Saving hope; The Fosters e por aí vai.

 
Agora prepara muita pipoca, refri, um cheesecake colorido e o coração pra receber todo esse acervo cheio de ensinamentos sobre humanidade.

💓 💛 💚 💙 💜

Investigando o Assassino do Origami em HEAVY RAIN

$
0
0

"Quão longe você iria por amor?"

Essa é a pergunta que Heavy Rain faz para você em seus materiais promocionais. 

Lançado em 2010 exclusivamente para PS3, esse jogo INCRÍVEL foi produzido pela Quantic Dream, distribuído pela Sony e dirigido e escrito pelo David Cage (mesmos responsáveis por Beyond: two souls, que já falei aqui). Presente na lista dos 25 melhores jogos para PS3 de todos os tempos, segundo a IGN, ele é um suspense estilo cinema noir com um enredo surpreendente e muito envolvente. Digno, de fato, de um ótimo filme policial.

Heavy rain interliga as vidas de quatro personagens que controlamos no desenrolar da história, cujo cerne são homicídios de crianças executados pelo chamado Assassino do Origami. Como o apelido sugere, com os corpos das vítimas são encontrados origamis, juntos de uma orquídea presa ao peito. Além disso, a chuva pesada do nome do game e a pergunta feita no início do texto têm tudo a ver com o modus operandi do sujeito misterioso: primeiro, que as mortes são sempre por afogamento na água da chuva e, segundo, são a consequência de uma série de tarefas escabrosas impostas aos pais das crianças como um teste para ver até onde eles aguentam ir para poupar a vida de quem mais deveriam proteger.


A gente vai descobrindo isso na pele à medida que controlamos Ethan Mars, o primeiro personagem com quem temos contato em Heavy Rain: deprimido pela morte de um dos seus dois filhos, ele é forçado a encarar sua culpa e seus medos quando o seu outro garoto, Shaun, é sequestrado pelo Assassino do Origami. A partir de então, ele tem cinco dias para conseguir salvá-lo com vida, se seguir corretamente o passo-a-passo fornecido pelo criminoso.

Além de não serem nada fáceis fisicamente, emocionalmente e moralmente falando, é claro que temos outros elementos pra deixar a jornada ainda mais tensa, como apagões de memória e perseguições policiais.

Aliás, outro personagem sob nosso comando é um agente do FBI que está trabalhando com a polícia para traçar um perfil psicológico do assassino: Norman Jayden. Graças a um equipamento fictício ultratecnológico acoplado a um óculos, conseguimos analisar traços e pistas da cena do crime e de cenários suspeitos com a rapidez e eficiência que uma equipe humana jamais teria. Os momentos em que Jayden precisou recorrer a esse recurso foram alguns dos que mais gostei, DIDETETIVONA que sou. No entanto, ainda que revolucionária, essa tecnologia causa dependência, abstinência e efeitos colaterais nocivos no usuário que se deixa envolver demais. E parece que Jayden é desse tipo. :B

Os outros personagens com quem jogamos são Madison Paige, uma fotógrafa com problemas de insônia que acaba interferindo na rotina de Ethan ao encontrá-lo debilitado em um motel, e Scott Shelby, um detetive particular contratado por algumas famílias vítimas do assassino para encontrar pistas sobre sua identidade. Todos eles bastante diferentes uns dos outro e igualmente cativantes.

Eu joguei a versão remasterizada para PS4, cujos gráficos estão ligeiramente melhores, em inglês com legendas em português de Portugal. Não há opção do nosso português nem aí e nem na dublagem, então, se quiser, vai ter que segurar a risadinha ao ouvir expressões como "gajo", "rapariga" e "fixe" nos diálogos e pensamentos dos personagens.


JOGABILIDADE


Assim como em Beyond: two souls, ele é um jogo de cinemática interativa. Porém, ao contrário do lançamento mais recente da Quantic Dream, achei Heavy rain mais desafiador. Sendo o terceiro jogo seguido que experimento com sistemas de escolhas, aqui novamente as decisões e ações que você executa ou deixa de executar impactam no desenrolar da história. E é preciso pensar rápido, ou o jogo toma a decisão sozinho por você. Seus personagens podem, inclusive, morrer em determinados momentos, apesar de não ter game over  o jogo simplesmente continua para seus finais em que um ou mais personagens estejam incapacitados de "comparecer". Além das cenas em que você explora o ambiente, pressiona L2 para ouvir os pensamentos do personagem – que, também, são uma forma de te ajudar a saber o que fazer em seguida –, realiza movimentos com o Dual Shock 3 (tipo Wii Remote) e conversa com outras pessoas, resultando em algumas dessas decisões impactantes, haverá momentos em que você não terá 100% de controle sobre o personagem. É aí que entra a característica do Quick Time Event: você terá de responder comandos rápidos apertando um botão ou uma sequência de botões para que a cena seja realizada. Lutas corporais, fugas e até uma corrida mucho louca na contramão se encaixam aí. Ou seja, se executar os comandos de forma errada, certamente você corre um risco de estar alterando a história.

Minha única ressalva aí é que os controles de movimentação são um pouco duros. Acho que gritei algumas vezes ANDAAA, MEU FILHO, É PRA DIREITA. Por outro lado, Heavy Rain recebeu uma atualização após o lançamento do PS Move, que possibilita realizar alguns movimentos diferentes dos do joystick padrão.  


Bom, é isso. O que dizer mais? Ah, tirem as crianças da sala, porque o jogo é +18 e tem, além de cenas de nudez, sexo (só se você quiser, não vamos forçar nada, rsrs). Seus progressos são salvos automaticamente e, se optar por, é possível refazer capítulos caso queira mudar o rumo de algumas coisas. Confesso que eu mesma refiz dois depois de cometer uma cagada imperdoável e, se não tivesse corrigido, acho que o final do meu jogo seria uma catástrofe.

Curiosidade final: algumas produtoras tentaram adaptar Heavy Rain para os cinemas, contando a história do Assassino do Origami ou mesmo mostrando os personagens após o final do jogo (mas, uéee, são quase 20 finais diferentes). No entanto, David Cage recusou todas as ofertas por um motivo simples (para ele): a fórmula de levar um game de sucesso para as telonas é totalmente falha.

Sei não, eu ia gostar de ver o game no cinema.





Making of:



Seleção dos atores:

Uma Nolete pé no chão assistiu Dunkirk

$
0
0

É chegada quinta-feira, dia de estreias de filmes no cinema e do ingresso a preço de banana cultivada ao som de Bach.

Dunkirk e Baby driver entraram juntos em cartaz. Era preciso escolher com sapiência onde realizar o investimento. Visto que raramente consigo tomar decisões que demorem menos de três horas, um fator crucial pra apostar em Dunkirk veio da direção do filme:

Christopher Nolan é meu pastor e nada me faltará
Uma afirmação divisora de águas neste blog. Causadora de discórdias. Provocadora de unfollows. Filha da Tormenta. Sim, eu sou uma Nolete - termo criado pelos haters do Christopher Nolan para designar seus adoradores. Nolan é amado e odiado talvez na mesma proporção pelos quatro cantos da internet. Enquanto uns o consideram um gênio, visionário e gato, outros o acham pedante, presunçoso e alguém que subestima demais a capacidade intelectual de seu público ao rodar cenas extremamente expositivas. Vide Interestelar, criticado pa bosta por esse motivo, mas que eu AMO AMO AMOOOO, ME PROCESSA, FOFA.

Apesar de Nolete (na minha definição particular: "acredito nesse cara e quero acompanhar sua filmografia"), não acho que ele seja um gênio, tampouco pedante. Mas um diretor talentoso que, como qualquer outro, merece que seus filmes sejam analisados individualmente, sem ser pré-bombardeado por causa de qualquer histórico.

Dunkirk é baseado na história da Operação Dínamo, que conseguiu resgatar mais de 330 mil homens da cidade de Dunkirk durante a Segunda Guerra Mundial. A operação envolvia a retirada da Força Expedicionária Britânica e de outras tropas aliadas do porto da cidade, cercado pelas forças nazistas.

Tecnicamente impressionante, o longa é uma sequência de cenas que não intencionam te dar sossego, tal qual uma guerra. Num momento você come uma torrada com geleia pra matar a fome, no outro tem seu navio atacado por um torpedo e precisa encontrar uma saída debaixo d'água antes de se afogar. Imprevisibilidade, pânico e insegurança dominam. Seja em planos muuuito abertos, como na praia onde o batalhão vulnerável espera por resgate, ou em planos bem intimistas, fica palpável o desespero e fragilidade dos soldados diante do inimigo que chega sem avisar. Isso é reforçado pela mixagem de som, que cria momentos bem texturizados de tensão a todo instante, e elevado pela trilha do sempre gostosão competente Hans Zimmer. É frequente na música o uso do barulho inquietante de um tique-taque de relógio pra indicar que o tempo, ali, era determinante para viver ou morrer. Aliás, o tempo é um ponto recorrente no filme, que narra acontecimentos focados em três grupos de personagens e que têm três durações diferentes, em uma trajetória não-linear já característica de vários trabalhos do Nolan. Isso particularmente me fascina, mas em Dunkirk teve uma execução meio rasa. MEIO BLÉ.     

Apesar do trabalho de nos inserir dentro de um cenário horrendo de guerra ser eficiente (sem precisar mostrar gente com intestino à mostra e dois braços a menos, como c e r t o s Mel Gibson), Dunkirk estabelece uma conexão insuficiente entre espectador e personagens. É a velha história Se morri ou se vivi, o importante é que emoções eu não senti. Entendo que o filme seja um recorte de pessoas anônimas que viveram aquele período específico, mas, se foi intencional ou não, pra mim Nolan pecou no desenvolvimento dos personagens. Caguei bolinha preta pra todos, exceto talvez para o comandante Bolton (vivido por Kenneth Branagh), que evoca perseverança, esperança e medo muito pelo olhar. E eu bem gosto de uma interpretação contida.

Próximo de sua conclusão, Dunkirk esteve a um peidinho de se entregar totalmente ao melodrama cafona. Não que eu seja alérgica a melodramas, mas foi uma coisa que o filme evitou durante praticamente toda a projeção e seria conveniente demais apelar pro emocional fácil justo ali.

Mas, num geral, eu gostei, sim. Só saí do cinema pensando em como teria sido a sessão de Baby driver.



THE LAST OF US, um jogão da porra

$
0
0

Toda vez que eu transitava pela tela inicial do meu Playstation pra jogar Heavy Rain, topava com o thumbnail de The last of us esperando pelo dia em que eu estivesse preparada pra jogá-lo. Desde que comprei o videogame, só tive contato com jogos point and click (e poucos, ainda por cima), mas acabei com The last of us no meu carrinho de compras para aproveitar uma promoção relâmpago e o mantive lá, baixado, bonitinho. CALLING MY NAME. O game criado pela Naughty Dog é de ação/aventura e sobrevivência com tiros em terceira pessoa, e eu sabia que, além de ser com uma jogabilidade muito diferente de Life is strange, Beyond: two souls e Heavy rain, ele é altamente cultuado pelo público gamer do mundo todo, listado como um dos melhores jogos de todos os tempos.

Um belo dia eu resolvi testá-lo, assim, só um testezinho, pra ver diqualéquié, e caí numa armadilha ardilosa, visto que o teste durou aproximadamente um mês. Me senti um ser humano vitorioso, considerando que, noob que sou, não passaria de meia hora de game. É fato que joguei The last of us no modo Fácil (existem 5: Fácil, Normal, Difícil, Sobrevivente e Punitivo), mas, como previ, de fácil essa porra não teve nada.   

A história pode parecer familiar a princípio, mas, na prática, não é bem assim. Os Estados Unidos são um país num mundo pós-apocalíptico (iiih) depois que boa parte da população foi dizimada (iiihhhh) pela mutação de um fungo chamado Cordyceps, altamente contagioso, que infecta o hospedeiro e o transforma em uma criatura hostil e canibal. (aaahh, tá, zumbis, zzzz) Não. Eles não são mortos-vivos, são bem vivos, mas com o cérebro completamente comandado por esse fungo (que, aliás, existe na natureza e causa o mesmo dano a superpopulações de formigas. Veja aqui). Como se fosse raiva, saca? O que acaba gerando reflexões em relação aos infectados (é assim que eles são chamados); se eles sentem algo, se tentam lutar contra a infecção, se existe alguma consciência ou alguma dor. 

O legal do game é que, além desse detalhe, a história se passa vinte anos depois do início do contágio. Tempo suficiente pra uma nova sociedade, com outras regras e sem a cura, se estabelecer para sobreviver. É aí que entro no quesito gráfico de The last of us, que é simplesmente incrível e ambienta com detalhes como seria esse "novo mundo". São inúmeros e diferentes cenários desolados, sujos, bagunçados, alagados, com matagais tomando o lugar de prédios e carros abandonados nas estradas, fungos crescendo pelas paredes, casas vazias, cadáveres espalhados. É uma loucura de trabalho que devem ter tido, é muita riqueza, é tudo tão maravilhosamente realista que OMFGEHSGAUYGSIEAOLEH       

Saca só:



O realismo também está presente na construção dos personagens. Desde a movimentação à expressão facial, é tudo muito, muito vívido: você vê a textura da pele, o suor colado, as roupas sujas, as cicatrizes, bocas torcidas, olhares extremamente precisos. Inclusive é possível, numa cena silenciosa ou com diálogos parcos, ler com facilidade o que um personagem quer dizer apenas olhando o rosto dele. Isso é só um dos pontos que ajudam demais no envolvimento emocional com eles; o outro é o trabalho sensacional de dublagem e captação de movimentos (ambos feitos pelos mesmos atores). Apesar de The last of us possuir dublagem em português, recomendo fortemente que você jogue com a original; a versão tupiniquim é até boa, mas às vezes o áudio fica baixo demais e só é possível entender o que estão falando com as legendas.

A coisa toda é tão bem feita que eu já estava chorando e morrendo no prólogo do game. Situado no início do caos, é lá que conhecemos Joel (quem passaremos a controlar na maioria absoluta dos capítulos), um pai divorciado que tenta escapar da cidade onde mora com a filha e o irmão. No meio do caminho, >>arraste o mouse sobre o texto a seguir caso não se importe com spoilers<<ela é morta por militares, e a cena é de partir o coração. Então, quando o jogo começa real oficial, duas décadas depois, Joel e sua fiel companheira-escudeira Tess têm como missão encontrar membros da milícia antigovernamental chamada Vagalumes para entregar a eles Ellie, uma garota de 14 anos com uma condição bastante especial que eu gostaria muito de adotar e afofar, se ela fosse uma pessoa de verdade.


A jornada deles até o esconderijo dos Vagalumes é marcada pelas estações do ano, que ajudam a dividir o game em períodos determinantes para que a relação entre Joel e Ellie evolua. E esse é, definitivamente, um dos pontos altos de The last of us. E o que mais me agrada em jogos em geral: conexões entre personagens. Se no início Joel era um sujeito carrancudo, de poucas palavras e impaciente, aos poucos podemos perceber como a mútua dependência para sobreviverem os aproxima, criando laços verdadeiros de pai e filha, fazendo com que Joel troque o receio de se apegar a alguém por medo de perdê-la pela total entrega. Foram várias as vezes em que meus zóinho se encheram d'água.

Enquanto Joel e Ellie atravessam o país ao encontro da milícia e ficam mais próximos, obviamente enfrentam todo tipo de confronto com infectados e humanos, que vivem praticamente como selvagens: olho por olho, dente por dente. Matou um dos meus, mato um dos seus. Invadiu meu território, é tiro, porrada e bomba. Deu pra entender, né? E, sinceramente, se for pra colocar numa balança o nível de dificuldade entre enfrentar infectados e militares, caçadores e afins, esses últimos ganham. Afinal, os doentes não atiram de volta, certo? Além disso, se livrar dos humanos envolve mais estratégia.

É aqui que começo a falar da jogabilidade: em The last of us, você tem total controle sobre o personagem. Desde que cumpra a "tarefa" do capítulo em questão, você corre pra onde quer, escala o que quer, agacha onde quer, escolhe a arma que quer, atira como e onde quer, pega os recursos que quer, peida onde quer e, se quiser, faz high five ou não com a Ellie (QUEM cometeria o pecado de não fazer?). E, mesmo controlando Joel de acordo com seu desejo, é incrível como a maneira como ele se comporta tem tudo a ver com sua personalidade ou estado no momento. No início, Joel não atira tão bem, por exemplo - algo que vai sendo aprimorado luta após luta. Quando Joel se machuca, ele anda mais devagar. Vale o mesmo pra Ellie: apesar de mais ágil que Joel, ela tem menos energia, é mais frágil a danos e não escuta tão bem quanto ele de onde vêm os sons "inimigos".


Além disso, os outros personagens, que não controlamos, reagem de formas diferentes de acordo com o que você faz. Se você está atirando e a munição acaba, eles percebem. Se você ataca de determinado lugar, sem mudar pra outros, eles percebem e respondem a isso. Se você está usando uma arma branca, eles podem tentar desviar. Ou seja: puta que pariu. É, puta que pariu resume bem.

A propósito, confesso que no início da minha experiência com o game, achei por várias vezes que ia ter um derrame. Perdi a conta do quanto tive que parar pra enxugar a mão ou tomar um arzinho na janela. Se eu fosse fumante, muitos maços estariam abertos no lixo. AF MANUELA, que exagero; não, cara, era puro dedo no cu e gritaria mesmo: ATIRA, JOEL! VAI, DESGRAÇA! NÃO JOEL, ISSO É UM TACO DE BASEBALL! Mas, depois de algumas muitas horas de jogo, fiquei vacinada e passei pra vibe VEM MORE, VEM LEVAR BALA NA CARA. Foi nesse momento que comecei a ter orgulho de mim.

Em The last of us, usa-se TODOS OS BOTÕES do controle. Todos. Foi fascinante e desesperador ao mesmo tempo. Descobri, por exemplo, que os botões analógico e direcional poderiam ser apertados. Até a nhaca da telinha do centro serve pra alguma coisa. E aí você precisa aprender a correr, atirar, se curar, verificar o que tem na mochila, montar armas, montar kit médico caso a energia esteja acabando, jogar coquetel molotov; tudo isso ao mesmo tempo em que assovia e chupa cana.

É, entre momentos de pura ação, há momento de pura exploração, em que é possível futucar os cantos do cenário a procura de recursos vitais pro Joel e pra Ellie seguirem em frente. Com tesoura e fita adesiva, dá pra fabricar uma faca; com pano e álcool, kits médicos e coquetéis molotov; com pregos e parafusos, bombas. Tudo pra ser usado de acordo com a sua administração das situações. Além disso, ao longo do jogo o Joel consegue melhorar algumas habilidades, como escuta, velocidade na montagem de armas e kits, ganho de energia, etc. através de comprimidos também encontrados em tudo que é muquifo. É possível também aprimorar as armas em pontos como velocidade de recarregamento, alcance, mira e uma cacetada de coisas úteis. Junto a isso, Joel encontra pingentes, bilhetes, diários e outras anotações que ajudam a contar histórias de outros personagens que morreram ou sumiram dos locais por onde nossos protagonistas passam, o que enriquece ainda mais a narrativa de The last of us. Muitos deles, inclusive, provavelmente são vários dos infectados com que topamos pelo caminho.  

Ah, é, falando neles de novo, existem quatro tipos que correspondem aos estágios da infecção:

Os corredores estão no primeiro estágio. Ainda se parecem mais com seres humanos do que com outra... coisa. Parecem insanos, raivosos e, como o nome sugere, correm atrás de você assim que o avistam. No entanto, são os mais fáceis de matar: umas boas porradas bastam. Os perseguidores são bem parecidos, com a diferença que o fungo está mais avançado na proliferação pelo cérebro. Os estaladores estão num estágio mais à frente: o fungo já comeu a cabeça toda e está se expandindo para fora, deixando-os cegos. Eis a vantagem em enfrentá-los: desde que você não faça barulho, eles não o veem. Contudo, porradas não resolvem nada com esses aqui; é preciso agarrá-los por trás com uma faca no percoço, usar machados ou então atirar. Mas, dependendo de onde você está, não é bom atrair outros infectados pelo som, né? Por fim, há os baiacus (ou vermes, pela dublagem em português), esses MONSTRENGOS HORROROSOS por onde o fungo fez a festa, constituindo o estágio mais avançado da doença. São os mais difíceis de matar: além da resistência às armas (a dica é usar uns dois coquetéis molotov), ele atira "bombas" de esporos na sua direção, que causam muitos danos.  

O design deles é demais. Se compararmos com a relação Cordyceps x formigas, dá pra ver que a inspiração no processo foi grande também no quesito visual. A lógica é essa mesmo: corredores viram perseguidores, que viram estaladores, que viram baiacus, que viram uma linda flor.

Aahh, e a música. A trilha sonora do Gustavo Santaolallaé uma maravilha à parte. Sou fã. O cara tem no currículo O segredo de Brokeback Mountain, Babel, 21 gramas e Making a murderer, e aqui fez bonito mais uma vez: as canções minimalistas em instrumentos de corda, principalmente violão, trazem notas solitárias, muitas vezes tristes, que dão um tom absurdo de abandono e são essenciais pra lapidar a atmosfera do jogo.

Por fim, vale dizer que The last of us tem uma DLC chamada Left behind, com umas duas horas de duração, em que você joga totalmente com a Ellie e se passa no início do inverno. Eu joguei depois de finalizar o game principal, mas recomendo passar pra Left behind assim que chegar nessa parte. É bastante interessante pra agregar ainda mais camadas ao relacionamento dos personagens, e ainda traz um flashback bem significativo da Ellie, antes de ela conhecer o Joel.  

The last of us - parte II já foi anunciado no fim do ano passado, enlouquecendo geral, e deve ser lançado provavelmente em 2019. Até lá, terei tempo o bastante pra ruminar a questão moral do final do primeiro game, que me deixou paralisada na frente da TV por um bom tempo.





20 estreias imperdíveis no cinema neste semestre de 2017

$
0
0

Queridos leitores, trago verdades: o ano está voando.

Isso pode ser ruim do ponto de vista de quem já quer esconder a idade ou não colocou nenhuma das metas de Réveillon na prática, mas, por outro lado, é quando muitos filmes aguardadíssimos estreiam no cinema. Parte deles, aliás, passível de entrar na corrida do Oscar.

Por isso, a convite dos Combos Net, fiz uma lista de 20 longas que entrarão em cartaz a partir deste mês, que é pra todo mundo anotar na agenda e não perder as datas. E já tem filme que estreou hoje!


ANNABELLE 2: A CRIAÇÃO DO MAL



Anos após a trágica morte de sua filha, um habilidoso artesão de bonecas e sua esposa decidem, por caridade, acolher em sua casa uma freira e dezenas de meninas desalojadas de um orfanato. Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um amedrontador demônio do passado: Annabelle, criação do artesão.

Inspirada na boneca da Xuxa, essa prequel é, segundo as primeiras avaliações já liberadas, o melhor filme derivado da franquia iniciada com Invocação do Mal. Peter Debruge, da Variety, disse que “[o diretor] Sandberg novamente brinca com a iluminação, composição e suspense, enquadrando tomadas de uma forma que nos deixa constantemente procurando sombras por vestígios de movimentos, à medida que ele desenha cenas para uma tensão máxima”.


JOÃO, O MAESTRO



Filme nacional baseado em fatos reais, com o Juliano, filho da dona Hermínia, e o Comendador da ex-novela das 21h: João Carlos era uma criança com sérios problemas de saúde. Por conta disso, teve uma infância reclusa. Até que um piano entrou na casa e na vida de João. A partir daí surge um garoto obstinado que, em poucos anos, se transforma em uma das maiores promessas da música erudita mundial e chegou a ser considerado um dos maiores intérpretes de Bach do século XX.

Uma série de acidentes passam pela vida do músico e fazem com que ele se afaste do piano gradativamente até que um último acontecimento brutal interrompe sua carreira de pianista. Como João nunca desistiu, ele seguiu em frente e descobriu a regência. E aí, já sacou de quem estamos falando, né?


BINGO: O REI DAS MANHÃS



Tirando Pennywise, o palhaço dançarino, nunca fui muito fã de palhaços e nem estava interessada em saber a história do Bozo até ver o trailer desse filme.

HELL YEAH, Bingo é Bozo: inspirado na vida de Arlindo Barreto, o longa contará a história de Augusto, um artista que sonha com seu lugar sob os holofotes. A grande chance surge ao se tornar Bingo, um palhaço apresentador de um programa infantil na televisão que é sucesso absoluto. Porém, uma cláusula no contrato não permite revelar quem é o homem por trás da máscara. Augusto, o “Rei das Manhãs”, é o anônimo mais famoso do Brasil.

O filme é dirigido por Daniel Rezende, indicado ao Oscar pela montagem em Cidade de Deus, e estrelado por Vladimir Brichta, Leandra Leal e Emanuelle Araújo no papel de QUEM? Da maior musa dos memes da atualidade (além da Inês Brasil): Gretchen, a rainha do rebolado, que teve um romance com o Bozo nos anos 1980. Que baphão.



A TORRE NEGRA



A Torre Negra acompanha a jornada do pistoleiro Roland Deschain através do Mundo Médio e outros para frustrar o objetivo do Rei Carmim de destruir a Torre Negra, o eixo que mantém todos os universos intactos.

QUE? Pois é.

A Torre Negra é uma série de sete livros do meu amado Stephen King, que lançou o primeiro volume, O pistoleiro, em 1982, como uma homenagem ao faroeste Três Homens em Conflito, à Lenda do Rei Arthur e às histórias épicas de J.R.R. Tolkien. Eu tentei ler esse primeiro volume, mas não rolou; porém, os fãs da história dizem que ela é muito rica, com um universo sensacional.

A direção ficou por conta do dinamarquês Nikolaj Arcel, roteirista da versão sueca do maravilhoso Os homens que não amavam as mulheres, mesclando os gêneros terror e fantasia. Mas parece que não deu muito certo: a crítica internacional já bombardeou A Torre Negra, pra decepção de muitos que aguardavam essa versão nas telonas.

Aí você se pergunta: Então por que ele está na lista de estreias imperdíveis? Porque o “falem mal, mas falem de mim” gera buzz e a gente só pode criticar o que conhece, não é mesmo, pequeno Padawan? 


ATÔMICA



Charlize Theron interpreta todo o seu lado mulherão da pyrra em Atômica, como a inteligente e habilidosa agente Lorraine Broughton, que é convocada pra ação quando um espião secreto da MI6 é morto pouco antes da queda do Muro de Berlim. Ela terá que rastrear uma lista que que estava sendo contrabandeada por ele para o oeste, a fim de evitar que ela e seus colegas sejam colocados em perigo pela revelação das informações presentes no documentos. Sua missão, então, desencadeia um jogo mortal de agentes duplos e agendas globais.

Inicialmente intitulado The Coldest City, este thriller de espionagem é baseado na graphic novel criada por Antony Johnston e Sam Hart e já está conquistando muitas críticas positivas.


IT - A COISA



Esse é o filme do ano mais aguardado por mim. Dessa vez, tenho fortes palpites de que King ficará orgulhoso da adaptação de uma obra sua.

Baseado no meu livro favorito do meu autor favorito, IT conta a história de um grupo de amigos que moram na cidade de Derry, no Maine, atormentada pelo desaparecimento e assassinato de várias crianças. Logo, eles descobrem que existe um mesmo alguém por trás disso – ou melhor, um ser – que aparece na forma de um palhaço medonho chamado Pennywise. Juntos, esses amigos unem forças pra tentar combater esse mal antes que eles mesmos façam parte das estatísticas locais.

Eu estou quase que literalmente fazendo contagem regressiva. Já existe uma adaptação dessa obra, produzida nos anos 1990 pra TV, que eternizou Tim Curry como Pennywise, mas que não faz jus à grandiosidade do livro. Agora, faltando pouco menos de um mês pra estreia, meu hype tá altíssimo: os trailers são lindos, os atores mirins parecem bons (destaque pro Finn Wolfhard, o Mike de Stranger Things), o clima é assustador, a trilha está promissora e Bill Skarsgård, como o palhaço, já me conquistou.

Mas engana-se quem pensa que IT é um filme focado 100% no terror. Ao menos, é o que eu espero e acho que o diretor Andy Muschietti também. IT é, sobretudo, acerca da amizade e do amor.

E detalhe: o longa lançado em setembro é só a primeira parte da história. A parte II ainda entrará em produção e se passará 30 anos depois dos acontecimentos deste aqui. 


LEGO NINJAGO: O FILME



Alô, alô, criançada, mais um filme Lego nos cinemas!

A batalha por Ninjago City põe em ação o jovem mestre-construtor Lloyd, também conhecido como Ninja Verde, ao lado de seus amigos, que são todos guerreiros ninja secretos. Guiados pelo Mestre Wu, que é tão rabugento quanto sábio, eles precisam derrotar o vil senhor de guerra Lorde Garmadon, “O Pior Cara de Todos”, que também é pai de Lloyd. Com duelos de habilidades e poderes, de pai e filho, o confronto épico vai colocar em jogo o futuro deste corajoso, mas também indisciplinado grupo de ninjas modernos, que terão que aprender a deixar de lado seus egos e se unir para encontrar e libertar seus reais poderes de Spinjitzu.


Não entendi nada, mas estamos abraçando todos os públicos. :D


MÃE!



Que tal Javier Bardem, Michelle Pfeiffer, Ed Harris e Jennifer Lawrence juntinhos num thriller de Darren Aronofsky, diretor do estupendo-perfeito-incrível Cisne Negro?

Eu tenho birrinha da J-Law, já disse? Principalmente depois de ter tropeçado tantas vezes em público. Nem eu, que só consigo andar com salto 5 cm, consigo tantos feitos como esse. Mas, mores, é Aronofsky e por ele eu estou disposta a passar por cima disso.

O filme conta a história de um casal que tem o relacionamento testado quando pessoas não convidadas surgem em sua residência, acabando com a tranquilidade e estabilidade entre eles. Essa sinopse curta e misteriosa me parece ótima, ao contrário do trailer, que acho que entrega demais. E, considerando que o filme se chama Mãe...

VC QUER, BEBÊ DE ROSEMARY?


KINGSMAN - O CÍRCULO DOURADO



Esta é a continuação do primeiro filme Kingsman, que teve 75% de aprovação no Rotten Tomatoes, sucesso de público, oclinhos retrô e conjuntos de ternos hipster.

Neste novo longa da talvez franquia, quando um ataque à sede dos Kingsman acontece e um novo vilão surge, Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) são forçados a trabalhar em conjunto com a agência americana Statesman para salvar o mundo.


BLADE RUNNER 2049



Mais uma sequência de franquias chegando aos cinemas: Blade Runner.

Com Harrison Ford de volta, o novo filme se passa trinta anos após os acontecimentos do primeiro Blade Runner: a humanidade está novamente ameaçada, e dessa vez o perigo pode ser ainda maior. Isso porque o novato oficial K (Ryan Gosling!!11) desenterrou um terrível segredo que tem o potencial de mergulhar a sociedade no completo caos. A descoberta acaba levando-o a uma busca frenética por Rick Deckard (Harrison Ford), desaparecido desde então.

Além do filme por si só, o filme tá hypado porque o diretor é o talentosão Denis Villeneuve (de A chegada), que não tem nenhuma obra ruim no currículo. That's it. 


THOR: RAGNAROK



Eu de fato não ligo pra filmes de super-heróis, mas Thor me deixa um pouco confusa com meus sentimentos por levar as deusas Natalie Portman e Cate Blanchett pro elenco. Como fã, não sei se é dever moral acompanhar todos os filmes que elas fazem.

Neste terceiro longa do universo Thor, o protagonista está aprisionado do outro lado do universo, sem seu martelo (rs), e se vê em uma corrida para voltar até Asgard e impedir o Ragnarok – a destruição de seu lar e o fim da civilização asgardiana – que está nas mãos de uma nova e poderosa ameaça, a terrível Hela. E Hela, no caso, é Catezinha de vilã – os pelos até arrepiam. Mas primeiro ele precisa sobreviver a uma batalha de gladiadores que o coloca contra seu ex-aliado e vingador, o Incrível Hulk Ruffalo.


ALÉM DA MORTE



TCHARAMMM: um remake!

Além da morte é a nova versão do filme Linha mortal, estrelado por Julia Roberts, que aqui conta com Ellen Page e Diego Luna. A trama acompanhou um grupo de estudantes de medicina que desafiaram as fronteiras da ciência e realizaram em si mesmos experiências científicas para descobrir se existe algo além da morte. Eles ficam clinicamente mortos e, como esperado, os experimentos dão errado.

Estou ansiosa! Me deu a sensação de uma vibe meio Premonição, parece ser massa e eu adoro esses dois atores. :3


JOGOS MORTAIS: JIGSAW



Quem é vivo sempre aparece, né? Ou quem é morto? Bom, eu sinceramente achei que a franquia Jogos mortais estava enterrada há anos e que nunca mais ouviria I WANT TO PLAY A GAME novamente. Afinal, o filme mais recente se chama Jogos mortais – O FINAL. Mas, né, a indústria cinematográfica nunca perde uma boa oportunidade de fazer mais dinheiro em cima de sangue e vísceras.

Segue a sinopse: corpos estão aparecendo pela cidade, cada um tendo encontrado uma morte terrível. Conforme a investigação segue, as evidências apontam para um homem: John Kramer. Mas como pode ser? O homem conhecido como Jigsaw está morto há mais de dez anos (num é, minina?!). Ou um aprendiz está seguindo os passos de Jigsaw, talvez até alguém de dentro da própria investigação? *thriller music intensifies*

Quando soube da notícia desta sequência, fiquei bem felizona. Assisti a todos os anteriores, mas, depois que o fogo passou (lição 1 da vida segundo Humberto Gessinger: fogo sempre queima, mas nunca aquece), fiquei meio méh. Acho que não estou mais na idade (leia-se: disposição) de ir ao cinema passar 70% de um filme tapando os olhos pra cenas gore.


BONECO DE NEVE



Gente, eu JURAVA que era um filmão de terror B bem ridículo em que há um boneco de neve assassino, bem estilo Mestre dos desejos ou O duende, mas quando avistei o nome Michael Fassbender no elenco, deduzi que ele não se prestaria a esse tipo de papel. Literalmente.

Bem, (ufa) a sinopse tá bem longe do que eu imaginava: em Boneco de neve, um detetive (ele mesmo) investiga o desaparecimento de uma vítima na primeira neve do inverno e teme que o crime possa estar relacionado a um assassino em série. Com a ajuda de uma recruta (Rebecca Fergunson), o policial deve conectar casos arquivados de décadas atrás com o novo crime na esperança de desvendar o mistério antes da próxima nevasca.

Com direção de Tomas Alfredson, a produção é baseada no bestseller de mesmo nome escrito por Jo Nesbø e que foi comparado ao sucesso Silêncio dos inocentes. Claro que já está no meu Kindle.


LIGA DA JUSTIÇA



Movido por sua fé restaurada na humanidade e inspirado pelo sacrifício do Superman, Bruce Wayne conta com a ajuda de sua nova aliada, Diana Prince (AAAAAAAAA), para enfrentar um inimigo ainda maior. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha trabalham rápido para encontrar e recrutar uma equipe de metahumanos para se opor à nova ameaça. Mas apesar da formação dessa liga de heróis sem precedentes – Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash, e Ciborgue – pode ser tarde demais para salvar o planeta de um ataque de proporções catastróficas.

Como dito, não ligo pra filmes de super-heróis. Mas temos Gal Gadot aqui, mores. E Ezra Miller com, esse lindo, como Flash. É provável que sejam motivos suficientes pra eu dar uma conferida.  


EXTRAORDINÁRIO



Finalmenteeeeeeee a adaptação do livro mais fofo que li no ano passado vai chegar. <3

August Pullman é um garotinho que nasceu com uma desordem craniofacial congênita. Pela primeira vez, ele irá frequentar uma escola regular, como qualquer outra criança. No quinto ano, ele irá precisar se esforçar para conseguir se encaixar em sua nova realidade, que estará cheia de desafios.

O filme promete arrancar umas lágrimas, se for tão tocante quanto a obra original, e conta com um elenco de peso: Owen Wilson (o homem com cara de espiga de milho), Julia Roberts e o pequeno Jacob Tremblay (de O quarto de Jack), irreconhecível como August. 


ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE



Minha eterna crush Daisy Ridley, Johnny Depp, Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Penélope Cruz, Willem Dafoe e Kenneth Branagh como o detetive Hercule Poirot estão nessa nova versão da adaptação de um dos livros mais famosos da mestra do suspense e crime, Agatha Christie, uma das minhas autoras preferidas.

O que começa como um luxuoso passeio de trem pela Europa rapidamente se desdobra em um dos mistérios mais elegantes, tensos e emocionantes já contados.  Assassinato no Expresso do Oriente conta a história de treze estranhos presos em um trem, onde todos são suspeitos. É aí que Poirot deve correr contra o tempo para resolver o quebra-cabeça antes que o assassino ataque novamente.


A ESCOLHA PERFEITA 3



THEY´RE BACK, PITCHES!

A “série” A escolha perfeita foi uma das surpresas mais agradáveis que tive nos últimos tempos, no quesito comédia. Sem contar que eu adoro a Anna Kendrick e ainda me lembra totalmente a pegada de Glee (assisti, não nego, e gostava).

Neste terceiro filme, agora formadas, Beca, Fat Amy, Chloe e as demais Bella Bardens estão infelizes devido a trabalhos mal remunerados e pouco motivadores. Diante desta situação, elas decidem se unir mais uma vez como grupo a capela para participar do USO Tour, uma turnê que as levará para apresentações na Europa. Lá, elas precisam duelar com grupos musicais que privilegiam a canções autorais em detrimento de novas versões de músicas já consagradas. Só imagino que tipo de coisas elas vão compor.


STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI



Depois de IT – A Coisa, esse é definitivamente meu segundo filme mais esperado. <3

Dispensa apresentações, não? Mas, se você vive numa bolha à parte da saga Star Wars, Os últimos Jedi é o oitavo filme do universo, que vai abordar o encontro de Rey com o mítico e recluso Luke Skywalker em uma ilha isolada. Lá, ela busca entender o balanço da Força a partir dos ensinamentos do mestre Jedi. Paralelamente, o Primeiro Império de Kylo Ren se reorganiza para enfrentar a Aliança Rebelde.

-

E aí, o que acharam das novidades que vêm por aí?

Lembrando que clientes Net têm 50% de desconto na compra de até 2 ingressos por sessão nos cinemas Cineart. Ou seja, dá pra você e um acompanhante pagarem mais barato por cada filme! Assina agora os Combos Net clicando aqui.


LIFE IS STRANGE - BEFORE THE STORM: episódio #1

$
0
0

Seja lá quem for você, leitor, vai me ouvir ler dizendo as mesmas coisas caso tenha acompanhado meus textos sobre os games que andei jogando.

Life is strange foi o que me abriu as portas para esse vasto e maravilhoso mundo de jogos e foi o pontapé para a inauguração da categoria GAMES do blog, que, recentemente, tem sido a responsável pela maior movimentação por aqui. Life is strange é, também, a experiência mais envolvente que tive com um jogo até então, de uma forma que não consigo explicar muito bem a não ser na linguagem do amor. Por isso, não é difícil supor como fiquei com o anúncio do prelúdio Life is strange - Before the storm feito há uns meses.  


O hype estava altíssimo, apesar de eu estar em conflito com algumas coisas. Primeiro, que o jogo foi desenvolvido totalmente por outro estúdio, a Deck Nine. Segundo, que a história trata do início do relacionamento entre a Chloe e a Rachel, uma personagem que era o grande mistério de Life is strange original, e eu não sei (ou sabia) se estou (ou estava) disposta a conhecê-la melhor. Esse era o charme dela. Terceiro, que o Before the storm é em sistema que escolhas que impactam o desenrolar da trama, como o seu antecessor, mas com a diferença que neste nós sabemos o destino das personagens dali a três anos.

Portanto, mesmo empolgadíssima, eu estava com um sensato pé atrás. Ainda é cedo para julgar o prelúdio, considerando que seu terceiro e último episódio ainda será lançado no fim do ano (se o universo conspirar a favor). Mas já posso dizer que, pela balanço geral da estreia, estou positivamente surpresa. A Deck Nine fez um ótimo trabalho. 



VAMOS COMEÇAR PELA PARTE BOA?

(ou nem tão boa assim)

Ao contrário do jogo original, em que um dos primeiros momentos foi capaz de delimitar o tom da história e me deixar encantada - quando Max põe os fones de ouvido para enfrentar o corredor do colégio -, as cenas iniciais de Before the storm são, de longe, as mais fracas do episódio. Vemos Chloe tentando entrar em uma casinha no meio do nada (rs), onde está tocando uma banda da qual ela é fã. Lá, você tem a escolha de fazê-la roubar dinheiro e comprar maconha do Frank (THOSE ARE MY FUCKING BEANS) para depois se meter em outras encrencas e ser salva pela Rachel, configurando o primeiro contato entre elas. Na manhã seguinte, Chloe tem alguns conflitos previsíveis com a mãe e com David, quem ela obviamente odeia, e depois parte pra Blackwell, de onde é aluna naquele período. A partir daí as coisas começam a engrenar, e determinadas situações acontecem, transformando Chloe e Rachel de estranhas em amigas.

Bom, eu entendo a preocupação: "Before the storm se passa em três dias". Em três dias é possível mostrar ao jogador o porquê da Chloe considerar a Rachel seu anjo? Eu sinceramente não sei como a história irá se desenrolar com as nossas escolhas, e nem sei se é essa a intenção, mas, a princípio, achei que a conexão entre ambas estava se desenvolvendo rápido demais. A própria Chloe estranha o súbito interesse da garota mais popular do colégio por ela, a "esquisitona solitária".

No entanto, à medida que o episódio se desenrolava, meu incômodo se dissipou até bastante. Chloe pode muito bem não ter dado a si espaço suficiente para fazer amizades depois da ida da Max, ou não teve disposição de trocar ideia com alguém com quem descobriria afinidades. Como aconteceu com a Rachel - e de uma forma agradavelmente natural, na minha opinião, apesar da pressa. Life is strange trata de relações humanas, e em Before the storm vemos duas adolescentes quebradas por dentro, cada uma a sua maneira, que veem uma na outra a oportunidade de passarem por seus perrengues particulares de uma forma menos dura.

  
Os desenvolvedores afirmaram que não haverá superpoderes. Ufa, né? Sem mistérios para serem descobertos e sem as viagens no tempo que tornaram Life is strange emocionalmente poderoso, Before the storm deve focar em dramas familiares, nos dando a oportunidade de ver um outro lado da Chloe: o lado vulnerável e frágil. No jogo original, a conhecemos como uma personagem amarga e raivosa, e embora fosse fácil compreender os motivos disso, não é fácil simpatizar com ela. Já neste primeiro episódio, tomamos suas dores e sofremos junto. Foram vários os momentos em que fiquei emocionada, e não foi por conta somente do saudosismo.

Claro, para quem está ávido por isso, há a chance de saber mais da Rachel. Uma coisa que achei interessante foi a colocarem como estudante de teatro. No caso, sua turma está ensaiando a peça A tempestade, de Shakespeare, que tem tudo a ver com o prelúdio, já que os nomes dos episódios fazem referência ao texto: Awake, Brand new world e Hell is empty. Ora, se considerarmos que parte da imagem que a personagem passava no primeiro jogo era de alguém manipulador, uma Rachel atriz cai bem. Por isso, me faço a mesma pergunta que Chloe fez a ela: seria Rachel imaginativa demais ou cheia de caô?

Por enquanto, estou achando ela bem DA HORA, pra infelicidade do meu coração pricefielder. Aguardemos.

Fomos apresentados a novos personagens também, como o segurança gente boa Skip - que provavelmente vai ter a vaga ocupada pelo David no futuro - e os nerds Mickey e Steph, que, juntos com Chloe, protagonizaram uma das cenas mais legais do episódio ao jogarem uma partida de RPG. E, além disso, revisitamos velhos conhecidos, como o diretor Wells, a professora de química, Justin, Nathan e Victoria.

Quantos likes essa princesa merece?

NOVIDADES NA JOGABILIDADE

Os comandos continuam os mesmos para a maioria das coisas: acessar o diário (que, agora, são cartas direcionadas à Max), andar, fazer escolhas, interagir com objetos e pessoas, ler SMS, etc.

Se para conquistar os troféus de Life is strange era preciso tirar fotos com a câmera da Max, aqui eles são colecionados com as pichações da Chloe por onde ela passa. A mesma caneta que usa para fazer isso, ela rabisca coisas na palma da mão, substituindo os post-its destinados a guiar o jogador em relação ao próximo passo (para visualizar, é preciso segurar L2 - no caso do Playstation).

Mas a maior novidade está na "habilidade" da Chloe em convencer pessoas a fazer o que ela quer através do "Desafio do bate-boca", que consiste basicamente em escolher as frases certas pra ela falar, em relação às do "oponente". Eu não queria dizer isso, mas, resumindo, ela precisa LACRAR. É preciso prestar atenção no que o outro fala antes e, tão importante quanto, no tempo - existe um timer determinado para selecionar a resposta, que pode ser extremamente curto em alguns momentos. Nem preciso dizer que a conclusão do desafio impacta na história, né?


INCONSISTÊNCIAS, CONVENIÊNCIAS E O TAL DO FAN SERVICE

Life is Strange - Before the storm nasceu do clamor do povo assim que o game original alcançou um estrondoso sucesso. E aí, é lógico que a Square Enix não ia perder oportunidade de fazer dinheiro em cima da vontade de muitos fãs em saber como Chloe e Rachel se conheceram.

O fato de outro estúdio que não a DONTNOD ser o responsável por esse prelúdio já é motivo de medo por parte do público, já que há risco de informações oficiais da história se perderem. Escrevi, no texto anterior a esse sobre o jogo, que rolou até um bafafá sobre o uso da mão dominante da Chloe nos dois títulos. É esse o nível de exigência. E nem tiro a razão.

Se a Deck Nine não quer que seu jogo seja uma fanfic do original, e sim um prelúdio oficial, ela sabe que tem uma puta responsabilidade nas mãos. O problema é que já neste primeiro episódio há pontos questionáveis em relação ao que é oficial, ao fan service e à mera conveniência.

Podemos definir como fan service a inclusão de elementos numa história exclusivamente pra agradar a audiência, mesmo que fira coisas como caracterização de personagem, cronologia, coerência do roteiro, etc. Não vejo problema em Before the storm ser um fan service em si, mas desde que mantenha seus elementos ligados perfeitamente com o primeiro Life is strange.

O negócio é que há informações básicas distorcidas, que a Deck Nine provavelmente sabe que estão assim, e decidiu manter. O motivo eu não sei. O maior exemplo no momento é o fato de praticamente todos os alunos que conhecemos em Life is Strange estarem na turma da Chloe de 16 anos; Warren, Alyssa, Victoria, Dana, Juliet, e por aí vai. Segura esse furo, monamú! Se no jogo original Warren tinha 16 anos, em Before the storm ele deveria ter 13 ou 14. Ou seja, fora de Blackwell, numa creche ou numa escola apanhando e sendo friendzoner de outra pessoa. Já Victoria disse, em Life is strange, que só se matriculou na Blackwell quando soube que o mr. Jefferson seria professor, sendo que o personagem não estará em Before the storm! No segundo episódio, quando fala da Teoria do Caos, Max afirma que Chloe nunca gostou de ciências quando eram mais novas; no entanto, lá está uma foto no quarto, mostrando que ficou em primeiro lugar numa feira de ciências. Outra coisa: depois que Chloe resgata Max do estacionamento em sua caminhonete, ela afirma que nunca recebeu uma mensagem da melhor amiga nos anos em que estiveram separadas. Mas, ao fuçar o celular da Chloe em Before the storm, vemos uma troca esporádica de mensagens.  

Fora isso, o prelúdio traz diversas referências ao primeiro game, e que eu penso que deve trazer mesmo: são fotos, manchas no carpete, menções à Max (AAAA), objetos de infância, roupas familiares, cartazes, e até a futura caminhonete da Chloe, largada no ferro velho. É o que queremos ver, sim, mas acho completamente bem-vindos aqui.

Cuidado que ela moide
Acredito que ainda sairão atualizações do jogo que precisam consertar coisas como ajuste de tela e pequenos bugs, mas se tem algo nessa história toda que tá difícil de engolir, acima de qualquer outra cagada, é a origem da palavra Hella no vocabulário da Chloe. Esse detalhe se tornou algo tão forte da identidade dela, que é uma BLASFÊMIA terem transferido parte disso pra Rachel. Não dá, bicho. Deus tá vendo, tá?

*respira*


FINALIZANDO!

Life is strange - Before the storm tem um visual totalmente atrelado ao do meu game do coração, com gráficos um pouco melhores, especialmente nas expressões faciais e movimento de boca x dublagem. Foi uma delícia voltar para Arcadia Bay e para a Blackwell com essa sensação de familiaridade. Ah, e falando nisso, a despeito de toda a gritaria e dedo no cu dos fãs sobre a Ashly Burch não estar dublando a Chloe, devo admitir que o trabalho da substituta Rihanna DeVries está excelente. Por mais que ela soe como a Ashly algumas vezes, enquanto jogava eu esqueci que não era a mesma pessoa por trás da voz.

A trilha sonora do game até agora está sensacional, BRIGS, DAUGHTER! É mega perceptível como as músicas são fundamentais para dar o tom da cena, ajudando a gente a se envolver com o que está acontecendo. Pra mim, particularmente, isso ficou evidente no final do meu gameplay (de quase 4 horas!).

Sobre a conclusão do episódio, existe uma grande proximidade com a forma como terminaram os primeiros do título original. A "grande revelação", aproveitando a deixa, provavelmente não será uma surpresa, pois dá pra captá-la em um momento beem antes em que ela é mostrada, principalmente pra quem se lembra de detalhes da sinopse do jogo. O final em si, com o carvalho queimando, também não me pegou pelo coração tanto quanto outros momentos do Life is strange me pegaram. Mas confesso que fiquei bastante emocionada pelo que as duas personagens dividiram naquele momento, e por pensar no que acontece com elas no primeiro game.

Doeu.



IT - A Coisa: a adaptação que a obra-prima de Stephen King merecia

$
0
0

Depois de cerca de 3 anos aguardando esse filme desde o anúncio de sua produção, ENFIM CHEGOU A HORA, MIGOS! Afinal, meu livro favorito de todos os tempos merecia uma adaptação decente, ao contrário da minissérie lançada em 1990 que consagrou o Pennywise de Tim Curry.

Mas, como comumente ocorre entre obras e suas adaptações, os livros tendem a ser mais densos. Aqui, essa regra não foge à exceção. A história de A Coisa se prolonga por cerca de 1.000 páginas e, ainda que esse filme seja longo e conte apenas a primeira parte do livro, é difícil repassar em tela todas as suas nuances. Além da nossa imaginação ser muito poderosa, a atmosfera que Stephen King constrói é maravilhosamente única: ele transforma uma cidade em um personagem, a ponto de praticamente traçarmos um mapa de todos os seus cantos, e apresenta com riqueza o universo de cada membro do Clube dos Perdedores.

Portanto, não: essa nova adaptação, do diretor Andy Muschietti (de Mama), não é cinco estrelas. Acho que, no fundo, eu nem estava esperando isso. Mas, felizmente, ela conseguiu captar o ponto mais importante do livro pra mim, que está muito acima do terror e do próprio palhaço: a relação entre as crianças protagonistas, que resistem aos problemas familiares, bullying, opressão e desajustes através da amizade que constroem.

A história, inclusive, é bastante em cima desse aspecto: sete crianças se unem durante as férias de verão e encontram força uns nos outros para combater seus próprios demônios e uma entidade ancestral que acorda de uma profunda hibernação a cada 27 anos. Ela se manifesta de acordo com os seus maiores medos, mas principalmente na forma de um palhaço autointitulado Pennywise.

Enquanto o período que abrange a infância, no livro, se passa nos anos 1950, no filme foi adaptado para o fim dos anos 1980; provavelmente para gerar mais identificação com o público e para a segunda parte, com os personagens adultos, se passar nos dias atuais. A direção de arte e os figurinistas de IT, nesse contexto, fizeram um ótimo trabalho de reconstrução da época. A trilha sonora e menções bem-humoradas ao New kids on the block complementam a atmosfera, com referências a Conta comigo (outro filme baseado em livro do King) e a Os goonies. Já as tomadas aéreas e amplas de Derry ajudam a nos inserir na cidade "amaldiçoada", e provavelmente vão causar mais tum-tum no coração dos fãs da obra.

Meus filhos.jpg
Andy Muschietti sabe usar seus recursos para assustar e criar um clima de tensão. É uma lâmpada que se acende ao fundo do quadro; um movimento de câmera que esconde o perigo, para depois revelá-lo e deixar o personagem vulnerável junto com a gente; uma leve ascensão da música. Eu, que sou expert em prever sustos de cenas como essas, quase enfartei em determinado momento (aliás, palmas para o responsável pelo projetor do cinema da minha sessão, que em uma cena específica acendeu a luz da sala e fez o público inteiro pular da poltrona. Sério, foi genial).

No entanto, eu esperava que IT tivesse menos sustos. Por mais que seja categorizada no gênero terror, eu considero a história um drama justamente pelo que disse ali em cima: os desaparecimentos de crianças, Pennywise e os monstros nos quais ele se torna são um pano de fundo para o desenvolvimento do Clube dos Perdedores. Mas é entendível que a produção queira fisgar o público do cinema de terror que ainda adora esse tipo de artifício. Ao mesmo tempo, ao longo da projeção, isso se torna um defeito.

As primeiras aparições de Pennywise são de encher os olhos. Ficamos encolhidos em nossos lugares. Ele preenche a tela, assusta sem fazer muita coisa e fascina. Mas, quanto mais o vilão é mostrado, menos menos abominável ele parece ser; o que não tem nada a ver com a atuação de Bill Skarsgård. Por mais que eu entenda o que o papel de Tim Curry representou, esse novo Pennywise é mais fiel ao livro, desde o seu figurino e maquiagem até a expressão corporal. Que, aliás, representa um ótimo trabalho de Bill, trazendo trejeitos de um palhaço inofensivo e contorcionista de circo para uma versão desconcertantemente amedrontadora. É uma pena que o filme em si não tenha apostado mais na subjetividade do horror.

Em contraponto a esses momentos apreensivos, temos alívios cômicos excelentes e bem pontuados, a meu ver, com o elenco mirim. A harmonia entre os sete integrantes dos Perdedores me agradou bastante, mas quem rouba a cena é o Finn Wolfhard (de Stranger things) como Richie. As Famosas Vozes do personagem, assim como a expressão recorrente no livro "Beep-beep, Richie", não se fizeram tão presentes, mas suas as piadinhas características conseguiram suprir. Outro que me surpreendeu foi Jack Dylan Grazer, dando a Eddie um aspecto cômico de que eu não me lembrava lendo IT. Sophia Lillis, como Beverly, mostrou ser a mais madura em termos de carga dramática, coisa que sua personagem pedia bastante. Gostei!

Algumas mudanças estabelecidas por Muschietti não me incomodaram e serviram para amarrar com eficiência o roteiro, em particular a sequência de acontecimentos finais dentro do esgoto, que estavam me preocupando ligeiramente antes de assistir ao filme. Tem coisas que, definitivamente, soam melhor em um livro.

Porém, existem pontos que, acredito, só quem leu IT vai absorver melhor, como o fato de a entidade "demoníaca" conseguir agir sobre os cidadãos de Derry para que o mal, de alguma maneira, sempre se faça presente no lugar. Tenho a impressão de que isso foi mostrado de forma sutil. No entanto, seja quem está indo conferir o filme como fã da obra, seja quem está indo porque gosta de filmes de terror, não vai se decepcionar.

Vida longa aos Perdedores. <3





Mamãe do céu, vamos falar de "mãe!"

$
0
0

Depois de imergir os pezinhos em sais e dormir uma noite honesta de sono, acho que é hora de falar de mãe!, novo filme do meu querido Darren Aronosfky que merece ser apreciado, absorvido e debatido depois de esfriar um pouco a cabeça.

Coisa que geralmente não faço, pois, de ansiosa e fogo no brioco que sou, saio da sessão e:

cincoestrelascincoestrelascincoestrelas
Mas mãe! (assim mesmo, em minúsculo, com exclamação) é uma loucura generalizada que só te deixa respirar quando os créditos sobem. Foi, de fato, preciso algum tempo para poder assimilar tudo (ou melhor, grande parte) que estava em tela. Habituado a retratar a degradação da estrutura psicológica/emocional humana, como fez muito bem em Réquiem para um sonho e Cisne Negro, Aronofsky repete a dose aqui (e quando digo repetir, não é fazer igual) com sua protagonista interpretada por Jennifer Lawrence, dentro dos moldes de um horror movie. Submissa e doce, ela vive sua rotina cuidando impecavelmente da casa que divide com o marido poeta (vivido por Javier Bardem) no meio de uma área verde, enquanto ele tenta escrever sua segunda e desejada grande obra. Num belo dia, a paz entre eles é prejudicada pela chegada de um desconhecido (Ed Harris), que pede estadia ali por um tempo. A partir daí, J-Law vai entrar numa montanha-russa de emoções junto do público.

A sinopse é suficientemente misteriosa. E, se antes eu achei que o trailer (ao fim deste texto) talvez entregasse demais, eu não poderia estar mais enganada: nenhum dos dois mostra 10% do que o filme significa.

mãe! não é para todo mundo. E não é pra isso soar pedante, como se só os inteligentões fossem capazes de gostar da obra, mas é só uma constatação de que o público blockbuster não está acostumado a encarar um filme com muitas camadas. Como disse Pablo Villaça, a maioria dos espectadores enxerga cerca de 20% de um filme, que é o que está sendo esfregado na nossa cara. Com a prática a gente melhora nisso, mas entender o uso da iluminação, do ângulo de uma câmera em determinada cena, a forma como uma trilha sonora entra etc. e como isso nos afeta na absorção da história são os outros 80%. E em mãe!, mais do que enxergar essas coisas, é fundamental perceber as alegorias pra poder avaliá-lo honestamente. mãe! é um emaranhado de alegorias.
  
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAli Babá o califa tá de olho no decote dela
Talvez por isso, o filme esteja dividindo opiniões desde suas primeira exibições fora do circuito comercial. Uma vibe meio "amor ou ódio". Ama quem juntou as peças e visualizou a história contada sobre elas. Odeia quem não entendeu nada disso e só assistiu a um filme extremamente confuso e surrealista; odeia quem entendeu, mas ficou ofendido; odeia quem entendeu, não se ofendeu, mas achou tudo muito pretensioso. 

Eu tenho um pouco de problema com a associação de pretensão dentro do contexto cinematográfico com algo negativo. Quero mais é pretensão num filme mesmo, ô caralha. Apesar disso, entendi o ponto de vista de que talvez mãe! queira parecer mais inteligente do que é; ele precisa e se apoia nas figuras de linguagem pra poder funcionar, ao mesmo tempo em que pode ser perfeitamente crível que o filme tenha sido concebido justamente pra se sustentar nessas figuras. Não vejo problema.

De qualquer maneira, mãe! tem todos os méritos pelos elementos técnicos.Em uma atmosfera sufocante, ambientado unicamente no casarão, o filme desembola acontecimentos bizarros a partir da entrada do tal desconhecido na rotina do casal principal, mas sempre sob o ponto de vista da personagem da J-Law. Me remetendo um bocado a Cisne Negro,é lindo ver como a câmera parece dançar em volta da atriz, quase sempre colada em seus ombros/nuca ou enquadrando seu rosto em close-ups que mostram pouco do que acontece ao seu redor, potencializando a sensação de aprisionamento. Aronofsky quis que sentíssemos o que ela sentia, numa constante impressão de que algo inesperado e ruim está pra acontecer. A casa, aliás, é um personagem igualmente vívido, ajudado pelo design de som que imprime farfalhares, batidas de coração e estalos em contraponto à ausência de trilha sonora. 

E, se a primeira metade do filme é lembrada por longos momentos de silêncio inquietante, a segunda - principalmente o terceiro ato - é repleta de caos. A transição é quase brusca, como dois filmes dentro de um só; no entanto, logicamente proposital, como entenderá adiante.


AS SIMBOLOGIAS


Tire as crianças do recinto, que os spoilers chegaram. Acho bom você já ter assistido ao filme.

Uma das interpretações de mãe! é a relação artista x obra x musa inspiradora. Se a personagem da J-Law é considerada a principal inspiração do poeta por ele mesmo e por sua editora, representada pela Kristen Wiig no terceiro ato, a revelação da gravidez da mãe é a concepção do novo poema. O bebê, portanto, é a obra em si, desassociado da inspiração que o gerou para nutrir o público ávido pela arte. A outra alegoria, mais óbvia e mais forte, na minha opinião, é a bíblica; mas as duas interpretações acabam se fundindo um pouco quando consideramos que ambas tratam de uma Criação: a primeira pelo viés da representação artística e, a segunda, da religiosa.

mãe! é uma grande metáfora à história da bíblia. A mãe, personagem da J-Law, nada mais é que a Mãe Natureza (minha cabeça explodiu quando revi o pôster do filme), cuja principal missão na primeira metade da projeção - o Antigo Testamento - é zelar pela casa, que simboliza o planeta Terra, ambos criados obviamente pelo Deus Javier Bardem. Interessante lembrar, aliás, que nenhum personagem no filme tem nome: são apenas mãe, Ele, homem, mulher, Devota, Bom Samaritano, Fornicador etc., reforçando esse olhar sobre a história.

Repare como as árvores, arbustos e relva ao redor da casa remetem ao Éden ou ao próprio Paraíso, um lugar divino e imaculado. Nesse processo do Gênesis, surge Adão (o visitante desconhecido Ed Harris) que, após uma noite passando mal no banheiro e com uma ferida na costela, recebe sua esposa Eva - vivida por uma Michelle Pfeiffer atrevida e curiosa, fazendo alusão à tentação pregada pela serpente. Não demora muito, então, para associarmos a pedra preciosa que Ele guarda com tanta devoção em seu escritório ao fruto proibido, que "Adão" obviamente quebra e os leva à expulsão. Nesse contexto, já não é estranho que depois mãe encontre os dois prestes a fazer sexo, e muito menos que Caim e Abel apareçam, culminando na morte deste último (nesse momento, acho que me urinei). O velório sequencial, com a família presente, é a humanidade começando a se espalhar (descendentes do casal primordial) pela Terra.

Cada vez mais confusa, Mãe Natureza não entende como essas pessoas conseguem fazer o que bem querem com a casa, sem respeito ou cuidado (taí mais uma reflexão, dessa vez voltada para a nossa relação com o meio ambiente), somente considerando impulsos egoístas. Aquela ferida sangrenta no chão de um dos quartos faz alusão à violação da raça humana à terra (posso estar viajando, mas o formato dela me lembra uma vagina). Portanto, é na cena da quebra da pia e da fúria surpreendente da Mãe Natureza (outrora sempre gentil) que temos a representação do Dilúvio. Lá fora da casa, inclusive, está chovendo. E, aí, os humanos desaparecem, fechando o Antigo Testamento. 

Não é à toa a transição "destoante" do filme para a sua segunda metade: tem-se o início do Novo Testamento com a Mãe Natureza grávida de Deus após uma curiosa resistência deste em procurá-la para tentar um filho, em detrimento da sua preocupação egocêntrica em escrever sua grande obra. Vale pontuar aqui como é interessante a forma com que Aronofsky cria um Deus narcisista, viciado em ser adorado, mas que nunca cai na vilania fácil graças ao trabalho preciso do Javier Bardem (talvez, se tivesse caído, o filme tivesse ainda mais críticas negativas). 

Eu me apaixonei pela maçã errada
Simbolizando, a meu ver, TAMBÉM a Virgem Maria nesse momento da história, a mãe acompanha Ele enfim terminar seu novo grande poema (a Bíblia), que é publicada pela editora Kristen Wiig, representando a Igreja. É aí que os inúmeros leitores, ou melhor, adoradores, começam a invadir a casa em uma sequência pandemônica de cenas, em que quebram móveis, roubam objetos e destroem cômodos como se o espaço fosse exclusivamente deles, traçando um paralelo com o que os humanos fazem com a Terra até hoje. O antagonista do filme somos nós mesmos, seu público.

Há os fanáticos religiosos sendo abençoados por Ele, representações de líderes religiosos (como o personagem de Stephen McHattie, que está descrito como Fanático nos créditos), conflitos religiosos, guerras (quantas não foram em nome de Deus?), caça às bruxas, feminicídio (lembram como mulheres são retratadas na História?), e manifestações violentas. Em meio a esse cenário, Ele consegue resgatar a mãe, que está em via de dar à luz, e a leva para seu escritório, que se revela o lugar mais seguro da casa. E qual o melhor lugar para ela parir a criança, senão o escritório, onde Ele passou meses escrevendo sua grande obra?

Nasce um menino (Jesus), quem mãe quer proteger a todo custo do resto do mundo, mas, em um descuido, deixa que Ele o tome nos braços e o apresente à multidão enlouquecidamente devota, em uma clara analogia ao momento em que Deus entrega seu filho à humanidade e o vê morto (repare que o bebê, de braços abertos como numa crucificação, é passado de mãos em mãos antes de seu pescoço quebrar). Quando as pessoas se alimentam de sua carne ("Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele"), a mãe entra em colapso, resultando em mais mortes por obra dela e no chão da casa se partindo, como se catástrofes naturais fossem uma resposta da Mãe Natureza às ações do homem.

É aí que mãe é espancada pela humanidade, numa das cenas mais chocantes do filme (talvez mais um simbolismo, além da terra/natureza, à Maria Madalena e à Mulher como figura no mundo). Por mais que Ele a retome mais uma vez, é intrigante como aqui Deus cria, mas também se ausenta, talvez simbolizando o livre arbítrio da humanidade. Porém, esse livre arbítrio leva a comportamentos humanos com consequências terríveis, e quem as sofre somos nós e a Mãe Natureza. Ele é o criador, mas não assume responsabilidades pela sua criação. 

No fim do terceiro ato - o Apocalipse -, mãe provoca um incêndio na casa, dizimando todos. Dizem que o fim do mundo será com fogo, não? risos A natureza realmente não perdoa, e prefere destruir a si mesma do que deixar que outros continuem a destruindo. É então que o filme revela o que já é subentendido: toda criação é um ciclo. Se Ele é Deus e a mãe é a essência da criação, é a partir dela que tudo é criado e renovado: seu coração é retirado de seu corpo moribundo, transformando-se na mesma pedra preciosa protegida no escritório da casa, agora também se recompondo junto de outra Musa/Mãe Natureza, que (re)nasce.

Li que alguém leu que existe uma tradução alternativa do primeiro verso da Bíblia: em vez de "No começo", ele diz "Em um começo", implicando que Deus criaria mundos várias e várias vezes.

"Do pó viemos e ao pó voltaremos".

AMÉM, ARONOFSKY.



A GHOST STORY: um dos filmes mais bonitos que já vi

$
0
0

A ghost story é uma história humana sobre um morto assombrado pela vida.

Neste filme lindo e delicado como poucos que vi nos últimos tempos, dirigido por David Lowery, Casey Affleck (Manchester à beira-mar) e barbiezinha Rooney Mara (Carol) são um casal apaixonado que mora numa casinha aconchegante de uma cidadezinha tranquila. Em um dia qualquer, como grande parte das coisas da nossa vida que nos pegam de surpresa, o personagem de Casey (que não possui nome, assim como o de Rooney) morre em um acidente de carro. Porém, incapaz de deixar esse plano terreno, seu fantasma volta para vagar no lar que dividiu com a amada.

Um fantasma, assim como na foto, do tipo que a gente assistia em desenho animado quando criança.

Aquela velha ideia de histórias de fantasmas, geralmente sob a ótica do terror, é subvertida aqui em uma visão emocionante, sensível e angustiante dentro do molde clássico do espírito atormentado e apegado a um determinado lugar. A apresentação do filme em formato 1:33:1 (como uma TV), com as bordas arredondadas, me remeteram diretamente àquelas pequenas fotografias antigas - como Polaroids -, a memórias que guardamos conosco (ou das quais nos tornamos prisioneiros), ajudando a construir um clima sufocante de silêncio, perda e solidão. Em A ghost story, os silêncios gritam. O luto está lá, gritando junto desta claustrofobia, fazendo com que uma cena da personagem Rooney comendo compulsivamente uma torta inteira durante cinco minutos pareça a coisa mais linda e triste do mundo.


Agora, C agora não é mais C: é um espectro ambulante por quem conseguimos sentir uma empatia tremenda, mesmo usando um lençol com dois buracos no lugar dos olhos, preenchendo os cantos da casa, mas completamente deslocado. Com esse conceito visual alinhado a uma fotografia intimista e um roteiro descomplicado,  Lowery apresenta uma reflexão poderosa sobre nossa pequenez diante da grandeza do tempo. Deus sabe como sou sensível a esse tema, e em A ghost story temos a oportunidade de fazer uma belíssima viagem fabulesca através do tempo e do espaço, em companhia de C.

É incrível observar como a casa se enche de cores quentes quando M supera (ou se permite superar) a dor e dá boas-vindas a uma nova história para ocupar seus cômodos. É tocante ver a personagem pegando o carro, em sua primeira cena fora da casa depois da morte de C, com o sol bem amarelado cobrindo parte de seu rosto, varrendo a sombra do luto para o passado. A trilha sonora, outra grande metalinguagem do filme, compõe essa gama de soluções simples, mas com tantos significados que fizeram transbordar sentimentos em mim.

A ghost story é o tipo de filme que te impacta e que você leva consigo horas (ou dias) depois que acaba. Nossa história não é única aqui. Existiram outras antes dessa. Pra morrerem e depois chegarem mais uma, mais uma e mais uma, com legados a serem deixados. Como num ciclo, nada é pra sempre. Tampouco nossa dor.

"O fim é belo e incerto, depende de como você vê."

(não acredito que citei O Teatro Mágico num texto de filmes, mas citei)




5 filmes pra assistir neste feriado!

$
0
0

Olha o feriadinho chegando aí, geeeente! DUM TSSKIDUM TSSKIDUM TSSKIDUM [inserir mulata sambando nessa onomatopeia de samba]

Pra quem é criança sai desse blog, dia 12 de outubro é pra tomar sorvete e gritar com os pais em loja de brinquedo exigindo aquela pelúcia de 300 reais. Pra quem é adulto e a firma não emendou o feriado, demita-seé uma boa oportunidade pra ficar aconchegado no edredom com o crush assistindo a um filminho. Se emendou, melhor ainda: quer dizer que você trabalha num lugar legal e vai ter tempo suficiente pra assistir a mais de um filminho!

Por isso, se liga nesse post com 5 dicas de filmes que eu adoro pra você conferir– e nem precisa sair do lugar, porque todos estão disponíveis no NET Now. ;) #publipost


EU, DANIEL BLAKE


Vamos começar por esse, pra você não ter que assistir no domingo e deixar esse dia pior do que já é.

Vencedor da Palma de Ouro de 2016, o filme acompanha Daniel, que, após sofrer um ataque cardíaco e ser desaconselhado pelos médicos a retornar ao trabalho, busca receber os benefícios concedidos pelo governo a todos que estão nesta situação. Entretanto, ele esbarra na extrema burocracia instalada pelo governo, amplificada pelo fato dele ser um analfabeto digital. Numa de suas várias idas a departamentos governamentais, ele conhece Katie, mãe solteira de duas crianças, que se mudou recentemente para a cidade e também não possui condições financeiras para se manter.

Eu, Daniel Blake é o retrato real, cru e tocante de como o governo pode massacrar a vida da população mais carente. Mesmo com vários momentos ternos, até engraçados, ele choca ao nos colocar na posição de quem se sente como uma estatística, e não como ser humano, diante daquele que deveria nos amparar. Tem uma cena tão, mas tão desesperadora que eu demorei uns cinco minutos no cinema pra retomar o ar – e nem foi no final.


LOGAN


Seria apenas mais uma sequência da franquia X-men, se não fosse um ótimo filme.

Aqui, a gente não está assistindo ao Wolverine, mas ao Logan, um cara já cansado, debilitado e de meia idade que cuida de um doente Professor Xavier em um esconderijo na fronteira mexicana. Logan tenta se esconder e o esconder do mundo; no entanto, a chegada de uma nova mutante perseguida por inimigos vai mudar completamente a rotina dos dois. Muitos dizem que Logan é o melhor filme do universo X-men. Não sei se concordo, mas já gostei muito dele por se distanciar dos super-heróis de collant e focar nos dramas pessoais dos personagens, deixando-os muito mais humanizados que o normal.

Um longa meio road movie, numa vibe meio The last of us, com tons de comédia, drama e ação bem equilibrados.


UM SONHO DE LIBERDADE


É verdade que Stephen King não deu sorte com várias das adaptações feitas de suas obras. Felizmente, Um sonho de liberdade é uma das exceções.

Baseado no conto Rita Hayworth and Shawshank Redemption, publicado no livro Quatro Estações (onde também tem, inclusive, o conto que eu origem a Conta Comigo), o filme se passa em 1946 e segue Andy Dufresne, um jovem e bem sucedido banqueiro que tem a sua vida radicalmente modificada quando mandado para uma penitenciária para cumprir prisão perpétua por ter assassinado sua mulher e o amante dela. No presídio, faz amizade com Ellis Boyd Redding, um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro do presídio.

É fato que meu mestre King tem um profundo conhecimento da natureza humana, traduzido pelo seu talento em grandes histórias com essa. Claro que Um sonho de liberdade precisava de um bom diretor e de atores competentes pra sustentá-la, se conseguiu: o filme permanece há anos no topo dos 250 melhores filmes do IMDB (aquele povo exigente) e ainda aparece na lista do American Film Institute entre as melhores produções norte-americanos de todos os tempos. É, também, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos.


O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN


Se você ainda não assistiu a esse filme, tome vergonha na cara. Se já, aproveite pra revê-lo no feriado e abrir portas para uma nova semana cheia de doçura.

Há 16 anos, Amélie Poulain causava furor nos festivais de cinema. Seu bom humor, delicadeza e otimismo inauguraram uma nova era de filmes que passaram a beber da sua fonte, e me arrebataram totalmente. Na história francesa, a inocente Amélia, após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo – é assim que encontra Dominique. Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência.

O fabuloso destino de Amélie Poulain, além de ter sido indicado a vários Oscars (inclusive o de Melhor Filme Estrangeiro), ganhou o prêmio TOP 10 do meu coração.


TRILOGIA MILLENIUM


Talvez você conheça Os homens que não amavam as mulheres, aquele filme protagonizado por Rooney Mara e Daniel Craig, mas talvez não saiba que ele é baseado no primeiro livro de uma sensacional trilogia sueca chamada Millenium, e nem que já existem filmes adaptados desses três livros. Porém, também suecos.

A quinta dica do post é 3 em 1, moçaaada, DUM TSSKIDUM TSSKIDUM TSSKIDUM.

Por mais que eu ache a versão americana do David Fincher superior como uma obra audiovisual, devo admitir que esse trio “original” tem muitos méritos, além de ter trazido uma ótima versão da icônica personagem Lisbeth Salander (a quem me apeguei bastante até chegar a interpretação de Mara). Se você leu os livros, sabe como ela é única. A propósito, prefiro o Mikael sueco um zilhão de vezes.

Sem mais, a sinopse da história que é o pontapé das seguintes: Harriet Vanger desapareceu 36 anos atrás sem deixar pistas na ilha de Hedeby, um local que é quase propriedade exclusiva da poderosa família Vanger. Apesar da longa investigação policial, a jovem de 16 anos nunca foi encontrada. Mesmo depois de tanto tempo seu tio decide continuar as buscas, contratando o jornalista investigativo da revista Millennium, Mikael Blomkvist, que não está em um bom momento de sua vida. Mas, quando ele se junta a Lisbeth Salander, uma investigadora particular nada usual, incontrolável e antissocial, a investigação avança muito além do que todos poderiam imaginar.

Aproveita pra conferir a sequência dessa trama incrível, uma vez que até hoje Hollywood não concluiu a continuação. ;P

-
Se você ainda não tem o NET Now pra assistir tudinho, fica tliste não: aproveita a promoção NET Combo e tenha acesso a mais de 180 canais HD, pagando só R$ 89,90 nos 11 primeiros meses.

É isso aí! Nos vemos na próxima.

LIFE IS STRANGE - BEFORE THE STORM: episódio #2

$
0
0

De volta, amiguinhos games, com o segundo episódio do prelúdio de Life is strange depois de quase 2 meses de espera. Isso não se faz com uma pessoa que sofre de ansiedade generalizada.

Brave new world se passa no dia seguinte ao dia ocorrido no primeiro episódio, como esperado, diante da mesa do diretor Wells, no meio de uma situação delicada que definirá o futuro de Chloe ou de Rachel, dependendo obviamente das suas escolhas como jogador. Acontece que a Blackwell está ciente do comportamento controverso da Chloe e da matadura de aula de ambas, acarretando na expulsão ou suspensão dela, levando ou não Rachel a participar da peça de teatro que acontece à noite.

Bom, não sei o que você fez, mas euzinha resolvi tomar pra mim (digo, Chloe) toda a culpa do ocorrido e fui (digo, ela foi) expulsa da escola - algo que aconteceria de qualquer forma, como está claro em Life is strange, porém não exatamente nesse período - levando a uma cena muito legal de pichação enfurecida no banheiro feminino (imagem ali em cima), amplificada pela canção No care, da Daughter. Uma sensação gostosa e dolorosa de nostalgia quando relembramos todas as pichações pelas quais a Max passou no jogo original e quando pensamos, também, que é nesse lugar  que Chloe é baleada pelo Nathan.

Não que fosse algo difícil de conceber, como já comentei no texto sobre o primeiro episódio, mas Brave new world mostra que Before the storm funciona muito bem como elemento nostálgico da franquia, mas provavelmente não vai superar ou se igualar ao original em termos de storytelling. Alguns dos momentos mais marcantes desse episódio estão relacionados diretamente a Life is strange, como a volta ao ferro velho, Chloe conhecendo o carro que ela usa pra cima e pra baixo no primeiro jogo, o barracão, a origem do gorro azul, Pompidou filhote, o armário do trailer do Frank lotado de latas de feijão (dei uma gargalhada nessa parte, aliás).

 

Brave new world, inclusive, se revelou um pouco melhor que Awake, o primeiro episódio. É mais divertido e mais desafiador, com cenários legais pra explorar e puzzles pra resolver, atribuindo um novo degrauzinho de dificuldade ao jogo. E se a exploração for mal feita, o jogador deixa de encontrar objetos icônicos para seu deleite (o gorro é um exemplo!). As escolhas feitas,aliás, já mostram seu impacto aqui junto com as novas a serem feitas, gerando a sensação de mudar o rumo das coisas, por mais que a prequel não permita que sejam mudanças drásticas. São modificações em interações e diálogos, ou seja, as partes-chave acontecerão pra todo mundo de qualquer maneira.

A mecânica do "Desafio do bate-boca" continua presente, mas de uma forma diferente, acompanhando o desenvolvimento da Chloe na história. Enquanto no primeiro episódio os bate-bocas eram as melhores opções dos diálogos, isso nem sempre acontece aqui. Ou seja, em vez de ser impulsiva/agressiva nas respostas, ela tem cada vez mais escolhas pra ficar calada ou ser mais gentil, representando um possível progresso em seu crescimento. Eu curti isso, por mais que essa interpretação não deveria fazer muito sentido, uma vez que em Life is strange a Chloe está ainda mais badass e imatura em vários momentos, e é nesse jogo que seu personagem verdadeiramente se desenvolve "pra melhor". O ponto positivo disso é que Before the storm faz com que tenhamos empatia pela Chloe com uma facilidade muito maior do que em Life is strange.

Além de estreitar sua relação com a Rachel, Chloe volta a interagir com personagens apresentados no episódio anterior, mas que, infelizmente, não são tãaao bem explorados quantos os secundários de Life is strange. Steph, Drew, Mickey, Skip, Damon Merrick (BEM pouco) e Samantha estão de volta, relevando um pouco mais de suas facetas, assim como Frank, Joyce, David e até o místico Samuel. Mesmo expulsa ou suspensa da Blackwell, Chloe voltará à escola pra cumprir uma tarefinha perigosa proposta por Frank, levando o jogador a dilemas morais semelhantes àqueles do primeiro game.

Na minha opinião, o problema de Before the storm, além das inconsistências apresentadas desde o primeiro episódio (elas estão sendo listadas aqui), é que o jogo está sendo resumido em um shipp (e olha que eu sou a maior shippadeira do pedaço). BtS está ou simplesmente entregando o que os fãs de amberprice querem assistir, atropelando informações canon e se mostrando uma fanficona, ou está guardando A carta na manga pro terceiro e último episódio. Se for o que estou esperando, terei que dar todos os créditos à Deck Nine: apresentaram uma Rachel sedutora e carismática que conseguiu hipnotizar não só a Chloe como a maioria dos jogadores, pra depois revelarem/reforçarem o que já está claro em Life is strange - Rachel Amber é manipuladora.


Uma das cenas mais legais e divertidas do episódio não revisita situações do jogo original, mas está cheia de amberprice, independente de escolhas anteriores - a peça de teatro em que Rachel e Chloe improvisam suas falas em uma alusão à amizade e ao sentimento crescente entre ambas. Em contrapartida, a história encenada pode muito bem ser uma alegoria a elas mesmas. Em A tempestade, de Shakespeare, Próspera - interpretada por Rachel - queria se vingar da cidade onde vivia e aprisionou Ariel - papel de Chloe -, um espírito com poderes mágicos obrigado por ela a ajudá-la em seus planos, em troca de liberdade. Além disso, Caliban - personagem de Nathan - é escravo de Próspera, e lembremos que em Life is strange era obcecado pela Rachel, dando no que deu. Que tal? 

Se Before the storm peca um pouco no desenvolvimento, parece usar de metáforas como essa pra enriquecer a narrativa. E os sonhos da Chloe com o pai são outros elementos cheios de mensagens enigmáticas (já experimentou abrir o diário dela durante esses sonhos?). Em Brave new world, William alerta: "o fogo nos cega, como a escuridão". A escuridão cega com a ausência, com a perda... mas às vezes ele oculta uma beleza ainda maior. Já o fogo é ciumento: ele quer toda a beleza para si. Por isso, Chloe precisa ter cuidado pra não se queimar.

Como filosofou a amiga Áurea, enquanto pricefieldé como a água - às vezes revoltoso, em outras calmo, mas sempre constante -, o símbolo de amberpriceé o fogo, que começa arrebatador e se alastra num curto espaço de tempo, porém efêmero, virando cinzas rapidamente.

Que o fogo é a Rachel, isso está claro. Mas se o fogo no pesadelo não for uma referência à personalidade dela e aos danos causados na Chloe, Deck Nine pode enfiar o jogo no brioco. Não estou dizendo que a Rachel é uma vaca filhadaputa, ou que está usando a Chloe o tempo todo; eu acredito que ela se importou genuinamente com ela, afinal, não é à toa que foi "seu anjo" e o suporte necessário pra nossa protagonista enfrentar seus demônios. Porém, me parece extremamente necessário tirar essa aura de perfeição de cima dela.


Por fim, mais um elogio ao episódio por retratar a humanidade do Nathan mais uma vez em uma cena emblemática com seu pai, Sean (finalmente conhecemos o podrão dos Prescott). Por outro lado, Victoria nunca esteve tão caricaturada como a patricinha sem escrúpulos. Aqui é assim: morde e assopra. Vamos morder de novo: enquanto o diário da Max era uma extensão da personagem, cheio de sentimentos e impressões que jogando somente com ela não conseguiríamos descobrir, o diário da Chloe está me parecendo cada vez mais meros relatos do que acontecem a ela, pouco acrescentando à nossa percepção sobre as cenas. O final do episódio foi outro ponto beem mais ou menos pra mim: a tal revelação se mostrou bastante previsível (algo que eu e outras gamers discutimos muito antes do lançamento), tirando o choque que a Deck Nine pretendia dar. Fiquei mais arrebatada no segundo seguinte, quando Youth começou a tocar - uma música mega aclamada pelos fãs de Life is strange por se encaixar bem com a história, finalmente na trilha oficial. Eita, fanservice. 

Sobre defeitos técnicos: 1) em alguns momentos em que Chloe tem oportunidade de ler alguns cartazes, não existe legenda para o texto. 2) Quando você tem mais de um save, na hora de jogar o segundo, o jogo mistura o progresso do que você já terminou com o que você tá jogando na hora e não te deixa evoluir. Esperemos que eles consertem o mais rápido possível pra gente poder testar outras escolhas nesse meio tempo.

O terceiro episódio de Before the storm, Hell is empty, provavelmente será lançado próximo do Natal ou no começo de janeiro, na pior das previsões. Será que vou pagar língua?


Nossos filhos estão de volta em Stranger Things 2

$
0
0

Depois de 1 ano, 3 meses e 12 dias de espera, enfim minha ninhada voltou para os meus braços, em uma guarda compartilhada com toda a internet, que está enlouquecida de amores com a nova temporada de Stranger things. <3

A série virou um fenômeno desde a sua estreia no ano passado e posso arriscar que é a obra original da Netflix de maior sucesso atualmente. A empresa, aliás, declarou que Stranger things ganharia mais algumas temporadas ainda naquela época, o que levou os espectadores à pergunta: a história tem base pra ser desdobrada por tanto tempo? Bom, a resposta, aparentemente, é "sim". No entanto, apesar da nova leva de episódios demonstrar que o universo da cidade de Hawkins pode ser expandido de uma forma que fique coerente, pouco foi explorado do mundo invertido. O clima de mistério que é o cerne de Bagulhos sinistros continua, mas as perguntas sobre o que é "o outro lado", como se deu sua descoberta, pesquisas, o que são aquelas coisas nojentas e etc. continuam; ou seja, quem espera respostas demais vai ficar decepcionado, e quem quer "mais uma dose" de Mike, Dustin, Lucas e cia vai ganhar um prato cheio

Esta nova temporada se passa 1 ano após os acontecimentos anteriores. Eleven continua desaparecida para os amigos, mas descobrimos que ela esteve sendo mantida a salvo pelo delegado Hopper, que arrumou um abrigo no meio da floresta onde ela pudesse morar com tranquilidade e longe tanto do laboratório local quanto do governo. Enquanto isso, Will sofre de episódios graves em que suas visões do mundo real se confundem com as do mundo invertido, levando-o em contato direto com o "Monstro das Sombras" - um bichão gigantesco que parece governar todas as criaturas por lá, inclusive os Demogorgons.


A temporada nova não é melhor que a primeira, mas mantém a qualidade. As crianças continuam ótimas, o clima de nostalgia é forte e a construção do enredo te fazem consumir episódio atrás de episódio sem olhar pro relógio (digo que concluí todos os nove em dois dias com certo orgulho, visto que aparentemente adentrei aquela fase da vida em que dormimos com qualquer coisa que estiver passando na TV). Além disso, me marcaram de forma positiva o figurino - que dispensa mais elogios -, a fotografia e as transições de cenas, que costuram acontecimentos de núcleos diferentes com bom humor e coesão. 

Dessa vez, Eleven e Mike saíram dos holofotes e deixaram o resto do elenco mirim brilhar. Tivemos finalmente a oportunidade de ver Noah Schnapp, quem interpreta Will, mostrar todo o seu potencial de atuação; que menininho mais maravilhoso! Aquele cabelinho de cuia mal cortado não tinha me preparado pra tanta qualidade artística em cena. Lucas perdeu seu lado racional meio insuportável da temporada anterior e está muito mais carismático. Dustin continua babaca, mas aquele babaca adorável que todos amamos, e responsável pela maioria dos momentos cômicos. Steve deu um salto em seu personagem, saindo do embuste que foi na temporada anterior (grande parte dos episódios) para um cara amigável e gentil, confundindo meu coração shipper entre Nancy e Johnathan. Falando neles, os personagens foram responsáveis por manter a chama da Barb acesa em uma investigação particular sobre sua morte e os impactos do seu desaparecimento sobre seus pais. Acho engraçado como uma coadjuvante com pouco espaço pôde se tornar tão popular.

Também tivemos novos personagens na temporada. O mais carismático, disparado, é Bob - em provavelmente mais uma ligação com os clássicos de décadas passadas, já que ele é interpretado por Sean Astin, um dos astros de Os Goonies). Namorado de Joyce, ele é aquele cara bobão, tiozão do pavê, de coração enorme, mas que foi peça-chave para a solução de alguns grandes problemas enfrentados pela trupe. Outra que entrou - ou está ainda em processo de entrar - pro grupo dos meninos é a tomboy Max, uma nova moradora de Hawkins, e talvez referência à Max de Life is Strange, como vários fãs do game e o próprio estúdio desenvolvedor apontaram nas redes sociais e que vou contar porque nunca perco uma oportunidade de falar qualquer coisa sobre o jogo, inclusive estou pensando em mudar o endereço do blog pra vemaquirapidao/lis
   

Bom, além do sobrenome da personagem da série ser Mayfield, enquanto no game é Caulfield, e do apelido de ambas ser Mad Max, não há grandes semelhanças entre as duas ao longo dos episódios. Entretanto, uma galera aí tá achando que a Max de Stranger Things terá alguma ligação com poderes psíquicos, assim como Eleven, já que no jogo oficial da série pra smartphone existem grandes pistas apontando pra isso. Bom, se ela começar a viajar no tempo, acho bom a DONTNOD entrar em contato com os advogados, risos

O irmãode Max, Billy, é outro novo personagem regular que entrou como o antagonista humano da história: uma versão mais embuste do Steve da primeira temporada, cheio de si, violento e metido, mas que, na real, não meteu muito medo em quem estava assistindo. Acredito que os dois ainda serão melhor desenvolvidos a partir da próxima temporada (o mistério do porquê terem se mudado pra cidade, por exemplo, deve ser algo a ser respondido), mas, por enquanto, são duas linguiças na história. Espero que lá a Max pare de levar patadas dos meninos e seja aceita integralmente membra do clube, porque curti a menina.

Por incrível que pareça, Eleven foi a personagem que menos despertou meu interesse aqui. Isolada no meio do mato, sua jornada foi compreender parte de seu passado através da história de sua mãe, o que achei bem bacana, mas foi um núcleo brutalmente interrompido só pra ter boas chances de ser retomado no próximo ano. O sétimo episódio da temporada, em que ela viaja para Illinois encontrar uma "irmã" do laboratório (também poderosa, usada para testes), foi sem dúvidas o pior de todos; completamente destoante, quebrou a harmonia do que estava sendo apresentado até então, trazendo personagens nada cativantes, apenas para mostrar ao público que Eleven estava tentando se encontrar. O que, claro, consegue, em uma resposta óbvia para "qual é o seu verdadeiro lar", afinal de contas. (a coisa toda foi tão maçante que deu tempo, enquanto assistia, de ler toda a incrível matéria sobre o Fofão da Augusta que saiu no Buzzfeed Brasil - aliás, leiam!) 

Eleven retorna como a esperada salvadora da pátria no penúltimo episódio, que, junto com o último, está bem dinâmico e com um bom ritmo de ação. O portal para o mundo invertido foi fechado, mas é calaaaaro que alguma coisa vai acontecer em breve (A Vingança do Monstrão das Sombras ou Os Demogorgons Contra-Atacam), como sugere a última cena - e da próxima, espero que o roteiro seja menos preguiçoso na hora de amarrar os questionamentos envolvendo o universo deles. Achei bem fofinha a cena do baile de inverno, e necessária, digamos assim; além do lance de "estamos todos bem e a vida continua", temos que pensar que no ano que vem as crianças serão oficialmente adolescentes, com voz grossa, dois metros de altura e hormônios entrando em ação, portanto, nada mais natural que os interesses românticos se façam presentes. *shipping hard Lucas & Max*

Ahhh... é, ano que vem. Só nos resta esperar mais 365 dias (e mais) pra nos reunirmos novamente com eles e maratonar um fim de semana inteiro. Stranger things é diversão e pede que a gente não leve a série tão a sério (rs). Bora mergulhar no clima oitentista, na trilha sonora nostálgica e em seus elementos fantásticos; e daí que o Will consegue desenhar loucamente rabiscos incompreensíveis mas que fazem sentido quando Joyce os ordena pela casa, como um mapa, e que Bob ainda os ENTENDE? Acho que não vale a pensa se incomodar tanto com aspectos como esse a ponto de nos tiramos do lugar. Como Glória Perez declarou, "pobre de quem não consegue voar".


Uma aula de roteiro em MINDHUNTER

$
0
0

Por favor, não me ache uma doente pela declaração que dou agora, mas eu adoroserial killers.

Não sei explicar, mas simplesmente sou acometida por um grande fascínio quando começo a pesquisar sobre crimes, motivações, investigações, metodologia do criminoso e, claro, a psicologia dele. Não é à toa que fiquei deveras empolgada com o anúncio da nova série da Netflix, Mindhunter, que promete mostrar como se deu o processo de um estudo do FBI de tentar desvendar as mentes por trás de alguns dos crimes mais bárbaros da História americana.

E, ainda por cima, é uma produção executiva do David Fincher (de Os homens que não amavam as mulheres, Garota exemplar, O Clube da Luta e Se7en - Os sete crimes capitais), quem dirigiu os dois primeiros e os dois últimos episódios.

Eu não poderia esperar menos de um sujeito com esse currículo. Mas vamos lá: para algumas pessoas, assistir Mundhunter pode requerer certa paciência. O episódio piloto não empolga muito, e a história se desenvolve devagar. O foco não é na ação. No entanto, não desista: a série engaja demais à medida que a gente assiste.

Inspirada pelos relatos do ex-agente John Douglas e do escritor Mark Olshaker no livro Mindhunter - O primeiro caçador de serial killers americano, Mindhunter se passa em 1979 e acompanha os investigadores Bill Tench e Holden Ford interrogando assassinos para resolver diversos casos de homicídio. Holden, vivido de forma incrível por Jonathan Groff - que também foi um dos atores convidados de Glee na época em que eu assistia e OMG o tempo passa, o tempo voa, e estamos todos ficando velhos -, começa a história como um negociador de reféns doce e inseguro, mas com um instinto apurado, determinado a consolidar uma nova unidade do FBI destinada a estudar criminosos extremamente perigosos. Formando uma dupla improvável com o durão e experiente Bill, eles viajam os Estados Unidos de cabo a rabo divulgando a "escola móvel" sobre perfis de assassinos em delegacias de homicídios, enquanto entrevistam serial killers (quando esta expressão ainda nem existia) condenados para registro e mapeamento de seus comportamentos, destrinchando passados e traumas, a fim de encontrar padrões para entender as razões que levaram essas pessoas a fazerem o que fizeram.

Não, Charles Manson não aparece em Mindhunter. Ainda.
Completando a equipe como consultora, conhecemos Wendy Carr, psicóloga comportamental interpretada pela carinha conhecida de Anna Torv, da série Fringe - elegante, inteligente, objetiva e sensata que traz um balanço para a dinâmica entre os protagonistas. Aliás, fazendo um contraponto interessante com as vítimas dos criminosos da série, que são todas femininas, as mulheres principais de Mindhunter são figuras fortes e se encaixariam no pensamento "avançadas para a época".

As entrevistas prendem o olhar não só pelos diálogos precisos, mas por tratarem de histórias de serial killers reais. A primeira e mais marcante, na minha opinião, é a de Ed Kemper, vivido brilhantemente por Cameron Britton - que você pode conferir logo abaixo -, futuro concorrente a Melhor Ator Coadjuvante ou Ator Convidado no próximo Emmy, se a vida for justa. Conhecido como o "Assassino de colegiais", Ed foi retratado como na realidade: um cara à primeira vista simpático, tranquilo e analítico, mas que não somente matou a mãe e os avós quando jovem, como assassinou oito garotas na Califórnia, praticou necrofilia com seus corpos, as decapitou e ainda usou o resto dos membros pra estudar anatomia.



A condução das perguntas, réplicas e tréplicas é muito bem feita. E, se na época a polícia e o FBI num geral tinham um enorme preconceito quanto à inserção da psicologia como meio de decifrar crimes - acreditavam que um criminoso simplesmente nascia mau -, Holden e Bill provam, pouco a pouco, que são as circunstâncias sociais que transformam alguém num homicida. Era o início do que viria a ser a psicologia forense. Quando a dupla precisa ir a campo se envolver em assassinatos locais é que vemos como a teoria é aplicada na prática: a partir da análise da cena do crime, é possível construir o perfil do culpado e filtrar a lista de suspeitos, montar um questionário (que, na verdade, é muito feito de improvisos certeiros) até chegar ao ponto de fazê-lo confessar. 

Esses improvisos, inclusive, são o cerne do estudo do Holden para conduzir uma investigação. Seu método nada convencional contraria não só seus colegas de trabalho, como os bambambãs do FBI, mas ele está convicto de que o caminho é esse. Nós, espectadores, também não temos dúvidas, e chega a ser irritante como ninguém tem a boa vontade de impulsionar o rapaz. No entanto, é aí que percebemos sua mudança gradual e como Mindhunter tem um roteiro espetacular que sabe trabalhar seus personagens. Aqui, a gente olha pra psicologia do criminoso sem esquecer da cabeça dos protagonistas, em um paralelo bem legal da investigação externa vs. investigação pessoal.

Por mais que coletemos as pistas do que compõe o interior da dra. Carr e do Bill - marrento e vulnerável, cujo filho de 6 anos parece incapaz de falar e criar laços emotivos com a família, indicando que o personagem ainda precisa abraçar a psicologia usada no trabalho como força pra desvendar essa incógnita em casa -, a narrativa da série se apoia principalmente no Holden. Ao mesmo tempo em que ele fica cada vez mais metódico, ele não perde a impulsividade movida pela emoção, nos fazendo perguntar "Quem é o Holden de verdade ou no quê ele está se tornando?". Groff soube trabalhar com autenticidade o olhar outrora ingênuo de seu personagem se transformando lentamente em algo frio, egocêntrico, perigosamente determinado, culminando em uma cena reveladora do último episódio. No fim das contas, o carinha com mais sangue frio na hora de entrevistar um mutilador de garotinhas aparentemente é o mais afetado pelo seu trabalho ingrato. Talvez Holden vire uma espécie de antagonista ou só alguém abalado pelo que vivenciou, moldando sua psiquê, assim como seus objetos de estudo foram moldados. De toda forma, é um cliffhanger muito interessante.     

A série é excelente, como eu imaginava, e não deixa ponto frouxo quando cuida da ambientação do fim dos anos 1970, com uma fotografia, trilha sonora, figurino e direção de arte à altura que te coloca na atmosfera do período. A boa notícia pra quem, assim como eu, gostou ou pra quem já tá interessado: Mindhunter começou já sabendo que teria uma segunda temporada. Até lá, já dá pra teorizar sobre o futuro do Holden e sobre o misterioso personagem bigodudo que aparece em cenas curtas dos últimos episódios.

Voltamos ao assunto no ano que vem. :-)




"O conto da Aia", livro que inspirou The handmaid's tale

$
0
0

Com a cabeça abaixada, olhos tristes e uma voz murcha, venho confessar: enfim terminei o segundo livro do ano.


Do ano, manas.

O que aconteceu comigo em 2017 foi a junção de três coisas definidoras: desenhar mais no tempo livre, jogar videogame quando não tô desenhando no tempo livre, e receio de usar o Kindle no ônibus, que é basicamente o lugar onde mais ponho minha leitura em dia, no caminho de ida e volta até o trabalho. Eu costumava ler cerca de um livro por mês até o ano passado. Por isso, é com profunda indignação comigo mesma (rs), que me dou conta deste status atual. Como diriam os adultos quando eu era adolescente e achava isso a maior bobagem do mundo: "o dia podia ter 50 horas".

A escolha de O conto da Aia, de Margaret Atwood, foi, como dá pra imaginar pelo título do texto, influência da fantástica série The handmaid's tale, sobre a qual falei aqui. Trata-se de uma distopia em que o governo dos EUA, após sofrer um golpe de um grupo terrorista religioso, torna-se a República de Gilead: teocrática, totalitária e que tem as mulheres como principais vítimas de sua opressão. Sem quaisquer direitos, elas deixam de ser cidadãs e passam a ser propriedade do governo. As mais velhas ou não doutrinadas são enviadas às Colônias para recolher lixo tóxico e morrer em pouco tempo. As casadas com comandantes do alto escalão são simplesmente as Esposas,  desfrutando de uma vida de regalias. As Econoesposas não são ricas, mas possuem alguma posição social por estarem associadas a um homem. As que não são casadas e têm alguma utilidade podem se tornar Marthas, que são as cozinheiras e governantas das casas dos comandantes; Jezebels, que vivem como escravas sexuais em hotéis transformados em bordéis; ou, caso sejam férteis em uma sociedade onde a taxa de natalidade é praticamente zero, tornam-se Aias. Esse é o caso da nossa protagonista, Offred.

Sem poder usar seu verdadeiro nome em Gilead, Offred é uma junção de of + Fred, o comandante da casa para a qual serve, um batismo que a qualifica como alguém que pertence a outro. Como rara mulher fértil, a função de Offred é basicamente procriar. Por isso, uma vez ao mês, no seu período fértil, ela é estuprada pelo seu comandante em um ritual chamado de Cerimônia - tudo sempre com cunho religioso -, acompanhado de sua esposa.

Aias são proibidas de conversarem, mesmo em companhia de outras Aias em seus passeios semanais até o mercado, a não ser sobre o tempo, sobre a paisagem ou para exaltar a crença instaurada e o regime do país. Escapar é impensável: há patrulhas armadas de Anjos por toda parte, rodeando rotas de fuga, além da onipresença de Olhos - espiões que deduram para o alto escalão pessoas que saem das regras de vida. No Muro, frequentemente são pendurados corpos de gente sentenciada, como um lembrete do que acontece com quem tenta sair da linha. Até mesmo suicidar-se é uma tarefa difícil: as mulheres não têm acesso a objetos cortantes ou lugares onde poderiam se enforcar. 

Ou seja: todas estão condenadas a viver esse inferno.

O conto da Aia são relatos de como Offred sobrevive à sua rotina, divididos em capítulos densos que revelam a capacidade invejável de escrita de Margaret Atwood. O clima é sempre de desesperança, sofrimento e tristeza, mesmo que, em determinados momentos, Offred descubra um recado lascado no rodapé de seu quarto ou tenha permissão de usar um hidratante ou ler uma revista - coisas tão, tão banais em uma outra época, mas que agora são artigos de luxo - e até proibidos. Em breves instantes de resgate de sua identidade, Offred luta para se manter sã e para se lembrar de si mesma, de quando tinha uma filha e um marido, e é essa dúvida sobre o destino de ambos que a ajuda a tentar se encontrar.

Não é um livro agradável de ler, apesar da riqueza narrativa, que deixa um gosto amargo e a marca de um tapa bem vermelho, no rosto. Principalmente, claro, se o leitor for uma leitora e tiver o mínimo de imaginação para se colocar no lugar das personagens. Por mais que a história soe absurda, ela é assustadora justamente por não ser algo tão distante da nossa realidade; hoje, ainda que o Brasil abrace movimentos progressistas que lutam por minorias sociais, existe uma onda conservadora que infelizmente vem ganhando força (o chamado backlash) como "resposta" a esses avanços. Por isso, mesmo publicado na década de 1980, O conto da Aia continua atual ao nos propor reflexões sobre a mulher na sociedade, a importância do pensamento feminista, da sexualidade, respeito, revolução e até do meio ambiente.   



Alias Grace: culpada ou inocente?

$
0
0

Netflix, essa grande recalcada.

Provavelmente enquanto chorava por horas na cama, que é lugar quente, o serviço de streaming mais querido do Brasil sofreu o arrependimento de ter recusado colocar The handmaid's tale em seu catálogo. Afinal, deve doer o coração ver a concorrência levar uns Emmys pra casa, né, mores? E aí que Margaret Atwood, autora do livro no qual a série se baseou, também tem uma outra obra que virou minissérie recentemente pela emissora canadense CBC, Alias Grace, chamando a atenção da Netflix - que rapidinho tratou de tê-la entre as novas aquisições.


Alias Grace não repetiu o sucesso de sua irmã, mas não por falta de qualidade, e sim porque provavelmente está sendo subestimada quando as pessoas acessam a home de suas contas. Dividida em apenas 6, porém sólidos episódios, a minissérie conta a história real de Grace Marks: uma jovem irlandesa de classe média-baixa que decide tentar a vida no Canadá. Contratada para trabalhar como empregada doméstica na casa de Thomas Kinnear, ela é condenada à prisão perpétua pela participação no assassinato brutal do seu patrão e da governanta da casa, Nancy Montgomery, em 1843. Passados 16 anos desde o encarceramento e internação da imigrante em um manicômio, o psiquiatra Simon Jordan, contratado por um grupo de pessoas que anseiam pelo perdão à Grace, fará de tudo em sessões de terapia para que ela recupere suas memórias, revelando se houve de fato culpa sua nos crimes. Teria Grace sido justamente incriminada ou foi coagida por James McDermott, o cocheiro rabugento da propriedade, quem verdadeiramente teria sujado as mãos de sangue?

Vou mandar a minha real: pra mim, essa resposta é o que menos importa; o mais interessante de Alias Grace é a perspectiva de uma sociedade extremamente patriarcal, burguesa e machista. A minissérie trabalha personagens femininas vivendo seus papéis de gênero dentro desse universo, e é quando pensamos em crítica feminista que ela se assemelha a The handmaid´s tale.

Grace conta ao dr. Jordan sobre sua viagem marítima de meses da Irlanda ao Canadá, de como perdeu a mãe, se viu protetora de seus outros irmãos mais novos e foi alvo da violência do pai. Quando foi forçada a trabalhar por ele, foi libertação, descobertas e solidão ao mesmo tempo. Em seu primeiro emprego, conheceu a inteligente e questionadora Mary Whitney, de quem se tornou melhor amiga e confidente. Mas foi através dessa amizade que Grace também conheceu outras facetas da violência contra a mulher: abusos, relação patrões-empregadas, descrença e opressão, em simbolismos que aparecem constantemente nas cenas, do homem rico que engravida a moça pobre ao aborto forçado e trágica morte. Mary era a representação do amor que Grace encontrou em sua rotina pesarosa e desesperançosa, jogado no lixo por uma força maior que nem tão cedo seria subvertida.

Grace também fala de Deus, de como uma mulher deve se comportar e que não importa como um homem apareceu no quarto de uma moça no meio da noite, a culpa sempre será dela. Conta sobre como foi parar na casa do sr. Kinnear, sobre como trabalhava arduamente na propriedade e sobre sua relação ora espinhosa, ora agradável com Nancy Montgomery, que, outrora governanta do senhor da casa e agora amante, temia que perdesse seu posto socialmente melhor para alguém mais jovem. 


E, enquanto conta período por período de sua vida que antecederam sua condenação, Grace costura uma colcha de retalhos sem parar. Entre um relato e outro, a câmera foca em seus dedos ágeis, na agulha e no que aquele trabalho em suas mãos está virando. Uma analogia bem conveniente à forma como Grace conversa com dr. Jordan; sempre recatada, frágil e doce aos olhos do médico, ela costura, costura e costura a sua versão da história enquanto pessoa desmemoriada, fazendo com que ele e nós, espectadores, não saibamos discernir entre a honestidade de suas palavras e a manipulação consciente, colocando imagem x discurso em um cenário totalmente dúbio.

Essa dúvida sobre Grace Marks ser ou não o ideal de mulher na época – obediente, bonita e casta – é a mesma que cai sobre as mulheres ainda hoje, vítimas ou não. Sarah Gadon, essa florzinha poderosa que deu vida à minha Sadie na minissérie 11.22.63, arrasou na pele de Grace ao dosar cada nuance do que a personagem mostra ou não quer mostrar em cena. O roteiro meticuloso da experiente Sarah Polley e a direção igualmente precisa da Mary Harron completam o resultado final. EITA EQUIPE FEMININA MARAVILHOUSER! 

Aliás, foram esses padrões de gênero que impactavam a sociedade da época que acabaram influenciando no julgamento de Grace. Há quem pense que ela ficou louca e/ou sofria de algum transtorno de personalidade, mas acho que ela simplesmente aproveitou o papel que lhe foi imposto para escapar da Justiça. Ela soube conquistar a simpatia de um júri formado exclusivamente por homens encenando, justamente, uma performance de gênero esperada por todos: uma mulher vulnerável e ingênua, manipulada pelo real mentor do crime. Historiadores do caso já levantaram essa hipóteses, argumentando que os julgamentos criminais eram submetidos a ideologias e visões de mundo masculinas, deixando de fora qualquer controle que as mulheres poderiam ter sobre os procedimentos legais. Mesmo envolvida no assassinato dos patrões, Grace Marks era vítima. Mais relevante do que ser inocente, era parecer inocente e incriminar outro, como a personagem mesmo sugere em determinado momento da série: “Se há um crime, as pessoas querem um culpado. Certo ou errado, não importa.”


Ainda que Grace seja de fato manipuladora, ela mentia em seus relatos não só para tirar o dela da reta em relação ao que aconteceu, mas para sobreviver. E, ao longo de quase duas décadas aprisionada, ela deve ter melhorado muito essa habilidade. Grace parece escolher com parcimônia o que vai dizer e o que prefere deixar no ar. Por isso, Dr. Jordan começou analisando-a, mas terminou a minissérie sendo analisado. Em certa cena, nossa protagonista afirma que é comum os homens sentirem prazer através do seu sofrimento; do sofrimento feminino. Os mesmos que cometem a violência são os que querem bancar os heróis e salvá-las, e é desses dois lados da moeda que vem o regozijo (catei no dicionário um sinônimo e achei bonito). Dr. Jordan parece estar cheio de boas intenções, mas não é ele que quer salvá-la dos males de suas memórias e sofrimento pelo passado? Grace, no entanto, não quer.

Mais uma vez, Grace é deixada em paz – se assim posso dizer – graças a uma nova performance, porém mais complexa e engenhosa. Através das mulheres que encontrou e que a marcaram ao longo de sua vida – ela própria, frágil e trabalhadora; Mary Whitney, atrevida e revoltosa; e Nancy Montgomery, independente e vaidosa –, ela pôde se construir e se reinventar para viver a vida que sempre ansiou. Não é à toa que, ao final da história, Grace mostre a colcha que passou costurando nas sessões com o psiquiatra: usando retalhos das roupas dessas três personagens femininas que ajudaram a moldá-la, formando a figura de um pássaro. Liberdade.

Grace também está firme o bastante para quebrar a quarta parede, levantar o olhar até a câmera e encarar diretamente o público: e aí, qual o seu veredicto? No fim das contas, talvez a única culpa dela foi ter nascido mulher.



"Você ainda não entende que a culpa vem até você não pelas coisas que você faz, mas pelas coisas que outros fizeram a você."
"Assassino é meramente brutal. É como um martelo ou um pedaço de metal. Eu prefiro ser uma assassina a ser um assassino, se essas forem as únicas escolhas.”
 


O dia em que morri no show do Sigur Rós

$
0
0
Fotos do post tiradas pelo talentoso amigo Fabricio Vianna
Nesses últimos 13 anos em que esperei por um show da minha banda favorita, imaginei várias coisas. Um anúncio de turnê deles no Acre. Uma rápida aparição em algum desses festivais de música que nunca tenho interesse em ir. Trocentos boatos de uma volta ao Brasil, como aconteceu. E, também, um grande silêncio junto de roteiros de viagem pra Islândia, o que seria minha última aposta pra, um dia, poder ver o trio de perto.

Minha sorte mudou no começo deste ano. Eu não estava preparada pra receber a notícia de um show do Sigur Rós no Brasil, mais precisamente em São Paulo, a uma hora de voo de onde estou. Acho que foi um dos momentos mais empolgantes da minha vida. Meus braços formigaram. Saí da minha sala de trabalho em direção à varanda pra espalhar as boas novas via telefone, quase em lágrimas.

Nunca tive muitos sonhos ambiciosos. Ou melhor, nunca tive muitos sonhos, desses que colocamos como meta pra realizar antes de morrer. Mas ver Jónsi, Orri e Georg juntos a poucos metros de mim era um deles. Minha história com a banda começou na adolescência, quando eu costumava dormir de madrugada escutando música, conversando com amigos no finado MSN, descobrindo coisas sobre o mundo e sobre mim. Quando dei play em Untitled #4, do álbum ( ), foi amor à primeira ouvida. Um tipo de som que eu nunca tinha experimentado antes, tão envolvente e absorvente, que dispensava traduções de quaisquer letras em islandês. Era apenas preciso sentir. Naqueles tempos, em que eu ainda me considerava religiosa, dizia que ouvir Sigur Rós era ouvir Deus cantando.

Fiz contagem regressiva durante meses até chegar o dia 29 de novembro. Consultei a previsão do tempo por algumas semanas, antecipando problemas, atrasos e cancelamentos no aeroporto. Nada poderia me atrapalhar. E não atrapalhou.

Faltando duas horas pro início do show, vi muitas pessoas na fila pra entrar no Espaço das Américas. Muitas, de todos os tipos; um combo diversidade. Bonito demais. Uma vez lá dentro, suspirei, meio que de alívio, meio que de emoção. Pronto, estou aqui, vai acontecer, caralho!. Usei o banheiro. Chorei um pouco sentada no vaso, me sentindo estupidamente feliz. Junto das melhores companhias possíveis para aquela noite, não fiquei grudada na grade, mas afastada o suficiente pra poder enxergar o palco, os instrumentos e o painel do fundo. Em torno de 15 minutos atrasado, Jónsi foi o primeiro a pisar lá em cima. Uma onda elétrica passou por mim. Puta que pariu, o cara é de carne e osso mesmo.

Infelizmente algumas cabeças em corpos de 1,80 m pairavam na minha frente, mas ali, bem na altura da minha vista, se formou um caminho sem obstáculos que me levava diretamente à imagem de Jónsi colado no microfone, com sua guitarra e arco de violoncelo, sempre de olhos fechados. Juro pra vocês que eu fiquei a porra do show inteiro olhando pra ele igual a dona Florinda quando encontra o professor Girafales.


Foram quase duas horas de puro deleite, aplausos, silêncios, uma marofa do cacete e lágrimas. Apesar do setlist não ter tido muitas das minhas canções favoritas, foram muitos os pontos altos da noite. Á, que abriu o espetáculo, já nos desmanchou, acompanhada de efeitos visuais belíssimos. Glósóli, dona de um dos clipes mais incríveis que já vi, arrepiou até os cabelos daquele que não deve ser nomeado. Em E-bow, foi difícil conter meus soluços. Sæglópur me fez sair do transe e ter que gravar uma parte do show. Ný batterí, que não ouvia há anos (de um dos primeiros álbuns, lançado no final dos anos 1990), foi uma surpresa. Os mais de dez minutos de Popplagið fecharam com uma chave de ouro simplesmente apoteótica.       

A voz de Jónsi já não é mais a mesma na hora de alcançar os agudos, mas sua guitarracom o arco, a bateria animal do Orri e as projeções em 3D - que, em momentos, criaram ilusões de ótica fodas - conseguiram nos transportar pra outro plano. Como imaginei, assistir ao Sigur Rós ao vivo é uma experiência multissensorial. Cada batida reverberou em meu corpo inteiro, dos pés à garganta, que se confundiram às minhas, na casa dos 150 por minuto. Ao final, as músicas dançavam nas minhas veias. Eu era feita delas.       

Jónsi, Orri e Georg voltaram ao palco uma última vez para aplaudir, mãos para o alto, junto com a gente e com uma bandeira do Brasil. Nada disseram, nem em sua língua nativa. Mas nem precisava. Meu coração já era deles, mas, dessa vez, era a minha alma que ficava por lá.

Takk, takk, takk





DARK: muito, muito mais que uma "nova Stranger Things"

$
0
0

Olha essa Netflix fabricando séries em série (tum dum tss)!

(calma, pequeno infante! Quando houver spoilers, eu aviso)

Dark - uma produção totalmente alemã - é a mais nova aquisição da fofa que estreou no dia primeiro, já sendo comparada em muitos meios com Stranger things. Mas já adianto: tirando adolescentes andando de bicicleta com lanternas, um clima sobrenatural e desaparecimentos, a série não tem nada a ver com a outra.

A sinopse parece algo formulaico. Em 2019, a pequena cidade de Winden está em busca de um adolescente desaparecido. Poucas semanas depois, outra criança some sem deixar vestígios, próxima a uma caverna nos arredores de uma usina nuclear. Enquanto isso, os habitantes locais estão alertas, mais especificamente as quatro famílias protagonistas que, episódio por episódio, revelarão alguns de seus segredos ao público enquanto tentam desvendar o mistério.

Como o nome sugere, Dark mantém uma atmosfera sombria constante e possui um roteiro muito mais complexo do que parece. Fica difícil falar sem soltar nem um spoilerzinho, mas se você está lendo este texto sem ter tido nenhum contato com a série, mas quer saber se vale a pena dar uma conferida, aqui vai: vale, sim! O ritmo é, digamos, comum de produções europeias, mas à medida que você avança na história, novas e muitas informações são apresentadas, fazendo com que você perca momentos valiosos se ousar PISCAR. Igual novato em Game of Thrones: depois de 10 episódios, ainda não sabe quem é quem e o que as pessoas estão fazendo em cena.

Dark é dona de uma fotografia primorosa, atuações convincentes, uma trilha sonora maravilhosa e uma abertura que não tive coragem de pular em nenhuma oportunidade. Mas, principalmente, Dark é dona de um grande quebra-cabeças que te desafia a solucioná-lo a cada pista, ao mesmo tempo em que ri da sua cara.


A QUESTÃO NÃO É COMO ELAS DESAPARECERAM, MAS QUANDO...

Onde Quando está Mikkel?
Se você não se importa com spoilers, pode continuar por aqui. Ou se já maratonou a série, claro. É bom que me ajuda em alguns questionamentos.

Dark é uma série ambiciosa e densa. Quando você acha que está entendendo, não está entendendo é nada (falo um pouco por mim mesma). Isso é o que acontece quando se aborda viagens no tempo.

Os desdobramentos do desaparecimento dos garotos em 2019 começam a levantar associações com eventos muito semelhantes de 1986, na mesma cidade. Jonas, um jovem de uma das famílias envolvidas nas histórias, se recupera do suicídio recente do pai. Uma carta deixada por ele com autorização para ser aberta somente a partir de determinado dia e horário, uma narração que gosta de enfatizar o quanto tudo está ligado entre passado, presente e futuro, flashbacks e otras cositas más logo no início direcionam Dark para a sua principal abordagem: manipulação do tempo e espaço.

Passamos a conhecer os personagens em três períodos de Winden: 1953, 1986 e 2019. A cada 33 anos, determinadas coisas se repetem - desaparecimentos de crianças, animais mortos pela mesma causa. Alguém abriu uma fenda no tempo em que é possível viajar através dela e, a partir dela, criar uma máquina do tempo testada com cobaias. Por isso, a importância de se perguntar quando?, e não como ou quem sequestrou os jovens. No entanto, nada do que os personagens que passam a conhecer a fenda pretendem fazer no passado pode alterar o futuro: Dark trabalha com um paradoxo do tempo chamado Paradoxo dos Loops de Informação ou Paradoxo de Bootstrap. Ao contrário de Efeito Borboleta ou Life is Strange(oba, consegui mencionar o jogo em mais um texto), em que cria-se uma nova linha temporal quando algo é alterado, aqui o paradoxo é formado quando uma certa informação é enviada do futuro para o passado, de modo que a mesma passa a se tornar a fonte inicial da informação, tal como existia no futuro. Como um loop de acontecimentos que só foram possíveis porque algo do futuro interveio, e o acontecimento acaba se tornando o causador dele mesmo. Loucura, né? É como se tudo fosse predestinado: nesse loop, é impossível alterar o passado, porque todas as coisas que tentamos fazer já aconteceram! Tenho que rever o filme, mas acho que é mais ou menos como em Donnie Darko.

Nessa circularidade do tempo, não sei se Dark pretende responder às suas indagações, mas ao menos ela anseia criar reflexões que unem ciência e filosofia: se tudo é um ciclo, se tudo parece programado, se nossas escolhas soam como ilusões, existe algo ou alguém responsável pelo que acontece? Destino? Deus?

Comecei a achar que talvez a série estivesse sendo expositiva demais, batendo na tecla das conexões interpessoais e de eventos, comparando literalmente personagem do presente e personagem do passado, da duplicidade e repetição (a abertura já faz esse trabalho), mas posso ter me enganado. Ou então eu fiquei deveras confusa, porque é bastante informação pra absorver e compreender, então uns momentos mais didáticos podem ser muito bem-vindos. E olha que nem assim entregam de bandeja; há alguns plot twists surpreendentes, e por mais que eu tenha acertado um deles - o fato de Jonas ser o viajante no tempo de capuz -, isso não significa que sejam necessariamente previsíveis, e sim porque eu simplesmente CHUTEI.       

Jonas, aliás, deixa claro que tudo o que vimos até então é pouca bosta perto da situação macro. Ele, as crianças sumidas e os habitantes de Winden envolvidos nos casos são "meras marionetes". Isso vai ficando cada vez mais sugestivo com o passar dos episódios, mas o último, especialmente sua cena final, já demanda uma segunda temporada pra amarrar as pontas. São muitas perguntas, nem tantas respostas (o que, infelizmente, me fez lembrar um pouco de The OA). Por essas e outras questões, foi até difícil pra mim avaliar Dark; ainda não consegui compreender se algumas incertezas são furos de roteiro ou apenas pistas de uma genialidade roteirística que só será revelada mais à frente (risos).

Pensando nisso, termino o texto com um pedido de ajuda a quem já assistiu tudo: Mikkel é o pai de Jonas e filho de Ulrich ao mesmo tempo. Que uma mesma pessoa pode existir em duas versões de si mesma numa mesma linha temporal está OK (bom, mais ou menos, né), mas COMO CARALHOS a Hannah, mãe do Jonas, tendo se casado com Mikkel e o conhecido desde adolescente, nunca reconheceu o menino filho do vizinho ou no mínimo achou estranho que se pareçam tanto? Jonas nunca viu uma foto do pai criança? Esses parentescos confusos são mesmo reais? Ulrich continua sendo o avô de Jonas?


É ISSO AÍ.

 "O fim é o início, e o início é o fim."


Star Wars - Os últimos Jedi

$
0
0

Não sei vocês, mas só por esse nenê segurando esse sabre de luz eu já daria 5 estrelas pro filme (inclusive muito feliz que ela vai estampar o thumbnail preto e branco do post ali em cima).

Ah, fique tranquilo: não há spoilers por aqui.

Eu sou uma pessoa altamente influenciável pelo hype. Não é à toa que rodei a última Comic Con inteira atrás de um boné de Stranger Things pra depois, já no avião de volta pra casa, refletir: NAONDE CARALHAS você ia usar um boné de Stranger Things de R$ 80, Manuela? No trabalho? Na corridinha de rua que você dá a cada 4 meses? Quando tem que sair de casa no domingo e quer esconder o cabelo sujo? Francamente.

Pois então, o hype. Star Wars é uma das coisas mais hypáveis do planeta, portanto, quando os cinemas liberaram suas salas pra pré-estreia do episódio VIII, eu saquei minha carteira na velocidade da luz pra comprar o ingresso. Pouco importava que a sessão era à meia noite, que eu teria que acordar às 7h no dia seguinte pra trabalhar e que o filme duraria mais de duas horas e meia. Certeza que ficaria 100% do tempo vibrando na poltrona e mastigando pipoca.

Eu quase tive razão. Na cena de abertura, como de praxe, estava alertíssima de entusiasmo. Mas, antes da metade da projeção, eu já dava cochiladas homéricas de 3 segundos com intervalos de 10, em uma prova de que a idade chega para todos, inclusive a humilhação de tentar manter um olho aberto e outro fechado numa sessão de cinema.


Não que Os últimos Jedi seja entediante. Longe disso. Além do quê, pecado demais dormir enquanto Daisy Ridley está em tela, e os barulhos de explosões me sobressaltaram constantemente.

Essa é a deixa pra começar pelos elogios: o novo filme da saga está recheado de ótimas sequências envolvendo batalhas entre naves, muitas delas protagonizadas pelo piloto Poe, cujo papel tem muito mais destaque. O visual está maravilhoso, com cenas bem plásticas que nos fazem querer assistir em câmera lenta e desejar que as fotografias móveis de Harry Potter existissem na vida real. A sensação de estarmos de fato no meio de uma guerra, com a imprevisibilidade catastrófica recorrente de Rogue One, existe, e o foco em histórias paralelas da perda de quem amamos nesse contexto reforça a questão.

Os últimos Jedi começa exatamente onde O despertar da Força termina, com Rey encontrando Luke numa ilha isolada, enquanto a Resistência enfrenta o cerco da Primeira Ordem. Os conflitos se estabelecem com a perseguição implacável dos seguidores do lado negro - fazendo com que Finn e sua nova companheira de aventuras, Rose (na primeira imagem), entrem em uma missão arriscada para ajudar seus aliados a fugirem -, e com a dinâmica espinhosa entre Luke e minha crush, que deposita nele a esperança de derrota de Kylo Ren e cia.

A despeito das excelentes críticas que Os últimos Jedi está ganhando, acredito que minha opinião seja impopular: pra mim, ele não superou O despertar da Força, que continua sendo meu episódio favorito. O sétimo tem, de fato, uma estrutura semelhante à de Uma nova esperança, mas me pareceu mais amarrado que este novo filme, que, por sua vez, ganha pontos por um roteiro bem diferente dos outros filmes da saga: ousado, surpreendente e quase subversor em relação aos valores há muito apresentados de seus personagens. A presença da Leia continua incrível, pra nosso deleite após o luto da morte da atriz. Gostei muito da conexão entre Rey e Kylo, que aqui estão ainda mais desenvolvidos e interessantes, principalmente o narigudo, e a forma como essa conexão é apresentada.


Meu problema com Os últimos Jedi foi, sobretudo, por causa do ritmo. Sabe núcleos de novela de um capítulo qualquer que não são desenvolvidos por igual? Foi o que senti com os diferentes momentos do filme, o que deixou o ato central meio arrastado, principalmente a parte do cassino - quem assistiu vai entender. Esse tipo de quebra me tira um pouco da imersão (mais do que pescadas). 

O filme também peca nas suas conveniências, como o que acontece com Leia quando a nave onde estava sofre um acidente, o destino do Líder Supremo Snoke e o personagem do Benício del Toro e sua curta participação. Lembra da capitã Phasma, que prometeram mais evidência no episódio VIII? Torço pra que você ache o que deram a ela suficiente. Outra coisa: tive a sensação de que o filme não se resolve nele mesmo, construindo momentos que na verdade são a introdução de algo que será mais e melhor desenvolvido na sequência.

Apesar desses pesares, há um equilíbrio com outros aspectos memoráveis desta história. Luke e sua interação com a Força espantaram qualquer resto de sonolência meu naquela sala do cinema. A cena final de Os últimos Jedi foi uma das coisas mais arrepiantes de lindas que vi nos últimos tempos, que tem tudo a ver com o resgate que fizeram à essência política de Star Wars, em que, aqui, a representação do bem e do mal está mais relacionada à dinâmica social. Burgueses x oprimidos, a esperança depositada em heróis de uma grande nação que lutam pela liberdade. Duas forças que se puxam.

Provavelmente não repetirei a aventura de sair de um shopping às 3h da manhã por causa de uma pré-estreia, mas já espero desejosamente pelo episódio IX.


LIFE IS STRANGE - BEFORE THE STORM: episódio #3 e análise geral

$
0
0

Bem, amigos da Rede Glóbo, enfim chegamos ao último episódio do jogo prelúdio de Life is Strange, lançado ontem globalmente para Playstation 4, Xbox One e Steam (PC). Já aviso que esse texto contém spoilers e, se você ainda não leu meu post sobre o episódio anterior, sugiro que o faça - principalmente se está decepcionado como eu.

Na última linha, eu faço uma pergunta: "Será que vou pagar língua?". Enumerei vários pontos críticos ao desenvolvimento da história, ao fanservice e ao potencial das supostas metáforas que o jogo estava mostrando. E, agora, com tudo concluído, minha resposta é: "não, não paguei". Infelizmente.

Se os dois primeiros episódios de Life is Strange - Before the Storm estavam demasiadamente centrados em amberprice service e na rápida evolução da relação entre Chloe e Rachel, Inferno vazio condensa (quase) todas as revelações da história do prelúdio. Isso me leva a uma desaprovação sob dois aspectos: 1) Deixou o episódio apressado e mal amarrado e 2) Inicialmente haveria mais momentos shippers aí, envolvendo o motivo da Chloe pintar uma mecha do cabelo de azul - segundo vazamentos de informações nas semanas anteriores, mas o estúdio Deck Nine voltou atrás após uma avalanche de críticas vindas do fandom. O que configura, ao mesmo tempo, um ponto positivo, já que a Deck Nine andou quebrando a canonicidade de Life is Strange (veja todas até o momento aqui), mas afetou a rota de quem escolheu "ALGO MAIS" no episódio de estreia, em detrimento de "AMIZADE" (não há diferenças românticas entre eles).



Em Inferno vazio, descobrimos que a suposta amante de James Amber é, na verdade, a mãe verdadeira de Rachel: Sera, uma viciada em drogas que foi afastada da família poucos meses depois de dar à luz para não prejudicar a vida da filha. Abalada pela verdade, Rachel deseja conhecê-la e, para isso, conta com a ajuda de Chloe. A partir daí, Chloe finalmente deixa de ser sebosa e toma um banho, conclui mais uma matéria do curso de sapatonice ao consertar sua caminhonete, arruma treta com Damon Merrick - o maior traficantão do pedaço, leva uma Rachel esfaqueada pro hospital, reencontra Drew, Steph e Mickey, investiga o escritório do sr. Amber, vai até Sera e leva porrada na cara, numa cena totalmente deus ex-machina em que cortaram boa parte da ação e a deixaram desmaiada. 

Além do fato da Rachel ficar de fora mais da metade do episódio, Inferno vazio complementa o fato de que Before the Storm tem um roteiro preguiçoso, conveniente e com muito mais momentos cinemáticos do que de exploração por parte do jogador, além de um clímax fraco, poucos puzzles, um mínimo da mecânica de bate-boca que se fez muito presente no primeiro episódio, e um antagonista pobre.
   
Eu estava certa de que o jogo estava usando metáforas, como os sonhos da Chloe e peça de teatro, pra enriquecer a narrativa. Quando William fez o seu discurso sobre o fogo ser bonito, mas perigoso, tava na cara que ele estava falando da Rachel. Eu não poderia estar mais enganada. Foi só um desperdício de boas analogias.Já pode enfiar o jogo no brioco, Deck Nine. Três vezes.


O único momento em que há uma sugestão real de que a Rachel não é santa (e ela não é; Rachel foi baseada na personagem Laura Palmer, de Twin Peaks, FOR FUCK'S SAKE) vem em uma cena bizarra envolvendo a Chloe e o Eliot, que se revelou um verdadeiro stalker. Era como se Eliot fosse a voz do fandom que levanta o lado manipulador da Rachel, logo invalidado pelo discurso do próprio jogo de que "é coisa da nossa cabeça". Mais um desperdício narrativo. Os gamers caíram tão bem na rede de sedução dela que talvez nem o Life is Strange original reverta.

Aliás, sobre o Eliot em si, eu não sei ainda qual foi o propósito dele na história. Tive uma forte sensação de que cataram as discussões do fandom sobre Warren ser ou não um stalker da Max e adaptaram pro contexto de Before the Storm, mas... pra quê? Me pareceu algo muito randômico. Quanto aos outros personagens secundários, há consequências interessantes das escolhas feitas anteriormente. Se é o Mickey que leva uma surra no episódio 2, a Chloe tem uma outra oportunidade de jogar RPG no hospital com ele. Já o Nathan tem, se não me engano, três possibilidades de fins diferentes de acordo com o que você conversa com a Samantha nos bastidores do teatro (e que nos levam a pensar como podem ter se desenvolvido seus transtornos mentais). Victoria mal dá as caras. E a Steph, infelizmente, tem pouquíssimo destaque em Inferno vazio.

Já quando penso nos núcleos do Frank e do David, minha cabeça é invadida por questionamentos, um puxando o outro, que envolvem o game num geral:


Pela segunda vez, ele salva o traseiro da Chloe de uma treta fodida. Por algumas vezes, ela manifesta preocupação com ele, principalmente neste episódio, inclusive escrevendo no diário. Não há nada que indique por que em Life is Strange ela é tão arisca com ele, ou por que a relação se tornou tão conturbada. David é uma florzinha em Before the Storm - quem conhecer a franquia primeiro pelo prelúdio vai ter a experiência prejudicada quando chegar no jogo original. Além de ele se mostrar um cara muito mais legal aqui, ao fim do episódio, dependendo se você aceita ou não uma foto de guerra do David, a Chloe reage de maneiras diferentes ao pedido de casamento dele à Joyce (ops, mais uma quebra da canonicidade). Reações bem divergentes, o que soa estranho, porque em Life is Strange a Chloe é completamente escrota com o David. Mesma coisa acontece com a escolha final de Before the Storm: o jogador precisa decidir entre esconder ou não a verdade da Rachel, sobre seu pai ser um filho da puta e ter mantido Sera longe à força. São caminhos opostos que impactariam de forma muito diferente a Rachel e sua relação com seu pai, no entanto, independente do que é escolhido, as coisas parecem continuar as mesmas entre os dois. Isso não deveria afetar o futuro dela?; o futuro que já conhecemos em Life is Strange? Suas novas motivações pra fugir de Arcadia Bay?

Além do mais, como que um promotor deixa provas de crimes expostas em seu escritório? Como é que o Damon reconhece o celular do James Amber tão fácil? É a porra de um celular, cara, pessoas compartilham do mesmo modelo. Como caralhas a Chloe ACABA de pintar o cabelo e já tá com a raiz exposta? E por que, POR QUE a Chloe parece estar aceitando a morte do pai, se o que vemos em Life is Strange é o contrário?

 
Isso não faz sentido. Além de cortarem a conexão entre Max e Chloe, fazendo com que Life is Strange e Before the Storm não tenham uma ponte desse assunto - por acaso, o assunto central do primeiro game -, Chloe vive remoendo o passado. Ela está muito mais rebelde. Esse plot não pertence a esse jogo.

Mas, olha, eu me diverti jogando Before the Storm; meus textos anteriores não me deixam mentir. Mas é, sim, um game esquecível. Por mais que parte das pessoas possam esquecer ou deixar de lado a primeira temporada de Life is Strange assim que começam um jogo novo, LiS continua tendo uma história infinitamente mais sólida e completa. Before the Storm, no fim das contas, não foi centrado na vida da Chloe três anos antes, e sim em amberprice (sendo amizade ou não) e num enredo voltado para o mistério da família da Rachel.   

A sensação ainda é de uma fanfic; uma visão alternativa do que teria acontecido com as personagens naquela época, mas ainda preciso jogar Life is Strange mais uma vez pra entender como minha percepção sobre a história foi alterada depois desse prelúdio. Ou se não foi. Os momentos mais emocionantes de Before the Storm, pra mim, foram as cenas evolvendo os sonhos com William Price, toda a sequência de quebra-quebra no ferro-velho, o epílogo de Inferno vazio e as ceninhas extras pós-créditos, que me pegaram de surpresa. And guess what? Todas elas têm ligação direta com a primeira temporada de Life is Strange, 

Se a Deck Nine tivesse abordado a época próxima da Rachel sumir, tocando em seu envolvimento com o Frank, com o Jefferson e com o Nathan, talvez o jogo ficasse mais interessante.


Agora, é aguardar o episódio bônus que sairá em meados de fevereiro, contando um pouco da infância da Max e da Chloe. Depois desse balanço geral, a ansiedade se aquietou consideravelmente, mas o fato de as dubladoras originais das personagens terem voltado para esse projeto já me deixou imensamente contente. Suspeito que, dessa vez, ficarei mais tocada.




Viewing all 172 articles
Browse latest View live